terça-feira, 26 de maio de 2015

Rio Branco, de Santa Vitória do Palmar, um clube centenário

São muitos os times centenários existentes no Rio Grande do Sul. E nasceram de todas as formas imagináveis. Por iniciativa de estudantes que voltavam do exterior, caso do S.C. Rio Grande, o clube mais velho do Brasil em atividade. Ou por influência estrangeira, nas fronteiras com Argentina e Uruguai, caso do E.C. 14 de Julho, de Santana do Livramento.

E o surgimento de outros clubes por todas as regiões do Estado foi consequência natural de um intercâmbio constante entres os clubes mais antigos, que visitavam outras cidades onde ainda não existia o futebol. Foi assim que surgiu o Grêmio Portoalegrense, depois de uma visita do S.C. Rio Grande a capital.

Em Santa Vitória do Palmar, na fronteira com o Uruguai, o futebol chegou no dia 12 de janeiro de 1912, graças a iniciativa de um grupo de jovens oriundos da cidade de Castillos, no vizinho país, que depois de se juntarem a outros desportistas locais fundaram o E.C. Rio Branco. Eles chegaram a Santa Vitória do Palmar dois anos antes, em 1910, para tomarem posse de uma fazenda recebida por herança.

O líder do grupo era Mário Correa, escolhido para administrar a propriedade e que depois se tornaria o primeiro presidente do clube. O nome foi escolhido em razão de ser o Barão do Rio Branco, na época, Ministro das Relações Exteriores do Brasil e a pessoa mais importante nas relações com o Uruguai.

Conta a história que o Barão liderou um movimento para que parte da Lagoa Mirim e do Rio Jaguarão, que pertenciam ao Brasil, fosse cedida ao vizinho país através do “Tratado de Petrópolis”, em 1910.

O clube, que foi fundado por uma maioria de cidadãos uruguaios que vieram residir no Brasil, recebeu o verde e amarelo como suas cores oficiais, em homenagem ao país que os estava abrigando.

Nos seus primeiros anos de vida, o Rio Branco enfrentou muitas dificuldades. Em 1916 a sua sede foi destruída durante um incêndio, sendo perdidos documentos históricos como as atas, inclusive a de fundação.

Com o passar dos anos e a fundação de outros clubes esportivos na cidade, continuou o Rio Branco a ser o preferido dos uruguaios, que preferiam vestir essa camisa, do que a dos demais adversários.

Entre os grandes valores uruguaios que defenderam o Rio Branco na época, destacavam-se Soto, Gusman, Sanvicente (que tem seu nome imortalizado por um clube do Chuy – Uruguai, o Sanvicente) e Almada, entre outros.

Décadas depois, durante a ditadura de Getúlio Vargas é que o vermelho foi incorporado às cores do clube. Na época o presidente sancionou um Decreto - Lei que proibia qualquer agremiação de utilizar as cores da bandeira nacional.

O verde e amarelo não podiam ser as oficiais, mas se fosse acrescida uma terceira, desde que não fossem o azul e o branco, também presentes na bandeira, o problema estaria solucionado.

A escolha do vermelho se deu por inspiração do Grêmio Atlético Farroupilha, de Pelotas que também fora obrigado a ter uma nova cor em seu fardamento, pois a exemplo do Rio Branco usava o verde e o amarelo.

O caso do Farroupilha foi ainda mais cruciante, além de trocar as cores, teve de mudar de nome, deixando de se chamar Regimento. Coisas de um Governo exageradamente nacionalista, e que chegou a ser classificados por muitos de fascista.

A estréia da nova camiseta do Rio Branco, que passou a ser chamado por seus torcedores de “Tricolor da Coxilha”, foi em uma partida amistosa contra o próprio G.A. Farroupilha. A partir dai o clube vitoriense passou a usar os dois tradicionais uniformes que ostenta até hoje.

O uniforme número um tinha uma camiseta branca com listras horizontais verde, amarelo e vermelho. E o segundo uniforme, onde as três cores apareciam em listras verticais, igual ao uniforme principal do Farroupilha.

O primeiro pavilhão do estádio do Rio Branco, na década de 1930, era de madeira e ao redor do campo havia um muro feito com chapas de zinco, os famosos “latões do Rio Branco”, que a cada chute forte contra ele, produzia um barulho estrondoso.

Era um verdadeiro luxo para a época, pois os outros times tinham muros de madeira. Pelo lado de fora havia uma linha de arame para que as pessoas não chegassem perto e danificassem os latões. O zinco durou até a década de 1960, quando começou a ser erguido o muro que existe até hoje.

Já o pavilhão de madeira durou mais tempo, indo até o final da década de 1970, quando foi construído o novo pavilhão, que seria o maior da cidade.

O projeto era ousado, e foi levado adiante por uma comissão formada pelos desportistas Homero Vasquez Rodrigues (Presidente), Hélio Chiesa (Vice-presidente), Nelson Martino de Oliveira (Tesoureiro) e Ari Joaquin Torino, o Ducha (Secretário).

A arquiteta Leila Gasal, foi a encarregada de projetar um pavilhão que tivesse cobertura e que na parte de baixo tivesse um restaurante.

Pode-se dizer que a obra foi precursora das modernas arenas com seus Shopings e praças de alimentação. Tudo isso em uma cidade pequena, com cerca de 30 mil habitantes.

Os responsáveis pela obra foram os engenheiros João Messias Gasal e Albano Mespaque. O projeto levou mais tempo para ser concluído, do que o anteriormente previsto, em razão da falta de recursos. Só em 1983 foram entregues e assim mesmo sem o restaurante, a cobertura e os banheiros.

Em que pese a obra incompleta, a torcida do Rio Branco se orgulha de ter até hoje o maior pavilhão da cidade, tanto em altura, comprimento e ainda capacidade de público. Isso explica porque o estádio tem sido palco de finais do campeonato local, mesmo o Rio Branco não sendo finalista.

Nas décadas de 1940 e 1950, destacavam-se no Rio Branco jogadores do quilate técnico de  Remes Estol (Remito), João Melo, que era “half” esquerdo, o equivalente ao volante dos dias de hoje), o ponteiro direito Alfredo, Quinca e Mário Maragalione, que era ponteiro esquerdo e teve votação unânime em uma pesquisa realizada em 2000, apenas com pessoas que tinham mais de 70 anos, para apontar os melhores do século em Santa Vitória.

Uma passagem marcante na história do clube, e que os torcedores mais antigos não esquecem até hoje, e passam de boca em boca, ocorreu no dia 12 de agosto de 1951, quando do jogo de encerramento do primeiro turno do campeonato da cidade, no “Estádio da Coxilha”. O Vitoriense, o mais velho clube de futebol da cidade, derrotava ao final do primeiro tempo o seu velho rival, o Rio Branco, por 3 X 0.

Já havia torcedores do tricolor indo embora, sem esperanças de que o escore pudesse ser revertido. Veio o segundo tempo e com ele o inesperado. O Rio Branco, com três gols de Alfredo e um de Mario Maragalhoni, virou o jogo e venceu por 4 X 3, conseguindo vantagem para o segundo gol, em que também foi vencedor, dessa feita com uma goleada de 6 x 1.

Com o título garantido houve festa, com desfiles pelas ruas e como era o costume, um grande foguetório, principalmente na entrada e saída do cinema Independência, desde a primeira até a última sessão.

No dia 12/ de janeiro de 2012, o “Tricolor da Coxilha” festejou os seu 100 anos de existência, com uma grande festa, quando estiveram presentes personalidades ilustres que de uma forma, ou de outra, participaram da vida do clube em sua trajetória centenária.

Foram lembrados nomes como os de Anselmo Amaral, Dico, Dica, Gilmar das Neves, Sidnei, Ataliba, Rômulo Florio, Marlene, Maria Amélia, Pelado, Faustino Borges, Lineu Padilha, Menandro, Paulo Maia, e alguns dos Jogadores “Campeões da Zona Sul”, como Maça, Canabarro, Dica e Claudio entre outros. (Pesquisa: Nilo Dias)

A primeira formação do E.C. Rio Branco, em 1912. Em pé: Olindo Alves Nunes (terno branco) - Henrique Fernandes - Bráulio Plá - Tônico Pinto e Hector Molmsten. De joelhos: Mário Corrêa - Faustino Oliveira e Carlos Vieira. Sentados: Antonio Rodrigues - José Francisco da Costa - Isaac Ferreira - Marino Lima e Natálio Plá. (Foto: Arquivo histórico do clube) 

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