quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Guaracy Picado, cantor e jogador de futebol

Guaracy Augusto Picado, ou simplesmente, “Picado”, foi uma das figuras mais identificadas com a cidade de Natal a partir dos anos 50. Ainda muito jovem foi aprovado num concurso para carteiro, tendo depois passado por outros setores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EB).

Também trabalhou na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), foi músico, compositor, cantor dos trios musicais “Os Goiamuns”, “Marayá” e “Irakitan”. Morou 10 anos no Rio de Janeiro, onde se apresentou em vários programas de auditório de grandes audiências nas televisões paulista e carioca.

Os mais famosos foram o de “Raul Gil”, na Band TV e o “Som Brasil”, aos domingos pela manhã na TV Globo, comandado por Lima Duarte, além de "Almoço com as Estrelas" na Tupy de São Paulo.

E também programas de rádio, shows no interior do Rio de Janeiro, com cachês baixos. Porém eram gratificantes, serviam para projetar a ele e ao seu parceiro, Roberto Ney. Ainda sobrava tempo para bater uma bolinha, tendo chegado a jogar numa equipe da 2ª divisão do estado do Rio, o Classista F.C.

Participou também de movimentos teatrais, culminando com a presença no filme "For all, O Trampolim da Vitória”, narrando a presença de marujos e soldados norte-americanos em Natal durante a Segunda Guerra Mundial, no começo dos anos 40 até 1945, com a capitulação dos países do “Eixo”.

A carreira de futebolista ele começou nas categorias de base do América, de Natal, junto de antigos colegas que hoje ocupam cargos públicos ou são profissionais liberais em várias áreas. Ainda quase juvenil assinou com o Santa Cruz F.C., como não amador, categoria que hoje não existe mais.

O Santa Cruz, de Natal, tinha as cores vermelho, preto e branco. Foi fundado em 1934. Atualmente, encontra-se extinto, porém seu patrimônio continua intacto. O Santa Cruz foi Campeão Potiguar em 1943 e disputou os Estaduais do Rio Grande do Norte ate os anos 60.

No tricolor, formou com velhos companheiros hoje já vovôs, como Etinha, Varela, Wilton Gomes, entre outros. Mas foi no ABC que passou a atuar num grande clube, na ala direita.

Ele cita um dos bons times do ABC em que jogou: Ribamar (Edson) - Guaracy – Toré - Cadinha e Ney Andrade - Edmilson "Piromba" (Cileno) - Cadinha e Jorginho – Mota - Gilvan e Paulo Isidro. Tinha ainda Gileno Vilar, Osir de Góis, Dé, Marcos "Jacaré", entre outros.

Graças a facilidade que tinha em fazer amizades, “Picado” pode aumentar seus conhecimentos e se preparar para outra carreira dentro do próprio futebol, como árbitro. Antes disso ainda jogou no Alecrim F.C., onde foi jogador e treinador.

Mas foi uma passagem um tanto rápida, já que os jogadores eram obrigados pelos dirigentes a usarem energizantes do tipo Gluco-energam, misturados com Fostimol, para melhorar o estado físico.

O resultado não poderia ser pior, pois os jogadores passavam madrugadas mal dormidas, virando e revirando na cama, sem sono, olhos arregalados e boca seca. Ninguém conseguia conciliar o sono, conta o próprio Guaracy.

“Picado” jogou futebol por pouco mais de cinco anos. Era uma época em que os clubes de Natal eram bastante pobres, com rendas fracas nos jogos, sem estrutura, sem estádios, desprovidos de quase tudo. Ainda assim diz ter gostado de jogar por lá, pois teve a oportunidade de viajar bastante, fazer amigos e poder tornar-se árbitro de futebol.

Fez o curso, estudou muito, ganhou um lugar entre os árbitros da CBF, apitando em quase todo o Brasil, pelo menos de Salvador até o Norte. Talvez por não ser fácil figurar no fechado círculo da categoria Fifa, deixou de faturar uma boa nota. Assim mesmo, não tem queixa alguma.

A cena mais curiosa acontecida em sua carreira de 15 anos de arbitragem ocorreu num jogo entre equipes do Rio Grande do Norte. O local foi o estádio Professor Manuel Leonardo Nogueira, o “Nogueirão”, em Mossoró.

De repente, os atletas se jogaram no gramado, todos deitados, alguns até com o rosto colado na grama. Era um bando das temíveis abelhas africanas, que surgiu quase do nada, com um zumbido assustador. Alguns minutos depois elas foram embora e o jogo pode ser reiniciado.

O que pouca gente sabe é que o Hino do ABC, de Natal, é de autoria de “Guaracy Picado” e Roberto Ney, que está no CD “Meu ABC”, que vendeu muito, estando como um dois mais cantados pelos abecedistas.

Algumas gravações que formam na coleção da dupla estão: "Guaracy canta Renato Caldas e outros poetas"; "Passar fogo", em homenagem a Augusto Severo; "O salário achatou"; "As mais belas canções da América Latina"; "Chico de Assis e Guaracy"; "A história da Vaquejada do Nordeste"; "Para ouvir amando", números um e dois, sucessos absolutos, com grande vendagem. Guaracy tem ainda composições gravadas pelo potiguar "Trio Irakitan". (Pesquisa: Nilo Dias) 


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