Agora
só restam sete campeões mundiais de 1958, ainda vivos, com o falecimento ocorrido
ontem, domingo, de José Ely de Miranda, o “Zito”, aos 82 anos de idade. Ele morreu
em sua casa, em Santos (SP).
Há
cerca de um ano havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico (AVCH),
que o manteve hospitalizado na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) do hospital
da Santa Casa, de Santos, por 32 dias, o que debilitou sua condição de saúde.
Desde
agosto, o ex-jogador seguia o tratamento "Home Care", acompanhamento hospitalar a
domicílio, que evita a permanência prolongada no hospital e diminui os riscos
de infecções.
O
velório começou às 8h (de Brasília) e foi até as13h. Na sequência, o carro que
levou o corpo do ex-capitão santista passou pela Vila Belmiro, onde aconteceu
uma queima de fogos. O enterro ocorreu às 16h30, em Roseira, cidade do interior
paulista em que nasceu.
A
ausência mais sentida foi a de Pelé, que está nos Estados Unidos e não pode dar
o último adeus a “Zito”. No entanto, ele não esqueceu do ex-companheiro e
enviou uma coroa de flores à família. Nela, Pelé agradeceu os ensinamentos do
capitão do Santos nas décadas de 1950 e 1960: "foi como um pai para
mim", estava escrito.
“Foi
melhor assim para que não sofra mais, nos sensibilizávamos muito com isso. O
carinho dos amigos e da família, agora, nos confortam. Os últimos momentos
foram de muito sofrimento, em que vimos as dificuldades respiratórias, e ele
partir, mas o que todos podem levar são as lembranças dele”, disse o filho José
Ely de Miranda Júnior.
“Zito”,
foi um dos principais jogadores do legendário time do Santos Futebol Clube dos
anos 1960, sendo o líder da equipe. Mas sua
autoridade não era contestada por ninguém, nem mesmo por ”Pelé”, o craque do
time.
“Zito”
era natural de Roseira (SP), onde nasceu a 8 de agosto de 1932. Iniciou a
carreira pelo Esporte Clube Taubaté, atuando na posição de volante. Em 1952 foi
contratado pelo Santos, onde jogou até sua aposentadoria.
Pelo
Santos, Zito atuou por 15 anos, de 1952 a 1967, em 727 jogos, marcou 57 gols.
No período, conquistou quatro vezes a Taça Brasil (1961,1962, 1963 e 1964), nove
Estaduais (1955, 1956, 1958, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965 e 1967), duas Copas
Libertadores (1962 e 1963), duas Copas Intercontinentais (1962 e 1963), quatro Torneios
Rio-São Paulo (1959, 1963, 1964 e 1966) e duas Copas do Mundo FIFA (1958 e 1962).
Apelidado de "Gerente", era o líder do time dentro de campo, inclusive recebendo do técnico Lula o aval para comandar os atletas em campo da maneira que achasse melhor. Tornaram-se célebres seus gritos incentivando os jogadores a continuar marcand gols, mesmo com as partidas já decididas.
Na
Seleção Brasileira foi bicampeão do mundo, tendo marcado um dos gols do Brasil
na vitória de virada sobre a Tchecoslováquia por 3 X 1, na final da Copa do
Mundo de 1962, no Chile. Zito” só conquistou a vaga de titular no terceiro
jogo da Copa, contra a União Soviética, quando entrou no lugar de Dino Sani.
Para
“Zito” a Copa de 1958 foi a mais importante conquista do futebol brasileiro,
pois foi a única ganha em gramados europeus. “Nós estávamos jogando contra as
principais seleções do mundo no território deles. O fato de ter sido
conquistada na Europa torna essa Copa ainda mais especial. Não tenho dúvidas de
que foi a principal conquista da história do futebol brasileiro”, dizia o
jogador.
“Zito”
contava que logo após a conquista do título, ainda na Suécia, houve uma óbvia
euforia de jogadores, comissão técnica e dirigentes. No entanto, ele admitia
que o grupo só percebeu a real dimensão do que aquele título significava mais
tarde, na chegada da delegação ao Rio de Janeiro.
Para
ele, a emoção mais forte foi na recepção da delegação no Rio. Quando chegaram
ao Aeroporto do Galeão, havia uma multidão os aguardando. Foram colocados num
caminhão dos bombeiros e seguiram até o Palácio do Catete. "O povo todo foi
correndo atrás durante todo o trajeto. Foi algo maravilhoso, tão grande que
dão dá nem para descrever", comentava “Zito”.
Depois
de se aposentar dos gramados, “Zito” trabalhou como diretor do Santos e foi um
dos responsáveis por revelar jovens jogadores de destaque, sendo um dos
descobridores de Robinho, Neymar e Gabriel.
O
camisa 10 da Seleção Brasileira postou uma foto dele com Zito em seu Instagram.
"Não tenho palavras para descrever esse cara, simplesmente agradeço tudo
que fez por mim, por ter acreditado e me ajudado no começo da minha carreira!
Descanse em paz, fez muito por nós aqui... Obrigado ZITO!", escreveu
Neymar na rede social.
O
ex-volante, garantia que não ficou rico jogando futebol. E se assustava ao
saber das grandes quantias que os jogadores de Seleção Brasileira ganham hoje.
Em 1958, contava “Zito”, os jogadores não era estrelas, não tinham assessores,
empresários, agências de marketing, nada disso. Pensava-se única e exclusivamente
em jogar futebol.
Quando
na Suécia, os jogadores da Seleção Brasileira tornaram-se atração em Hindas,
antes mesmo de entrarem em campo. “Nós nunca tínhamos visto pessoas de pele
escura antes. Eu fiquei até assustada”, lembra a moradora Eva Högberg, com uma
risada.
Hindas,
ou Hindås, em sueco, é um vilarejo com pouco mais de 2 mil moradores a 30
minutos de Gotemburgo. Lá, a paisagem é a mesma de 50 anos atrás. De um lado o hotel
onde a Seleção Brasileira ficou hospedada. Do outro, separados apenas pela
estrada, o hotel onde a Seleção Soviética ficou durante o Mundial.
De
frente para ambos a bela paisagem do lago Västra Nedsjön. Não é preciso ir
longe para encontrar quem tenha convivido com os brasileiros naquele mês de
junho de 1958. Lars Hedenström, que era vizinho do hotel dos soviéticos e responsável
pelo campo do IFK Hindas, conta que vinha gente de longe somente para ver os
brasileiros.
Ele
guarda até hoje um álbum com as fotos que tirou, não apenas dos brasileiros,
mas de outros astros como o goleiro soviético Lev Yashin. Nelas, é possível ver
uma Hindas que se parece muito com a atual. O hotel em que os brasileiros se
hospedaram, hoje abriga apenas conferências. Foi ampliado, mas a fachada é
quase a mesma. A cor também mudou. Hoje é creme, em vez do vermelho do passado.
Com
a morte de “Zito” sobe para 15 o número de campeões mundiais de 1958, que já
nos deixaram: Zózimo (1977), Garrincha (1983), Oreco (1985), Castilho (1987), Didi (2001), Mauro (2002), Dida (2002), Vavá (2002), Joel (2003), Orlando
(2010), De Sordi (2013),
Djalma Santos (2013), Gilmar (2013), Nilton Santos (2013) e Bellini
(2014).
Da
Seleção Campeã do Mundo de 1958, apenas sete jogadores ainda estão vivos. São
eles Dino Sani, Moacir, Pelé, Zagallo, Mazzola, Zito e Pepe. Desse grupo, 14
participaram do bicampeonato no Chile: Castilho, Gilmar, Bellini, Djalma
Santos, Nilton Santos, Didi, Zagallo, Zózimo, Garrincha, Pelé, Mauro, Zito, Vavá
e Pepe.
Entre
os campeões de 1962, e que não disputaram o Mundial de 1958, dois jogadores já
morreram: Jurandir e Zequinha. Também já nos deixaram os dois técnicos que deram
os primeiros títulos e que colocaram o Brasil junto com Uruguai e Itália, até
então os únicos com dois títulos mundiais: Vicente Feola (em 1958) e Aymoré
Moreira (em 1962).
O
primeiro jogador brasileiro campeão do mundo a morrer foi o lateral esquerdo
Everaldo, tricampeão no México, em 1970, e que foi vítima de um acidente
automobilístico, em 1974. Daquela seleção, também já nos deixaram o goleiro
Félix, que foi titular na Copa, e o zagueiro reserva Fontana. (Pesquisa: Nilo
Dias)