segunda-feira, 15 de junho de 2015

Morre mais um campeão mundial de 1958

Agora só restam sete campeões mundiais de 1958, ainda vivos, com o falecimento ocorrido ontem, domingo, de José Ely de Miranda, o “Zito”, aos 82 anos de idade. Ele morreu em sua casa, em Santos (SP).

Há cerca de um ano havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico (AVCH), que o manteve hospitalizado na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) do hospital da Santa Casa, de Santos, por 32 dias, o que debilitou sua condição de saúde.

Desde agosto, o ex-jogador seguia o tratamento "Home Care", acompanhamento hospitalar a domicílio, que evita a permanência prolongada no hospital e diminui os riscos de infecções.

O velório começou às 8h (de Brasília) e foi até as13h. Na sequência, o carro que levou o corpo do ex-capitão santista passou pela Vila Belmiro, onde aconteceu uma queima de fogos. O enterro ocorreu às 16h30, em Roseira, cidade do interior paulista em que nasceu.

A ausência mais sentida foi a de Pelé, que está nos Estados Unidos e não pode dar o último adeus a “Zito”. No entanto, ele não esqueceu do ex-companheiro e enviou uma coroa de flores à família. Nela, Pelé agradeceu os ensinamentos do capitão do Santos nas décadas de 1950 e 1960: "foi como um pai para mim", estava escrito.

“Foi melhor assim para que não sofra mais, nos sensibilizávamos muito com isso. O carinho dos amigos e da família, agora, nos confortam. Os últimos momentos foram de muito sofrimento, em que vimos as dificuldades respiratórias, e ele partir, mas o que todos podem levar são as lembranças dele”, disse o filho José Ely de Miranda Júnior.

“Zito”, foi um dos principais jogadores do legendário time do Santos Futebol Clube dos anos 1960, sendo o líder da equipe. Mas sua autoridade não era contestada por ninguém, nem mesmo por ”Pelé”, o craque do time.

“Zito” era natural de Roseira (SP), onde nasceu a 8 de agosto de 1932. Iniciou a carreira pelo Esporte Clube Taubaté, atuando na posição de volante. Em 1952 foi contratado pelo Santos, onde jogou até sua aposentadoria.

Pelo Santos, Zito atuou por 15 anos, de 1952 a 1967, em 727 jogos, marcou 57 gols. No período, conquistou quatro vezes a Taça Brasil (1961,1962, 1963 e 1964), nove Estaduais (1955, 1956, 1958, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965 e 1967), duas Copas Libertadores (1962 e 1963), duas Copas Intercontinentais (1962 e 1963), quatro Torneios Rio-São Paulo (1959, 1963, 1964 e 1966) e duas Copas do Mundo FIFA (1958 e 1962).

Apelidado de "Gerente", era o líder do time dentro de campo, inclusive recebendo do técnico Lula o aval para comandar os atletas em campo da maneira que achasse melhor. Tornaram-se célebres seus gritos incentivando os jogadores a continuar marcand gols, mesmo com as partidas já decididas.

Na Seleção Brasileira foi bicampeão do mundo, tendo marcado um dos gols do Brasil na vitória de virada sobre a Tchecoslováquia por 3 X 1, na final da Copa do Mundo de 1962, no Chile. Zito” só conquistou a vaga de titular no terceiro jogo da Copa, contra a União Soviética, quando entrou no lugar de Dino Sani.

Para “Zito” a Copa de 1958 foi a mais importante conquista do futebol brasileiro, pois foi a única ganha em gramados europeus. “Nós estávamos jogando contra as principais seleções do mundo no território deles. O fato de ter sido conquistada na Europa torna essa Copa ainda mais especial. Não tenho dúvidas de que foi a principal conquista da história do futebol brasileiro”, dizia o jogador.

“Zito” contava que logo após a conquista do título, ainda na Suécia, houve uma óbvia euforia de jogadores, comissão técnica e dirigentes. No entanto, ele admitia que o grupo só percebeu a real dimensão do que aquele título significava mais tarde, na chegada da delegação ao Rio de Janeiro.

Para ele, a emoção mais forte foi na recepção da delegação no Rio. Quando chegaram ao Aeroporto do Galeão, havia uma multidão os aguardando. Foram colocados num caminhão dos bombeiros e seguiram até o Palácio do Catete. "O povo todo foi correndo atrás durante todo o trajeto. Foi algo maravilhoso, tão grande que dão dá nem para descrever", comentava “Zito”.

Depois de se aposentar dos gramados, “Zito” trabalhou como diretor do Santos e foi um dos responsáveis por revelar jovens jogadores de destaque, sendo um dos descobridores de Robinho, Neymar e Gabriel.

O camisa 10 da Seleção Brasileira postou uma foto dele com Zito em seu Instagram. "Não tenho palavras para descrever esse cara, simplesmente agradeço tudo que fez por mim, por ter acreditado e me ajudado no começo da minha carreira! Descanse em paz, fez muito por nós aqui... Obrigado ZITO!", escreveu Neymar na rede social.

O ex-volante, garantia que não ficou rico jogando futebol. E se assustava ao saber das grandes quantias que os jogadores de Seleção Brasileira ganham hoje. Em 1958, contava “Zito”, os jogadores não era estrelas, não tinham assessores, empresários, agências de marketing, nada disso. Pensava-se única e exclusivamente em jogar futebol.

Quando na Suécia, os jogadores da Seleção Brasileira tornaram-se atração em Hindas, antes mesmo de entrarem em campo. “Nós nunca tínhamos visto pessoas de pele escura antes. Eu fiquei até assustada”, lembra a moradora Eva Högberg, com uma risada.

Hindas, ou Hindås, em sueco, é um vilarejo com pouco mais de 2 mil moradores a 30 minutos de Gotemburgo. Lá, a paisagem é a mesma de 50 anos atrás. De um lado o hotel onde a Seleção Brasileira ficou hospedada. Do outro, separados apenas pela estrada, o hotel onde a Seleção Soviética ficou durante o Mundial.

De frente para ambos a bela paisagem do lago Västra Nedsjön. Não é preciso ir longe para encontrar quem tenha convivido com os brasileiros naquele mês de junho de 1958. Lars Hedenström, que era vizinho do hotel dos soviéticos e responsável pelo campo do IFK Hindas, conta que vinha gente de longe somente para ver os brasileiros.

Ele guarda até hoje um álbum com as fotos que tirou, não apenas dos brasileiros, mas de outros astros como o goleiro soviético Lev Yashin. Nelas, é possível ver uma Hindas que se parece muito com a atual. O hotel em que os brasileiros se hospedaram, hoje abriga apenas conferências. Foi ampliado, mas a fachada é quase a mesma. A cor também mudou. Hoje é creme, em vez do vermelho do passado.

Com a morte de “Zito” sobe para 15 o número de campeões mundiais de 1958, que já nos deixaram: Zózimo (1977),  Garrincha (1983), Oreco (1985), Castilho (1987), Didi (2001), Mauro (2002), Dida (2002), Vavá (2002), Joel (2003), Orlando (2010), De Sordi (2013), Djalma Santos (2013), Gilmar (2013), Nilton Santos (2013) e Bellini (2014).

Da Seleção Campeã do Mundo de 1958, apenas sete jogadores ainda estão vivos. São eles Dino Sani, Moacir, Pelé, Zagallo, Mazzola, Zito e Pepe. Desse grupo, 14 participaram do bicampeonato no Chile: Castilho, Gilmar, Bellini, Djalma Santos, Nilton Santos, Didi, Zagallo, Zózimo, Garrincha, Pelé, Mauro, Zito, Vavá e Pepe.

Entre os campeões de 1962, e que não disputaram o Mundial de 1958, dois jogadores já morreram: Jurandir e Zequinha. Também já nos deixaram os dois técnicos que deram os primeiros títulos e que colocaram o Brasil junto com Uruguai e Itália, até então os únicos com dois títulos mundiais: Vicente Feola (em 1958) e Aymoré Moreira (em 1962).

O primeiro jogador brasileiro campeão do mundo a morrer foi o lateral esquerdo Everaldo, tricampeão no México, em 1970, e que foi vítima de um acidente automobilístico, em 1974. Daquela seleção, também já nos deixaram o goleiro Félix, que foi titular na Copa, e o zagueiro reserva Fontana. (Pesquisa: Nilo Dias)


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