segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Garrincha em Passo Fundo

O colunista Hiltor Mombach, em sua coluna no jornal “Correio do Povo”, de Porto Alegre, edição do último domingo, 17/01, publicou interessante matéria a respeito do saudoso grande ídolo do futebol brasileiro, Garrincha, com o título de “Garrincha preso em Passo Fundo?”

A prisão na realidade não chegou a se consumar, mas dizem que foi por pouco. Segundo Mombach, a história consta do livro “O Anuário do Futebol Passo-Fundense Nº 3”, de autoria do jornalista, roteirista e tradutor, Lucas Scherer, que conta a história do Esporte Clube Passo Fundo, que no último dia 10 deste mês completou 30 anos de atividades.

O livro traz fichas de todos as partidas, jogadores e técnicos, desempenho ano a ano, por competição e por adversário, estatísticas, curiosidades. Para ler, basta acessar anuariodofutebolpassofundense.wordpress.com. E o leitor ganha de presente belas narrativas, como a passagem de Garrincha por Passo Fundo.

Garrincha, para sobreviver, fazia jogos de exibição país afora. Mas já não era nem sombra do grande craque que levantava multidões mundo afora. Os excessos de bebida alcoólica o transformaram num retrato triste do que havia sido no passado.

O jogo amistoso entre 14 de Julho, de Passo Fundo e Atlântico, de Erechim foi realizado no dia 3 de março de 1968, um domingo, no estádio Celso Fiori. Garrincha estava com 35 anos, e chegou a Passo Fundo, vindo de Porto Alegre, no final da manhã do dia do jogo, viajando no carro do presidente do 14 de Julho, Hilário Rebechi .

O “ex-craque das pernas tortas” almoçou na casa de Rebechi, na vila Cruzeiro. Mesmo não sendo mais o mesmo jogador de antigamente, sua fama ainda era muito grande, tanto é verdade que até o prefeito Mário Menegaz e o bispo da cidade, Cláudio Colling, estiveram no almoço.

O jornalista Meirelles Duarte, do jornal “O Nacional”, de Passo Fundo, que fez a cobertura da estada de Garrincha na cidade, conta que na hora de servir o almoço, Garrincha não estava presente e ninguém sabia de seu paradeiro. Até que o encontraram nos fundos da casa, brincando com uns pássaros engaiolados e um vistoso papagaio.

Chegada a hora do jogo, o estádio lotou, com o público na esperança de ver uma jogada genial do ex-grande jogador. Mas nada aconteceu, a não ser alguns dribles e uma bola na trave. De resto, apenas se arrastou em campo.

O time de Erechim veio disposto a estragar a festa dos donos da casa. E conseguiu, vencendo por 1 X 0. O único gol da partida surgiu aos 37 minutos do primeiro tempo. Selmar avançou pelo meio e lançou Zoca que se chocou com o goleiro Wilson, e a bola sobrou para Waldemar, que chutou no alto.

Contam que a presença de Garrincha em Passo Fundo acabou despertando o interesse da Justiça. As informações vindas de emissoras do Rio de Janeiro e de São Paulo diziam que Mané poderia ser preso por uma ação movida pelo advogado de sua primeira esposa e mãe de 8 dos seus 14 filhos, Nair Marques.

O telegrama que saiu na imprensa da cidade dizia: “Garrincha, procurado pela Justiça, poderá ser preso, segundo despacho do juiz da 6ª Vara de Família do Rio de Janeiro, Aureo B. Carneiro. Garrincha poderá ficar até três meses recolhido à Penitenciária Lemos de Brito”.

O motivo seria o cachê recebido por Mané para jogar cerca de 40 minutos em Passo Fundo, no valor de 2 mil cruzeiros (cerca de R$ 8 mil em valores atuais). Mané não foi preso.

Depois do jogo em Passo Fundo, Garrincha continuou perambulando em amistosos pelo Brasil. Chegou a jogar uma única partida pelo Júnior Barranquilla, da Colômbia, ainda em 1968.

Ainda passou pelo Flamengo e Red Star, da França, onde também entrou em campo apenas uma única vez, em 1971, até terminar oficialmente a carreira no Olaria, em 1972.


Garrincha morreu em 1983, com o fígado e o pâncreas destruídos pelo álcool, de infecção generalizada. Tinha 49 anos. O corpo de “Mané” está sepultado no cemitério Raiz da Serra, em Magé, no Rio de Janeiro.

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