sábado, 23 de janeiro de 2016

O coveiro que virou juiz de futebol

Carlos Alberto de Berto é um árbitro da Federação Norte Rio-Grandense de Futebol (NRGF), até aí nada de mais, não fosse sua origem. Antes de se tornar um profissional do apito, exercia uma profissão bem diferente. Era coveiro de um dos cemitérios de Natal, no Rio Grande do Norte. E também um ex-jogador de futebol frustrado.

Como não deu sorte nos gramados, pegou o primeiro emprego que apareceu para poder tirar o sustento, e pagar as contas. Começou a trabalhar como coveiro em um cemitério público no bairro da Redinha, Zona Norte de Natal.

Até hoje ele mora em uma casa simples com a esposa e um filho pequeno, bem em frente ao portão do cemitério onde trabalhou por quatro anos. Seguidamente visita o local, para rever antigos colegas de trabalho.

Em uma dessas idas ao campo santo, Carlos vai ao local onde efetuou o primeiro sepultamento. E também visita o túmulo de um amigo de infância falecido. Em suas recordações conta que efetuou cerca de enterros nesse cemitério. Enfatiza que mesmo sendo um ambiente mórbido, conta com uma vista privilegiada para o pôr do sol no Rio Potengi.

Ele começou a trabalhar lá como zelador em 2009 e foi desligado em meados de 2013, já com o cargo de pedreiro sepultador na carteira de trabalho.

A decisão de se tornar árbitro de futebol ocorreu numa manhã de domingo, quando se encontrava de serviço no cemitério, e num momento de folga via pela televisão à final do Mundial de Clubes de 2011 entre Santos e Barcelona.

Ao ouvir os comentários sobre a arbitragem decidiu que poderia tentar a sorte nessa profissão.  E resolveu colocar a idéia em prática. Antes de trocar a pá pelo apito, fez ocurso de árbitros da Federação Norte-rio-grandense de Futebol, conseguindo se formar sem maiores dificuldades.

Traçando um paralelo entre s duas profissões, coveiro e árbitro, salienta que as duas promovem pressões. O coveiro convive com a tristeza dos outros, o que sempre é desagradável. O árbitro tem que saber enfrentar as reações de torcedores.

Lembra de uma história que falavam antigamente pelas cidades do interior, de que a maior autoridade depois do delegado é o coveiro, porque depois que ele "prende" alguém não tem quem solte. E na arbitragem, o que o juiz marcar não tem volta. E completa com uma ponta de humorismo: “Tem aquele tipo de jogador que dá trabalho, fica cavando falta, reclamando de tudo, aí dá vontade de enterrar mesmo"

Desde 2013, ele vem atuando em torneio sub-19 e jogos da segunda divisão do Campeonato Potiguar. O ano passado Carlos Alberto fez a estreia na primeira divisão, como quarto árbitro no jogo entre ABC e Palmeira, de Goianinha.

Depois também esteve em campo no clássico entre Alecrim X América-RN. Até agora trabalhou em apenas seis jogos na elite do futebol potiguar. Mas não se importa muito com isso, e com otimismo diz ser apenas o começo de uma caminhada exitosa.

E Carlos não pensa em pouca coisa. Confessa que tem um sonho, poder apitar um Mundial de Clubes, que foi o que lhe despertou para ser árbitro de futebol. Sempre pensa positivamente quando olha pela televisão algum jogo de grandes times como Barcelona, Real Madrid, Bayern de Munique. Fecha os olhos e fica pensando em um dia poder apitar um jogo desses.

Todos podem pensar que o seu ídolo no futebol é Messi, Cristiano Ronaldo ou Neymar. Mas não pé nenhum deles, sim o imortal Zé Roberto, que joga no Palmeiras e ele gostaria de conhecer. Garante que o admira muito, pois com 41 anos ainda esbanja preparo físico e continua líder dentro de campo, além de uma estupenda disciplina na carreira.

E complementa: “Se eu pudesse sentar com algum jogador para bater um papo, tirar uma foto, seria com o Zé”. Mas apesar da admiração que tem pelo jogador, afirma que não é palmeirense, embora prefira não dizer por qual time torce. (Pesquisa: Nilo Dias)


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