terça-feira, 12 de abril de 2016

Um grande goleiro

Oscar Modesto Rodrigues Urruty, um dos melhores goleiros que conheci, é uruguaio de Durazno, onde nasceu em 1934. Filho de Modesto Rodrigues e Segunda Josefa Urruty de Rodrigues, começou a carreira de futebolista no pequeno Wanders, de Montevidéu. Ele veio para o Brasil em 1954, com 18 anos de idade, para jogar no Guarany, de Bagé.

Ainda em 1954 quase foi parar no G.E. Gabrielense, de São Gabriel, que recém se tornara profissional.  Não houve acerto. Em 1955 passou por testes no Internacional, de Porto Alegre, mas não ficou por lá.

Em 1956 alçou vôos mais altos: foi para São Paulo, defender a Sociedade Esportiva Palmeiras, mas não teve muita sorte. Lesionou-se, parou por algum tempo e resolveu retornar para o Sul, onde defendeu o G.E. Brasil, de Pelotas.

Em 1957, foi para o rival Pelotas, indicado pelo técnico Paulo de Souza Lobo, o “Galego”. Deu sorte. Foi tricampeão da cidade, em 1958, ano em que o clube comemorava o seu cinquentenário. Em 1960 foi “Campeão dos Campeões”, do interior do Estado.

Em 1962 mudou de endereço, indo jogar no Farroupilha, também de Pelotas. No time do bairro Fragata novas glórias o esperavam: fez parte do time que marcou época no futebol pelotense na década de 1960. Jogou ao lado de Wilson Carvalho, Lelo, Cascudo, Noredin, Wellington e Dias.

Só saiu do Farroupilha em 1965, para jogar no São Paulo, de Rio Grande. Ainda teve uma passagem pelo Flamengo, de Caxias do Sul, hoje S.E.R. Caxias.

Depois de deixar os gramados Oscar se tornou treinador. Seu grande momento foi quando conquistou com o clube “xavante”, a “Taça Governador do estado”, 1972. Uma curiosidade, ele trabalhou de graça, sem cobrar nada, depois que uma comissão formada por dirigentes e torcedores foram em caravana a sua casa, no bairro Cruzeiro, para convencê-lo a assumir o comando técnico.

Oscar era bastante polêmico. Certa vez fez duras criticas ao presidente da Federação Gaúcha de Futebol, o autoritário Rubens Hoffmeister (já falecido), que não gostou e  exigiu uma "retratação". E o que fez Oscar? Mandou-lhe uma foto 3 X 4 com dedicatória em bom castelhano: “Es la retratación.”

A mania de sempre dizer o que pensa é de sua naturalidade. O acompanha desde que jogava futebol. Gosta de dizer que jogou no “time dos rebeldes”. Nunca foi puxa saco de dirigentes, costumava lutar por seus direitos.

Não admitia que atrasassem seus salários, o que lhe garantiu muitos problemas. Dizia que arriscava a sua cabeça na chuteira dos adversários. Foi um dos fundadores do extinto Sindicato dos Jogadores Profissionais de Pelotas, com apoio jurídico do advogado Ápio Cláudio de Lima Antunes.

Oscar, apesar de ter jogado nos três clubes profissionais de Pelotas, garante que não torce para nenhum deles, sim pelos amigos que deixou em sua trajetória profissional. A maior parte da família de Oscar Urruty mora no Uruguai e torce pelo Peñarol.

Depois de abandonar a carreira de treinador, Oscar se dedicou a outra arte – marcenaria. Ele é até hoje restaurador de móveis antigos. Atualmente também se dedica a cutelaria - a arte de fabricar facas. Utiliza o mesmo metal usado em tesouras de esquila. Os cabos são feitos de rabo de tatu e pata de avestruz. Tudo trabalhado a mão.

Depois que sai de Pelotas, 1m 1975, e lá se vão 41 anos, nunca mais tive o prazer de ver Oscar Urruty. O último contato que tive com ele foi num churrasco em sua casa, do qual participaram vários jogadores de futebol que trabalharam com ele.

Eu ajudei a servir a cerveja, atendendo um pedido de Oscar. Na época eu trabalhava na imprensa esportiva de Pelotas, mais precisamente no jornal “Diário Popular”.

Os jornalistas pelotenses Ayrton Centeno, Luiz Lanzetta e Lourenço Cazarré - os três foram meus colegas no jornal "Diário Popular", de Pelotas, pretendem lançar, até o final di ano, provavelmente na "Feira do Livro de Pelotas", um livro que visa resgatar a história e a importância do "Triz", jornal alternativo que circulou em Pelotas no final de 1976. E curiosamente, com uma única edição.

O jornal dedicou, na oportunidade, três, das suas 16 páginas, para uma antológica entrevista com o ex-goleiro Oscar Urruty, já dedicado aos trabalhos de artesanania em madeira. Na ocasião, Oscar, que não tinha papas na língua disse que abandonou o futebol por estar desalentado com a patifaria que reinava no época, patifaria.


No entender do ex-goleiro o jogador pode fazer suas farrinhas. Não influi nada no procedimento. Não escondeu que sempre bebeu. Disse que quando jogou no Pelotas, havia uns 8 ou 10 que eram da boêmia. e assim mesmo foi tricampeão.  pelo Pelotas. Confessou ter jogado 11 vezes com o joelho infiltrado, debaixo de agulha, durante todo o primeiro turno de 1961.

Seu filho, também de nome Oscar, nascido em 1961, curiosamente no mesmo dia em que comemora aniversário, seguiu a carreira do pai. Foi excelente goleiro, tendo atuado pelo Brasil, de sua cidade, passou depois por São Paulo, de Rio Grande (RS), Internacional, de Limeira (SP), Francana, de Franca (SP), Paulista, de Jundiai (SP), Paysandu, de Belém (PA) e Figueirense, de Florianópolis (SC).

Como preparador de goleiros trabalhou no Brasil, de Pelotas, Al Ettifaq, da Arábia Saudita, Grêmio Portoalegrense, Figueirense, de Florianópolis (SC), Jubilo Iwata, do Japão, Cruzeiro, de Belo Horizonte (MG),  Atlético Mineiro, Santos  e no Palmeiras, onde se encontra desde setembro de 2014.

“É sempre uma satisfação muito grande retornar. O Uruguai é um país extremamente hospitaleiro, do qual absorvi algumas coisas pelo contato, por ter ido várias vezes para lá desde pequeno. Tomo mate, o nosso chimarrão, como muita carne na parrilla (churrasco)…

A gastronomia é fantástica. E, a passeio, gosto de ir também a Punta del Este, Piriápolis... O litoral uruguaio tem praias lindas, é muito bacana”, elogia Oscar Rodriguez. (Pesquisa: Nilo Dias)


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