Oscar
Modesto Rodrigues Urruty, um dos melhores goleiros que conheci, é uruguaio de
Durazno, onde nasceu em 1934. Filho de Modesto Rodrigues e Segunda Josefa Urruty de Rodrigues, começou a carreira de futebolista no pequeno
Wanders, de Montevidéu. Ele veio para o Brasil em 1954, com 18 anos de idade,
para jogar no Guarany, de Bagé.
Ainda
em 1954 quase foi parar no G.E. Gabrielense, de São Gabriel, que recém se
tornara profissional. Não houve acerto.
Em 1955 passou por testes no Internacional, de Porto Alegre, mas não ficou por
lá.
Em
1956 alçou vôos mais altos: foi para São Paulo, defender a Sociedade Esportiva
Palmeiras, mas não teve muita sorte. Lesionou-se, parou por algum tempo e
resolveu retornar para o Sul, onde defendeu o G.E. Brasil, de Pelotas.
Em
1957, foi para o rival Pelotas, indicado pelo técnico Paulo de Souza Lobo, o “Galego”.
Deu sorte. Foi tricampeão da cidade, em 1958, ano em que o clube comemorava o
seu cinquentenário. Em 1960 foi “Campeão dos Campeões”, do interior do Estado.
Em
1962 mudou de endereço, indo jogar no Farroupilha, também de Pelotas. No time
do bairro Fragata novas glórias o esperavam: fez parte do time que marcou época
no futebol pelotense na década de 1960. Jogou ao lado de Wilson Carvalho, Lelo,
Cascudo, Noredin, Wellington e Dias.
Só
saiu do Farroupilha em 1965, para jogar no São Paulo, de Rio Grande. Ainda teve
uma passagem pelo Flamengo, de Caxias do Sul, hoje S.E.R. Caxias.
Depois
de deixar os gramados Oscar se tornou treinador. Seu grande momento foi quando
conquistou com o clube “xavante”, a “Taça Governador do estado”, 1972. Uma
curiosidade, ele trabalhou de graça, sem cobrar nada, depois que uma comissão formada
por dirigentes e torcedores foram em caravana a sua casa, no bairro Cruzeiro,
para convencê-lo a assumir o comando técnico.
Oscar
era bastante polêmico. Certa vez fez duras criticas ao presidente da Federação
Gaúcha de Futebol, o autoritário Rubens Hoffmeister (já falecido), que não
gostou e exigiu uma "retratação".
E o que fez Oscar? Mandou-lhe uma foto 3 X 4 com dedicatória em bom castelhano:
“Es la retratación.”
A
mania de sempre dizer o que pensa é de sua naturalidade. O acompanha desde que
jogava futebol. Gosta de dizer que jogou no “time dos rebeldes”. Nunca foi puxa
saco de dirigentes, costumava lutar por seus direitos.
Não
admitia que atrasassem seus salários, o que lhe garantiu muitos problemas. Dizia
que arriscava a sua cabeça na chuteira dos adversários. Foi um dos fundadores
do extinto Sindicato dos Jogadores Profissionais de Pelotas, com apoio jurídico
do advogado Ápio Cláudio de Lima Antunes.
Oscar,
apesar de ter jogado nos três clubes profissionais de Pelotas, garante que não
torce para nenhum deles, sim pelos amigos que deixou em sua trajetória profissional.
A maior parte da família de Oscar Urruty mora no Uruguai e torce pelo Peñarol.
Depois
de abandonar a carreira de treinador, Oscar se dedicou a outra arte –
marcenaria. Ele é até hoje restaurador de móveis antigos. Atualmente também se
dedica a cutelaria - a arte de fabricar facas. Utiliza o mesmo metal usado em
tesouras de esquila. Os cabos são feitos de rabo de tatu e pata de avestruz.
Tudo trabalhado a mão.
Depois
que sai de Pelotas, 1m 1975, e lá se vão 41 anos, nunca mais tive o prazer de
ver Oscar Urruty. O último contato que tive com ele foi num churrasco em sua
casa, do qual participaram vários jogadores de futebol que trabalharam com ele.
Eu
ajudei a servir a cerveja, atendendo um pedido de Oscar. Na época eu trabalhava
na imprensa esportiva de Pelotas, mais precisamente no jornal “Diário Popular”.
Os
jornalistas pelotenses Ayrton Centeno, Luiz Lanzetta e Lourenço Cazarré - os
três foram meus colegas no jornal "Diário Popular", de Pelotas,
pretendem lançar, até o final di ano, provavelmente na "Feira do Livro de
Pelotas", um livro que visa resgatar a história e a importância do
"Triz", jornal alternativo que circulou em Pelotas no final de 1976.
E curiosamente, com uma única edição.
O
jornal dedicou, na oportunidade, três, das suas 16 páginas, para uma antológica
entrevista com o ex-goleiro Oscar Urruty, já dedicado aos trabalhos de
artesanania em madeira. Na ocasião, Oscar, que não tinha papas na língua disse
que abandonou o futebol por estar desalentado com a patifaria que reinava no
época, patifaria.
No
entender do ex-goleiro o jogador pode fazer suas farrinhas. Não influi nada no
procedimento. Não escondeu que sempre bebeu. Disse que quando jogou no Pelotas,
havia uns 8 ou 10 que eram da boêmia. e assim mesmo foi tricampeão. pelo Pelotas. Confessou ter jogado 11 vezes
com o joelho infiltrado, debaixo de agulha, durante todo o primeiro turno de
1961.
Seu
filho, também de nome Oscar, nascido em 1961, curiosamente no mesmo dia em que
comemora aniversário, seguiu a carreira do pai. Foi excelente goleiro, tendo atuado
pelo Brasil, de sua cidade, passou depois por São Paulo, de Rio Grande (RS),
Internacional, de Limeira (SP), Francana, de Franca (SP), Paulista, de Jundiai
(SP), Paysandu, de Belém (PA) e Figueirense, de Florianópolis (SC).
Como
preparador de goleiros trabalhou no Brasil, de Pelotas, Al Ettifaq, da Arábia
Saudita, Grêmio Portoalegrense, Figueirense, de Florianópolis (SC), Jubilo
Iwata, do Japão, Cruzeiro, de Belo Horizonte (MG), Atlético Mineiro, Santos e no Palmeiras, onde se encontra desde setembro
de 2014.
“É
sempre uma satisfação muito grande retornar. O Uruguai é um país extremamente
hospitaleiro, do qual absorvi algumas coisas pelo contato, por ter ido várias
vezes para lá desde pequeno. Tomo mate, o nosso chimarrão, como muita carne na
parrilla (churrasco)…