Valdemar
Cavalcanti, ou simplesmente “Demazinho”, como é mais conhecido, faz parte do
folclore esportivo de Petrolina, cidade do sertão pernambucano, onde mora desde
1957. Ele é baiano de Campo Formoso, distante 340 quilômetros de Salvador, onde
nasceu em 3 de agosto de 1947.
Em
terras pernambucanas ganhou o apelido de “Demazinho”, o que se explica em razão
de sua baixa estatura. Chegou a tentar a carreira de jogador de futebol, mas
não era a sua praia, por isso desistiu e resolveu enveredar por outros
caminhos.
E
foi por acaso que se tornou árbitro de futebol. Ele, que na época trabalhava
como serralheiro, assistia a um treino do time local do Caiano Esporte Clube,
quando o treinador Geraldo Melo o convidou para pegar o apito e dirigir o
coletivo. E se deu bem na missão, sendo elogiado pelos dirigentes, jogadores e
torcedores do clube.
Ele
nem de longe imaginava que ali estava começando uma carreira, que teria a
duração de 18 anos. O primeiro jogo que apitou foi em 1 de maio de 1966, no
estádio da Associação Rural. Vale acrescentar que em toda sua carreira só
apitou jogos de clubes amadores, nunca sendo árbitro em jogos profissionais,
apenas bandeirinha.
Mas
quando jogavam Caiano, América e Palmeiras, todos amadores, aí a coisa era com
ele mesmo.
Nesses
18 anos apitando, e mais de 40 envolvido no futebol de Petrolina, “Demazinho”
viu muita coisa e guardou na memória. Ele gosta de contar esses fatos aos
amigos que diariamente o procuram em um banco de praça na cidade pernambucana.
E
está sempre de bom humor. Até hoje frequenta o Estádio da Associação Rural, que
agora tem nome, chama-se “Paulo de Souza Coelho”. Desde a fundação da praça
esportiva, em 1961, que ele é visto sentado em uma das arquibancadas.
Por
lá viu grandes jogos e observou verdadeiros craques em campo. Ouviu e contou histórias,
algumas hilariantes, outras nem tanto, que até agora ainda são lembradas por
ele. E garante que nos campos amadores de Petrolina passaram atletas que marcaram
época no futebol local e com certeza poderiam jogar em qualquer time
profissional.
Alguns
eram melhores que certos renomados atletas da Seleção Brasileira. Ele cita o
jogador Sinésio, que na sua visão era melhor que Zico. Com certeza, se tivesse
tido oportunidade jogaria em qualquer seleção do mundo, não só do Brasil.
Por
Petrolina passaram grandes clubes profissionais do futebol brasileiro, que por
lá jogaram amistosos, e ele assistiu a todos. Casos de Botafogo, Atlético
Mineiro, Bahia, os três times de Recife (Náutico, Sport e Santa Cruz).
Confessa
que só não assistiu a jogos do Flamengo, do Rio de Janeiro, por que não gosta
desse time. Tem verdadeira ojeriza pelas cores vermelha e preta. Isso se
explica porque “Demazinho” é torcedor do Botafogo carioca.
Já
em Petrolina ele diz que não torce por nenhuma equipe em especial, herança
trazida desde os tempos em que era árbitro. Gostava de primar pela
imparcialidade. E afirma que o seu coração tem espaço para todos os times da
cidade.
Garante
que quase sempre se deu bem nos jogos que apitou. As torcidas e os jogadores o
respeitavam muito. Mas uma vez foi obrigado a chamar o policiamento para fazer
cumprir a lei do jogo.
Ele
expulsou de campo um jogador, e este, inconformado, disse que ia lhe dar uma
surra. Nada mais restou ao árbitro que correr para o meio dos dois soldados que
faziam a segurança do jogo. Mostrou o cartão vermelho e disse a ele:
“Dê
agora. Venha bater em mim”, conta dando gostosas gargalhadas. O tempo passou
célere e hoje “Demazinho” e o atleta que foi expulso são grandes amigos.
O
jogo que lembra com entusiasmo aconteceu entre Caiano e Palmeiras, num sábado a
tarde, que valia o título de campeão da cidade. Estava chovendo.
O
Palmeiras fez 1 X 0 e as torcedoras “Maria Lampião” e “Socorro de Zé Bruno”
foram lavar a sede do time para fazer a festa depois do jogo. Surpresa. Quando
voltaram ao estádio, o Caiando estava ganhando por 7 X 1 e a festa foi para o
espaço.
Outra
história interessante é a do juiz que não sabia ver o tempo de jogo no relógio.
Naquela época era costume riscar o relógio com um lápis, mostrando onde
começava e onde terminava o tempo regulamentar. O fato aconteceu em 1977.
E
teve um dia que choveu e apagou o risco. O problema, é que o juiz da partida
não sabia ver a hora. O jogo já estava
em 50 minutos e ele sem parar. O jeito foi alguém entrar em capo para encerrar
o primeiro tempo.
Além
do problema com o relógio, o juiz do jogo passou por outra situação inusitada
na mesma partida, como conta “Demazinho”.
Essa
história foi publicada até por jornais dos Estados Unidos. No intervalo do
jogo, ele teve uma dor de barriga terrível e ficou atrás do mato. E nada do
jogo recomeçar. Aí ficou todo mundo procurando o juiz, que foi encontrado
tempos depois levantando o calção. O árbitro trapalhão, cujo nome “Demazinho”
não revelou, hoje vive em Recife.
Nem
os narradores de futebol de Petrolina escapam da língua ferina de “Demazinho”.
Ele conta muitas histórias vividas pelo locutor Herbert Mouze, que costumava
dizer: “Rádio Juazeiro, a melhor do Atlântico”.
E
a pergunta vinha rápida: “Onde é que Juazeiro tem Atlântico, aqui é o rio São
Francisco”. E tinha também o repórter Antônio Avelar. Certa vez a torcida
gritava “Vai na bola, Avelar”. Ele jogou o microfone no chão e saiu correndo
atrás da bola.
Muito
boa a historinha que envolve um torcedor do Palmeiras, chamado de “Luiz tá em
todas”. Quando o adversário de seu time
fazia gol, ele passava para o outro lado da arquibancada para tomar umas e
outras. Por isso o curioso apelido.
“Demazinho”
não casou e não tem filhos, mora com uma irmã. Aposentado, garante ser um homem
livre, que quase aos 70 anos viaja para onde quer e quando quer. Sua segunda
casa é o estádio Paulo de Souza Coelho, local onde passa a maior parte de seu
tempo.
Bom dia caro Nilo.
ResponderExcluirAndava por esses dias a cata de algumas informações do passado e eis que acabei parando no teu blog.
Nilo sou da cidade do Rio Grande, Lembras do Bossa Nova Futebol de Salão?
Pois é eu era dirigente juntamente com o meu irmão Chico Tá lembrado? No mês que vem estarei no lançamento do livro do nosso Bombardeador (Nico).
Nos veremos lá .
Abraços.
Silvio Rodrigues