quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

O time solidário de Brumadinho


A cidade mineira de Brumadinho até uma semana atrás vivia praticamente no anonimato. Pouca gente ouvira falar dela e nem sabia onde ficava. No entanto, a tragédia ocasionada pela Mineradora Vale do Rio Doce transformou Brumadinho em triste notícia, tornando-a conhecida em todo o mundo.

Lamentavelmente a ganância pelo lucro ceifou a vida de muitas pessoas, enlutando uma grande quantidade de famílias. A perspectiva é de que as mortes cheguem a números estratosféricos, porque passados seis dias é pouco provável que ainda se encontre alguém com vida.

Mas como este blog é dedicado ao futebol e suas histórias, vamos aproveitar o momento, mesmo que doloroso, para contar algo a respeito do time de futebol da cidade, o Brumadinho Futebol Clube.

A fundação do clube ocorreu em 1929. Tem sua sede na Rua Quintino Bocaiuva, s/n e as cores oficiais são o azul e o branco.

Disputou a 3ª Divisão Mineira em 1987, classificando na penúltima colocação do grupo D. Os resultados dos jogos foram estes, na única incursão no profissionalismo:

Brumadinho 1 X 1 Carandaí(Carandaí); Barroso (Barroso) 0 X 1 Brumadinho; Brumadinho 1 X 1 Flamengo (Conselheiro Lafaiete); Olympic (São João del Rey) 3 x 0 Brumadinho; Carandai 2 X 2 Brumadinho; Brumadinho 0 x 2 Barroso; Flamengo 2 x 2 Brumadinho; Brumadinho 0 X 1 Olympic.

O campo do Brumadinho fica na Rua Itaguá, na altura do número 1.000. O local se transformou em uma base de apoio para as operações anerentes a tragédia do dia 25 e sua quadra poliesportiva concentra doações às famílias vitimas da catástrofe.

Ao invés da bola, o campo do time amador virou pista de pouso. O espaço cedido pelo Brumadinho F.C. se tornou um dos pontos para facilitar o transporte de equipamentos e profissionais que atuam na busca das vítimas.

O trabalho de quem cuida do Brumadinho FC agora se concentra em dar solidariedade às famílias das vítimas, bombeiros e voluntários envolvidos na tragédia.

O presidente do clube há cinco anos, Roberto Márcio, de 46 anos, enfatiza que o clube tem este grande espaço, onde agora recebe muita gente nestas idas e vindas. Dá graças a Deus porque o campo não foi atingido e permite esta ajuda.

Disse que tudo isso é muito triste, mas o clube está pronto para auxiliar cada vez mais.

E o Brumadinho, embora suas instalações nada tivessem sofrido, chora a possível morte de um atleta na tragédia. Robert Ruan Oliveira Teodoro, 19 anos, que jogava pelo juvenil da equipe, que disputa competições de base em Minas Gerais, trabalhava na Vale por intermédio de uma empresa terceirizada.

O presidente conta que um atleta da base do clube perdeu um primo e outros dois perderam um tio. Enquanto o Brumadinho se movimenta para ajudar na cidade, os meninos permaneceram ao lado dos amigos, rezando pelas vítimas em uma igreja de São Gotardo e se orgulham do legado deixado por um time que tem se mostrado mais do que apenas um clube de futebol.

O último jogo da equipe adulta de Brumadinho ocorreu no início do mês, válido pela Copa Itatiaia de futebol amador.

Entre os jovens, as categorias sub-12, sub-14 e sub-16 disputam a 5ª Copa de Futebol do Alto Paranaíba, torneio que reúne os meninos na cidade de São Gotardo, localizada a quatro horas de distância do município vitimado pelo rompimento da barragem. (Pesquisa: Nilo Dias)

Uma das equipes de categoria de base do Brumadinho F.C.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Um ídolo do Flamengo

Luís Carlos Tóffoli, o “Gaúcho”, ex-atacante de Flamengo e Palmeiras nasceu em Canoas (RS), no dia 7 de março de 1964 e faleceu em São Paulo, na data de 17 de março de 2016, vitimado por um câncer de próstata. Como desejava, foi enterrado no Cemitério Jardins das Palmeiras, em Goiânia.

Aos 10 anos de idade a família de “Gaúcho” se mudou para Goiânia, onde ele foi criado até se tornar jogador.

“Gaúcho” descobriu que estava com a doença em meados de 2009, quando estava com 45 anos e só a revelou para pessoas bem próximas, como familiares e amigos íntimos. Dentre eles, Renato Gaúcho e Uidemar, velhos parceiros de Flamengo.

Amigo de Renato Portaluppi, “Gaúcho” provocou, sem querer, a demissão do ex-atacante do Botafogo, em 1992. Ao pagar uma aposta por ter perdido o primeiro jogo da final do Brasileirão daquele ano, Portaluppi colocou carne de churrasco na boca de “Gaúcho”. Revoltada com a imagem, a diretoria botafoguense o mandou embora.

Logo que descobriu a doença foi um baque muito grande, mas “Gaúcho” sempre fez os tratamentos específicos, como a radioterapia. E eles até que davam resultado. Às vezes ele se sentia mal, ligava para o médico em São Paulo ou ia até lá, mas tudo ficava sob controle.

A luta contra o câncer de próstata durou sete anos, segundo disse sua esposa, a atriz Inês Galvão, casada com o ídolo rubro-negro desde 1991, com quem teve três filhos – Leonardo, e as gêmeas Maria Luísa e Maria Vitória, além de um enteado.

A doença veio a se agravar a partir de janeiro de 2016, quando, “Gaúcho” fez quimioterapia pela primeira vez. As primeiras sessões do tratamento não deram o resultado esperado, e o câncer se alastrou para outros órgãos. Ele se sentiu mal e a família decidiu ir para São Paulo. “Gaúcho” saiu de casa andando normalmente, mas quando desceu do avião no aeroporto ele já não conseguia mais.

Precisou ser levado de cadeira de rodas. O ex-atacante ficou internado no Hospital Beneficência Portuguesa, na capital paulista, por cerca de duas semanas antes de falecer. Apesar do estado de saúde ter piorado, “Gaúcho” sempre manteve o jeito de ser e foi feliz até os últimos instantes.

Segundo sua esposa, ele jamais teve medo de morrer, soube aproveitar a vida. No hospital, não chegou a sentir dor ou sofrer. Estava sedado quando o estado clínico piorou. Ela salientou ter ficado triste, mas confortada por saber que ele foi muito feliz em vida e viveu tudo que quis.

“Ele quis ser jogador e foi. Quis ser ídolo de um grande clube e foi. Quis casar e ter três filhos e teve. Além disso, foi sempre irreverente. Deixa um legado bacana e várias histórias bonitas”, afirmou.

“Gaúcho” começou a carreira nas divisões de base do Flamengo, mas depois foi jogar no XV de Piracicaba, Grêmio e Verdy Kawasaki. Em 1988, após passar pelo Santo André, chegou desacreditado ao Palmeiras.

No entanto, ele começou a marcar gols e, com isso, foi consolidando seu lugar no time. É bem verdade que não conquistou nenhum título pelo Palmeiras, A fama, porém, sobreveio de maneira inusitada, em um episódio memorável na história do futebol brasileiro.

Em uma partida válida pelo Campeonato Brasileiro de 1988, substituiu Zetti, que saíra de campo lesionado, e atuou como goleiro. Não fosse isso o bastante, por ironia do destino, o adversário do Palmeiras, naquele jogo, era o Flamengo.

Mas o melhor de tudo é que a partida, por conta do regulamento da competição, terminou na disputa de pênaltis, quando “Gaúcho” defendeu as cobranças de Aldair e Zinho, garantindo a vitória ao Palmeiras.

Dois anos mais tarde, “Gaúcho” retornou ao Flamengo, para desta vez, tornar-se ídolo da torcida rubro-negra. Através de seus gols de cabeça, ajudou o time a conquistar a “Copa do Brasil” de 1990, o Campeonato Carioca de 1991 e o Campeonato Brasileiro de 1992.

Disputou 198 partidas e marcou 98 gols, tendo sido o artilheiro dos Campeonatos Cariocas de 1990 e 1991, da Libertadores da América de 1991 e da Supercopa Libertadores de 1991.

Do Flamengo, “Gaúcho” saiu para ir defender o Lecce, clube italiano da primeira divisão. Infelizmente, sua carreira não embalou na Itália, tendo disputado somente cinco partidas. Em seguida, passou pelo Boca Juniors, da Argenrtina, até chegar ao Atlético Mineiro.

Em 1995, jogou na Ponte Preta e no Fluminense e em 1996, no Anápolis, aonde encerrou a carreira de jogador.

Em 2001, “Gaúcho” fundou o Cuiabá Esporte Clube, sendo que o seu clube foi o representante do Estado do Mato Grosso, na Copa São Paulo de Futebol Júnior. Nesse ano, o clube passou a participar do Campeonato Matogrossense e, logo em sua estréia, já conquistou o primeiro título regional.

Em seguida começou a carreira de treinador, nesse mesmo clube, como auxiliar.  Em 2010, treinou o time principal do Mixto. O último clube que treinou foi o Luverdense, de Lucas do Rio Verde.

Títulos conquistados. Flamengo: Copa do Brasil (1990); Taça Rio: 1991; Copa Rio:1991; Campeão Carioca (1991); Campeão Brasileiro (1992); Taça Guanabara (1984 e 1988); Taça Euzebio de Andrade (1987); Torneio Internacional de Angola (1987); Torneio El Cabon (1987); Copa Kirin (1988); Troféu Colombino (1988); Campeonato da Capital (1991 e 1993); Troféu Libertad (1993). Grêmio: Campeonato Gaucho (1985); Torneio Ciudad Palma de Mallorca (1985) e Torneio de Rotterdam (1985). Atlético Mineiro: Campeão Mineiro (1995).

Artilharia. Campeonato Carioca (1990 - 14 gols e 1991 - 17); Taça Libertadores da América (1991 - 8 gols) e Supercopa Libertadores (1991 – 3 gols) (Pesquisa: Nilo Dias)


quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

O atleta que virou limpador de bueiros

Jorge Arnaldo Pereira, mais conhecido por “Jorge Preá”, nasceu em São Paulo, no dia 10 de janeiro de 1984.  Começou a carreira no futebol muito tarde, tendo se profissionalizado em 2007, quando tinha 23 anos e passou numa peneira do E.C. Pelotas, time do interior gaúcho.

“Preá” teve um bom desempenho no clube pelotense, tendo sido artilheiro do Campeonato Gaúcho da Segunda Divisão gaúcha, tendo chamado a atenção do futebol coreano. Mas não deu sorte, sofreu uma contusão no joelho direito e teve de voltar ao país, fazendo tratamento no Palmeiras.

O alviverde paulista era na ocasião dirigido tecnicamente por Vanderlei Luxemburgo, que no ano anterior havia indicado o jogador ao Santos. E não teve dúvidas em pedir que o Palmeiras o contratasse.

Nesta época, o ex-atacante morava em Perdizes, bairro de classe média alta de São Paulo. Agora, vive no popular bairro da Casa Verde. A diferença é a casa própria. Com o primeiro contrato que fechou, comprou uma casa para sua mãe.


Um vizinho, fanático torcedor do Palmeiras, viu o menino correndo pela rua e o apelidou de "Preá", uma espécie de mamífero roedor, que tem na velocidade a sua principal característica.

No Palmeiras foi campeão paulista de 2008, ao lado de jogadores como Marcos, Valdívia, Diego Souza, Kléber “Gladiador” e Denílson, mas não conseguiu se firmar. “Jorge Preá” disputou apenas oito jogos pelo Palmeiras, mas é lembrado por um gol importante rumo ao título do Campeonato Paulista 2008.

Responsável por garantir o triunfo por 1 X 0 sobre a Portuguesa nos acréscimos no antigo Palestra Itália, ele recentemente conheceu o Allianz Parque.

“Foi o gol mais importante da minha vida. Até hoje, os torcedores palmeirenses lembram e me reconhecem por isso. Tenho o vídeo do lance no meu telefone celular e gosto de revê-lo. Sempre me emociono com a narração do Zé Silvério”, contou.

Ao sair do Palmeiras virou cigano do futebol, vestindo várias camisas, jogando por Atlético Paranaense, Bragantino (SP), Mogi-Mirim (SP), ABC de Natal (onde participou da campanha do título brasileiro da Série C em 2010), Grêmio Barueri (SP), Atlético Sorocaba (SP), Operário Ferroviário (PR), Cascavel (PR), Barretos (SP), Sinop (MT), Real Ariquemes (MT), em 2018, e Arapongas (PR), em 2019.

O ex-palmeirense disputou sua última partida como profissional no final de fevereiro pelo Real Ariquemes, de Rondônia, na Copa Verde. Para receber o que o clube lhe devia, teve de entrar na Justiça do Trabalho.

O jogador estava praticamente esquecido, quando no dia 20 de janeiro de 2019 o repórter Felipe Pereira, do UOL, fez interessante matéria com ele. “Preá” foi descoberto trabalhando para uma empresa que presta serviços à Prefeitura de São Paulo, na limpeza de bueiros nas marginais Pinheiros e Tietê, principais vias da capital paulista.

O jornalista não teve dúvidas em fazer a matéria, que relata a história de um jogador de futebol, que se apresenta no trabalho às 7 horas da manhã de botas, capacete, luvas, óculos e outros itens obrigatórios do equipamento de proteção.

Ele, que durante cerca de 10 anos vestiu outro uniforme, o de atleta de futebol, constando de chuteiras, meias, calções e camisas de clubes de futebol, entre os quais o Palmeiras e uma passagem pela Coreia do Sul.

E Jorge Preá não se sente humilhado por ter trocado de profissão. Garante que em momento algum se viu menosprezado. Conta que tomou a decisão de abandonar os gramados e trabalhar neste serviço, pela necessidade de buscar o pão de cada dia.

Jorge Preá é casado em Ingrid, tem cinco filhos e mora em São Paulo, no bairro Casa Verde. Ele valoriza muito a companhia da mulher porque o casal cumpre a risca a promessa feita na igreja: “juntos na alegria e na tristeza”.

Ele conta que começaram a namorar antes dele se tornar jogador profissional. Sem ser perguntando, cita o dia em que ficou com Ingrid pela primeira vez, foi em 13 de fevereiro de 2005, no desfile das campeãs do carnaval de São Paulo.

Conta que se conheceram porque moravam na mesma rua. Ela é irmã de um amigo de “Preá”. Os dois demoraram a se relacionar porque Ingrid teve um casamento anterior. “Preá” casou e assumiu o filho que ela tinha, Kaique.

O ex-jogador se derrete ao falar dela porque estavam juntos na época anterior à carreira, na fase boa, quando andavam de SUV, e continuam firme na volta ao bairro Casa Verde. O ex-jogador sintetiza: “Ela é uma mulher guerreira. Está comigo antes da carreira no futebol. Nos momentos bons e ruins. Estamos juntos para qualquer hora”.

O último clube que defendeu, não pagou os salários, mas as contas não pararam de chegar. Com a mulher grávida e mais os filhos para criar, pegou o primeiro emprego que apareceu. Conta que o seu filho mais velho, Kaique, de 15 anos, queria que ele voltasse a jogar futebol.

É lógico que o seu padrão de vida caiu bastante desde que abandonou os gramados. O salário mais alto que teve foi durante o último dos quatro anos de Palmeiras, R$ 35 mil por mês. Hoje, a renda gira entre R$ 4 e R$ 5 mil. A variação existe porque ele recebe para jogar por times da várzea da Grande São Paulo aos finais de semana.

Mas não tem vergonha de limpar bueiros. Bem humorado até se diz orgulhoso do que faz, pois está ajudando a cidade a evitar enchentes e alagamentos. Ressalta que vergonha deve sentir quem joga o lixo na rua que depois vai entupir os bueiros. Ele opera um sugador que recolhe a sujeira para um compartimento do caminhão usado pela equipe.

A vaga surgiu por indicação de um parente há seis meses. O ex-atacante gostou porque houve pouca burocracia e o primeiro salário pingou rápido. A mulher estava grávida. Hoje, o quinto filho do casal tem um mês de vida.

A única coisa quer Jorge Preá não gosta no novo emprego, é quando tem de tirar a tampa de um bueiro, e aparecem com frequência ratos e escorpiões.

Para melhorar os ganhos, “Preá” dá aulas em uma escolinha de futebol e joga por times varzeanos de São Paulo. Com a carreira profissional interrompida há quase 10 meses, “Preá” procura disputar, pelo menos, três partidas de várzea a cada sete dias por times como Vida Loka, Blindados e Dragões da Casa Verde, além do Dínamo. Em uma semana boa, ele estima ganhar aproximadamente R$ 600,00. (Pesquisa: Nilo Dias)


segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Asssassinado diretor do Guarani de Venâncio Aires

O brutal assassinato do diretor de futebol do Guarani, de Venâncio Aires, Éder Silva, chocou o esporte do Rio Grande do Sul. O crime aconteceu por volta das 19 horas de quinta-feira, na localidade de Santo Antônio, na zona rural de Mato Leitão, distante 15 quilômetros de Venâncio Aires, quando ele e o filho, de 17 anos, voltavam de um treinamento do Guarani.  

Segundo apurou a Polícia, Éder chegava ao seu sítio quando foi abordado por dois homens que haviam invadido a casa dele numa tentativa de assalto, sendo atingido por dois disparos e morreu no local.Tinha 36 anos.

Assustado, ele teria corrido em direção aos fundos da casa para escapar, mas foi baleado nas costas e na cabeça. O filho adolescente teria ficado na porta da frente aguardando o pai e, por isso, não teria testemunhado o crime.

De acordo com o departamento de comunicação do clube, Silva iniciou sua trajetória nas categorias de Base do E.C. Guarani, em 1996.

Durante três anos (entre 2000 e 2003) ele também foi atleta profissional do clube. A função de dirigente, Silva desempenhava desde setembro do ano passado, com a posse da nova diretoria. O sonho dele era ser presidente do clube.

Em comunicado publicado em sua conta do Facebook, o Guarani lamentou o falecimento de Éder:

"É com uma tristeza infinita no coração que comunicamos o falecimento de nosso ex-atleta e atual Diretor de Futebol Éder Silva. Éder iniciou sua trajetória no E.C. Guarani nas categorias de Base em 96 e teve passagem no futebol profissional. Atualmente, Éder atuava como Diretor de Futebol no Novo Projeto do EC Guarani.

Um torcedor apaixonado pelo clube, que voluntariamente dedicava parte dos seus dias ao clube. Ficaram as recordações de um homem dedicado que deu e ensinou muito a todos nós.

Não temos palavras para expressar os nossos sentimentos. Pedimos a Deus que conforte o coração dos familiares e amigos neste momento de dor". O corpo de Éder Silva foi sepultado no Cemitério Municipal de Venâncio Aires. (Pesquisa: Nilo Dias)



quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

O futebol feminino já fez sucesso na Inglaterra

A I Grande Guerra criou o fenômeno da popularidade do futebol feminino na Inglaterra. Jogos chegavam a ter mais de 50 mil espetadores. No dia 26 de dezembro de 1920, cerca de 53 mil pessoas lotaram as dependências do estádio do Everton, em Liverpool, Inglaterra, para assistirem a um jogo de futebol. E do lado de fora outras 14 mil almas quase brigavam em busca de lugarzinho.

Não seria nada de anormal, se o jogo fosse entre dois times masculinos de futebol. Mas não era. De um lado estava o "Dick, Kerr’s Ladies F.C". e do outro o "St. Helens Ladies", duas equipes femininas.

O sucesso desse jogo acendeu a luz vermelha nos dirigentes da Football Association (FA), temerosos que o futebol feminino quebrasse as receitas do futebol masculino, tão devastado que se encontrava pelo advento da I Grande Guerra, que jogou uma geração de jovens para a batalha das frentes e das trincheiras, tirando-os gramados.

Em 5 de dezembro de 1921, a FA proibiu as mulheres de jogarem futebol em qualquer campo de clube pertencente à clubes filiados a vaidosa Federação Inglesa, sob a discutível desculpa de que “têm surgido diversas queixas sobre os jogos de futebol praticados por mulheres, que nos forçam a expressar a opinião de que este desporto é muito pouco indicado para o sexo feminino e não deve, de forma alguma, ser encorajado”.

E mais: “Surgiram, igualmente, queixas sobre as condições em que estes jogos têm decorrido e da forma como as receitas desses jogos têm sido utilizadas para fins não caritativos. Somos de opinião que uma excessiva percentagem dessas receitas tem sido desviada para despesas inadequadas. Desta forma vimos requerer aos clubes nossos filiados que recusem ceder as suas instalações para estes jogos”.

A verdade é que esta decisão absolutamente sexista só foi revogada em 1971. Na livre Inglaterra, as mulheres passaram a jogar na clandestinidade.

Ninguém imaginava ainda que o futebol feminino iria sofrer tão forte machadada na sua progressão que o deixaria marcado por cinco décadas. Uma vaga absurda de inveja levantava-se em Londres.

A discutível decisão da FA não dobrou o espírito das raparigas de Preston. O treinador Alfred Frankland, conhecido por “Pop Frankland”, desafiou a cartolagem ao dizer: “Continuaremos a jogar, e se os organizadores de jogos de exibição não nos cederem campos, jogaremos em terra lavrada".

Em 1922, a equipe estava na América do Norte. Proibida de jogar no Canadá, seguiu para os Estados Unidos. Lutava contra a discriminação com todas as suas forças. Enfrentou nove times compostos por homens, obtendo três vitórias, três empates e três derrotas. Na Inglaterra, ninguém as esquece até hoje.

Um dos clubes envolvidos no jogo de 1920, que lotou o estádio do Everton, foi o “A Dick, Kerr & Company”, que era de uma empresa de construção de locomotivas e carruagens fundada em Kilmarnock, na Escócia, e com sede na cidade inglesa de Preston.

Em 1914, com o recrutamento militar de uma enorme fatia da população masculina, as mulheres entraram com força como operárias para as fábricas da Grã Bretanha. 

As que trabalhavam na “Dick, Kerr” não demoraram muito a dedicarem-se a disputa de jogos de futebol nas instalações da empresa durante os momentos de descanso e, até, nos dias livres. Seguiram-se desafios contra outros grupos de trabalhadoras.

Um fenômeno de surpreendente popularidade emergia por entre os subúrbios industriais das cidades da velha Inglaterra. Com o epicentro em Preston, bem entendido. No dia de Natal de 1917, o “Dick, Kerr Ladies F.C.” arrastou até ao Deepdale, o maior estádio da região, 10 mil pessoas que assistiram a uma vitória sobre a “Arundel Coultartd Factory”, por 4 X 0.

A renda desse jogo destinou-se ao auxílio de operários feridos na guerra ou em serviço.

As moças de Preston ganharam um prestígio tal que se dedicaram a encontros de exibição por todo o país. A “Dick, Kerr & Co.” pagava a cada uma 10 shillings por jogo, como forma de cobrir as despesas de deslocação, o que as tornou praticamente profissionais.

Na França, Alice Milliat, a grande responsável pela presença das mulheres nos Jogos Olímpicos (estrearam-se em 1900, mas apenas no golfe e no tênis), estava atenta ao que se passava em Preston. Era uma personagem inabalável.

No ano de 1920, reuniu uma equipe de futebol feminino que se deslocou a Inglaterra para o primeiro torneio internacional entre mulheres. Ou melhor, entre duas equipes de mulheres. A já famosa “Dick, Kerr Ladies F.C.” e uma Seleção da França. Quatro jogos, em Preston, Stockport, Manchester e Londres, Stanford Bridge, com três vitórias britânicas e um empate.

De tal forma que as mulheres da “Dick, Kerr & Co.” não tardaram a ganhar prestigio também na França, onde jogaram em Paris, Rouen, Havre e Roubaix. (Pesquisa: Nilo Dias)


Dick Kerr International Ladies A.F.C., em 1921.

sábado, 12 de janeiro de 2019

A nova Rainha da África

Chrestinah Thembi Kgatlana, 22 anos, 1,54m de altura, nascida em Mohlakeng, uma pequena cidade no Oeste de Johanesburgo, África do Sul, é a nova “Rainha da África”.

Ela foi escolhida como melhor jogadora do continente, desbancando as nigerianas Francisca Ordega e Asisat Oshoala, que já havia vencido o prêmio três vezes. Ela se tornou a segunda sul-africana a vencer o título concedido pela Federação Africana de Futebol.

Mais que isso, ela venceu a disputa de melhor gol africano de 2018, entre homens e mulheres. O gol da atacante contra a Nigéria, durante a fase de grupos da “Copa Africana das Nações”, foi escolhido o mais bonito da temporada por voto popular.

E não para por aí. No ano passado, ela foi a melhor jogadora da “Cyprus Cup”. Na “Copa Africana das Nações”, embora a África do Sul tenha ficado com o vice-campeonato, ao ser derrotada nos pênaltis pela Nigéria, ela anotou gol em todos os jogos e foi não apenas a artilheira do torneio, como a melhor jogadora.

O resultado garantiu pela primeira vez a participação da África do Sul na Copa do Mundo, que divide o grupo com China, Espanha e Alemanha.

A premiação anual da Confederação Africana de Futebol chegou em sua 27ª edição. O “Rei” e a “Rainha” do futebol africano foram premiados em uma cerimônia que pela primeira vez em aconteceu em Dakar, capital do Senegal.

Embora o prêmio para “Melhor Jogador Africano” exista desde 1992, para as mulheres ele passou a existir apenas em 2001, sendo que as edições de 2009 e 2013 não houveram premiadas.

A primeira vencedora da história foi Mercy Akide, da Nigéria, que esteve na seleção nigeriana nas Olimpíadas de 2000 e 2004. A meio-campista foi nomeada pela FIFA em 2005 como uma das 15 embaixadoras do futebol feminino no mundo.

Os pais de Chrestinah Thembi Kgatlana e dois irmãos continuam morando na África do Sul, enquanto ela seguiu seus sonhos e trocou o diploma de Turismo para jogar na maior liga de futebol feminino do mundo.

Aos 8 anos de idade, a sul-africana se interessou pelo futebol em uma conversa na escola. Nada diferente de outras garotas, ela foi “permitida” a jogar com os meninos. De uma forma difícil, ela jogava em um campo na beira da estrada.

Vinda de família e lugar humilde, Thembi Kgatlana conta que atualmente, consegue ajudar os pais e irmãos com o dinheiro do futebol, mas também acredita que uma das grandes dificuldades da modalidade é conseguir patrocínios.

Em 2016, ela esteve no Brasil para a disputa da “Rio-2016”, quando a África do Sul conseguiu um empate com a seleção brasileira na Arena da Amazônia, sem Marta.

Atacante do Liverpool terminou 2018 com 40 gols e 15 assistências. Hoje, a estrela da seleção da África do Sul defende o “Houston Dash” na liga norte-americana de futebol.

O fato da jogadora atuar na maior liga de futebol do mundo não a faz esquecer suas origens. Toda vez que vai visitar os pais em sua terra natal, faz questão de jogar futebol no campo onde começou, mesmo que não seja o lugar ideal. E toda vez que chega, ela leva uma bola extra para deixar com seus colegas de infância.

Sua maior inspiração no futebol é Mpumi Nyandeni, meio-campista da seleção de 31 anos. Alguém que ela sempre via jogar, hoje é, além de companheira de equipe, uma grande amiga.

Dividindo-se entre a seleção sul-africana e o time americano, ela realmente acredita poder contribuir com as “Banyanas” com experiências trazidas dos Estados Unidos.

Jovem e cheia de ambições, a melhor jogadora do continente africano afirma que um dos seus maiores desejos é jogar a “UEFA Women’s Champions League” e balançar as redes na “Copa do Mundo”.  (Pesquisa: Nilo Dias)


quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Patrocínios nada convencionais

Em 2012 uma violenta crise financeira assolou os clubes de futebol mais modestos da Grécia, que se viram obrigados a aceitar qualquer tipo de patrocinador em suas camisas, desde que injetassem algum dinheiro nos combalidos cofres dos clubes.

Foi o que aconteceu com o “Voukefalas”, da cidade de Larissa, que tem 200 mil habitantes, e fica distante cerca de 300 quilômetros de Atenas, que fechou patrocínio com duas casas noturnas. Mostra no seu uniforme rosa os anúncios dos bordéis “Villa Erotica”  e “Soulas House of History”.

Até o uniforme mudou, com os jogadores passando a vestir camisa e short no mesmo tom de rosa. Os bordéis exibem suas logomarcas na blusa, uma na parte da frente e outra na de trás.

O elenco do clube amador é formado por estudantes, garçons e até entregadores de pizza, entre outras profissões. No jogo de estreia do novo fardamento, torcedores compareceram em peso às arquibancadas durante uma partida e pareceram não se incomodar com a novidade. Nem mesmo as mulheres ou os mais idosos, diga-se de passagem.

Várias organizações esportivas da Grécia estão sendo muito atingidas pelos cortes orçamentários do Governo e, por isso, este não é o único patrocínio inusitado nos campeonatos amadores do país.

Há um clube apoiado por uma funerária, o “Paleopyrgo”, enquanto outros negociam com estabelecimentos como uma loja de kebab, uma fábrica de geleia e produtores de queijo.

O “Paleopyrgo estampou em sua camisa negra a publicidade da funerária “Karaiskaki”, adornada por uma cruz branca.
          
O presidente e também atleta do clube, Lefteris Vasiliou explicou que era uma questão de sobrevivência. O dono da funerária é seu amigo e por isso resolveram fazer o acordo, uma vez que a temporada passada havia sido muito ruim por causa da crise.

E não é que a ideia agradou os torcedores, que acabaram se identificando com a ideia, tanto que muitos já pensam em adotar a figura da "morte" com a sua foice como mascote.

Já o caso do “Voukefala” é um pouco mais complexo. O clube precisava de licença da Federação Grega de Futebol para saber se poderia utilizar a publicidade em partidas oficiais. No inicio foi estampada apenas em jogos amistosos.

A propaganda foi vetada pela organização da Liga durante os jogos porque viola "os ideais esportivos" e é imprópria para os torcedores menores de idade.

O time apelou da proibição, mas isso não preocupa Alevridou, 67 anos. A empresária afirmou que ajuda o “Voukefalas” porque ama futebol.

"Não é o tipo de negócio que precisa de promoção", diz, vestida em roupa branca e chapéu da mesma cor em meio a duas mulheres mais novas. "O negócio funciona mais no boca a boca", explica.

Alevridou conseguiu evitar os efeitos da crise financeira e emprega 14 mulheres em seus bordéis.

O presidente e goleiro do time, Giannis Batziolas, explicou que o patrocínio foi aceito por razões econômicas. O clube atravessava uma crise sem precedentes e não podia dar-se ao luxo de recusar qualquer ajuda.

Os prostíbulos são um negócio legalizado na Grécia, e o dirigente não entende por que precisa de autorização para divulgar a publicidade. "O bordel é um empreendimento legal, que gera dois milhões de euros por ano (R$ 5,2 milhões). Quando anunciamos o acordo, alguns jogadores perguntaram se poderiam ganhar uma 'cortesia'", lembrou Batziolas.

A dona do bordel, Soula Alevridou, de 67 anos, paga mil euros (R$ 2.600) por mês pela publicidade e afirmou que o faz apenas por gostar de futebol. O seu ramo, segundo a própria, não precisa de publicidade para fazer sucesso.(Pesquisa: Nilo Dias)



segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

A história do massagista zagueiro

Essa história louca aconteceu no “Campeonato Brasileiro da Série D” de 2013, num jogo entre as equipes do Aparecidense, de Aparecida, de Goiás frente o Tupi, de Juiz de Fora (MG), para definir quem avançaria nas oitavas de final.

O primeiro jogo disputado em Aparecida de Goiânia, terminou empatado em 1 X 1. Dessa feita o segundo jogo se desenvolvia em Juiz de Fora, no dia 7 de setembro de 2013. Decorriam 44 minutos do segundo tempo e a partida estava empatada em 2 X 2, resultado que classificaria o time goiano, graças aos gols marcados fora de casa.

O jogo, que era para ser apenas mais um válido pela IV Divisão Nacional, acabou se tornando um dos mais acidentados  incidentes e curiosos da história do futebol, que rodou o mundo e foi notícia por toda a parte.

Tudo, porque Romildo Fonseca da Silva, o “Esquerdinha”, impediu por duas vezes que a equipe mineira marcasse o seu terceiro gol e vencesse o jogo, classificando para a fase seguinte da competição.

Passados cinco anos do episódio, até hoje não foi esquecido por quem estava naquela noite histórica de feriado no “Estádio Municipal Radialista Mário Helênio”, em Juiz de Fora. Não resta dúvida que, para jogadores, dirigentes e árbitros envolvidos, aquela partida foi marcante.  

Tudo começou quando o atacante Ademilson, que defendeu Botafogo e Fluminense no início dos anos 2000, recebeu um passe dentro da área e finalizou para o gol. A bola passou pelo goleiro Pedro Henrique, mas não pelo massagista “Esquerdinha”, que evitou o gol parcialmente.

No rebote, o lateral-direito Henrique chutou de novo, mas o massagista conseguiu novamente evitar o terceiro gol do alvinegro.

Depois do lance inusitado, “Esquerdinha” correu em disparada para o vestiário, começando uma grande confusão. Os jogadores do Tupi partiram para cima do árbitro, querendo a validação do gol, que daria a vaga aos juiz-foranos.

O "massagista-goleiro" teve medo de morrer. Ele estava perto da trave porque havia sido chamado para atender o zagueiro Elder, de sua equipe. Em vez de sair depois do atendimento, “Esquerdinha” aproveitou o posicionamento e interceptou o chute de Ademilson. O massagista deixou o campo correndo muito.

"Já imaginou se ele escorrega? O pessoal mataria ele. Ainda bem que o homem é bom de corrida. Ele foi maratonista e correu a São Silvestre em 1994 e 1995", contou o irmão mais velho.

No entanto, o árbitro Arilson Bispo da Anunciação informou que tinha que fazer valer a regra, reiniciando a partida com bola ao chão. Mais de 20 minutos depois, o jogo recomeçou, mas o resultado de campo não foi alterado, com a Aparecidense se classificando após o apito final.

Como já era esperado, o Tupi acionou o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) em busca da anulação da partida ou da exclusão da Aparecidense da competição. No dia 16 de setembro de 2013, a Aparecidense foi excluída da Série D.

Porém, a Procuradoria apresentou recurso para mudar o artigo em que o clube goiano foi enquadrado. Paulo Schmitt pedia uma revisão do julgamento anterior, que enquadrou o clube no artigo 205 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, o CBJD (que diz o seguinte:

"Impedir o prosseguimento de partida, prova ou equivalente que estiver disputando, por insuficiência numérica intencional de seus atletas ou por qualquer outra forma", e não no 243-A, que, segundo as normas da Fifa, se encaixaria no precedente.

Por maioria de votos, o STJD manteve a decisão de excluir o time goiano. Assim o Tupi se classificou ás quartas de final para enfrentar o Mixto (MT), contra quem se classificou e conseguiu o acesso para a Série C do “Brasileirão”.

O massagista disse que a repercussão do lance na Série D de 2013 acabou atrapalhando sua carreira no futebol. Suspenso pelo STJD por 24 jogos, “Esquerdinha” ficou um longo tempo sem poder trabalhar. Segundo ele, a “falsa impressão de moralismo” acabou colocando-o em um papel de bode expiatório.

O lance rendeu bons dividendos para “Esquerdinha”, que chegou a ganhar matéria especial na abertura do “Programa do Jô”, na TV.

Mesmo com o Aparecidense eliminado, os políticos de Aparecida de Goiânia só pensaram em filiá-lo. “Saímos na frente. Vamos lançá-lo com o slogan: esse defende a cidade”, disse o deputado Sandro Mabel (PMDB).

“Esquerdinha” concorreu a deputado federal pelo Partido Republicano da Ordem Social (Pros), mas não conseguiu se eleger. (Pesquisa: Nilo Dias)


domingo, 6 de janeiro de 2019

Béla Guttmann, o legendário treinador

“Béla Guttmann – Uma lenda do futebol do século XX”, livro publicado pela Editora Estação Liberdade, merece ser lido. É uma obra valiosa escrita pelo jornalista e professor Detlev Claussen, com tradução de Daniel Martineschen e Alexandre Fernandez Vaz.

De temperamento forte, Béla Guttmann foi uma espécie de José Mourinho de seu tempo. Tanto pela capacidade superior de “ler” o futebol em suas variantes técnica, tática e física, quanto pelas recorrentes polêmicas em que se envolvia.

Apesar de ter sido um jogador de algum talento, foi como treinador que se destacou, num tempo de transição do futebol, entre o amadorismo e o profissionalismo.

Austero, Guttmann jamais se submeteu a dirigentes ou a jogadores-estrela, o que, com frequência, o fazia debandar — ou ser debandado — dos clubes que dirigia.

Antecipando o movimento de globalização no futebol que se acirraria mais marcadamente a partir dos anos 1990, Guttmann foi um andarilho no mundo da bola.

Além da Hungria, atuou em países como Holanda, Áustria, Itália, Estados Unidos, Argentina e Portugal. E teve ligações profundas também com o futebol brasileiro: em 1957, aceitou o convite para treinar o São Paulo Futebol Clube, com o qual se sagrou campeão paulista.

Guttmann impôs logo de cara a contratação de um jogador que encarnasse o tal “futebol-arte”. E foi buscar um veterano, Zizinho, o "Mestre Ziza". Na época, com 35 anos, era o modelo e ídolo de Pelé.

Mais do que isso, o estilo tático de Guttmann, com o inovador e ultraofensivo esquema 4-2-4, influenciou de forma certeira na maneira de jogar da própria seleção brasileira comandada por Vicente Feola que, no ano seguinte, levantaria seu primeiro título mundial.

Húngaro judeu, ex-jogador, treinador de sucesso planetário, mitificado sobretudo depois de arrebatar por duas vezes a Liga dos Campeões da Europa no comando do Benfica, de Lisboa — tendo derrubado, para tal, nada menos que a poderosíssima dupla espanhola, Barcelona e Real Madrid.

Mas se é amado até hoje dentro da comunidade benfiquista por tais façanhas, Béla Guttmann é, paradoxalmente, odiado em igual medida.

Depois da conquista frente ao Real, em 1962, o húngaro se desentendeu com a direção do clube lisboeta e não renovou o contrato, debandando de lá não sem antes anunciar uma maldição aparentemente profética: a de que o Benfica não voltaria a vencer uma competição continental pelos próximos 100 anos.

Dizem que alguns torcedores do time, “antes da final da Liga dos Campeões contra o Milan em 1990, teriam ido ao cemitério de Viena e de lá teriam trazido um naco de grama do túmulo de Guttmann, para quebrar a maré de derrotas nas finais europeias”.

Não deu certo: o Benfica perdeu a decisão, assim como ocorreu em todas as outras vezes em que fora finalista nas eras pós-Guttmann: em 1963, também contra o Milan; em 1965, contra a Inter de Milão; em 1968, contra o Manchester United; bem como nas finais da Liga Europa, a antiga Copa da Uefa, contra o Anderlecht, em 1983, e o Chelsea, em 2013.

E em maio de 2014, o fantasma de Guttmann voltou a assombrar, quando o Benfica caiu em nova decisão continental, a da Liga Europa, desta vez frente aos espanhóis do Sevilha. 

A carreira de Béla Guttmann se cruzou com grandes jogadores, os melhores do pós-guerra como Puskás, Di Stéfano, Eusébio e Pelé. Foi o técnico que marcou o moderno futebol ofensivo mais do que qualquer outro.

Lacrados sob uma imponente lápide de mármore vermelho jazem os restos mortais de Béla Guttmann, na ala judaica do Cemitério Central de Viena.

Apenas as datas de nascimento e morte – 27 de janeiro de 1899 e 28 de agosto de 1981 – estão registradas sobre a pedra. Uma discreta inscrição em hebraico revela seu prenome judeu, Baruch. Não se encontra nenhuma indicação de sua esposa, Marianne, que o acompanhou ao redor do mundo. Não tiveram filhos.

Depois da morte da esposa, em 1997, o espólio de Guttmann vagou por antiquários de Viena, até chegar em 2001 a Kassel, na Alemanha, adquirido por um leiloeiro especializado em esportes.

O que permanece de um grande jogo, de um grande jogador, de um grande treinador? No final, resta apenas um nome que logo cairá no esquecimento se a história ligada a ele não for narrada.

Até mesmo o funcionário do cemitério em Viena, que sem dúvida se interessava por futebol, 20 anos depois da morte de Béla Guttmann pouco sabia sobre o defunto: “Era algum jogador de futebol!”. E mais nada.

Nos documentos do Cemitério Central não há registro do túmulo, mas o funcionário tinha uma ideia de onde ele podia ser encontrado: “Procure na ala judaica”. De fato, lá está a impressionante lápide com o nome, mas não a recordação do futebol que tornou esse nome mundialmente conhecido.

Antes que as peças se dispersassem pelo mundo, surgiu um catálogo com uma tentativa biográfica, Die Trainerlegende – Auf den Spuren Béla Guttmanns (O legendário treinador – Nos rastros de Béla Guttmann), assinado por R. Keifu, pseudônimo sob o qual se ocultou o renomado historiador do esporte e expert em futebol Hardy Grüne.

Guttmann permanece sendo até hoje uma figura cercada de lendas e mistérios. Ainda em vida, no topo de sua carreira de treinador de clubes, viu surgir Béla Guttmann Story, escrito pelo pedagogo do futebol e depois professor escolar Jenö Csaknády.

O livro promete, em seu subtítulo, uma história “dos bastidores do mundo do futebol”. De fato, em 1964, quando o texto foi publicado, mal se podia desconfiar dos acontecimentos mundiais que fariam um Guttmann circular pelo globo.                                                                           

Mas quem pensa em futebol ao visitar um cemitério? Em um cemitério judeu se tenta, antes de tudo, ler os números e combiná-los com os lugares onde cada pessoa nasceu e morreu.

O irmão de Béla Guttmann, que jogava futebol com ele durante a Primeira Guerra Mundial, morreu em 1945 em um campo de concentração alemão.

Sobre a sobrevivência de Guttmann durante o período nazista as fontes não são, no entanto, muito eloquentes. História do futebol também não é somente algo secundário e bonito, mas sim parte da história mundial, que não pôde deixar de ser afetada por esse esporte.

A história de Béla Buttmann só pode ser narrada quando se tem a história do século XX em vista e quando se está pronto para revisitar, mesmo que brevemente, a história mundial do futebol. (Pesquisa: Nilo Dias)


quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Um time que não ganha nada a 118 anos

Pensando bem um time que nunca conquistou nenhum título, nem de menor expressão, não é raridade no futebol. Muito pelo contrário. Creio que ocupam uma parcela bem grande na história do futebol brasileiro e mundial.

É claro que todo o torcedor gosta de ver seu time ganhando. Talvez isso explique a preferência por determinadas equipes, que ao menos dentro de seu raio de atuação sempre estão chegando na frente.

Exemplos bem claros de Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo, no Rio de Janeiro, Palmeiras, Corinthians, São Paulo e Santos, em São Paulo, Grêmio e Internacional, no Rio Grande do Sul, Cruzeiro e Atlético em Minas Gerias e por ai vai.

E também mundo afora, com destaques para Real Madrid e Barcelona, na Espanha, Chelsea, Liverpool, Manchester United, Manchester City e Arsenal, na Inglaterra, Porto e Benfica, em Portugal, só para citar alguns.

Temos no Brasil muito exemplos de equipes com bastante tradição regional, como América e ABC (RN), CRB e CSA (AL), Ceará (CE), Botafogo (PB), Remo e Paysandu (PA), Nacional (AM), Operário (MS), Brasília (DF), Ponte Preta (SP), América (RJ), entre muitos outros.
Porém numa escala nacional não passam de agremiações de média ou pequena expressão.

Assim como acontece na Espanha com Sporting Gijón e Mallorca, por exemplo, na Inglaterra com Birmingham e West Ham, na Itália com a Udinese e Bari. E por aí a fora.

Dito isso, fica uma pergunta. qual o maior "jejum" de títulos nacionais da história do futebol. Mundial. O recorde atual é de incríveis 118 anos, ou 119 temporadas, e pertence ao clube escocês Dumbarton FC., sediado na cidade de Dumbarton.

É o quarto time mais antigo da Escócia, fundado em 1872, ainda nos primórdios do "futebol oficial". Seus fundadores foram um grupo de jovens que se reuniram na cidade de mesmo nome em uma tarde chuvosa de domingo no intuito de criarem um time para disputar partidas do esporte recém-criado pelos vizinhos ingleses.

No ano seguinte filiou-se à Associação Escocesa de Futebol (SFA) e passou a disputar algumas partidas amistosas e as copas de Dunbartonshire e da Escócia. Seu primeiro título em âmbito nacional veio na “Scottish Cup”, na temporada 1882/83, após dois vices seguidos entre 1880 e 1882.

A conquista foi diante do Vale of Leven com uma vitória por 2 X 1 no jogo extra, depois do empate na final do certame em 2 X 2.

Já foi um dos maiores clubes de futebol do século XIX, tendo ganhado a Scottish Football League no dois primeiros anos de competição, na longínqua temporada de 1890/91, cujo título foi dividido com o Glasgow Rangers.

Ambos terminaram a competição com os mesmos 29 pontos ganhos e jogaram uma partida extra para decidirem quem seria o campeão em Cathkin Park, que terminou empatada em 2 X 2 e com a Liga Escocesa de Futebol dividindo a taça entre as equipes.

O troféu voltou a ser conquistado pelos “Sons”, como é conhecido pelos torcedores, no campeonato seguinte e parou por aí. De lá para cá apenas conquistas de torneios sem expressão ou de divisões inferiores do futebol de seu país.

Desde então, o clube vêm passado a maioria dos anos nas divisões inferiores do futebol escocês, sendo em 1985 sua última participação na primeira divisão.

Seu estádio era o “Boghead Park”, com capacidade para duas mil pessoas. Outro fato que chama a atenção e também entrou para a história foi o fato de o estádio ter sido a sede que por mais tempo pertenceu a um clube profissional.

De 1879, quando foi inaugurado, até o ano dois mil, quando da mudança para o atual “Strathclyde Homes Stadium”, com capacidade também para dois mil espectadores, passaram-se 121 anos com o Dumbarton mandando seus jogos lá.

Após o segundo e último título nacional, o que tinha para ser a criação de um grande e popular clube do Reino Unido foi por água a baixo. Em 1897, após o fim da temporada, os diretores do clube decidiram se retirar da liga de futebol escocesa por divergências quanto à profissionalização do esporte, já que naquela época a prática ainda era totalmente amadora.

Tal impasse perdurou até idos de 1907, quando os cartolas do clube finalmente renderam-se ao novo modelo futebolístico implantado.

Como já citado, a partir de 1892 apenas títulos de segundo escalão a baixo foram conquistados pelo time de West Dunbartonshire, alternando alguns bons momentos como na duríssima derrota diante dos gigantes do Celtic apenas nos pênaltis, nas semifinais da Copa da Liga Escocesa de 1970, por 4 X 3 após empate sem gols no tempo normal e na prorrogação.

Ee na conquista do título da “First Division” (a segunda divisão) na temporada 1971/72 com o incrível recorde de42  gols marcados pelo atacante Kenny Wilson, artilheiro do torneio.

 Já nos anos 80 a situação ficou bastante difícil para o Dumbarton, que chegou a passar por três administradores diferentes e sucumbiu com seguidos rebaixamentos e alguns acessos esporádicos às divisões superiores - exceto a primeira - chegando a figurar na “Third Division”, a quarta divisão nacional.

Os anos seguintes mostraram apenas um clube "iô-iô", que ia e voltava entre os níveis inferiores do futebol escocês. Na atualidade os ”Sons” disputam a “Terceirona” escocesa depois de terem conquistado mais uma vez a quarta divisão.

Estão um pouco distante de retornarem à “First Division”, visto que ocupam apenas a 5ª colocação com 22 pontos, 13 atrás do líder Cowdenbeath.

Uniformes: Camisas amarelas com detalhes pretos, shorts e meiões pretos (titular). Camisas brancas com detalhes azuis, shorts azuis e meiões brancos (reserva)

Títulos (8): Copa da Escócia (1882/83), Campeonato Escocês (1890/91 e 1891/92), First Division (1910/11 e 1971/72), Taça Britânica do Festival de Saint Mungo (1951/52), Second Division (1991/92) e Third Division (2008/09) (Pesquisa: Nilo Dias)


terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Gum, o "Guerreiro", deixa o Fluminense

Depois de nove anos vestindo a camisa do Fluminense, do Rio de Janeiro, o zagueiro Gum, o grande "guerreiro", deixa o clube e se aproxima da Chapecoense ou do CSA, para o ano de 2019. Trata-se do atleta que mais defendeu o tricolor carioca neste século: foram 414 partidas disputadas.

O Fluminense não mostrou interesse na renovação do contrato, embora o jogador fizesse de tudo para permanecer nas Laranjeiras, que considerava a sua casa. Mas antes de acertar o seu futuro, o jogador escreveu um emocionante texto para agradecer o seu período na rua Álvaro Chaves.

O jogador de 32 anos chegou a aceitar uma redução salarial, mas queria um vínculo de dois anos enquanto o clube só ofereceu contrato de uma temporada.

“Neste dia 31 de dezembro de 2018 chega ao fim essa história com as três cores que traduzem tradição. Posso afirmar com toda a minha sinceridade que não faltaram esforços da minha parte para permanecer.

Mas Deus sabe de todas as coisas. Saio de cabeça erguida, com a consciência de que dei tudo o que podia e não podia a essa torcida. Estarei com vocês sempre no meu coração”, diz parte do texto.

O Fluminense também agradeceu ao jogador, em mensagem colocada em seu site oficial: “Foram nove anos de dedicação, lutas e conquistas. Um símbolo do “Time de Guerreiros” e nosso grande capitão tricolor. Obrigado Gum”.

Gum é o oitavo jogador que mais vezes atuou na história do Fluminense. Com a camisa do tricolor foi bicampeão brasileiro (2010 e 2012) e estadual (2012), Duas Taças Guanabara (2012 e 2017), campeão da Primeira Liga (2016) e uma Taça Rio (2018)..

A ligação entre o zagueiro e o Tricolor é tão forte que muitos acreditam que ele foi revelado pela equipe. Mas a história de Gum começa muito antes da chegada às Laranjeiras, em 2009. Revelado pelo Marília, em 2004, o zagueiro ainda passou, sem sucesso, pelo Internacional, de Porto Alegre, até chegar à Ponte Preta, em 2008.

Então, com 22 anos, Gum foi um dos destaques da Ponte Preta, que ficou em 5º lugar na Série B de 2008. Após boas atuações também em 2009, o zagueiro começou a chamar a atenção de clubes da primeira divisão e acabou assinando com o Fluminense, em agosto daquele ano.

Tendo que assumir a responsabilidade de substituir o ídolo Thiago Silva, Gum chegou ao clube em meio à briga contra o rebaixamento.

O zagueiro Gum foi um dos jogadores mais vitoriosos da história recente do Fluminense.

Chegou ao clube em uma época que o Tricolor vivia uma situação conturbada e lutava contra o rebaixamento. Com apenas 23 anos, o zagueiro assumiu a responsabilidade e foi um dos líderes da equipe, que conseguiu a permanência e chegou nas finais da Copa Sul-Americana, no fim daquela temporada.

Nos anos seguintes, Gum viu a idolatria da torcida tricolor por ele crescer. Afinal, com o zagueiro no time titular, o Fluminense foi campeão brasileiro em 2010 e 2012.

De quebra, a equipe ainda garantiu o título carioca na temporada do tetra nacional. Entretanto, o desmanche do elenco por pouco não significou o fim da passagem do defensor pelo Flu.

O fim do contrato com a Unimed fez com que jogadores como Thiago Neves, Fred e Rafael Sóbis saíssem do clube. Além disso, Gum recebeu proposta do Corinthians de Tite para deixar o Tricolor em 2015. Entretanto, o zagueiro bateu o pé e preferiu permanecer na equipe carioca.

Sofrendo com os problemas financeiros vividos pelo Fluminense, Gum viu a equipe passar por desmanches e problemas salariais. Além disso, o Tricolor lutou contra o rebaixamento até o fim do Campeonato Brasileiro de 2018.

Em meio a tudo isso, o zagueiro preferiu deixar as conversas pela renovação de contrato para o fim do Brasileirão, visando focar na luta pela permanência na elite.

Mas, Gum parecia convicto da decisão antes mesmo de voltar a conversar com a diretoria do Fluminense. No fim do jogo contra o América-MG, que definiu a permanência do Tricolor na Série A do Campeonato Brasileiro, o zagueiro falou em tom de despedida. Com mais de nove anos de serviços prestados, a era de Gum no Tricolor parecia ter chegado ao fim.

“Amei essa camisa, me entreguei mais do que eu poderia, no limite físico e mental. Guardei fé, esperança e caráter, e hoje talvez seja meu último jogo. Já me emocionei, já chorei. Saio hoje com sentimento de amor ao clube e dever cumprido”, disse Gum, logo depois do fim do jogo contra o Coelho.

Sem Gum, o Fluminense tem Nathan Ribeiro, Ibañez e Higor Oliveira como zagueiros confirmados para a próxima temporada. Além disso, Matheus Ferraz, ex-América-MG está praticamente fechado com o Tricolor em 2019. A equipe carioca tanta a contratação de Nino, do Criciúma, e ainda acredita numa possível renovação de empréstimo de Digão, que pertence ao Cruzeiro. (Pesquisa: Nilo Dias)