sexta-feira, 27 de setembro de 2019

"Sissi" a imperatriz do futebol feminino

Sisleide do Amor Lima, mais conhecida como “Sissi” foi uma jogadora de futebol feminino que antecedeu Marta e serviu como sua inspiração. Ela é baiana de Esplanada, onde nasceu em  2 de junho de 1967.

Começou a jogar futebol na rua, junto com os meninos, onde desenvolveu toda sua habilidade. Se descarta o rótulo de ser a “Marta antes de Marta”, "Sissi lembra" com carinho de uma transgressão tão simbólica quanto necessária: arrancar cabeças de bonecas, que faziam as vezes de bola de futebol. 

“Minha mãe ficava louca e eu quebrava tudo em casa. Quando ela descobriu que eu fui convidada para jogar em um time em Campo Formoso (na Bahia), não queria que fosse”, lembra. 

“O dono convenceu meu pai, que relutou, mas aceitou e a convenceu também. Sempre teve preconceito, é claro, mas nunca deixei que me afetasse. Só me dava mais força.”

Das ruas aos campos de terra batida no sertão baiano, a "Imperatriz do Futebol Feminino" deu seus primeiros passos no Flamengo, da Bahia. Depois, foi para o Bahia, clube no qual se desenvolveu. De lá, o voo mais distante, para a China, aos 21 anos, para representar a Seleção em 1988.

“É claro que dá orgulho ser a primeira camisa 10 da Seleção. Eu era fã do Zico, sempre quis jogar com esse número. Mas na época eu não tinha a dimensão. Era um tempo de muita luta. Mas valeu a pena, eu faria tudo de novo. Vejo a Seleção de hoje em campo e sei que elas estão lá porque nós estivemos antes”, comentou.

Aos 14 anos, a meio-campista saiu de sua cidade para ir morar em um alojamento, onde começou a treinar e profissionalizar-se.

“Sissi” foi  uma das grandes jogadoras da história do futebol feminino. Ela precisou driblar o preconceito até se tornar a primeira camisa 10 da história da Seleção. Começou em casa. Diziam que futebol não era coisa para menina e só a deixaram jogar se fosse para ser a “bobinha”, recordou.

Apareceu pela primeira vez nos “Jogos Olímpicos de Atlanta”, em 1996, levando o bom time da “Seleção Brasileira”, no entanto ainda desconhecido, para a semifinal, terminando a competição na quarta colocação.

No ano de 1999, na “Copa do Mundo Feminina”, organizada pela Fifa e disputada nos Estados Unidos, a jogadora comandou a equipe nacional que terminou a competição em terceiro lugar e ainda conquistou a “Chuteira de Ouro”, como artilheira do torneio.

A meio-campista muito habilidosa ainda participou da campanha dos “Jogos Olímpicos de Sidney”, em 2000, sempre como referência na armação de jogadas da equipe brasileira.

Disputou pela “Seleção Brasileira Feminina” duas “Copas do Mundo”: 1995 e 1999 (3º lugar), quando foi uma das artilheiras, com sete gols, empatada com a chinesa Sun Wen. Participou, também, dos “Jogos Olímpicos de 1996” (4º lugar), e dos “Jogos Olímpicos de 2000”.

A atleta foi um dos pilares da equipe tricolor na era de ouro da modalidade no “Clube do Morumbi”, entre 1997 e 2000, quando o São Paulo formou um grande time, que era a base da “Seleção Brasileira” do período.

Jogavam bonito, passavam por cima das adversárias e conquistaram inúmeros títulos para a equipe paulista. O auge foi na a final do “Brasileiro de 1997”, em que as tricolores venceram a Lusa Sant'Anna por 4 X 0.

Sissi ganhou tal notoriedade nessa época que a torcida tricolor chegou a "gritar para o técnico do time masculino na época, Muricy Ramalho: "Ei, Muricy, coloca a Sissi".

Atualmente, ela é a técnica da equipa feminina “Las Positas College Women's”, em Livermore, na Califórnia.

“Sissi” foi eleita pela “Federação Internacional de História e Estatística do Futebol” como a melhor jogadora de futebol do século 20 da América do Sul. Ela se constituiu no grande nome do Saad nos anos 90, quando liderou o clube na conquista de todos os títulos disputados entre os anos de 1995 e 1997.

Isso mesmo, entre 95 e 97 o Saad venceu 100% dos jogos que disputou, conquistando, a “Copa São Paulo”, a “Copa Campo Grande”, o “Campeonato Brasileiro” nas categorias adulto e Sub-17 e o “Troféu Comitê Olímpico Internacional”.

“Sissi” não brilhou apenas nos gramados. Ela chegou a ser nomeada pela FIFA como embaixadora do futebol feminino Mundial. A eterna camisa 10 do Brasil foi oficializada no cargo pelo presidente da entidade maior do futebol no mundo, na época, Joseph Blatter.

Nos Estados Unidos, ela conquistou o título de melhor jogadora da WUSA quando liderou o San Jose Ciberrays na conquista do título da mais forte liga profissional da história da modalidade.

Como jogadora no Brasil, “Sissi” foi eleita a segunda melhor jogadora do Mundo em 1999, foi pentacampeã brasileira defendendo as equipes do Saad, São Paulo e Radar. Foi tricampeã paulista com São Paulo e Palmeiras. No Futsal, ela foi Hexacampeã Brasileira defendendo as equipes do Bordon, Euroexport, Marvel e Sabesp.

Brasil: Lica – Marisa – Elane - Sandra e Fanta. Lúcia - Marcinha e Sissi. Pelezinha - Roseli e Cebola. Foi com essa escalação, no dia 1º de junho de 1988, que o Brasil fez sua primeira partida em uma competição da Fifa.

Com a base do Radar, grande time do país à época, a trajetória da “Seleção Feminina de Futebol” começou com um histórico bronze na China, sede do campeonato experimental. Dali até o reinado de Marta, seis vezes melhor jogadora de futebol do mundo, um tortuoso caminho foi percorrido pelas brasileiras. “Nunca vai ter uma seleção melhor”, resumiu a zagueira Elane.

O futebol feminino esteve proibido no País de 1941, no “Estado Novo”, até a revogação da lei, em 1979, na ditadura militar. Ainda que o esporte vivesse sob a marginalidade, a prática existia nas grandes cidades do país, onde times não oficiais se formavam em profusão.

Copacabana era o palco principal das competições no Rio. A cultura do futebol de praia no bairro, conhecido por sua diversidade, fez nascer o maior time de todos os tempos no futebol feminino do Brasil, o Esporte Clube Radar, capitaneado por Eurico Lyra. (Pesquisa: Nilo Dias)



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