quarta-feira, 23 de outubro de 2019

O clube amador mais velho do Rio Grande do Sul

No último dia 19, o Esporte Clube Esperança, da localidade de Povo Novo, interior do município de Rio Grande, completou 106 anos de existência. O clube foi fundado no dia 19 de outubro de 1913.

Ele é o clube amador mais antigo em atividade no Rio Grande do Sul. Uma penda que hoje o clube não têm o mesmo vínculo com o bairro que os atletas do passado.

Antes do Esperança, existiu o Sport Clube Povo Novo, criado em 1911. A Vila da Quinta também teve o Sport da Quinta, igualmente de 1911.

Não são muitos os clubes amadores brasileiros que conseguiram chegar aos 100 anos e até superar essa marca. E no Rio Grande do Sul, com certeza, são mais raros, ainda, os que estão em atividade.

Povo Novo, atual distrito da cidade de Rio Grande, é uma região marcada pela tradição. A Igreja da localidade surpreende pela data de sua fundação.

O templo surgiu no período da invasão espanhola no Rio Grande de São Pedro, entre 1763 e 1776 mais precisamente no ano de 1774, segundo relatos de antigos moradores do distrito, e sua primeira sede estava localizada no assentamento à margem da estrada da Palma, onde os espanhóis colocaram os colonos portugueses que não conseguiram retirar-se após o domínio da
coroa espanhola.

Além dessa origem religiosa e militar, Povo Novo se destaca pela importância do comércio, começando com mulas e depois crescendo com o gado, que desde 1720 ofereceu uma sustentação econômica à região.

Mas o caráter precoce do Povo Novo também se manifesta no futebol, através do E. C. Esperança, clube fundado em 1913, que há pouco completou o centenário. É o clube amador mais antigo em atividade no Estado do Rio Grande do Sul.

Além disso, Povo Novo faz parte do município de Rio Grande, cidade em que está situado o clube profissional mais antigo em atividade no futebol brasileiro, o S. C. Rio Grande, fundado em 19 de julho de 1900, também conhecido por “Vovô”.

O Esperança surgiu através do esforço de algumas pessoas, com destaque para a família Coutelle, que era dona de um curtume. Além dos Coutelle estarem entre os primeiros jogadores do clube, a família é lembrada pela comunidade local como a responsável pela doação da terra em que foi construído o primeiro “campinho” do clube.

Posteriormente, um “Coronel”, de outra família, contribuiu para a criação do atual campo. A família Coutelle fazia parte do começo, que era o Curtume que existia lái, mas que fechou.

Até que o Coutelle foi o primeiro jogador, eles jogavam na Santa Cruz. O nome se deve porque lá tem uma cruz. Depois surgiu essa outra família e o senhor que era coronel doou a terra para o campo definitivo.

O Esperança atualmente disputa o “Campeonato da Campanha” com suas equipes de titulares e aspirantes, Ainda desenvolve um projeto com os meninos do Povo Novo na escolinha de futebol com encontros as quintas-feiras.

Em sua sede social estão expostos fotos e troféus acumulados no tempo. É possível reviver na memória dos mais velhos as utopias de uma geração e as suas inquietantes lembranças de uma equipe de vencedores.

A geração Antônio Gustavo Mendonça das Neves, o “Tatá”, Edes Mendonça das Neves, o “Bocha”, Silvio Mendonça das Neves, o “Biboca”, Bernadino Mendonça das Neves, o “Dino” e Amir, os irmãos que brilharam nos anos 50 no Esperança.

“Tatá”, por 45 anos e “Bocha”, por 32 anos vestiram a camisa verde e amarela do Esperança. A irmã Eloá, era a rainha. Eles eram o pilar que garantiu o título de “Campeão Gaúcho de Futebol amador”, em 1953.

Um feito inédito. O adversário, o Olaria, de Novo Hamburgo, perdeu de 5 X 4 o jogo em sua casa. E na volta, em 18 de abril de 1954, no “Estádio das Oliveiras”, do Sport Club Rio Grande, na Buarque de Macedo, os riograndinos golearam por 5 X 0 na prorrogação.

Esse foi o presente dos 40 anos do clube. Virou magia, empolgadas bandeiras, barulhentos apitos da torcida e suas matracas coloridas, fizeram parte do desfile pela cidade.

Na vitória no Campeonato Estadual Amador de 1953, saíram três ônibus lotados de Povo Novo com destino a Porto Alegre, local da final.

Entre os campeões apenas o treinador não era da própria região. Sempre que se fala naquela conquista, é salientada a importância que tiveram os cinco irmãos (Das Neves) que, segundo a tradição local, não teriam aceitado uma proposta para jogar no S.C. Rio Grande.

Era uma época que jogavam por amor, eles compravam as chuteiras e os fardamentos. Não davam despesa para o clube. Os cinco irmãos jogavam, e eram muito bons. O treinador jogava no São Paulo de Rio Grande, Mário Senna, que era do exército.

“Tatá”, “Bocha” e “Dino” já faleceram, nem deixaram filhos, mas a herança de um futebol clássico e refinado que sobrevive na memória do velho Povo Novo. O caçula Claudio representa a geração de craques.

Todos eles receberam insistentes convites para jogarem futebol nas equipes profissionais de Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre. Mas preferiram continuar no clube do coração.

Sem os grandes nomes do passado do clube, que tornaram-se lendas, encanto de quem os viu jogar, também os bailes já não tem mais o brilho das velhas tradições, embora ainda mantenha um status de prestigio.

No momento atual do E. C. Esperança a principal mudança é que agora os jogadores buscam no futebol também uma remuneração financeira, o que não existia no passado.

O 2º quadro é composto por gente do lugar, mas o 1º quadro é tudo da cidade do Rio Grande. Agora o clube tem uma despesa muito grande a cada domingo, para disputar o campeonato. Lanches, para quem não vem na Van, sim de carro e o clube ainda  dá o combustível.

Com a participação de jogadores de fora da comunidade local, de forma semi profissionalizada, a relação comunidade/clube sofreu algumas mutações em relação àquele passado, mas continua forte.

Cerca de 30 pessoas trabalham incessantemente pela entidade, com o propósito de reconstruir no dia-dia os sonhos de uma geração. As iniciativas são várias, desde doações da comunidade, até rifas, bailes, bingos, etc., o que mostra que a participação das pessoas da região continua significativa.

“Uma paixão”, como dizia a ex-presidente Teresa Pires, que garante correr em suas veias um sangue com as cores “verde e amarela”. “Ou uma extensão da nossa casa”, como falava o abnegado torcedor Jorge Wainer das Neves.

Quando em agosto de 1960, Juvenal de Souza Freitas Filho, Eloy Rocha Beira e Feliciano Gomes Filho nem imaginavam os caminhos que seguiria o clube que estavam organizando.

Naquele tempo era o E.C Esperança a referência tradicional de uma agremiação de futebol no interior ou dos famosos bailes concorridos de uma outrora elite rural na qual encontrava no clube seu espaço de lazer e divertimento.

O adversário maior do Esperança é hoje o Santo Antônio. Ele foi criado muito tempo depois, em 1960, a partir de uma briga que aconteceu em um baile do E. C. Esperança, por não terem deixado um membro da família Coutelle entrar no clube por estar sem gravata.

O clube era conhecido como de elite, sendo obrigatório o uso de terno para entrar nos bailes. A base do time e dos fundadores do E.C Santo Antônio em 1960, veio dos trabalhadores do antigo curtume “Santo Antônio”, de Paulo Coutelle, com aproximadamente 50 funcionários mais os menores do estaqueamento do couro .

E lá nasceu a gênese do nome e do distintivo do clube, um couro estampado na camiseta e na bandeira. Uma homenagem ao curtume reconhecido aquele tempo como uma das empresas de melhor qualidade de preparo e curtição de couros no sul do estado.

Se por um lado o Santo Antônio recebeu apoio do Curtume, (os funcionários depois do expediente, faziam mais duas horas na limpeza do campo) não se pode esquecer as influências e origens no time E.C Flor do Povo, que não tinha uma organização plena , e neste sentido reconstruíram a base do futebol com a mescla de jogadores funcionários do antigo Curtume e de jogadores do Flor do Povo.

As reuniões iniciais e até mesmo o arrendamento do Salão do Flor do Povo, depois Sociedade Lagemann, para festas e bailes do Santo Antônio entre 1962 a 1972. Uma pequena sede de madeira foi construída em 1968 no local atual e o prédio em alvenaria foi inaugurado em março de 1972.

O antigo “Campo de Nossa Senhora”, cercado de matos e tuneiras, pertencia a Igreja de Nossa Senhora das Necessidades do Povo Novo e foi emprestado ao clube e mais tarde foi doado pela Diocese de Rio Grande e o clube ‘vermelho e branco’ começava assim a trajetória social e futebolística no distrito do Povo Novo.

Foi oito vezes campeão da cidade, 14 vezes campeão do Interior e nas décadas de 90 em diante virou uma marca registrada de sucesso. Ainda faz jantares dançantes e bingos semanais. Virou encanto e paixão de muitos torcedores. Antônio Mendes Castanheira Filho é um deles.

São 48 anos dedicados ao clube. De Presidente por várias vezes a porteiro, só não foi um bom lateral direito na década de 60, brinca ele com seu jeito manso de falar. Nem lembra um fato importante no Clube. Pensa, reflete sobre o tempo passado e em suas memórias uma eterna ligação com o clube.

Nem a derrubada dos matos para a construção do campo, nem os tijolos e a massa nos verões quando construía aos poucos a sede social.

Fez somente uma referência de uma excursão a Novo Hamburgo a mais ou menos 30 anos passados para jogar contra o Estância Velha, campeão da região, com dois ônibus e o Santo Antônio ganhou o jogo aos 40 minutos do 2º tempo.

Mas isso foi um fato e o clube é uma paixão acima dos fatos. È uma relação de família, uma grande família. A atual Presidente é a sua esposa, Maria Marlene Borges Castanheira desde 2008. Os caminhos e o caráter de um clube passam pela harmonia e conduta de seus dirigentes.

Hoje o clube está em atividades no “Campeonato da Campanha”, com 1º e 2º quadros. Os Veteranos participam do campeonato de Futebol no Cassino e no citadino de Futebol de Salão. (Pesquisa: Nilo Dias)
       
Time campeão Gaúcho de Futebol amador”, em 1953.

O estádio do Esperança.

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