Ele
conquistou a “Taça Guanabara” (1970, 1972 e 1973), os títulos cariocas de 1972
e 1974, além do “Torneio do Povo” (1972) e “Torneio de Verão” (1970 e 1972).
Em
seu perfil oficial no Twitter, o Flamengo lamentou a morte do ex-jogador:
“Lamentamos profundamente a morte do nosso ex-ponta esquerda Arílson, que nos
deixou neste fim de semana. Obrigado por tudo o que você fez com o “Manto”.
Muita força aos amigos e familiares neste momento.“
Arílson
Pedro da Silva nasceu no Rio de Janeiro, em 18 de outubro de 1948. Garoto bom
de bola, seu futebol foi descoberto nos campinhos de terra batida do bairro
Itacolomi, na “Ilha do Governador”.
Mais
tarde, o rapazola foi encaminhado aos quadros amadores da Associação Atlética
Portuguesa, da “Ilha do Governador”. Jogador de rara habilidade, em pouco tempo
foi aproveitado como ponteiro-esquerdo.
O
futebol atrevido e vistoso logo despertou o interesse dos representantes do
Clube de Regatas do Flamengo em 1965. No início de 1967, Arílson foi convocado
pelo técnico Zagallo para a seleção carioca juvenil que jogaria o brasileiro da
categoria em Belo Horizonte.
Na
apresentação dos atletas, o repórter José Castelo, do “Jornal dos Sports”,
assim definia seu futebol: “É esperança rubro-negra para 1967 e da própria
seleção carioca com vistas ao penta brasileiro. Titular, tem a velocidade, o
drible fácil e a potência de chute, qualidades exigidas de um bom ponteiro”.
Considerado
então um jogador-chave nos juvenis do clube, Arílson tinha praticamente certa a
sua promoção ao time de cima para o lugar do veterano Osvaldo “Ponte Aérea”, em
vias de deixar a Gávea e retornar ao futebol paulista de onde viera.
Mas
na metade do campeonato da categoria de base, o garoto sofreu uma violenta
entorse no tornozelo direito que o tirou de ação por vários meses, adiando seu
melhor aproveitamento.
Mesmo
assim, de pé gessado, vestiria a faixa de campeão carioca de juvenis em junho.
A lesão e as frequentes trocas de comando no time de cima foram minando as
chances do garoto. Chegou a treinar como lateral e a ser oferecido como moeda
de troca na tentativa de contratação do veterano ponteiro Dorval, ex-Santos,
que estava no Atlético Paranaense.
Só
no fim de 1968, durante o “Torneio Roberto Gomes Pedrosa”, ele ganhou uma certa
sequência na equipe – retribuída com passes e assistências, aparecendo bem
apesar da campanha fraca do time.
Sua
virada aconteceria pelas mãos do técnico Tim. O experiente treinador, que
chegou ao Flamengo no início de 1969, transformou o ponta o qual considerava
indisciplinado taticamente – embora de inegável talento individual – num
jogador solidário, que se sacrificava pelo time.
Assim,
Arílson passou a ajudar a preencher o meio-campo e ajudar na cobertura do
lateral, e ao mesmo tempo, aparecer mais bem colocado na frente para dar passes
e até marcar mais gols.
Seu
futebol cresceu a olhos vistos, e ele viveu a primeira grande fase da carreira,
senão a melhor. O ano começou com uma excursão ao Suriname e ao Pará e
Amazonas, nas quais o Flamengo levava como atração o velho “Mané Garrincha”, 35
anos, contratado em novembro do ano anterior.
Arílson,
na outra ponta, fez bons jogos e alguns gols, mantendo o crédito conquistado
pelas atuações no “Robertão”, mas sofreu uma distensão na coxa no fim de março,
perdendo parte do turno do Carioca, em que o time acumulou alguns tropeços.
Com
efeito, Arílson começou o ano de 1970 voando. Fez o primeiro gol do time na
temporada, no empate em 1 X 1 com o América Mineiro num amistoso em Belo
Horizonte.
E
fez três partidas memoráveis no “Torneio Internacional de Verão”, quadrangular
conquistado pelo Fla em fevereiro. Na estreia, uma folgada goleada de 4 X 1
sobre a seleção da Romênia, ele marcou dois gols – um em cobrança de falta na
gaveta e outro numa inteligente tabela com Dionísio – e arrancou muitos
aplausos entusiasmados da crônica esportiva.
No
segundo jogo, outro massacre: 6 X 1 diante do forte Independiente, da
Argentina. Arílson não balançou as redes, mas fez um lindo lançamento para
Dionísio anotar o terceiro gol e foi apontado como o melhor do ataque pela
imprensa, por sua eficiência e facilidade de jogar.
E
no terceiro, a vitória por 2 X 0 sobre o Vasco que valeu o título, o ponta
criou com Dionísio a jogada do primeiro gol, marcado por Liminha, e anotou ele
mesmo o segundo, cabeceando cruzamento de Ademir da direita, sendo novamente
escolhido o destaque.
Bastante
elogiado também por treinadores de outras equipes que compareceram ao Maracanã
para observar o torneio, Arílson caiu também nas graças de Zagallo, que em 18
de março daquele ano substituiria João Saldanha no comando da Seleção
Brasileira.
Ele
próprio um ex-ponta-esquerda rubro-negro e de estilo algo semelhante ao do
jovem talento de 21 anos, o treinador surpreendeu ao incluí-lo, logo no dia
seguinte ao que assumiu o cargo, na convocação de cinco novos nomes para os
treinos de início de preparação para a “Copa do Mundo” do México.
Disputando
um espaço com os mais experientes Paulo Cézar “Caju” e Edu, Arílson
representava um meio-termo entre o estilo de ponta recuado, mais armador, do
botafoguense e o jogo mais veloz e ofensivo do santista.
Porém,
teve poucas chances de mostrar seu jogo. Nas semanas em que treinou com a
Seleção, disputou apenas dois amistosos não oficiais por uma equipe B (contra a
seleção amazonense B e o Olaria) e atuou até fora de sua posição, prejudicando
sua observação. Acabou cortado em 27 de abril, a dois dias do amistoso contra a
Áustria no Maracanã.
Reintegrado
ao Flamengo, reforçou o time na reta final da “Taça Guanabara”, na época ainda
um torneio separado do Estadual – e naquele ano disputada em três turnos,
estendendo-se de março a maio.
Arílson
chegou às vésperas do turno final, quando a equipe encaminhou o título batendo
Vasco (2 X 0), Bangu (3 X 1, com dois gols seus), Botafogo (2 X 1) e América (2
X 0), finalizando com um empate em 1 X 1 diante do Fluminense que valeu o ponto
necessário para a confirmação da conquista.
Só
que, em meio à festa, começava um drama. Durante o jogo, Arílson dividiu uma
bola com o lateral tricolor Oliveira e levou a pior, mas seguiu no jogo. Mais
tarde descobriu: havia estourado os meniscos do joelho esquerdo.
Mal
conseguindo suportar o incômodo das dores, uma primeira cirurgia no joelho foi
marcada pelo departamento médico do clube. Depois da cirurgia, Arílson tentou
voltar mas foi vencido pelas dores. Apesar do esforço, o atacante mal conseguia
treinar.
O
segundo parecer médico foi uma bomba. Quando Arílson revelou publicamente que
ainda existiam fragmentos do menisco no joelho operado foi um escândalo. Os
dirigentes então acusaram os jornalistas de sensacionalistas.
Para
abafar o caso, Arílson foi proibido de falar. No terceiro andar do Hospital da
Cruz Vermelha, o acesso ao quarto do jogador foi totalmente proibido e vigiado
24 horas. E como num passe de mágica, uma nova versão oficial apareceu do nada:
Era o menisco externo que tinha estourado.
Em
reportagem assinada por Fausto Neto, a revista “Placar” de 5 de fevereiro de
1971 ofereceu aos leitores um pouco do momento delicado vivido pelo jogador
Arílson. Os médicos evitavam tocar no assunto, enquanto os dirigentes queriam
mesmo era silenciar o jogador de qualquer maneira.
Talvez,
o medo de revelar a evidente falta de estrutura que ainda assolava o futebol
brasileiro no início da década de 1970. Mas o temor poderia ser bem maior. Quem
sabe, o risco de tornar público os enganos médicos cometidos contra os
jogadores Arílson, Dionísio e Tinho.
Algum
tempo depois, outro diagnóstico apontou que de fato o menisco externo
apresentava problemas. Todavia, os fragmentos não foram removidos totalmente na
primeira cirurgia.
Sensibilizado,
o jovem ponteiro-esquerdo do Flamengo agradeceu o apoio dos companheiros,
principalmente do treinador Dorival Knippel, o conhecido Yustrich: “O seu
Yustrich me deu muita força. Sempre perguntava como eu estava”.
Munido
de esperanças para voltar rapidamente aos gramados, lá foi Arílson para o
segundo procedimento cirúrgico. Na recuperação da cirurgia; algumas revistas de
palavras cruzadas, embrulhos com maçãs e maços de cigarros tentavam melhorar o
ambiente monótono. O tédio só era quebrado na presença do repórter da revista “Placar”.
Como
a imprensa não era bem-vinda, o repórter Fausto Neto precisava mentir para o
vigilante do quarto. “Sou primo dele e estou trazendo umas coisinhas”. Então
Arílson acenava sorridente e o repórter tinha livre acesso ao leito do jogador.
Em
sua volta aos gramados, Arílson foi aos poucos ganhando confiança. O rendimento
não era mais o mesmo, mas o suficiente para colaborar nas grandes conquistas
daquele período.
Arílson
jogou ainda por um curto período no Corinthians em 1975. Depois, atuou pelo
Americano e pelo Volta Redonda, clube onde encerrou sua trajetória nos gramados
em 1977.
Conforme
matéria da revista “Placar” de 16 de setembro de 1983, após deixar o futebol,
Arílson dedicou seu tempo ao bar que inaugurou em 1980, no bairro carioca do
Grajaú: “Minha sorte é que nos finais de semana aparecem por aqui o Carlinhos,
o Dida e o Silva. Então, os clientes lotam o estabelecimento e eu faturo alto”,
contou.
Posteriormente,
Arílson ainda trabalhou nas categorias amadoras do Flamengo, até ser demitido
sem qualquer explicação. (Pesquisa: Nilo Dias)