Ele
é o clube amador mais antigo em atividade no Rio Grande do Sul. Uma penda que
hoje o clube não têm o mesmo vínculo com o bairro
que os atletas do passado.
Antes
do Esperança, existiu o Sport Clube Povo Novo, criado em 1911. A Vila da Quinta
também teve o Sport da Quinta, igualmente de 1911.
Não
são muitos os clubes amadores brasileiros que conseguiram chegar aos 100 anos e
até superar essa marca. E no Rio Grande do Sul, com certeza, são mais raros,
ainda, os que estão em atividade.
Povo
Novo, atual distrito da cidade de Rio Grande, é uma região marcada pela tradição.
A Igreja da localidade surpreende pela data de sua fundação.
O
templo surgiu no período da invasão espanhola no Rio Grande de São Pedro, entre
1763 e 1776 mais precisamente no ano de 1774, segundo relatos de antigos
moradores do distrito, e sua primeira sede estava localizada no assentamento à
margem da estrada da Palma, onde os espanhóis colocaram os colonos portugueses
que não conseguiram retirar-se após o domínio da
coroa
espanhola.
Além
dessa origem religiosa e militar, Povo Novo se destaca pela importância do comércio,
começando com mulas e depois crescendo com o gado, que desde 1720 ofereceu uma
sustentação econômica à região.
Mas
o caráter precoce do Povo Novo também se manifesta no futebol, através do E. C.
Esperança, clube fundado em 1913, que há pouco completou o centenário. É o
clube amador mais antigo em atividade no Estado do Rio Grande do Sul.
Além
disso, Povo Novo faz parte do município de Rio Grande, cidade em que está
situado o clube profissional mais antigo em atividade no futebol brasileiro, o
S. C. Rio Grande, fundado em 19 de julho de 1900, também conhecido por “Vovô”.
O
Esperança surgiu através do esforço de algumas pessoas, com destaque para a
família Coutelle, que era dona de um curtume. Além dos Coutelle estarem entre
os primeiros jogadores do clube, a família é lembrada pela comunidade local
como a responsável pela doação da terra em que foi construído o primeiro
“campinho” do clube.
Posteriormente,
um “Coronel”, de outra família, contribuiu para a criação do atual campo. A
família Coutelle fazia parte do começo, que era o Curtume que existia lái, mas
que fechou.
Até
que o Coutelle foi o primeiro jogador, eles jogavam na Santa Cruz. O nome se
deve porque lá tem uma cruz. Depois surgiu essa outra família e o senhor que
era coronel doou a terra para o campo definitivo.
O
Esperança atualmente disputa o “Campeonato da Campanha” com suas equipes de
titulares e aspirantes, Ainda desenvolve um projeto com os meninos do Povo Novo
na escolinha de futebol com encontros as quintas-feiras.
Em
sua sede social estão expostos fotos e troféus acumulados no tempo. É possível
reviver na memória dos mais velhos as utopias de uma geração e as suas
inquietantes lembranças de uma equipe de vencedores.
A
geração Antônio Gustavo Mendonça das Neves, o “Tatá”, Edes Mendonça das Neves,
o “Bocha”, Silvio Mendonça das Neves, o “Biboca”, Bernadino Mendonça das Neves,
o “Dino” e Amir, os irmãos que brilharam nos anos 50 no Esperança.
“Tatá”,
por 45 anos e “Bocha”, por 32 anos vestiram a camisa verde e amarela do
Esperança. A irmã Eloá, era a rainha. Eles eram o pilar que garantiu o título
de “Campeão Gaúcho de Futebol amador”, em 1953.
Um
feito inédito. O adversário, o Olaria, de Novo Hamburgo, perdeu de 5 X 4 o jogo
em sua casa. E na volta, em 18 de abril de 1954, no “Estádio das Oliveiras”, do
Sport Club Rio Grande, na Buarque de Macedo, os riograndinos golearam por 5 X 0
na prorrogação.
Esse
foi o presente dos 40 anos do clube. Virou magia, empolgadas bandeiras,
barulhentos apitos da torcida e suas matracas coloridas, fizeram parte do desfile
pela cidade.
Na
vitória no Campeonato Estadual Amador de 1953, saíram três ônibus lotados de
Povo Novo com destino a Porto Alegre, local da final.
Entre
os campeões apenas o treinador não era da própria região. Sempre que se fala
naquela conquista, é salientada a importância que tiveram
os cinco irmãos (Das Neves) que, segundo a tradição local, não teriam aceitado
uma proposta para jogar no S.C. Rio Grande.
Era
uma época que jogavam por amor, eles compravam as chuteiras e os fardamentos. Não
davam despesa para o clube. Os cinco irmãos jogavam, e eram muito bons. O
treinador jogava no São Paulo de Rio Grande, Mário Senna, que era do exército.
“Tatá”,
“Bocha” e “Dino” já faleceram, nem deixaram filhos, mas a herança de um futebol
clássico e refinado que sobrevive na memória do velho Povo Novo. O caçula
Claudio representa a geração de craques.
Todos
eles receberam insistentes convites para jogarem futebol nas equipes
profissionais de Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre. Mas preferiram continuar
no clube do coração.
Sem
os grandes nomes do passado do clube, que tornaram-se lendas, encanto de quem
os viu jogar, também os bailes já não tem mais o brilho das velhas tradições,
embora ainda mantenha um status de prestigio.
No
momento atual do E. C. Esperança a principal mudança é que agora os jogadores
buscam no futebol também uma remuneração financeira, o que não existia no
passado.
O
2º quadro é composto por gente do lugar, mas o 1º quadro é tudo da cidade do
Rio Grande. Agora o clube tem uma despesa muito grande a cada domingo, para
disputar o campeonato. Lanches, para quem não vem na Van, sim de carro e o clube ainda dá o combustível.
Com
a participação de jogadores de fora da comunidade local, de forma semi profissionalizada,
a relação comunidade/clube sofreu algumas mutações em relação àquele passado,
mas continua forte.
Cerca
de 30 pessoas trabalham incessantemente pela entidade, com o propósito de
reconstruir no dia-dia os sonhos de uma geração. As iniciativas são várias, desde
doações da comunidade, até rifas, bailes, bingos, etc., o que mostra que a
participação das pessoas da região continua significativa.
“Uma
paixão”, como dizia a ex-presidente Teresa Pires, que garante correr em suas
veias um sangue com as cores “verde e amarela”. “Ou uma extensão da nossa
casa”, como falava o abnegado torcedor Jorge Wainer das Neves.
Quando
em agosto de 1960, Juvenal de Souza Freitas Filho, Eloy Rocha Beira e Feliciano
Gomes Filho nem imaginavam os caminhos que seguiria o clube que estavam
organizando.
Naquele
tempo era o E.C Esperança a referência tradicional de uma agremiação de futebol
no interior ou dos famosos bailes concorridos de uma outrora elite rural na
qual encontrava no clube seu espaço de lazer e divertimento.
O
adversário maior do Esperança é hoje o Santo Antônio. Ele foi criado muito
tempo depois, em 1960, a partir de uma briga que aconteceu em um baile do E. C.
Esperança, por não terem deixado um membro da família Coutelle entrar no clube
por estar sem gravata.
O
clube era conhecido como de elite, sendo obrigatório o uso de terno para entrar
nos bailes. A base do time e dos fundadores do E.C Santo Antônio em 1960, veio
dos trabalhadores do antigo curtume “Santo Antônio”, de Paulo Coutelle, com
aproximadamente 50 funcionários mais os menores do estaqueamento do couro .
E
lá nasceu a gênese do nome e do distintivo do clube, um couro estampado na
camiseta e na bandeira. Uma homenagem ao curtume reconhecido aquele tempo como
uma das empresas de melhor qualidade de preparo e curtição de couros no sul do
estado.
Se
por um lado o Santo Antônio recebeu apoio do Curtume, (os funcionários depois
do expediente, faziam mais duas horas na limpeza do campo) não se pode esquecer
as influências e origens no time E.C Flor do Povo, que não tinha uma
organização plena , e neste sentido reconstruíram a base do futebol com a
mescla de jogadores funcionários do antigo Curtume e de jogadores do Flor do
Povo.
As
reuniões iniciais e até mesmo o arrendamento do Salão do Flor do Povo, depois
Sociedade Lagemann, para festas e bailes do Santo Antônio entre 1962 a 1972.
Uma pequena sede de madeira foi construída em 1968 no local atual e o prédio em
alvenaria foi inaugurado em março de 1972.
O
antigo “Campo de Nossa Senhora”, cercado de matos e tuneiras, pertencia a
Igreja de Nossa Senhora das Necessidades do Povo Novo e foi emprestado ao clube
e mais tarde foi doado pela Diocese de Rio Grande e o clube ‘vermelho e branco’
começava assim a trajetória social e futebolística no distrito do Povo Novo.
Foi
oito vezes campeão da cidade, 14 vezes campeão do Interior e nas décadas de 90
em diante virou uma marca registrada de sucesso. Ainda faz jantares dançantes e
bingos semanais. Virou encanto e paixão de muitos torcedores. Antônio Mendes
Castanheira Filho é um deles.
São
48 anos dedicados ao clube. De Presidente por várias vezes a porteiro, só não
foi um bom lateral direito na década de 60, brinca ele com seu jeito manso de
falar. Nem lembra um fato importante no Clube. Pensa, reflete sobre o tempo
passado e em suas memórias uma eterna ligação com o clube.
Nem
a derrubada dos matos para a construção do campo, nem os tijolos e a massa nos
verões quando construía aos poucos a sede social.
Fez
somente uma referência de uma excursão a Novo Hamburgo a mais ou menos 30 anos
passados para jogar contra o Estância Velha, campeão da região, com dois ônibus
e o Santo Antônio ganhou o jogo aos 40 minutos do 2º tempo.
Mas
isso foi um fato e o clube é uma paixão acima dos fatos. È uma relação de
família, uma grande família. A atual Presidente é a sua esposa, Maria Marlene
Borges Castanheira desde 2008. Os caminhos e o caráter de um clube passam pela
harmonia e conduta de seus dirigentes.
Hoje
o clube está em atividades no “Campeonato da Campanha”, com 1º e 2º quadros. Os
Veteranos participam do campeonato de Futebol no Cassino e no citadino de
Futebol de Salão. (Pesquisa: Nilo Dias)
O estádio do Esperança.