sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A indignação de um povo

O artigo abaixo foi copiado do blog "Supremacia Colorada - O Blog do Torcedor do Inter‏nacional". Ele traduz perfeitamente toda a indignação que os torcedores do glorioso S.C. Internacional e todo o povo do Rio Grande do Sul sentem em relação a famigerada Rede Globo de Televisão, que tanto mal já fez e continua a fazer ao nosso país, e especialmente ao povo que reside fora do eixo Rio-São Paulo.

Na última quarta-feira, quando o S.C. Internacional, defendendo o futebol de nosso país, e como o primeiro e único clube a chegar na final da Copa Sulamerica,a Rede Globo desrespeitou todo um povo ao trocar o jogo por um filme de quinta categoria. Por isso a atualidade do ótimo texto que publicamos abaixo, merece ser lido por todos.

Discriminação pura e simples

Por Tiago Vaz

A Globo não passou o jogo do Internacional para todo o país. Sequer transmitiu em Santa Catarina, Estado em que há muitos colorados. Também não deve ter passado a partida para o oeste do Paraná, e nem para Mato Grosso, Rondônia e Mato Grosso do Sul, onde há muitos colorados. Parece que a Band não transmitiu o jogo para São Paulo. O argumento das emissoras, como sempre, seria a disputa pelo Ibope. Times do Rio Grande do Sul dariam pouca audiência fora do Estado. Por isso a opção por não transmitir a partida seria justificada. Afinal, os patrocinadores querem audiência.
O argumento, no entanto, é absurdamente falso, e isso por uma simples razão.

As grandes emissoras não fazem esse juízo sobre o impacto da audiência quando quem está jogando é um time de Rio ou São Paulo. Entre tantos exemplos, posso dar o de Palmeiras e Argentino Juniors. A Globo passou o jogo para os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde o interesse pela partida era baixíssimo. Se o critério para decidir pela transmissão é a audiência, deveriam ter passado um filme para esses Estados.

Os exemplos são inúmeros. A Globo cansou de transmitir partidas de Palmeiras e Botafogo na série B do Brasileiro para os Estados do sul. Transmitiu a final da Copa do Brasil entre Corinthians e Sport para todo o país, até para o Rio Grande do Sul, sem fazer a tal análise da audiência.

Em suma, para os gaúchos e para outras regiões onde os times de Rio e São Paulo não tem maioria de torcida, as emissoras nacionais simplesmente impõem a transmissão das partidas, inclusive de clubes com torcidas mais localizadas, como Fluminense, Santos e Botafogo. Já quando jogam clubes de fora do eixo Rio-SP vem a suposta "análise" da audiência.

Portanto, o que há é pura e simples discriminação. Se as emissoras nacionais querem provar o contrário, então que nunca mais passem para o Rio Grande do Sul jogos de equipes de outros Estados. Aí sim até poderei ter alguma consideração sobre o argumento por elas utilizados.

Para as emissoras situadas de Rio e SP o Rio Grande do Sul não é Brasil. É como se fosse uma espécie de Alaska para os EUA. Algo isolado e distante. E para "integrá-los" à nação brasileira é preciso um esforço civilizatório e uniformizador. Por isso passam jogos das equipes do centro para a província. Colocam o Corinthians goela abaixo dos gaúchos, ao passarem a final da Copa do Brasil, mesmo sabendo que o time paulista é odiado pela maioria dos torcedores de Grêmio e Inter.

Essa discriminação explícita, demonstração de absurdo xenofobismo, causa reações sérias. A mídia tem um papel importante na sociedade, e suas ações podem gerar efeitos positivos ou negativos. No Rio Grande do Sul, a mídia nacional exacerbou o sentimento comum nos gaúchos de que são discriminados. Daí para surgir uma afirmação cada vez maior da "nacionalidade" gaúcha foi um passo. Eis a razão do grito "ah, eu sou gaúcho". Eis a explicação da torcida do Inter ter cantado o hino do Rio Grande do Sul quando o time chegou do Japão em 2006. A discriminação midiática só acentua uma visão até certo ponto separatista, senão na organização política, mas ao menos no sentimento.

Outra conseqüência triste dessa discriminação é o sentimento em relação à seleção brasileira. Para muitos gaúchos, como o Rio Grande do Sul é discriminado no futebol, logo o selecionado feito pela CBF, representante do interesse dos clubes do eixo Rio-SP, é uma equipe que representa unicamente o interesse central. Então, qual a razão para torcer pela seleção?

Faz muitos anos que eu perdi a vontade de torcer para a seleção. A última Copa que me lembro de ter torcido para o Brasil foi em 90, quando fiquei triste com aquele gol de Caniggia. Em 94 minha paixão pela seleção brasileira já tinha sumido. Daí em diante assisto, quando assisto, friamente aos jogos. Não há diferença entre ver um jogo do Brasil e um da Espanha, por exemplo. Não consigo mais torcer e ficar feliz com as vitórias do Brasil. Perder ou vencer não faz mais diferença. Vejo as partidas apenas quando há um interesse futebolístico relevante. Amistosos só quando realmente não tenho nada para fazer.

Quem sabe a mídia nacional não regionaliza totalmente a transmissão. Sabem quantos jogos do Figueirense passaram para Santa Catarina? Nenhum. Hoje o desrespeito é demais. Uma regionalização maior poderia diminuir o sentimento de que somos discriminados. E quem sabe muita gente poderia voltar a ter uma relação de amor com a seleção, que gradualmente poderia ser considerada de todos, e não do eixo Rio-SP.Talvez até eu pudesse comemorar os gols de Luiz Fabiano. Por enquanto, comemoro mesmo são os gols de Alex e Nilmar. Para mim a seleção joga de vermelho. E só.

O S.C. Internacional, para nós, gaúchos, vale muito mais que a famigerada Rede Globo (Foto: Divulgação)

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Estudiantes, o time de “Los Professores”

O adversário do S.C. Internacional de Porto Alegre na final da Copa Sul-americana, que tem o primeiro jogo marcado para esta noite, é um clube de muita tradição na Argentina e em todo o Continente. Fundado em 4 de agosto de 1905, o já centenário Club Estudiantes da cidade de La Plata, na província de Buenos Aires, nasceu de uma dissidência no outro clube da cidade, o não menos tradicional Gimnasia y Esgrima. Alguns associados do clube não estavam satisfeitos com a preferência dada para atividades sociais e esportes de salão e não ao futebol. E os descontentes se uniram e partiram para a fundação de uma outra agremiação que atendesse seus interesses.

Fundaram, assim, o Club Estudiantes de La Plata, que em seus primeiros anos de existência só aceitava em suas fileiras pessoas jovens com estudo comprovado. Essa exigência, curiosamente beneficiou o rival Gimnasia, que tinha origem elitista na época e acabou se tornando mais popular ao ganhar torcedores nos bairros operários de La Plata, como Berisso e Ensenada. Hoje, o Estudiantes tem uma grande torcida, muito maior que a do seu arqui-rival, ficando atrás somente de: Boca Juniors, River Plate, Independiente, Racing Club, San Lorenzo, de Almagro e Rosário Central, de Córdoba.

Nos primeiros anos do século XX, o futebol já despertava grande paixão na Argentina. Equipes como o Lomas Athletic, Quilmes Athletic, Belgrano, Lobos, San Isidro, Porteño, Reformer, Barracas, San Martín, Nacional e Argentinos de Quilmes, se enfrentavam em sucessivos torneios organizados pela Associação Argentina de Futebol, cujo ganhador habitual era o Alumni.

O primeiro título do Estudiantes foi conseguido no ano de 1908, quando sagrou-se campeão da quarta divisão, vencendo o River Plate na partida final por 3 X 1. Em 1911 chegou a primeira divisão derrotando o Club Atlético Independiente por 3 X 0, em uma campanha com 13 vitórias, 4 empates e apenas uma derrota, com 49 gols a favor e 14 contra.

Em 23 de novembro de 1913, o Estudiantes conquistou o seu primeiro campeonato da primeira Divisão, depois de uma campanha quase inacreditável: 14 vitórias em 18 partidas. O título deu o direito do clube, disputar a Copa Rioplatense, contra o campeão uruguaio, o River Plate de Montevideo. O Estudiantes levou a taça ao derrotar o adversário por 4 X 1. Entretanto, pesquisas recentes dizem que tal partida nunca ocorreu.

Em 1929, o título ficou com o Gimnasia, igualando o feito de “Los Professores”, como o Estudiantes também é conhecido. A conquista dos rivais serviu para causar uma grande frustração entre os adeptos do Estudiantes. Mesmo com o passar dos anos o título do Gimnasia em 1929, continuava engasgado no torcedor. Esse episódio foi fundamental para alimentar o nascimento de um dos maiores clássicos do futebol argentino: Estudiantes X Gimnasia.

O Estudiantes nos dois primeiros campeonatos profissionais que disputou ganhou 36 partidas, empatou 12 e perdeu 20. Marcou 184 gols e sofreu 114. Os principais jogadores desta equipe foram os goleiros Scandone, Latorre Lelong e Capuano; os defensores Nery, Rodríguez, Viola, Raúl e Roberto Sbarra: os volantes Usienghi, Pérez Escalá, Riolfo; e o ataque Lauri, Scopelli, Zozaya, Manuel Ferreira e Guaita. Também atuaram Comasco, Tellechea, Padrón, Appolito, Sabio, Juariste, o uruguaio Castro, Areco e Estevarena. Em 1931 esta equipe goleou por 7 X 0 o Chacarita, 5 X 2 o Independiente, 5 x 2 o Ferro, 5 x 1 o Argentinos, 8 x 0 o Lanús, 6 X 1 o Atlanta, 8 X 0 o Ferro, 6 X 3 o Racing, 4 x 1 o campeão Boca Juniors e em 1932, 6 X 1 no rival Gimnasia.

A linha atacante do Estudiantes era denominada “Los Profesores” (todos jogaram na Seleção Argentina. Scopelli e Manuel Ferreira disputaram a Copa do Mundo de 1930): Miguel Ángel Lauri, “Flecha de Oro”, Alejandro Scopelli, “el Conejo”, Alberto Zozaya, “Don Padilha”, Manuel Ferreira, “el Piloto Olímpico” (por ter sido atacante central nos Jogos Olímpicos de Verão de 1928, em Amsterdam quando a Argentina foi vice-campeã) e Enrique Guaita, “el Índio”.

Dois jornalistas esportivos da época, Félix Daniel Frascara e Diego Lucero, consideraram “Los Professores” como a primeira grande expressão da arte coletiva dentro de um campo de futebol. Este é considerado um dos quintetos mais célebres do futebol profissional na argentina, comparável com o Independiente de 1939 (Maril, De la Mata, Erico, Sastre e Zorrilla) e com “La Máquina do River” (Muñoz, Moreno, Pedernera, Labruna e Loustau).

Além de grandes êxitos na era amadora, como no campeonato de 1930, quando levaram o Estudiantes ao vice-campeonato com 27 vitórias, 2 empates e 6 derrotas, os cinco “Professores” fizeram história no início da era profissional da Argentina, quando o quinteto foi desfeito com a saída de 3 integrantes para o futebol europeu.

A estréia do Estudiantes no futebol profissional argentino aconteceu em 1º de junho de 1931, com uma vitória diante do Talleres por 3 X 0. Nesse jogo Alberto Zozaya marcou o primeiro gol da era profissional do futebol argentino. Ainda em 1931 a linha atacante do Estudiantes marcou um recorde histórico: 103 gols em 34 jogos, sendo 16 a mais que o campeão Boca. Ficou em terceiro lugar no campeonato com 44 pontos, logo atrás do San Lorenzo de Almagro
com 45 e o Boca Juniors com 50.

Em 1938 surgiu no Estudiantes um dos maiores goleadores da história do futebol argentino, Manuel Peregrina, “El Payo”, que marcou 221 gols com a camisa “pincharrata”, transformando-se no maior goleador da história do clube e no quarto do futebol argentino em todos os tempos (231 gols, 10 anotados pelo Huracán). Jogou no Estudiantes até 1956 com uma temporada pelo Huracán em 1953. A partir de 1942 fez uma dupla de ataque brilhante com Ricardo "el Beto" Infante. Pelegrina se destacava pelo chute potente, Infante pela habilidade. “El Payo” jogou algumas partidas pela seleção argentina. Infante disputou a Copa do Mundo de 1958 pela seleção de seu país.

Na década de 1960 o Estudiantes explodiu para a glória. Conseguiu formar uma equipe fabulosa, que encantou torcedores da Argentina, da América e do mundo inteiro. O vermelho, branco e preto das camisas do Estudiantes, assustava os adversários. Foi campeão argentino em 1967, com jogadores sensacionais como Verón (o pai do atual capitão do time), Bilardo (que viria a ser técnico da seleção argentina), e tantos outros. O treinador da equipe era o lendário Osvaldo Zubeldía. Com tantos craques no time, não foi difícil ganhar também a Copa Libertadores da América em 1968, 1969 e 1970, tornando-se o primeiro tri-campeão do torneio.

Nesses anos de ouro, venceu na decisão timaços da época, como o Palmeiras (1968), o Nacional do Uruguai (1969) e o Peñarol, também do Uruguai (1970). O Estudiantes, não tomava conhecimento dos adversários e os esmagava um a um. O grande momento do clube aconteceu em 1968, depois de vencer pela primeira vez a Libertadores. Credenciado a disputar a Copa Intercontinental, o Estudiantes venceu na Argentina o Manchester United, dos craques Bobby Charlton e George Best, por 1 X 0. Na Inglaterra, houve empate de 1 X 1. Verón marcou o gol argentino e garantiu a festa.

Na década de 1980 o Estudiantes voltou a formar um time forte, talvez sem o mesmo brilho do elenco da década anterior, mas aguerrido ao extremo. Em 1982 e 1983, conquistou o bi-campeonato nacional e por pouco não ganhou também a Copa Libertadores de 1983. Chegou as semi-finais daquele ano numa chave com Grêmio e América de Cali. No penúltimo jogo empatou com o Grêmio em 3 X 3, em La Plata, depois de estar perdendo por 3 X 1 e ter vários atletas expulsos. E isso foi fatal no jogo seguinte, contra o América, na Colômbia. A equipe sentiu a falta dos titulares suspensos e não saiu do empate, resultado que eliminou o clube da competição.

Os anos que se seguiram não foram bons. Até pela segunda divisão o time de La Plata andou. Em 2006, houve a reação, com a reconquista do campeonato argentino, com uma histórica vitória sobre o Boca Juniors, em plena “Bombonera”. Na Libertadores, o Estudiantes fez grandes partidas, mas acabou eliminado pelo São Paulo, nos pênaltis. Naquele ano já poderia ter ocorrido um confronto com o Internacional, adversário desta noite, para decidir a competição. O clube gaúcho foi campeão continental e do mundo.

Os títulos mais importantes da história do Estudiantes são: Copa Libertadores da América (1968, 1969 e 1970), Copa Intercontinental (1968), quatro camepeonatos argentinos e uma Copa Interamericana. Os torcedores do Estudiantes de La Plata são chamados de “pincharratas” e o clube de “Pincha” ou “tricampeões”, uma referência aos 3 títulos consecutivos da Libertadores da América. Originalmente o clube dedicava-se quase que exclusivamente ao futebol, mas na atualidade pratica tambeém outras modalidades esportivas como basquetebol, tênis, handebol, golf, nataçaão e hockey.

Uma curiosidade: Verón, que é filho do maestro Verón, do lendário Estudiantes da década de 1960, é hoje o grande nome da equipe. Ele surgiu em um momento de dificuldade, sendo um dos responsáveis pela volta do Estudiantes a primeira divisão, em 1995. Depois, transferiu-se para a Europa e foi grande destaque da seleção argentina. Agora, de volta às origens, Verón é a grande esperança de novas glórias para “Los Professores) (Pesquisa: Nilo Dias).

"Los Professores", o maior ataque de toda história do Estudiantes (Foto: Acervo do Club Estudiantes)

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Tragédia da Fonte Nova completa 1 ano

Hoje está fazendo um ano que aconteceu uma das maiores tragédias do futebol brasileiro em todos os tempos. O desabamento de parte da arquibancada do Estádio da Fonte Nova, em Salvador, no dia 25 de novembro de 2007, aos 43 minutos do segundo tempo do jogo Bahia X Vila Nova, válido pela Série C do Campeonato Brasileiro causou a morte de sete torcedores e deixou outros 87 feridos. Meses antes, um estudo feito por engenheiros dava o Estádio Octávio Mangabeira como o pior do Brasil.

Esta foi a segunda maior tragédia futebolística brasileira que se tem registro, ficando atrás somente do desastre no Albertão (Piauí), em 1973, onde oito pessoas morreram e mais de 300 ficaram feridas, segundo números oficiais.

Até agora ninguém foi responsabilizado pelo ocorrido, embora a Polícia Civil tenha indiciado cinco pessoas por homicídio doloso (sem intenção de matar). Desses, a Justiça acatou apenas dois nomes, Raimundo Nonato Tavares, o ex-jogador Bobô, diretor da Superintendência de Desportos do Estado da Bahia, que administrava o estádio, e o engenheiro Nilo Santos Júnior, à época funcionário do órgão. Mas não há previsão para julgamento.

O promotor Mauricio Cerqueira, responsável pela parte criminal do processo, não acredita na prisão de Bobô e de Nilo Santos. Na sua opinião a pena não deverá chegar a dois anos, e eles terão direito aos benefícios da lei, em caso de condenação.

O governo estadual aprovou uma lei para pagar pensão especial às famílias dos mortos. Por ela, o Estado terá que pagar aos beneficiários das três mulheres que morreram uma pensão até o 76º aniversário da vítima. Os herdeiros dos quatro homens mortos terão direito à pensão até o 68º aniversário do morto. Mas até agora somente duas famílias estão recebendo menos de R$ 500, o que é muito pouco. É o caso da mãe de Milena Vasques. Que morreu no acidente aos 27 anos e recebe uma pensão retroativa a dezembro de 2007, no valor de R$ 493,54 por mês. Já a mãe do torcedor Joselito Lima, morto aos 26 anos, ganha R$ 492,59. A CBF também pagou um seguro de R$ 25 mil para cada família das vítimas. Outras cinco famílias esperam que a Justiça defina quem são os herdeiros legais.

Logo após o acidente, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), anunciou que o Estádio da Fonte Nova seria demolido para que no mesmo local fosse construído um outro, inclusive para ser utilizado nos jogos da Copa do Mundo de 2014, que será realizada no Brasil. Ao início deste ano, a conversa já era outra. O governador descartou a hipótese de demolição e anunciou uma reforma, ao custo inicial de R$ 230 milhões.

Inclusive já foi anunciada a proposta vencedora da licitação para a modelagem institucional, regime de gestão e operação do Estádio Octavio Mangabeira, popularmente chamado de Fonte Nova. Trata-se do consórcio liderado pela KPMG Structured S.A., que terá a responsabilidade de apresentar um estudo que atraia a iniciativa privada a realizar investimentos nas obras de recuperação e adequação da Fonte Nova para a Copa de 2014.

A KPMG vai se juntar à Setepla Tecnometal Engenharia, que em parceria com a alemã Shulitz + Partner irá remodelar o estádio. As obras no entorno da Fonte Nova ainda permanecem em análise pelo Grupo Técnico da Copa de 2014. O novo projeto arquitetônico vai se preocupar com as áreas vizinhas ao estádio, sobretudo com os três bens tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN): o Dique do Tororó, tombado desde 1959, o Colégio Anfrísia Santiago e o Convento do Desterro, desde 1938.

Além da KPMG, participaram do processo licitatório, as empresas Urplan Grupo de Planejamento, Urbanismo, Arquitetura LTDA, Ponto Z Arquitetura Paisagismo e Consultoria LTDA, Ernst & Young, Tecnosolo S.A. e a Setepla Tecnometal Engenharia LTDA, cuja proposta de estádio foi a aprovada pelo governo e anunciada no dia 29 de setembro deste ano.

Até o dia 15 de janeiro do ano que vem terá que ser apresentado o projeto básico de arquitetura e um estudo prévio de viabilidade econômica do empreendimento. Sabe-se que o projeto do estádio está inspirado no estádio da cidade alemã de Hannover, que abrigou partidas da Copa de 2006. Tanto a Fonte Nova quanto o estádio alemão, foram inaugurados na década de 1950, com base em projetos parecidos, e ambos passaram por grandes reformas na década de 1970 e tinham carências semelhantes na época da modernização. A reforma da AWD Arena custou 65 milhões de euros, aproximadamente R$ 180 milhões.

De acordo com a proposta, algumas características originais da Fonte Nova, como a forma de ferradura (um dos lados do estádio é aberto), serão mantidas. Além disso, um trecho do anel inferior também será modificado para deixar o público mais próximo do gramado. Já o trecho da arquibancada que ruiu, causando a morte de sete pessoas será destruído e reconstruído. Sobre ele, haverá uma membrana que envolverá todo o estádio, nos mesmos moldes da reforma feita em Hannover. O projeto prevê também a construção de três torres nos arredores do estádio para abrigar hotel, shopping-center, museu e centro de medicina esportiva, e a reforma do ginásio anexo.

A estimativa é que o novo estádio deva custar R$ 230 milhões e terá uma capacidade mínima de 55 mil torcedores, além de 36 camarotes, que serão corporativos, uma nova tribuna de honra e estacionamento vip na área interna.

O Cronograma para construção da nova Fonte Nova deverá ter por base estas datas: 15/01/2009 - Apresentação do projeto definitivo de reconstrução do estádio; 15/03/2009 - Escolha das sub-sedes da Copa do Mundo na Suíça; 30/07/2009 - Abertura do edital de licitação; 30/11/2009 - Conclusão do processo licitatório; 31/01/2010 - Início das obras; 2012 - Conclusão da reconstrução do estádio.

O Estádio Octávio Mangabeira (Fonte Nova) foi inaugurado no dia 28 de janeiro de 1951, com o jogo Botafogo (BA) 1 X 1 Guarany (BA). O primeiro gol foi obra do jogador Nelson (Botafogo-BA). O último jogo foi no dia 25 de novembro do ano passado, entre Bahia X Vila Nova (GO). O recorde de público (oficial) no estádio aconteceu no jogo Bahia 2 X 1 Fluminense, pelas semifinais do campeonato Brasileiro de 1988, quando 110.438 pagaram ingresso. O Bahia foi campeão brasileiro naquele ano.

Há quem diga que 120.000 pessoas estiveram na Fonte Nova no dia 4 de Março de 1971, numa rodada dupla: Bahia x Flamengo (RJ) e Vitória x Grêmio (RS), mas não existe comprovação de que isso seja verdade. Era o dia da reinauguração da Fonte Nova, após obras de ampliação. O público pagante oficial divulgado dois dias depois foi de 94.972 pessoas.

Além do futebol a Fonte Nova foi palco de outros eventos, como lutas de boxe, shows de artistas e bandas, dentre outros. Um dos maiores momentos foi a comemoração dos 10 anos da carreira de Ivete Sangalo. O show da cantora, com a participação de diversos artistas (Daniela Mercury, Gilberto Gil, Sandy & Junior, Margareth Menezes e Tatau), recebeu cerca de 80.000 pessoas e virou CD e DVD lançado pela MTV/Universal, o mais vendido da Indústria fonográfica mundial em 2005. (Pesquisa: Nilo Dias)

Projeto do novo Estádio da Fonte Nova (Foto: Governo do Estado da Bahia)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A festa do interior paulista

O futebol do interior paulista mostrou força este ano ao classificar duas equipes para o Campeonato Brasileiro da Série A de 2009, o Esporte Clube Santo André e o Grêmio Recreativo Barueri, que levam o nome de suas cidades. O clube do ABC, depois de 25 anos fora da elite nacional (última vez em 1984, quando foi 10º colocado) garantiu vaga na 36ª rodada (15/11), quando derrotou de virada o Ceará, em pleno Estádio Castelão, em Fortaleza, por 3 x 2, com gols no finalzinho do jogo. Já o Barueri, com apenas sete anos de futebol profissional conquistou neste sábado (22/11) um lugar entre os grandes do futebol brasileiro, ao derrotar o América (RN), por 3 X 0.

O Esporte Clube Santo André foi fundado em 18 de setembro de 1967, na época como Santo André Futebol Clube. A expectativa era criar um clube que fizesse frente aos clubes de Campinas, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, os maiores expoentes do futebol interiorano paulista e tantas outras cidades brilhavam com seus representantes.

A idéia surgiu na Liga de Futebol Amador da cidade, presidida pelo desportista Wigand Rodrigues dos Santos e logo ganhou muitos adeptos. A assembléia para fundação do clube aconteceu numa noite de chuva, na sede do Tiro de Guerra, na Praça 18 do Forte, quando faltou energia elétrica. O Santo André nasceu sob luzes de velas. Apenas quatro meses depois da fundação, em 20 de janeiro de 1968 o Santo André já se tornava um clube de futebol profissional filiado a Federação Paulista de Futebol (FPF) e apto às disputas oficiais.

Em 22 de março de 1975, o Santo André Futebol Clube passou a chamar-se Esporte Clube Santo André, nome que é utilizado até hoje. Foram trocadas também as cores do uniforme. O verde e amarelo deu lugar ao azul e branco. E a troca deu sorte. Naquele mesmo ano o clube conquistou o título do Campeonato Paulista da Segunda Divisão (sem acesso). O feito se repetiu em 1981 quando pela primeira vez chegou ao primeiro grupo do futebol paulista.

Já consolidado como clube, em 1984 ganhou destaque também no cenário nacional, ao classificar-se para a primeira divisão do Campeonato Brasileiro. E fez bonito, foi 10º colocado.

Em 2003, o clube viveu momentos inesquecíveis: foi campeão da Copa São Paulo de Juniores; vice-campeão do Campeonato Brasileiro da Série C, que valeu vaga para a Série B de 2004 e campeão da Copa Estado de São Paulo, que garantiu presença na Copa do Brasil do ano seguinte. O clube do ABC surpreendeu a todos e com uma grande campanha conquistou o título, batendo o Flamengo na final, por 2 X 0, em pleno Maracanã lotado de torcedores.

Na condição de campeão da Copa do Brasil, o Santo André habilitou-se à inédita vaga para a disputa da Copa Libertadores da América. Enfrentando adversários bem mais experientes em competições internacionais, acabou eliminado na primeira fase. Mas, sem antes deixar sua marca: uma goleada de 6 X 0 sobre o Deportivo Táchira, da Venezuela.

Os títulos conquistados pelo E.C. Santo André: Vice-Campeão Paulista da Segunda Divisão (1974); Campeão Paulista da Segunda Divisão (sem acesso) (1975); Campeão Paulista da Segunda Divisão (1981 e 2008); Vice-Campeão Paulista da Segunda Divisão (1974, 1979 e 2001); Campeão da Copa São Paulo de Juniores (2003); Campeão da Copa Estado de São Paulo (2003); Vice-Campeão Brasileiro da Série C (2003); Vice-Campeão da Copa Estado de São Paulo (2004); Campeão da Copa do Brasil (2004) e terceiro colocado no Campeonato Brasileiro da Série B, que garantiu o acesso a Série A. (2008).

O E.C. Santo André tem como mascote o “Ramalhão”, em homenagem a João Ramalho, fundador da cidade de Santo André em 8 de abril de 1553. O “Ramalhão” é o único mascote "histórico" do Estado de São Paulo, já que a maioria dos clubes prefere usar animais como “Tigre”, “Leão”, “Pantera”, “Águia” e os inúmeros "Galos" existentes no interior paulista, entre outros.

O Santo André disputa seus jogos no Estádio Municipal Bruno José Daniel, que tem capacidade para 15.000 pessoas. O clube é presidido pelo desportista Celso Luiz de Almeida e tem como patrocinadores Auto Shopping Global e Samcil. O material esportivo é fornecido pela Finta.

O Grêmio Recreativo Barueri, de Barueri, na Grande São Paulo, é um clube que recém começa a fazer história. Apesar de muito jovem, foi fundado em 26 de Março de 1989, está surpreendendo a tudo e a todos com sua rápida ascensão no futebol brasileiro. Em apenas sete anos no futebol profissional já conquistou seis acessos, inclusive para participar da 1ª divisão do campeonato paulista e da Série A do brasileiro.

No ano de 2000, em parceria com a iniciativa privada, o Grêmio Barueri iniciou sua caminhada no futebol. Disputou o Campeonato Paulista da Segunda Divisão - categoria Juniores - tendo se sagrado vice-campeão.

Em 2001 fez uma parceria com o Roma, jogando e vencendo a Copa São Paulo de Futebol Júnior, numa final memorável em que derrotou o São Paulo F.C. A expressão da conquista tornou inevitável o ingresso no futebol profissional. E de imediato o clube disputou a Série B-3 (sexta divisão) do Campeonato Paulista de Futebol, terminando em 14°. Em 2002, jogou de novo a B-3 e conseguiu acesso para B-2. Em 2003, subiu para a B-1 e em 2004 chegou a Divisão A-3.

Em 2005 foi campeão da A-3 e subiu para A-2. No ano seguinte, ao golear o Sertãozinho por 4 X 1 no antigo Estádio Municipal Orlando Baptista Novelli (hoje o Barueri manda suas partidas na Arena Barueri) sagrou-se campeão da A-2 e assegurou o direito de disputar a primeira divisão do Campeonato Paulista de Futebol de 2008. E não deu outra, no primeiro ano entre os grandes foi campeão do Torneio do Interior.

Em 2006, o Grêmio Barueri disputou o Campeonato Brasileiro da Série C e conseguiu acesso para a Série B do Nacional. E agora o clube consegue a façanha de garantir uma vaga para o Campeonato Brasileiro da Série A do ano que vem, ao derrotar no último sábado (22) o América de Natal por 3 X 0. Quem pensa que o Barueri não pode formar uma grande equipe para 2009, está enganado. Dinheiro, não vai faltar. Os patrocinadores oficiais são fortes: Amil, Embratel e Ibi. O material esportivo é fornecido pela Canxa. E ainda tem o apoio da Gatorade.

O novo estádio da cidade de Barueri, denominado Arena Barueri pertence à Prefeitura Municipal, mas foi cedido em comodato para a Organização Não Governamental (ONG) Grêmio Recreativo Barueri. A construção é nova, o velho Estádio Orlando Baptista Novelli foi demolido. A Arena Barueri ainda não está concluída, mas já atende as exigências da FIFA.

O estádio pode receber 15 mil pessoas, mas em breve a capacidade estará aumentada para 20 mil. A previsão é que até o fim do ano que vem a obra esteja pronta com capacidade total para 40 mil torcedores. E também as obras adicionais de estacionamento e acessos. Depois de concluída a arena será de multiuso e uma das mais modernas do Brasil, podendo receber jogos da Copa do Mundo de 2014, a ser realizada no Brasil.

O Mascote do clube é uma abelha e foi criado pelo publicitário Felipe Nani, que integra a equipe de Marketing do Barueri. A idéia da abelha é expressar simplicidade, trabalho em equipe, força em conjunto e produção de riqueza. (Pesquisa: Nilo Dias)

Torcida do Barueri foi importante na campanha da Série B (Foto: Acervo do C.R. Barueri)
Uma das formações do Santo André na década de 1970 (Foto: Acervo do E.C. Santo André)

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Arthur Dallegrave, 57 anos de amor ao Internacional

Morreu ontem (17), Arthur Dallegrave, um dos mais importantes dirigentes de toda a história do S.C. Internacional de Porto Alegre, aos 78 anos de idade (11-04-1930), 57 deles dedicados ao futebol. O ex-presidente colorado sofria de problemas na bexiga e por isso estava internado no Hospital São Lucas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRGS). Na semana passada sofreu intervenção cirúrgica. Ontem após sofrer três paradas cardíacas, não resistiu. O corpo, coberto com uma bandeira do Internacional foi velado no Salão Nobre do Estádio Beira-Rio e sepultado hoje às 14 horas no Cemitério São Miguel e Almas na capital gaucha.

O dirigente era casado com Clara Eulália Maciel Dallegrave e deixou os filhos Arthur Júnior, Cylene, Giovanna e Bianca. Na sua vida profissional, foi sócio gerente da Loja Senador Moda Masculina, de 1957 a 1989, e sócio gerente da Garagem Dallegrave, de 1967 até novembro de 2008.

Dallegrave era muito querido por todos, torcedores do Internacional, ou não. Em seu velório, além dos familiares e amigos mais íntimos, personalidades do mundo político também se fizeram presentes, como a deputada federal Manuela D'Ávila, que é colorada, e vereadores de Porto Alegre. O clube rival, Grêmio, enviou uma coroa azul e branca, colocada em meio a um mar de flores vermelhas. No seu site oficial, o Grêmio divulgou uma nota de pesar pela morte do ex-presidente do Inter. No Estádio Olímpico a bandeira do clube, comemorativa aos 25 anos do primeiro título da Copa Libertadores, foi hasteada a meio-mastro.

Arthur Dallegrave, que ingressou no futebol em 1948, como presidente do Fluminense F.C., clube amador do bairro Bonfim deixa uma história de grande dedicação ao Internacional de quem era sócio desde 1947. Em 1950, com apenas 20 anos de idade ingressou no Conselho Deliberativo, na gestão do ex-presidente Ephraim Pinheiro Cabral. Neste mesmo ano, assistiu de perto aos jogos da Copa do Mundo sediados no Estádio dos Eucaliptos.

Na década de 1960 trabalhou nas categorias de base e depois teve intensa participação na construção do Estádio Beira Rio, como membro do Comitê de Construção.

Foi presidente colorado nos anos de 1982 e 1983, período em que foram conquistados dois títulos de campeão gaúcho. Depois, por diversas vezes ocupou a vice-presidência de futebol do clube, inclusive ao lado do então presidente Frederico Arnaldo Ballvé, no histórico octacampeonato gaúcho do Inter, de 1969 a 1976.

Mais recentemente, foi primeiro vice-presidente na gestão de Fernando Carvalho, tendo sido nome importante nas conquistas da Copa Libertadores da América e Mundial FIFA, em 2006. Atualmente era o presidente da comissão de festejos do centenário do Internacional, a ser comemorado no ano que vem.

Nos 57 anos que dedicou ao Internacional, Dallegrave participou ativamente de vários momentos inesquecíveis do clube, desde os tempos do velho estádio dos Eucaliptos. Viu o “Rolo Compressor” dar show, vibrou com as jogadas do grande Tesourinha, assistiu o time de ouro encantar o Brasil com três conquistas nacionais. Ajudou a levantar taças junto de craques como Falcão, Lula, Carpegiani, Batista, Manga, Flávio Minuano, Figueroa, Marinho, Dadá Maravilha, Mário Sérgio, entre outros, sob o comando de Rubens Minelli.

E depois o título invicto de 1979, único até hoje no Brasil, com a liderança do saudoso Ênio Andrade. No site do Inter uma frase de Dallegrave sobre esse histórico feito, tem lugar de destaque: “Ouso dizer que jamais outro clube do país conquistará um campeonato de tal forma”. Ele também esteve no Morumbi e no Beira Rio quando o time ganhou a Libertadores, e no Japão, no maior feito de toda a história colorada.

Nem nos momentos difíceis que enfrentou nos seus últimos dias, Dallegrave deixou de lembrar o Internacional. Ele acompanhava tudo, mesmo à distância. O dirigente Fernando Carvalho conta que após a vitória sobre o Boca Juniors, na Bombonera, pelas quartas-de-final da Copa Sul-Americana, Dallegrave ligou do hospital para mandar um abraço, o que emocionou a todos que ainda estavam no vestiário comemorando o grande feito.

O presidente Vitorio Piffero, do S.C. Internacional fez um pronunciamento oficial sobre a perda: “Está de luto a nação colorada. Arthur Dallegrave era um homem que dedicou a sua vida ao Internacional. Que ajudou o clube a chegar onde está”.

Arthur Dallegrave era um daqueles dirigentes que quase não existem mais e que foram responsáveis diretos por grandes momentos da dupla Gre-Nal. Esses homens viviam os seus clubes de maneira intensa, o tempo todo e se responsabilizavam por compromissos financeiros. E o mais importante, se respeitavam mutuamente, mesmo não esquecendo a “flauta” com os rivais. Exemplo disso era quando perguntavam a Dallegrave se alguém da sua família torcia pelo Grêmio, ele respondia com bom humor: “Graças a Deus, ninguém nunca derrapou na família Dallegrave”. (Pesquisa: Nilo Dias)

Dallegrave ao lado de Figueroa. (Foto: Site oficial do S.C. Internacional)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Brasília ganha um novo estádio

Nesta quarta-feira (19) a Seleção Brasileira de Futebol fará seu último jogo do ano, enfrentando amistosamente a Seleção de Portugal, na festa de inauguração do novo Estádio Walmir Campelo Bezerra, o “Bezerrão”, na cidade-satélite do Gama, no Distrito Federal. Craques como Robinho, Cristiano Ronaldo, Kaká,Adriano e Deco, entre outros vão jogar num estádio novinho em folha, que segue as normas mais modernas da Fifa. A capacidade do estádio é para 20 mil pessoas sentadas em cadeiras numeradas, instaladas com certa distância uma da outra, para que não haja tumulto. Os torcedores terão uma visão completa do campo, descartando a existência de pontos cegos.

O entusiasmo dos brasilienses com o novo estádio é tão grande, que pode ser medido pelas palavras do presidente da Federação Brasiliense de Futebol, Fábio Simão: “os jogadores vão se sentir como se estivessem jogando na Europa”. O jogo vai começar às 22 horas. O trio de árbitros é uruguaio, Jorge Larrionda no apito, auxiliado por Walter Rial e Pablo Fandiño. O quarto árbitro será o brasileiro Milton Otaviano dos Santos. A partida terá transmissão ao vivo pela Rede Globo e SporTV.

O GDF vai gastar R$ 12 milhões com o evento, R$ 9 milhões para trazer as seleções Brasileira e de Portugal e mais R$ 3 milhões com a estrutura e organização da festa. Vai ter queima de fogos e enfeites espalhados por toda a cidade para acompanhar o trajeto dos jogadores até o estádio. Momento que os vizinhos da nova atração do Gama esperam ansiosos. A programação das festividades do Bezerrão começou no último sábado (15), com a Missa inaugural presidida por D. João Braz de Aviz, Arcebispo de Brasília e co-celebrada pelo Padre do Setor VII do Gama e Santa Maria. O evento teve a apresentação de Zizza Fernandes e Dalvimar Gallo.

Hoje (17), foi a vez dos evangélicos que celebraram um culto de ação de graças pelo pastor Gean Porto e shows com o pastor Egmar e os cantores Valdirene e Sanny, além das bandas "Passageiros de Cristo" e "Trazendo a Arca". Na quarta-feira haverá shows do lado de fora do estádio, onde também serão colocados telões para transmissão do jogo. As celebridades Felipe Massa, Romário e Pelé,que dará o pontapé inicial já confirmaram presença no evento. O Hino Nacional Brasileiro será interpretado pelo cantor Zezé di Camargo , e o de Portugal pela cantora Eugénia Melo de Castro.

A Seleção Brasileira chegou hoje (17) em Brasília e está hospedada no Alvorada Park Hotel (antigo Blue Tree). Amanhã (18) haverá treinamento, às 16h15min, no “Bezerrão”. A venda de ingressos para o amistoso começou no dia 13 de novembro, com os seguintes valores: arquibancada entre R$ 180 e R$ 250; meia-entrada, de R$ 90 a R$ 125 e cobertura R$ 200, o que faz prever que o estádio não terá lotação completa. Cerca de 1.500 ingressos foram sorteados entre os moradores do Gama, no domingo 16, frente o estacionamento do estádio. Para concorrer as pessoas levaram 1kg de alimentos não perecíveis. Outros quinhentos ingressos foram distribuídos entre os operários que trabalharam nas obras e mais 7.360 para convidados do GDF e patrocinadores.

A Administração do Gama convocou o Programa Cidade Limpa para realizar uma faxina geral na cidade. Forame feitos trabalhos de podagem, roçagem, limpeza de entulhos e tapa buracos ao redor do estádio e nas avenidas principais.

O nome do estádio é uma homenagem a Antônio Walmir Campelo Bezerra, que foi o administrador do Gama durante a primeira construção. O velho estádio foi inaugurado em 9 de outubro de 1977, com o jogo Gama 1 X 2 Botafogo (RJ). O atacante Gil, do time carioca anotou o primeiro gol. O público recorde, 14.740 pessoas foi no jogo Guará 2 X 1 Gama, disputado no dia 15 de abril de 1979.

O “Bezerrão” começou a ser demolido no fim de 2005. Da arquitetura original, sobrou apenas parte da arquibancada norte, que será usada para comportar eventos de grande porte, como shows a céu aberto, mas ficará no lado de fora do estádio, já que novas arquibancadas foram erguidas. A idéia é de que o novo estádio receba apenas jogos de futebol.

Todos os itens do processo estão de acordo com as normas do Estatuto do Torcedor, do Regulamento da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para campeonatos de primeira divisão e das recomendações da Federação Internacional de Futebol (FIFA) para estádios de futebol. O "Bezerrão" foi construído seguindo o caderno de encargos da Fifa. Por exemplo: o alambrado balança, não é duro. Pode parecer que é ruim isso, mas é o recomendado para caso haja confusão, pois ele dobra e não machuca as pessoas.
O garoto-propaganda do novo estádio é Romário. Em um comercial exibido em Brasília, o "Baixinho", de camisa verde, passeia pelo estádio e aprova: "Logo agora que eu parei de jogar é construído um estádio como este..."

A iluminação instalada no “Bezerrão” tem 242 pontos de luz. Além disso, conta com cabines de transmissão climatizadas (quatro para televisão e oito para rádio), vestiários espaçosos e banheiras de hidromassagem. A partir de uma sala é possível monitorar cada ângulo do estádio: 104 câmeras vão garantir a segurança fora e dentro do estádio. O “Bezerrão” conta ainda com moderno placar eletrônico, catracas, sistemas de drenagem e irrigação, sala de musculação para os atletas, sala para entrevistas coletivas, dois camarotes (um foi reservado para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que no entanto não irá ao jogo), dois elevadores e 200 lugares para pessoas com deficiência de locomoção.

O gramado mede 105 m x 68 m, em uma área interna de 128 m x 81 m. A grama escolhida foi a Bermuda Tifton 419, que é usada também no Mané Garrincha. A irrigação é computadorizada. O gramado anterior media 100 m x 75 m. Quem for de carro aos jogos não encontrará problemas: serão oito mil vagas de estacionamento.

A capacidade do estádio é para 20 mil pessoas. As Arquibancadas Norte e Sul têm capacidade para três mil lugares cada uma, a Leste seis mil e a Oeste para oito mil lugares. As quatro arquibancadas dispõem de banheiros e bares na parte de baixo, além de um anfiteatro, vestiários, acomodações para a Federação, sala dos juízes, sala de médicos e sala de imprensa. Atrás da arquibancada (parte externa) foi construído um galpão para ensaios e apresentações da Escola de Samba da Mocidade do Gama.de um anfiteatro e dos vestiários, haverá acomodações para a federação, sala dos juízes, sala de antidopping, sala de médicos e sala de imprensa.

Os moradores do Gama ainda serão beneficiados com uma Vila Olímpica em construção ao lado do estádio. A unidade terá duas piscinas semi-olímpicas, sendo uma infantil, ginásio coberto, quadra poliesportiva coberta, campo society, quadras de tênis e de vôlei de areia, pista de skate, playground e um prédio administrativo com auditório. Para freqüentar as atividades oferecidas pela Vila Olímpica, a criança ou adolescente terá que estar regularmente matriculado em alguma escola e ter boas notas. Todos os alunos serão acompanhados por equipe multidisciplinar composta por pedagogos, psicólogos e assistentes sociais.

No novo “Bezerrão”, que pertence ao Governo do Distrito Federal (GDF) e será utilizado pela Sociedade Esportiva do Gama foram gastos R$ 60 milhões. O estádio é um exemplo de construção para todo o Brasil. O Engenhão, por exemplo, custou R$ 500 milhões, e não se compara a este. O projeto inicial do arquiteto Ruy Ohtake previa duas pétalas e capacidade para 40 mil pessoas. Como o custo da obra ficaria alto demais a capacidade foi reduzida para vinte mil torcedores, podendo ser ampliado futuramente. A expectativa é de que o estádio venha receber treinos de seleções durante a Copa do Mundo e servir de exemplo para o projeto maior que será o Mané Garrincha.

O projeto de reformulação do estádio Mané Garrincha é o grande trunfo de Brasília na luta para sediar a abertura da Copa do Mundo de 2014. Mas se o jogo inicial da competição for para outra praça, o planejamento da capital federal pode sofrer uma alteração drástica.

No seminário de apresentação das cidades candidatas, Brasília apresentou como alternativa apenas a remodelação do Mané Garrincha, mas a idéia é implodir o estádio e substituí-lo por uma arena multiuso nos moldes dos principais estádios europeus, com 63 mil lugares e custo de R$ 300 milhões, podendo receber outros eventos, como shows. A Fifa exige uma capacidade mínima de 60 mil espectadores para abrigar a abertura ou a decisão de uma Copa.

O projeto do novo Mané Garrincha conta ainda com lojas, área de convivência, restaurantes e um transporte sobre trilhos para ligar o estádio diretamente com o aeroporto. Mas tudo isso depende do jogo político que vai se desenrolar até a definição do palco da abertura. Caso o primeiro jogo da Copa de 2014 seja confirmado para Belo Horizonte ou São Paulo, outras cidades candidatas, Brasília já admite rever seu projeto, podendo levar suas partidas do Mundial para o estádio “Bezerrão”. Se isso ocorrer, o estádio terá que passar por novas intervenções, pois a FIFA exige um mínimo de 40 mil espectadores para jogos de Copa do Mundo.

Diante dessas duas opções, o governador de Brasília, José Roberto Arruda, preferiu adotar postura reticente antes de dizer qualquer coisa, pois ainda é muito cedo para conclusões. Por enquanto foi aberta concorrência internacional e as grandes empresas do mundo estão analisando o projeto de implosão do Mané Garrincha.

A proposta de Brasília para a remodelação de seu maior estádio é baseada no que aconteceu com outras arenas visitadas pelo governador José Arruda, que esteve em Wembley e Lisboa e concluiu que o conceito de praça de eventos multiuso hoje é diferente do que existia há 30 anos. Caso o projeto do Mané Garrincha encontre investidores, pode ser tocado independentemente da sede da decisão. Se isso acontecer, o “Bezerrão” será oferecido como estádio para treinos das seleções que disputarão a Copa. (Pesquisa: Nilo Dias)



Fachada e interior do novo "Bezerrão" (Fotos: George Gianni e Mary Leal)

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Avaí, enfim o retorno a Série A

O atacante Evando que marcou o gol da vitória do Avaí sobre o Brasiliense na noite da última terça-feira (11), no Estádio da Ressacada, em Florianópolis, entrou definitivamente para a história do clube do coração do ex-tenista Gustavo Kuerten, o Guga. Depois de 29 anos o alvi-azul catarinense volta a Divisão Principal do futebol brasileiro. A última vez que o clube participou da Série A foi no distante ano de 1979 quando Guga, nascido em 1976 tinha apenas três anos de idade. Ates disso, o clube havia participado do principal campeonato do país em 1974, 1976 e 1977.

O clube começou a nascer na casa do comerciante Amadeu Horn, um desportista que ainda sentia saudade do Club de Remo Riachuelo, seu time de coração que não existia mais. Foi em homenagem ao extinto alvi-azul, que ele doou um jogo de camisetas listradas em azul e branco, calções e meias azuis, uma bola e chuteiras para que um grupo de garotos que jogavam futebol em um campo improvisado e esburacado na rua Frei Caneca, no bairro Pedra Grande (atual Agronômica), pudessem se organizar melhor.

Interessado em ajudar a garotada, Amadeu resolveu entrar de corpo e alma na empreitada. Convocou uma reunião para a manhã de 1º de setembro de 1923, um sábado, em sua própria casa, para fundar de maneira oficial o Independência Foot-Ball Club, nome já usado pelos garotos em dois jogos disputados. Como não poderia ser diferente, Amadeu foi escolhido para primeiro presidente. Quando a reunião se encaminhava para o final chegou o jovem Arnaldo Pinto de Oliveira que sugeriu a imediata troca de nome do time, pois achava que Independência seria um nome complicado para a torcida gritar em apoio ao time.

E o próprio Arnaldo, que estava lendo um livro sobre a história do Brasil foi quem sugeriu o nome Avahy, em referência à Batalha do Avahy, que foi aceito por unanimidade. Na reunião ainda ficou decidido que cada um dos atletas iria colaborar mensalmente com a quantia de 10 tostões. Começava aí a bonita história do então Avahy Foot-ball Club. Em 1937 a grafia foi mudada para Avaí Futebol Clube, que permanece até hoje.

O primeiro jogo do hoje Avaí aconteceu poucos dias antes da fundação oficial, no campo do Baú, e com o nome provisório de Independência. Pena é que os detalhes desse histórico acontecimento tenham se perdido no tempo. Do jogo se sabe apenas que o adversário foi o Humaitá, da localidade de Pedra Grande, precursor do Figueirense, e o Avaí o vencedor. Mas o escore e goleadores ninguém sabe, por isso permanece uma lamentável lacuna na história do clube, o desconhecimento do autor do primeiro gol.

Dias depois os dois times se enfrentaram novamente e o Avaí ganhou de novo, mas também não se tem detalhes do jogo. Foi a partir desses jogos que tomou força a idéia de ser fundado um clube realmente organizado.

Já consolidado como clube de futebol e contando com muitos torcedores, o Avahy juntou-se a outros clubes do Estado e foi um dos fundadores em 12 de abril de 1924 da Liga Santa Catarina de Desportos Terrestres (LSCDT), antecessora da atual Federação Catarinense de Futebol (FCF). Nesse mesmo ano a Liga promoveu o 1º Campeonato Catarinense de Futebol, com o Avahy conquistando o título e se tornando o primeiro clube campeão estadual de Santa Catarina. O time base era: Boos – Loureiro e Zequinha – Zanzibar - Waldemar e Joel – Acioly – Maciel – Mambrini - Aroldo e Carlos Pires.

Os jogos dos primeiros campeonatos foram disputados no campo do Gymnásio Catharinense (atual Colégio Catarinense). A partir de 1937, os times de Florianópolis passaram a mandar seus jogos no Estádio Adolfo Konder, adquirido pelo governo do Estado, na gestão do governador Nereu Ramos, e doado a LSCDT. Em 1973, graças a um projeto de lei do então deputado Fernando José Caldeira Bastos (que presidiu o Avaí por duas vezes) e que foi sancionado pelo governador Colombo Salles, o estádio passou a ser propriedade do Avai.

O grande craque Pelé jogou uma única partida no antigo Estádio Adolfo Konder. Foi no dia 31 de março de 1971, num amistoso contra o Avaí. O jogo, que registrou o recorde de público do estádio com 19.985 pessoas, terminou com a vitória do time paulista por 2 X 1.

O Estádio Adolfo Konder serviu ao Avaí até o ano de 1983, quando foi aposentado. O novo Estádio Aderbal Ramos da Silva, popularmente chamado de Ressacada, foi inaugurado no dia 15 de novembro de 1983, num jogo em que o Avaí levou 6 X 1 do Vasco da Gama do Rio de Janeiro. O jogador vascaíno Wilson Tadei entrou para a história ao marcar o primeiro gol no novo estádio.

O Avaí é detentor de um feito histórico nacionalmente e registrado no Guiness Book, o livro dos recordes: é o responsável pela segunda maior goleada em jogos oficiais ocorrida no futebol brasileiro em todos os tempos, recorde que depois foi igualado pelo Náutico de Pernambuco. A maior foi Botafogo 24 X 0 Mangueira, pelo campeonato carioca de 1909. Na década de 40 o Avaí montou uma das melhores equipes que o futebol catarinense conheceu e que a imprensa do Estado chamava de “Esquadrão Azurra”, uma referência à seleção italiana, bicampeã do mundo, 1934 e 1938.

O time era realmente fantástico: Adolfinho – Fateco e Tavinho – Felipinho – Chocolate e Aldo Nunes – Zachi – Nizeta – Bráulio - Tião e Saul. A torcida exigia que além de ganhar, o time tinha que dar espetáculo e golear os adversários. No dia 13 de maio de 1945 o Avaí aplicou incríveis 21 X 3 no Paula Ramos. No dia 1º de julho de 1945 o Náutico aplicou o mesmo placar no Flamengo pernambucano, igualando a marca do Avaí.

A maior goleada no clássico contra o Figueirense aconteceu no dia 20 de fevereiro de 1938, quando o Avaí aplicou 11 X 2 no tradicional adversário. Esse jogo também marcou a estréia de Saul, atacante alvi-azul, que até hoje é o maior artilheiro do clássico, com 41 gols em 45 jogos, atuando sempre pelo Avaí. O primeiro jogo entre os dois rivais foi um amistoso disputado em 13 de Abril de 1924, no Estádio Adolpho Konder, vencido pelo Figueirense por 4 X 3.

Em 1973 o Avaí fez sua primeira excursão internacional com jogos no Uruguai e Argentina: 3 X 3, contra o Peñarol, novo 3 X 3 com o Velez Sarsfield e 2 X 2 com o Argentino Juniors. Em 1974, o Avaí voltou à Argentina para disputar a “Taça Atlântida”, em Rosário, quando perdeu para o Newll's Old Boys por 3 X 0. Em 1976, o Avaí realizou a sua maior excursão internacional, jogando em quatro países: México, El Salvador, Costa Rica e Chile, contabilizando três vitórias, quatro empates e uma derrota.

O mascote do clube é um leão, oficiliazado depois de uma enquete realizada entre os associados e torcedores. Quem redesenhou o personagem foi o cartunista Alexandre Beck, em parceria com o Departamento de Marketing do clube. Foram apresentadas cinco opções de mascotes para a torcida e o leão vencedor foi aprovado com 28% dos votos. O leão será utilizado nas campanhas oficiais do clube e também nos produtos licenciados. O próximo passo será a realização de um concurso para definir o nome do Leão, que futuramente estará nos gramados da Ressacada para animar os torcedores. (Pesquisa: Nilo Dias)
Torcida do Avai fez merecida festa para saudar retorno a Série A do Brasileirão (Foto: site oficial do Avai F.C.)

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Pobres milionários (2)

Ainda em 1974, o mineiro José Santana da Silveira, maquinista da siderúrgica Belgo-Mineira apostou 2 cruzeiros na Loteria Esportiva e embolsou o equivalente a 2,5 milhões de dólares, uma montanha de dinheiro. Nos primeiros dias ele tratou de ajudar a família, comprando uma bonita casa, um terreno e uma fazenda para criação de gado. Mas o dinheiro que sobrou, foi mal aplicado. Emprestou para pessoas que além de não o pagarem, fugiram da cidade.

Isso contribuiu para que adoecesse, vindo a falecer ao início de 1999. A viúva, dona Teresinha herdou R$ 15 mil numa caderneta de poupança, uma casa que está à venda por R$ 180 mil e uma mala cheia de promissórias e cheques sem fundo.

O boiadeiro Miron Vieira de Souza, de Iporá (GO), faturou sozinho 22 milhões de cruzeiros, hoje cerca de R$ 16 milhões no Concurso 254 da Loteria Esportiva, em setembro de 1975, na época considerado o maior prêmio da Loteca e do mundo em concursos de prognósticos. Ele estava de aniversário e ganhou um presente para ninguém botar defeito. Sua primeira compra depois de se tornar milionário foi uma dentadura.

Depois adquiriu terras que se espalhavam até onde a vista alcançava, com quilômetros de cerca e centenas de bois. Um pequeno império. No começo da vida milionária passou por momentos difíceis, quando ainda desacostumado com tanto dinheiro, pagava banquetes e noitadas para os amigos. Ainda teve tempo de se recuperar. De lá pra cá, ainda ganhou quatro vezes na loteria, mas todos os prêmios foram baixos. A última vez foi na Copa de 1998, cerca de 6 mil reais que foram aplicados na compra de dez bezerros. Hoje, Miron vive feliz com a família, tendo dividido os bens com os filhos e netos.

O gaúcho Paulo Tadeu Stolfo, funcionário de uma marmoraria em Santana do Livramento jogou 1 real e ganhou o correspondente a 5,4 milhões de dólares em 1995. Mudou-se com a família para um apartamento dúplex de cobertura, comprou um carrão importado, montou uma fábrica de produtos de couro e retomou o ritmo de vida que tinha antes do prêmio.

Joaquim Dias Chaves, um carroceiro da cidade de Assis, no interior de São Paulo, que vivia com meio salário mínimo mensal para sustentar sua família de cinco filhos, tem história parecida. Acertou a Supersena em 1996. O prêmio foi correspondente a 152.000 dólares. Joaquim é analfabeto. Depois da notícia de sua sorte, foi procurado por muita gente. Tinha mulher convidando para sair, vizinho pedindo dinheiro emprestado. Mas ele soube resistir: comprou um sítio, três casas para a família e uma chácara. Aos 69 anos de idade, continua levantando da cama de madrugada para lidar com o gado e cuidar de suas terras.

Em julho de 1977, quando tinha apenas 19 anos de idade, o agricultor Antônio Donizeti acertou na Loteria, faturando 16,1 milhões de cruzeiros, hoje mais de R$ 20 milhões. Em três anos ele estava literalmente “quebrado”, havia gasto quase tudo com mulheres. Sorte sua é que antes das noitadas de farra, comprara um pequeno sítio em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais pobres de Minas Gerais, onde nasceu e mora até hoje e planta feijão e milho.

Nenhum caso aqui narrado se compara ao de Nivaldo Eduardo dos Santos, um dos primeiros milionários da Loteria Esportiva. Ele tinha 27 anos de idade quando foi bafejado pela sorte. No teste 96, de 16 de julho de 1972, ele ganhou 2.967 milhões de cruzeiros, o equivalente a R$ 6 milhões, dinheiro suficiente para comprar na época mais de 300 carros populares, ou cerca de 60 apartamentos de três quartos em um bairro de classe média de Salvador, ou ainda 950 mil sanduíches Big Mac.

E o que ele fez? Torrou toda a grana em intermináveis noitadas com mulheres e uísque importado. Com a carteira recheada, chegou a conquistar algumas das mais bonitas mulatas do Sargentelli. Durante os seis anos de vida boa, fez da ponte aérea Salvador-Rio de Janeiro um percurso tão banal como ir do Farol da Barra até a praia de Stela Maris. Se tinha jogo do Bahia no Maracanã, pagava a viagem de 20 amigos, de avião, para a capital carioca.

Não bastasse isso, ainda fez péssimos negócios com investimentos malfadados em letras mortas e sociedades em negócios falidos, como o primeiro check-up eletrônico para veículos em Salvador, a Oficina Auto Elétrica 2001, nos Dendezeiros, que lhe rendeu processos trabalhistas dos quase 20 empregados e uma dívida com a Justiça, que o levou a prisão. Isso, sem falar nos cinco carros Dodge Dart que comprou e nas casas que deu de presente para mulheres do Pelourinho.

Mas, dinheiro não dura para sempre, um dia termina. Nivaldo viu seu sonho se transformar em pesadelo. O dinheiro, como chegou foi embora. Quem não pensava mais em pobreza, hoje vive de braços dados com ela. Nivaldo precisa dormir num albergue na Barroquinha e batalhar por uma aposentadoria por invalidez. Sobrevive das migalhas de quem deixa um carro estacionado aos seus cuidados. Os dentes de ouro que antes exibia em largos sorrisos, foram todos extraídos. Os primeiros vendidos para pagar dívidas, os outros para comprar comida. Hoje, Nivaldo exibe uma boca mole e desdentada.

E como desgraça nunca vem só, ainda sofre de hanseníase. Os dedos encolheram e parecem estar pela metade. A pele está descascada em úlceras brancas e secas. Mas a doença nem é o mal maior, sim as lembranças de um passado recente de riqueza, que ele jogou fora. Tristes recordações de quem um dia foi vizinho de craques do Flamengo, nos apartamentos de Ipanema. (Pesquisa: Nilo Dias)
Nivaldo Eduardo dos Santos, foi o pior exemplo. Em seis anos passou de milionário a pedinte. (Foto: Jornais da época)

Pobres milionários (1)

A Loteria Esportiva, popularmente chamada de “Loteca” é o mais antigo dos concursos de prognósticos promovidos pela Caixa Econômica Federal (CEF). Tudo começou em 19 de abril de 1970, quando aconteceu uma rodada experimental no antigo Estado da Guanabara. O jogo mínimo custava dois cruzeiros novos, com um duplo, o jogo com um triplo custava três cruzeiros novos. O prêmio foi fixado em 200 mil cruzeiros novos, com cem mil bilhetes concorrendo. Para ter direito ao prêmio, o apostador precisava acertar os 13 jogos selecionados pela agência “Sport Press”, contratada pela CEF. Ninguém conseguiu. Mas oito apostadores bateram na trave, e foram premiados com doze pontos.

Depois disso, outras rodadas experimentais foram realizadas: em 3 de maio, também na Guanabara, e em 17 de maio, em São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. Oficialmente o concurso teve início em 7 de junho daquele ano. Curiosamente foi nesse concurso que pela primeira vez foram acertados os 13 pontos. Já o primeiro apostador a ganhar o prêmio sozinho foi Gilberto Furtado Medeiros, no teste número 5, realizado em 28 de junho, mas sem marcar os treze pontos. Ele errou apenas um jogo, num teste que teve oito empates.

Naquela época não existia a avançada tecnologia de hoje. Era preciso preencher um cartão que era entregue na casa lotérica, que usava uma máquina manual da IBM, chamada “Port a Punch”, para furar dois cartões, sendo que um ficava como comprovante com o apostador. No domingo, depois de finalizados todos os jogos, um computador da CEF levava 17 minutos para processar as apostas, lendo cartão por cartão até encontrar os premiados. Nove pontos era o mínimo para o prêmio ser rateado. Depois, seguia com o mesmo processo até achar cartões com 10, 11, 12 e 13 acertos. Quando algum jogo não era realizado, na segunda-feira acontecia um sorteio e também o processamento.

Tem um velho ditado que diz: “Deus dá rapadura, para quem não tem dente”. É claro que eu não compartilho desse pensamento, pois como cristão que sou, acredito que cada um recebe nesta vida aquilo a que tem direito. Quem somos nós para tentar decifrar o enigma do porque alguns têm tudo e outros nada? Mas o meu propósito não é o de discutir questões religiosas, sim o de mostrar a trajetória de alguns ganhadores da Loteria Esportiva e o destino dado a verdadeiras fortunas.

A Loteria Esportiva em pouco tempo transformou-se em uma verdadeira coqueluche nacional. Os valores pagos a cada semana eram milionários. Nas casas de apostas as filas eram cada vez maiores. Afinal, quem não gostaria de ficar rico da noite para o dia?

Neste artigo vamos mostrar como algumas pessoas lidaram com as fortunas ganhas. O maquinista Jovino Viriato do Carmo ganhou em agosto de 1970, 2,9 milhões de cruzeiros, ou R$ 5,4 milhões de hoje. Seu primeiro ato como novo milionário foi comprar uma fazenda em Vassouras, no Médio Paraíba fluminense. Sem experiência na atividade rural, acabou contraindo muitas dívidas. Alguns anos depois foi obrigado a vender a fazenda, para honrar compromissos e cuidar do filho, viciado em drogas. Morreu pobre, em 2000.

Um dos casos mais conhecidos foi o de Eduardo Varela, o “Dudu da Loteca”, que ficou milionário de uma hora para outra. Em maio de 1972, no teste 85, ele acertou uma “zebra” inesperada no jogo entre Corinthians e Juventus, no Pacaembu. O Corinthians tinha 95% das apostas, enquanto o “Moleque Travesso” vinha de cinco derrotas consecutivas. O meia Brecha, ao marcar o gol da vitória grená por 1 X 0, encheu os bolsos de “Dudu”, que ganhou nada mais, nada menos, do que 11,6 milhões, aproximadamente R$ 18,2 milhões.

Com 23 anos de idade e um “caminhão” de dinheiro ele comprou casas e apartamentos, um deles na Avenida Vieira Souto, em Ipanema, um dos endereços mais caros do País. Sem experiência em negócios, acabou investindo altas cifras em dois hotéis em Campos de Jordão (SP), que acabaram falindo. Isso não o deixou pobre. O pior viria depois, quando se separou da mulher. Ele havia feito outra “burrada”, ao colocar quase todos os imóveis, inclusive o da Vieira Souto, no nome do sogro. Com a separação, perdeu tudo. Sobraram apenas duas salas no centro do Rio de Janeiro e um imóvel em Itaipava, região serrana do Rio. Na época, o ex-milionário trabalhava como funcionário de uma corretora de valores.

Já o comerciante Mário Alberto Ronconi, de Santa Tereza, no Espírito Santo, ganhou em novembro de 1972, 14 milhões de cruzeiros, o equivalente a R$ 20,4 milhões de hoje. É verdade que ele não ficou com toda essa grana. Teve que dividir com mais 18 amigos, com quem havia feito um bolão. A sua parte, ele aplicou num fundo de investimento, mas se deu mal. Seis meses depois a inflação já havia acabado com metade do prêmio.

Com o dinheiro que restou, entrou como sócio numa rede de supermercados. Outra decepção, mais perdas num prazo de seis meses. Sem mais alternativas teve que sair da sociedade. Com as sobras do prêmio comprou um posto de gasolina, que mantém até hoje e lhe garante uma estabilidade financeira.

Final triste teve o apostador baiano Francisco Portela, que em abril de 1974 ganhou 14,7 milhões de cruzeiros, mais ou menos R$ 15,9 milhões em valores atuais. Ele aplicou o dinheiro na construção imobiliária em Salvador e em seguida foi a falência. Hoje, mora nos Estados Unidos, onde trabalha como funcionário de um escritório de contabilidade. (Pesquisa: Nilo Dias)
Apostadores em busca da fortuna (Foto: Divulgação)