terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Juventus, o “Moleque Travesso”

O Clube Atlético Juventus, tradicional agremiação esportiva de São Paulo foi fundado em 20 de Abril de 1924 pelos funcionários do Cotonifício Rodolfo Crespi. Mas a sua história começou bem antes, por volta de 1893, quando chegou ao Brasil o imigrante italiano Rodolfo Crespi, que cinco anos depois instalou sua indústria de tecelagem em um grande prédio localizado no bairro paulistano da Mooca, entre as ruas dos Trilhos, Taquari, Visconde de Laguna e Jaguari.

O Cotonifício Rodolfo Crespi deu emprego a centenas de pessoas que trabalhavam em setores que iam desde a limpeza do algodão até a produção de tecidos e roupas. E foram esses operários que resolveram criar um time de futebol, para se divertirem nos momentos de lazer. Foi assim que no dia 20 de abril de 1924 nasceu o “Extra São Paulo”.

Em pouco tempo o time ganhou o respeito dos adversários, o que motivou o interesse dos integrantes da família Crespi, que aproveitaram para estreitar o relacionamento com os funcionários. Em 1 de maio de 1925, um ano depois de ser fundado o clube passou a chamar-se Cotonifício Rodolfo Crespi Futebol Clube, resultado de uma fusão com o Cavalheiro Crespi F.C., também formado por empregados da fábrica de tecidos.

Na histórica reunião realizada em uma pequena casa no bairro da Mooca, decidiu-se por manter as cores do Extra São Paulo, vermelho, preto e branco, como sendo as oficiais da nova agremiação, aproveitando deste clube a maioria dos jogadores que já gozavam de certo prestígio nos "campinhos do bairro". Em contrapartida, o Cavalheiro Crespi F.C. cedeu a sua sede social, localizada na Rua dos Trilhos, nº 42 (antigo), preservando como data simbólica de fundação do clube o dia 20 de abril de 1924.

Com a fusão foi possível ganhar o apoio da família italiana, que de imediato cedeu um terreno que era usado como cocheira de cavalos, para a construção de um campo de futebol. Esse apoio da família Crespi foi fundamental para que o clube, que ainda era amador, desse os primeiros passos rumo a profissionalização. Em 1929 o Cotonifício Rodolfo Crespi foi campeão paulista da Segunda Divisão, depois de uma campanha fantástica: 16 partidas, 13 vitórias, 2 empates e apenas uma derrota, com 46 gols marcados e 13 gols sofridos.

Com a inauguração do estádio, localizado na Rua Alameda Javry, nº 117, atual Javari, tudo ficou mais fácil. No dia 26 de janeiro de 1930, em seu estádio, o Cotonifício Rodolfo Crespi F.C. venceu a A.A. República por 1 x 0, gol marcado por Piccinin, conquistando o título de campeão da Liga Amadora de São Paulo, o que lhe deu o direito de disputar o campeonato principal da Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA). A entidade organizadora do campeonato fez uma exigência: que o clube trocasse de nome.

Rodolfo Crespi, como patrono do Cotonifício Rodolfo Crespi Futebol Clube foi consultado para sugerir qual nome o clube adotaria. Como era torcedor da Juventus de Turim, não deu outra: no dia 19 de fevereiro de 1930 nasceu o Clube Atlético Juventus. As cores preferenciais para o uniforme foram o preto e o branco, as mesmas da Juventus italiana.

Mas isso criou um impasse, já que muitos dos clubes filiados na divisão principal paulista, entre os quais Corinthians, Ipiranga e Santos já ostentavam essas cores. Sem muitas opções, e não querendo aderir às cores já existentes nas demais agremiações, muito menos as suas tradicionais, o preto, vermelho e branco, estas também adotadas pelo extinto São Paulo da Floresta e S.C. Internacional, procurou-se outra sem semelhantes em clubes daquela divisão.

Mais uma vez coube ao benfeitor do clube, o conde Rodolfo Crespi resolver o impasse: assim nasceu o uniforme grená e branco, cuja semelhança tratava-se justamente da outra equipe da mesma cidade de Turim, o Torino.

A estréia do C.A. Juventus na elite do futebol estadual aconteceu no dia 16 de março de 1930, quando enfrentou o Santos F.C., no estádio da Vila Belmiro. O resultado não foi nada animador, uma derrota por 6 x 1. O Juventus entrou em campo com a seguinte formação: José – Berti e Segalla – Romeu - Túllio (capitão) e Rafael – Raul e Balista – Moacyr – Bellacosa e Pedro (Piccinin). Técnico: Anniello Annunziato. O primeiro gol juventino na história do Paulistão foi marcado pelo avante Piccinin.

Com nova denominação e cor, o clube da Mooca não demorou para fazer bonito. Naquele ano de 1930 começaram as travessuras que deram fama ao time, quando derrotou o poderoso Corinthians por 2 X 1, em pleno Parque São Jorge, com gols marcados por Nico e Piola. Nasceu ali o carinhoso apelido de “Moleque Travesso”, batismo dado pelo saudoso jornalista Tomáz Mazzoni, que disse em sua crônica do jogo, que tratava-se de “travessura de um moleque que ousou vencer um gigante em seus próprios domínios”.

Em 1932 conquistou um heróico terceiro lugar, ficando apenas seis pontos atrás do Palestra Itália, que sagrou-se campeão. Foi a melhor campanha do Juventus em toda história do Campeonato Paulista da Divisão Principal. A equipe era formada por José - Segalla e Piola – Joãozinho – Brandão e Rafael – Vazio – Nico – Orlando – Moacyr e Hércules, dirigida pelo técnico Raphael Liguori. A imprensa da época batizou esse time como "Os Inesquecíveis” ou “Máquina Juventina".

Nesse mesmo ano foi deflagrada uma grande campanha para a profissionalização do futebol paulistano. Com a Revolução Constitucionalista de 1932, o Cotonifício Rodolfo Crespi passou por dificuldades financeiras, não tendo recursos para continuar bancando o time nas competições oficiais.

Isso originou uma nova troca de nome. Em 1933 passou a chamar-se Clube Atlético Fiorentino, usando camisetas grenás e uma flor de lis branca no peito como escudo e disputou o Campeonato Paulista Amador, promovido pela Federação Paulista de Futebol. Naquele ano houve uma cisão no futebol brasileiro e os clubes mais tradicionais aderiram ao profissionalismo e criaram a Federação Brasileira de Futebol (FBF), que não era reconhecida pela FIFA.

Em 1934 conquistou o campeonato da cidade de São Paulo de forma invicta. No dia 2 de setembro de 1934 bateu no jogo final a Ponte Preta de Campinas na Rua Javari por 5 x 3, gols marcados por Euvaldo, Euclydes, Raul, Bellacosa e Moacyr.

Esse resultado credenciou o C.A. Fiorentino, para a disputa da final do Campeonato Estadual promovido pela FPF numa melhor de três partidas diante da Ferroviária de Pindamonhangaba, campeão do interior, clube fundado por funcionários da extinta Estrada de Ferro Campos do Jordão e que enrolou a bandeira na década de 1960.

Com expressivas vitórias por 5 x 0 e 3 x 1, o C.A. Fiorentino sagrou-se campeão estadual amador de 1934. A finalíssima aconteceu no dia 28 de outubro de 1934 no Estádio da Rua Javari. Sabratti e Raul (2) marcaram para o Fiorentino. Guedes fez o único gol da equipe do interior paulista. Raul da Rocha Soares, que na vitória por 5 x 0 em Pindamonhangaba já havia marcado três gols, foi carregado em triunfo pelos torcedores.

Em 1935 o clube também optou pelo profissionalismo, já na Liga Bandeirante de Foot-Ball e voltou a adotar o nome de Clube Atlético Juventus. Cerca de 15 anos depois os Crespi deixaram de ter participação na equipe, o que gerou uma nova crise, e por isso cogitou-se até mesmo uma fusão com a A.A. Ponte Preta de Campinas, que foi recusada pelo Conselho Deliberativo grená.

O C.A. Juventus conseguiu vencer todas as dificuldades e se manter vivo e forte até hoje. Nesses quase 85 anos de existência, o clube fez história. No dia 1 de maio de 1940 foi organizado o Torneio Relâmpago de inauguração do Pacaembu, em comemoração ao novo estádio municipal. Eliminando o Hespanha, de Santos e o Santos, o C.A. Juventus credenciou-se para a grande final programada para 5 de maio de 1940 diante da Portuguesa de Desportos. O "Moleque Travesso" entrou disposto a mostrar o seu valor e goleou a Lusa por 3 x 0, gols marcados por Ferrari, Danilo e Neves, o que fez da equipe grená o primeiro campeão do Pacaembu.

Conquistou a Taça de Prata do campeonato Brasileiro de 1983, derrotando o CSA de Alagoas na partida final. Em 1986 venceu o Torneio Início do Campeonato Paulista. Foi um feito histórico, pois ganhou a competição sem marcar e nem sofrer gols. A equipe comandada pelo técnico Candinho empatou todas as quatro partidas que disputou por 0 x 0, avançando no torneio, ora nas disputas por escanteios, ora nas penalidades.

Na decisão diante do Santo André, no Estádio do Pacaembu no dia 16 de fevereiro de 1986, após empate em 0 x 0 no tempo normal, o goleiro Barbiroto decidiu o título a favor dos grenás ao defender dois pênaltis.

Em 1971, sagrou-se Campeã do torneio classificatório do campeonato paulista, o "Paulistinha", que reuniu as principais equipes do Estado de São Paulo, exceto Palmeiras, Corinthians, Portuguesa, São Paulo e Santos.

Em 1953 o Juventus realizou uma temporada internacional pela Europa, jogando em gramados da Itália, Espanha, Suécia, Alemanha, Suíça, Áustria e na antiga Iugoslávia. Para coroar o ano, o Juventus venceu o Torneio Interestadual Jânio Quadros, ao derrotar a Portuguesa Santista por 1 x 0. Em 1956 fez uma nova temporada internacional, desta feita pela Argentina, onde enfrentou as principais equipes daquele país entre as quais o Boca Juniors. Em 1977 o Juventus foi de novo ao velho continente, jogando contra times da Itália, Romênia, França e Bulgária.

Em 1974, o Juventus ganhou o Torneio Internacional do Japão disputado em Tóquio, ao vencer a Seleção Japonesa por 2 x 0. Em 1983, numa final disputada em melhor de três partidas diante do CSA de Alagoas, obteve a sua maior conquista, o título de Campeão Brasileiro da Série B. No último jogo vitória de 1 x 0, gol de Paulo Martins, no dia 4 de maio de 1983, no Estádio do Parque São Jorge.

Na história do clube da Rua Javari, ainda estão o vice-campeonato da série B em 1986 e da C em 1997. No dia 26 de junho de 2005, numa campanha memorável, o Juventus venceu o Noroeste de Bauru por 2 x 1 no Estádio da Rua Javari, gols marcados por Johnson e Luis Carlos sagrando-se campeão paulista da série A-2, o que garantiu o retorno do time da Mooca a divisão principal do futebol estadual.

Muitos jogadores de expressão no futebol vestiram a camisa do Juventus. Entre eles César Luiz Menotti, o treinador campeão Mundial pela Argentina em 1978, Félix, goleiro campeão mundial pelo Brasil em 1970 e até mesmo Deco, da Seleção Portuguesa que atuou no clube, nas categorias de base.

O atual estádio da rua Javari foi reinaugurado no dia 13 de julho de 1941 num festival esportivo. Na preliminar jogaram Nacional e Ypiranga. Na partida principal o Corinthians venceu o Juventus por 3 x 1. Ferrari de pênalti fez o primeiro gol juventino na nova casa.

No ano de 1960 o Juventus lançou um grande empreendimento, através da construção de um moderno espaço poliesportivo em um terreno adquirido da Companhia Imobiliária Parque da Mooca. Em 15 de abril de 1962 foi lançada a pedra fundamental do parque poliesportivo onde hoje está localizada a sede social do Clube Atlético Juventus numa área de aproximadamente 80 mil m², no Parque da Mooca.

No decorrer dos anos, o Clube se transformou num dos maiores da América Latina. Foram inaugurados ginásios de basquete, vôlei, futebol de salão, Karatê, judô, canchas de bocha e quadras de tênis. (Pesquisa: Nilo Dias)


Equipe e dirigentes do Cotonifício Rodolfo Crespi, na década de 1920 (Foto: Acervo do C.A. Juventus)

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