terça-feira, 14 de julho de 2009

Grenal, um clássico de 100 anos (2)

O termo Grenal, que serve para definir o clássico entre Grêmio e Internacional foi criado em 1926, pelo repórter Ivo dos Santos Martins. Numa sexta-feira a noite, antes de um jogo entre os dois grandes times de Porto Alegre, Ivo estava ocupando uma das mesas do Café Colombo, junto dos gremistas Armando Siaglia e Luiz Daudt.

Redator do jornal “Correio do Povo”, ele dizia estar cansado de escrever na íntegra os nomes Grêmio Foot-Ball Portoalegrense e Sport Club Internacional, a cada jogo entre ambos e pensava em uma forma de abreviar isso. Surgiu primeiro a expressão Intergre, mas não soava bem. Inverteram-se as posições e o Grenal caiu como uma luva.

O primeiro Grenal conhecido como tal foi disputado na Chácara dos Eucaliptos, no dia 27 de junho de 1926, com recorde de público para a época, 7 mil assistentes. O jogo ficou conhecido como o “Grenal das bengaladas”, tudo porque um torcedor do Internacional, aparentemente sem motivo algum, invadiu o gramado de bengala em punho e agrediu o juiz, Manoelito Ruíz, do Americano.

As bengaladas realmente foram fortes, tanto que o juiz foi substituído pelo desportista de nome Zapp, que também não conseguiu acalmar os torcedores. A Brigada Militar teve que intervir e a confusão foi das maiores, com torcedores e brigadianos se degladiando por todos os cantos do estádio. Faltavam 10 minutos para o jogo terminar quando foi interrompido, com o placar de 4 X 1 para o Grêmio.

O campeonato municipal de Porto Alegre, em 1935, denominado de “Farroupilha” foi o mais importante da história, porque estava sendo festejado os 100 anos da Revolução Farroupilha, o mais importante episódio da história do Rio Grande do Sul. A programação alusiva ao feito envolveu a população por inteiro. Campeonatos de várias modalidades esportivas foram realizados. Até o presidente Getúlio Vargas esteve na cidade para prestigiar as festividades.

Em 28 de julho foi realizado o primeiro clássico do campeonato. O Internacional, campeão da cidade e do Estado era o favorito. O Grêmio não tinha mais Luiz Carvalho, que se transferira para o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. E foi confirmado que o goleiro Lara era cardíaco. Mas mesmo assim entrou em campo no clássico, que terminou empatado em 1 X 1.

Esse jogo ficou conhecido como o “Grenal do avião”, graças a um lance inusitado. O Internacional vencia por 1 X 0, quando um avião sobrevoou o estádio, fazendo piruetas, coisa inédita nos céus de Porto Alegre naqueles anos 30. O goleiro Penha e os zagueiros Natal e Risada, do Internacional, levantaram o olhar para os céus, surpresos e assustados, do que se aproveitou o ponteiro-esquerdo Castilho, para marcar o gol gremista.

Depois desse jogo Castilho desapareceu. Dizem que os colorados, furiosos com o lance do gol, raptaram-no e o esconderam numa casa no bairro Belém Novo. Verdade, ou não, o fato é que Castilho só reapareceu em 1936, e como jogador do Internacional.

Em 22 de setembro de 1935 foi disputado o Grenal decisivo. O Internacional tinha um ponto a frente e bastava o empate para ser campeão. Mas perdeu por 2 X 0 e o Grêmio se sagrou “Campeão Farroupilha”, mesmo sem ter contado com o seu grande goleiro, Lara. Foi o “Grenal dos cachorros pintados”. Um torcedor colorado se deu ao trabalho de juntar 11 cães pelas ruas de Porto Alegre e pintá-los de vermelho. A intenção era jogá-los no gramado, após o jogo, pois tinha a convicção de que o Internacional seria campeão.

Em 1938 estreava no Internacional um jogador que teria seu nome gravado para sempre na história dos Grenais, Carlitos, um ponteiro-esquerdo ofensivo, desaforado e com fome de gols. Logo em seu primeiro clássico, deixou sua marca, fazendo o terceiro gol colorado e dando o passe para outros dois. Carlitos ficou no Internacional até 1951, quando tinha 30 anos. Disputou 61 Grenais, um recorde e marcou 485 gols com a camisa vermelha e branca.

No dia 1º de novembro de 1938, na Timbaúva o Internacional conseguiu aplicar sua primeira grande goleada no tradicional adversário: 6 X 0. O juiz, Álvaro Silveira, ainda anulou cinco gols do Internacional, alegando que dois foram feitos com a mão e três em situação ilegal. Após o clássico o presidente colorado Ildo Meneghetti perguntou ao árbitro porque anulara tantos gols. E esse teria respondido: “Era muito gol para um Grenal”. O jogo foi amistoso e serviu para a despedida do atacante gremista Luiz Carvalho.

Em 1940 o Internacional descobriu no “Areal da Baroneza”, um lugar de população na maioria negra, um jogador que viria a se tornar uma legenda no clube colorado: Osmar Forte Barcelos, “Tesourinha”.

O primeiro Grenal de “Tesourinha” foi no dia 4 de janeiro de 1940, com outra goleada do Internacional, 6 X 1. Ele teve de jogar na ponta-direita, pois a esquerda, sua real posição, era ocupada por Carlitos, o artilheiro do time. Acácio fez 3 gols, Carlitos 2 e Tesourinha 1. Estava nascendo o “Rolo Compressor”, apelido dado pelo ex-jogador do próprio Inter, ex-vereador, ex-Papai Noel e ex-rei Momo de Porto Alegre, Vicente Rao.

Em novembro de 1940 o Internacional se sagrava campeão gaúcho, com a base do fantástico ”Rolo Compressor”: Júlio – Álvaro e Risada - (Alfeu) – Assis (Magno) – Levi e Pedrinho – Tesourinha – Russinho – Marques – Rui e Castilhos (Carlitos). Em 1942 o grande time tinha em campo todas suas notáveis peças, que marcaram história no futebol gaúcho: Ivo – Alfeu e Nena – Assis – Ávila e Abigail – Tesourinha – Russinho – Vilalba – Rui e Carlitos.

Naquele ano de 1940, o Internacional venceu cinco dos quatro Grenais disputados, mantendo a média de quatro gols por jogo. Os gremistas não queriam falar em futebol, disfarçando e conversando sobre episódios da Guerra Mundial, que se desdobrava na Europa.

Em 1941, no tri-campeonato o time marcou 108 gols. O último Grenal não valeu nada, o Inter já era campeão. Para conter a euforia colorada o delegado de Polícia Câmara Canto, proibiu que fossem queimados foguetes e rojões, mesmo nas imediações dos Eucaliptos, sob pena de prisão. De nada adiantou. Depois da vitória colorada por 4 X 2, foguetes estouraram por todos os cantos de Porto Alegre. (Pesquisa: Nilo Dias)

Ilustração que deu origem ao apelido "Rolo Compressor". (Foto: Acervo do S.C. Internacional.)

COMENTÁRIOS DE LEITORES

Anônimo disse...
Eu sou neto do pedrinho,gostaria de ver uma foto dele,pois não cheguei a conheçe-lo.
15 de agosto de 2009 00:56

Um comentário:

  1. Eu sou neto do pedrinho,gostaria de ver uma foto dele,pois não cheguei a conheçe-lo.

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