O Vaticano, o menor país do mundo, com 0,44 km² e cerca de 1000 habitantes há três anos realiza a “Clericus Cup”, uma espécie de Copa do Mundo católica, criada por iniciativa do cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano. A competição, que é organizada pelo Centro Esportivo Italiano, e patrocinada pelo Conselho Pontifício para os Leigos do Vaticano, e o Comité Olímpico Italiano (CONI), reúne equipes formadas por religiosos, seminaristas e estudantes de Teologia de todo o mundo que estudam em Roma, e leigos que trabalham nos escritórios de Oltretevere e do Vicariato de Roma.
A primeira edição do torneio foi realizada em maio de 2007, contando com 16 times e jogadores representantes de 37 países. Também estiveram em campo 11 "atletas" do Vaticano, vestindo a camisa branca e amarela - cores da bandeira do país. Os religiosos abriram mão da batina e vestiram meias e calções.
O "Redemptoris Mater" sagrou-se o primeiro campeão, ao derrotar na final a "Universidade Pontifícia de Latrão" por 1 X 0, gol de pênalti bastante discutido. O jogo foi disputado no campo sintético do Oratório de São Pedro, e contou com a presença de 300 torcedores.
Na primeira edição os jogos foram realizados aos sábados, para não atrapalhar a Liturgia Dominical. Foram marcados 256 gols em 58 partidas, e apesar da incrível média de quase 5 gols por partida, o "Redemptoris Mater" não levou nenhum gol.
A edição de 2008, contou com mais de 380 jogadores de um total de 71 países, entre os quais Burkina-Fasso, Japão, Ucrânia, Iraque, Papua, Nova Guiné, Mianmar, Ruanda, Vietnã, Croacia e Suazilândia. Entre os clubes participantes havia um composto só por brasileiros da Universidade Gregoriana, também os do Pontifício Seminário Croata, das Universidades de Laterano e Gregoriana, do Pontifício Seminário Francês, do Seminário Romano Maggiore, do Colégio Norte-americano e da ordem de Santo Agostinho.
A final foi disputada no Oratório de São Pedro, no dia 3 de maio entre o "Collegio Mater Ecclesiae" (de base sul-americana) e o "Redemptoris Mater". Com todos os gols marcados no segundo tempo, o "Mater Ecclesiae" venceu por 2 X 1 e conquistou o título. Ao todo foram disputados 63 jogos.
Nessa segunda edição, todos os artifícios usados para produzir barulho durante as partidas foram proibidos, devido à reclamação dos vizinhos, acostumados com a "Lei do Silêncio". Os jovens sacerdotes que torciam para as suas equipes foram avisados que seriam impedidos de entrar no campo se aparecessem com tambores, megafones, trompetes e maracás, cantando alto e por vezes em latim.
Os mais empolgados eram os mexicanos torcedores do "Colégio Maria Mater Ecclesiae", que faziam um barulho ensurdecedor com seus tambores. Seminaristas africanos eram empurrados no ritmo do reggae, enquanto que torcedores italianos do "Pontifício Seminário Romano Maggiore" usavam megafones a todo volume. Já os americanos da "Rome's North American College", apelidados de CAN, cantavam "Vinde a você Knackers, chutem alguns popôs" antes dos jogos. Apesar da proibição do barulho, os torcedores do "Redemptoris Mater Seminary" continuaram a cantar seu hino nas arquibancadas antes de cada jogo.
Este ano a Clericus Cup foi realizada em maio. O "Seminário Redemptoris Mater", dos neocatecumenais, conquistou o título pela segunda vez, ao bater no jogo final o "North American Martyrs" por 1 X 0, gol de Davide Tisado, capitão do time. O terceiro lugar ficou para o time do "Mater Ecclesiae", que ganhou por 2 X 0 do "Colégio Urbano".
O Brasil foi representado por uma equipe do "Colégio Pio Brasileiro" que se apresentou com uma camiseta amarela, com bordas verdes, imitando a seleção oficial do Brasil. Por baixo, os jogadores usaram outra camiseta com os dizeres: “I belong to Jesus” (“Pertenço a Jesus”). Os sacerdotes brasileiros contaram com o reforço de seminaristas e padres do "Colégio Don Orione" de Roma. O treinador do time foi o Padre Eduardo Braga, natural do Rio de Janeiro. A edição deste ano teve como novidade um "terceiro tempo", no qual os participantes se uniam em oração.
A competição de 2009 foi abençoada pelo presidente da Uefa, Michel Platini, que cumprimentou a iniciativa "que propõe uma saudável competição de futebol" porque ser "um instrumento para a promoção dos valores de grande significado e importância para a sociedade". A Copa teve como padrinhos o presidente do Comitê Olímpico Nacional Italiano (Coni), Gianni Petrucci, o presidente do CSI, Edio Costantini, o monsenhor Carlo Mazza e don Antonio Mazzi.
Nessa terceira edição, participaram 386 atletas de 69 países dos cinco continentes. Os atletas italianos em número de 72 foram maioria, seguidos pelos mexicanos com 46, norte-americanos com 21, e por colombianos, brasileiros norte-americanos e croatas.
A "Clericus Cup" possui regras um tanto distintas do futebol convencional. Os jogos são divididos em dois tempos de 30 minutos apenas e, além de cartões amarelos e vermelhos, são distribuídos cartões azuis, que fazem o jogador passar 5 minutos fora de campo. Cada equipe tem também direito a um tempo-técnico de 1 minuto. Em caso de empate a decisão vai para os pênaltis. O vencedor leva dois pontos e o perdedor apenas um. É possível efetuar até 5 substituições por partida. Cada instituto religioso pode inscrever mais de um time com um mínimo de 16 jogadores e um máximo de 24.
Parece que o futebol veio para ficar no Vaticano. Em junho deste ano o time da "Guarda Suíça", responsável pela segurança do país disputou um amistoso contra uma equipee formada por ex-jogadores franceses. A partida aconteceu no "Trigória", centro de treinamento de Roma, e teve a participação de renomados jogadores, como Christian Karembeu, Dominique Rocheteau, Thierry Roland, Marius Tresor e o técnico do Lyon, Claude Puel.
Outro destaque da partida foi o tenista Rochard Gasquet. Antes do jogo, uma delegação da "Variété Club de France" foi recebida pelo papa Bento XVI na Praça São Pedro. Ao término da audiência, Tresor e Roland presentearam o Pontífice com uma garrafa de conhaque de 1927, data de nascimento de Bento XVI. O amistoso teve como árbitro o bispo francês de Saint-Etienne, monsenhor Dominique Lebrun. (Pesquisa: Nilo Dias)
Time brasileiro na "Clericus Cup" (Foto: Divulgação)
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