Morreu hoje, 30 de agosto, na cidade de La Plata, vizinha a Buenos Aires o último remanescente da 1ª Copa do Mundo de Futebol, disputada em 1930 em gramados do Uruguai. O ex-atacante da seleção argentina, Francisco Antônio Varallo nasceu a 5 de fevereiro de 1910, em La Plata e este ano havia completado 100 anos de idade.
Varallo começou a carreira aos 17 anos de idade no 12 de Octubre, um pequeno clube do bairro de Los Hornos, em La Plata. Um ano depois, em 1928 decidiu fazer um teste no Estudiantes de La Plata, mas não teve sorte. Mesmo tendo marcado 11 gols em três partidas pelas divisões de base, o 12 de Octubre não o liberou, porque quase todos os seus dirigentes eram torcedores do Gimnasia Y Esgrima, o maior rival do Estudiantes.
Mesmo contra a vontade, Varallo foi parar no Gimnasia y Esgrima. Seu primeiro jogo foi defendendo o time “C”, com vitória de 9 X 1. Ele marcou todos os gols da goleada e foi imediatamente promovido a equipe principal. Foram os torcedores do Gimnasia que o apelidaram de “Cañoncito”, (Canhãozinho) ou “Pancho”. Lá, foi campeão argentino de 1929, quando o torneio ainda era amador.
No inicio de 1930 foi defender o Véles Sarsfield, quando este fez uma excursão pela América. Suas boas atuações fizeram com que o técnico Juan Tramutola o convocasse para treinar com o grupo que disputaria a primeira Copa do Mundo da FIFA da história. Varallo não fez feio: esperto, mostrou tudo o que sabia em campo e garantiu uma vaga na seleção alviceleste. Foi o mais jovem integrante da seleção vice-campeã de 1930.
Varallo marcou o seu primeiro gol no Mundial no dia 19 de julho, na vitória argentina por 6 X 3 sobre o México. Na partida seguinte, diante do Chile, ele sofreu uma lesão que o tirou da semifinal. No dia da final era dúvida. Fez um exame pela manhã e se sentiu bem, por isso, decidiu jogar. Era um risco, porque naquela época não havia substituições.
O final da história é conhecido: a Argentina foi para o intervalo com uma vantagem de 2 X 1 no placar, gols de Carlos Peucelle e Guillermo Stábile, mas os uruguaios conseguiram a virada e acabaram se impondo por 4 X 2. Varallo quase decidiu o jogo ao acertar um chute no travessão. A Argentina ainda estava na frente, vencendo por 2 X 1. No mesmo instante voltou a sentir a lesão no joelho. Ao fim do jogo mal conseguia andar. Um dos momentos mais felizes da Copa de 1930, segundo Varello, foi a visita que o grande cantor de tangos, Carlos Gardel fez aos jogadores argentinos na concentração.
Em 1931, Varallo se transferiu para o Boca Juniors,vendido por AR 8 mil, onde virou ídolo e marcou 194 gols. Esse recorde só foi superado em 2008, por Martin Palermo. Pela equipe de Buenos Aires, conquistou os campeonatos argentinos de 1931, 1934 e 1935.
Ele também deixou a sua marca na seleção argentina, com a qual conquistou o Campeonato Sul-Americano (futura Copa América) de 1937, depois de uma dramática decisão contra o Brasil, vencida na prorrogação por 2 X 0. Aposentou-se aos 29 anos, em 1939, devido a uma lesão crônica no joelho, sofrida em 1937. A partir dali, jogava e forçava muito o joelho. Ficava uma semana sem treinar, se recuperando. Dois anos depois, já andava muito mal e sua mãe lhe pediu para que não jogasse mais.
Mas viveu o suficiente para ser celebrado nas festas de centenário do Boca, em 2005. A revista “Trivela” testemunhou interessante diálogo entre Varallo e as crianças que lhe pediam autógrafos e queriam tirar fotos com ele, que dizia: “Mas vocês nunca me viram jogar”. E as crianças respondiam: “Por causa do senhor, Don Pancho, meu avô virou torcedor do Boca Juniors. E por isso, eu também sou”.
Depois que parou de jogar, Varallo costumava dizer que havia conquistado muitas coisas boas ao longo da carreira, entre elas ter defendido a seleção argentina e ter sido durante anos o recordista de gols com a camisa do Boca. Mas garantia que não não houve dor maior na sua vida do que ter perdido a final do Mundial de 1930 para o Uruguai.
Em sua carreira conquistou 3 Campeonatos Argentinos (1931, 1934 e 1935), 1 Campeonato Sul-Americano (atual Copa América, 1937) e 1 Vice-campeonato da Copa do Mundo da FIFA (1930). Em 1933, após balançar as redes 34 vezes, Varallo foi o artilheiro do Campeonato Argentino e da América do Sul.
Fora dos gramados foi distinguido com o título de “Cidadão Ilustre de La Plata” (1998), “Ordem do Mérito da FIFA” (1994), prêmio único para um argentino, uma homenagem aos maiores jogadores da história, também recebido por Yashin (URSS), Zico, Boby Moore (Inglaterra), Muller e Beckembauer (Alemanha) e Pelé, entre outros. Em 2006 ainda recebeu a “Ordem do Mérito da CONMEBOL”.
Em fevereiro, quando Varallo completou 100 anos, o presidente da FIFA, Joseph S. Blatter, fez questão de prestar-lhe homenagem, escrevendo na revista Fifa World, em sua edição de março deste ano: "Muita coisa mudou no futebol. Para poderem disputar a Copa do Mundo da FIFA de 1930, no Uruguai, as seleções da Bélgica, França, Romênia e Iugoslávia viajaram de navio. Havia poucos jornalistas presentes.
Mas de lá para cá tudo passou a ser diferente, tudo ficou mais rápido, mais espetacular, até chegarmos à tecnologia 3D. Mas independentemente de todas estas mudanças, a essência do futebol segue a mesma. Isso fica claro quando vemos a história do Francisco Varallo, que completou cem anos e a quem eu parabenizo por tudo o que ele fez". (Pesquisa: Nilo Dias)
Com a morte de Francisco Varallo, o futebol mundial está de luto. (Foto: Acervo do Boca Juniors)
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