sábado, 30 de abril de 2011

O centenário do E.C. Novo Hamburgo (3)

O ano de 1961 também foi marcante para o Esporte Clube Novo Hamburgo. Presidido por Oscar Sperb, o Novo Hamburgo bateu de frente com a Seleção do Uruguai, em duas brilhantes partidas. Com uma grande equipe, o anilado perdeu a primeira partida por 1 x 0 e, na segunda, empatou em 1 x 1, com gol de Raimundo para o anilado. O time base contava com Valdir – Alduíno – Beiço - Hélio e Itamar - Ica e Vevé – Miltinho – Mujica - Raimundo e Casquinha.

O jogo mais longo de um Campeonato Gaúcho, válido pela fase classificatória em 1968, teve como protagonistas Grêmio e Novo Hamburgo. A partida começou a ser disputada em 22 de fevereiro, uma quinta-feira à noite, e só foi terminar quase três semanas depois, em 13 de março, numa tarde de quarta-feira. Faltavam ainda 35 minutos para se encerrar o jogo quando faltou luz no Estádio Olimpico. O placar era 0 X 0.

Esgotado o período de espera para volta da iluminação, o regualamento determinava que o tempo restante fosse disputado noutra data. A FGF só conseguiu marcar os últimos 35 minutos para 19 dias depois, novamente no Olímpico, com portões abertos. O Grêmio aproveitou e ainda conseguiu vencer por 1 X 0.

Mané Garrincha, “O Anjo das pernas tortas”, teve uma passagem pelo Esporte Clube Novo Hamburgo. Ele vestiu a camisa 7 na noite de 2 de julho de 1969, na partida amistosa, em que o Internacional venceu o Novo Hamburgo por 3 X 1, no Estádio Beira-Rio. Garrincha saiu de campo aos 15 minutos do segundo tempo, sendo muito aplaudido pelos torcedores gaúchos. Antes da partida, Garrincha fez um treino no Estádio Santa Rosa, quando conheceu um pouco do clube e o grupo de jogadores.

Em junho de 2001, para evitar que o estádio Santa Rosa fosse à leilão para pagar dívidas trabalhistas recebendo um valor muito abaixo de seu valor de mercado, a direção do clube precisou tomar uma medida corajosa: buscou um comprador para o estádio. Essa medida dura, porém necessária para salvar o clube, precisou ser tomada.

Demonstrando compromisso com a comunidade, a Associação Pró-Ensino Superior em Novo Hamburgo (Aspeur), entidade mantenedora do Centro Universitário Feevale, adquiriu a área por um valor expressivo, garantindo assim a continuidade do clube e de uma história centenária.

Uma nova área de 5 hectares foi adquirida no bairro Liberdade, situada entre as ruas Santa Tereza e Simões Lopes, onde foi construída a nova casa anilada, o moderno Estádio do Vale. O nome do novo estádio foi decidido através de uma eleição com os torcedores do clube. Em um total de 1.302 votos a opção estádio do Vale obteve 647 votos.

Desde 2007 o Novo Hamburgo sedia seus jogos no novo estádio, mesmo sem estar concluído. Estão prontos o pavilhão principal com 3.500 lugares, três lances de arquibancadas cobertas que totalizarão 12.000 lugares, um pátio com estacionamento para 300 carros, que futuramente será ampliado para 500 carros. O gramado é de última geração, com 105m x 75m, grama Bermuda Tif Way 419 e um sistema de drenagem que armazena a água da chuva numa cisterna de 200 mil litros e irriga o campo através de 32 torneiras.

O primeiro jogo no Estádio do Vale foi disputado no dia 17 de agosto de 2008, quando o Novo Hamburgo derrotou o Criciúma, de Santa Catarina por 2 X 1. O primeiro gol na nova praça de esportes foi marcado por Tiago Moraes, do Criciúma.

Para muitos torcedores o melhor time da história do E.C. Novo Hamburgo foi montado em 1952. A formação base era: Paulinho – Zulfe – Mirão - Heitor e Crespo – Casquinha - Pitia e Soligo – Niquinho - Martins e Raul Klein. O técnico era Carlos Froner.

O principal jogador era Raul Klein, ponteiro-esquerdo habilidoso, que chegou à Seleção Brasileira, tendo disputado, juntamente com o goleiro Paulinho, o Panamericano de 1956. O Brasil foi campeão com uma equipe formada, em sua base, por atletas gaúchos. Raul disputou várias partidas. Já Paulinho não teve a mesma sorte: foi reserva durante toda a competição.

Outros jogadores importantes que fizeram história no clube: o centroavante Geovani, no Campeonato Gaúcho de 1962, marcou 13 gols e se sagrou artilheiro da competição. Seu feito só seria repetido mais duas vezes por atletas da equipe do interior. Uma por Sapiranga, em 1966, e outra por Giancarlo, principal goleador da competição em 2006.

O zagueiro Erico Scherer, o popular “Fogareiro” é considerado um dos melhores defensores a terem vestido a camisa do Novo Hamburgo. Por 18 anos ele defendeu seu clube do coração. Faleceu no dia 6 de maio de 1966 e, em seu enterro, o caixão foi levado por seis atletas uniformizados do clube. Além disso, a bandeira do Novo Hamburgo foi posta sobre o caixão como uma homenagem.

O goleiro Periquito é considerado o melhor da história do Novo Hamburgo. Na década de 40, deixou o clube para atuar pelo Internacional, onde fez parte de um grande time da equipe colorada, conhecido como “Rolo Compressor”.Sapiranga, veloz ponta-direita que também jogou no Internacional nos anos 60. Em 1961 foi campeão gaucho e artilheiro do campeonato com 16 gols. Em 1966, deixou o Inter e voltou ao Floriano, onde conquistou pela segunda vez o título de artilheiro do Gauchão, dessa vez com 13 gols. Passou ainda pelo Flamengo de Caxias do Sul, onde encerrou a carreira, em 1968.

Ingo, centro-médio que também jogou no Cruzeiro, de Porto Alegre; Júlio Kunz, um dos melhores goleiros já surgidos no Brasil; Miro, que defendeu as cores do Grêmio Portoalegrense; Miguel, que jogou pelo Internacional e Seleção Gaúcha; o lateral-direito Josimar, titular durante a Copa de 1986, no México, com o técnico Telê Santana; Moeler, goleiro que figurou no Selecionado Gaúcho e Ritzel, o “Arranca Taboa”, apelido ganho devido a violência de seu chute, que também jogou pelo Internacional nos anos de 1915, 1916 e 1917.

Ele fez parte do primeiro combinado Portoalegrense, que enfrentou os uruguaios em 1916, e que esteve assim formado: Schiel – Mordieck e Simão – Mário Cunha – Saavedra e Hansen – Sisson – Ritzel – Bendionda – Lúcio Assunção e Vares.

O jornal NH, realizou recentemente uma pesqiisa com seus leitores, procurando saber quais os melhores jogadores que vestiram a camisa anialada nesses 100 anos. e Também os técnicos. Alguns nomes lembrados:

GOLEIROS: Ademir Maria, Eduardo Martini, Geninho, Luciano, Marquinhos, Osvaldo, Paulinho, Petzold e Periquito. ZAGUEIROS: Aládio, Fogareiro, Heitor, Beiço, Paulo Vieira, Bob, Solis, Dias e Claudio Luis. MEIAS: Dagoberto, Éderson, Helenilton, Preto, Rached, Robson, Valdo e Xameguinha. LATERAL-DIREITA: Celso Augusto e Manoel
. LATERAL-ESQUERDA: Lauri, Luis e Paulinho. VOLANTES: Caçapava, Claudio Reginato
Lourival, Müllerve Pedro Ayub. PONTA-ESQUERDA: Anchietinha, Gilmar, Loivo, Passos, Raul Klein e Soares. PONTA-DIREITA: Itamar, Kasper, Preto e Zé Melo. ATACANTES: Éderson, Geada, Guinga, Jéferson
Róbson e Sapiranga. CENTROAVANTES: Bira Burro, Bugrão, Caio Junior, Claudiomiro, Jorjão, Paraná, Pedro Verdum, Romário e Valdinei. TÉCNICOS: Crlos Froner, Enio Andrade, Ernesto Guedes, Gilmar Iser, Marco Eugênio e Vacaria.

Também não pode ser esquecida a figura do grande treinador Pedro Otto Bumbel, que conquistou sucesso internacional. Ele marcou não somente a história do Esporte Clube Novo Hamburgo, como também a história do futebol mundial. Bumbel estudou e se fascinou pelo futebol, assistindo jogos do Taquarense.

Era natural de Taquara, onde nasceu no dia 6 de julho de 1914. Tornou-se militar do Exército Nacional e foi galgando patentes. A par dessa atividade profissional, estudava o futebol e todas suas nuances. Jogou muito pouco futebol, mas entendia das regras, de esquemas táticos, de como conseguir fazer com que o jogador produzisse o seu limite.

De Taquara foi para Novo Hamburgo. Bumbel encontrou espaço na Sociedade Ginástica de Novo Hamburgo, onde além do futebol, introduziu o voleibol e o basquete, que aprendera lendo.

Em 1938, Bumbel marcou sua história como treinador de futebol, sendo convidado pelo Sport Club Novo Hamburgo a comandar a equipe. Aceito o desafio levou o time ao titulo citadino. Bumbel treinou depois o Cruzeiro de Porto Alegre e o Flamengo do Rio de Janeiro, na condição de auxiliar técnico de Flávio Costa. Em 1946, foi contratado pelo Grêmio. Em 1947 se aborreceu com os dirigentes gremistas e deixou o clube, retornando em 1949.

Foram muitas vitórias e a mais consagradora delas, 5 x 0 diante da seleção principal da Costa Rica. Em meio ao Campeonato Gaúcho de 1951, a Federação da Costa Rica convidou Bumbel para ser seu treinador. Ele largou o Grêmio, largou o Exército, largou tudo. O Grêmio se conformou e contratou outro treinador. No Exército foi declarado desertor e condenado à prisão militar. Durante dez anos ficou exilado, sob pena de prisão.

Seguiu sua brilhante carreira como técnico de futebol, embora melancolicamente pela ausência de sua pátria. Dirigiu com sucesso a seleção da Guatemala, seleção de Honduras e o Saprissa, da Costa Rica, pelo qual foi campeão nacional. Na Europa treinou o Porto, campeão português, Lusitano, vicecampeão português e Acadêmica de Coimbra. Na Espanha, o Atlético de Madri, campeão espanhol, Elche, vice-campeão espanhol, Valência, Racing Santander, Sevilha, Málaga e Sabatel.

Passado o período no exílio, Otto Pedro Bumbel retornou à Porto Alegre, onde foi articulista do jornal Diário da Notícias e correspondente do jornal "A Bola", de Lisboa. No dia 2 de agosto de 1998, foi encontrado morto no pequeno apartamento onde morava sozinho, com suas lembranças. Havia aproximadamente três dias que havia falecido, quando foi encontrado.

O legendário técnico Pedro Otto Bumbel. (Foto: Site BDFutbol)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

O centenário do E.C. Novo Hamburgo (2)

O Esporte Clube Novo Hamburgo foi o primeiro, mas não o único time de futebol na cidade. Nos anos seguintes, surgiram vários outros: em 1914, o seu maior rival, o Football-Club Esperança; em 1919, seria a vez da fundação do Sport-Club Olympio; em 1921, foi fundado o Sport-Club Progresso. Já em 1923, o Sport-Club Victoria; em 1924, o Sport-Club Palmeira; em 1925, o Sport-Club Guarany e Sport-Club Canudense e, em 1927, o Grêmio Sport Hamburguez de Football e Atletismo, bem como o Sport-Club Municipal e Sport-Club Ypiranga.

Essencialmente, o anilado, desde a sua fundação, caracterizava-se como um time de homens brancos, mas não necessariamente de descendentes de alemães. Essa posição hegemônica e excludente dos afro-descendentes em Novo Hamburgo seria rompida somente onze anos após a fundação do anilado, quando, em 1922, surgiu o primeiro clube de futebol que oportunizava a presença de negros, o Sport Club Cruzeiro do Sul.

Ao longo de sua história inicial, vários dos jogos de futebol do Novo Hamburgo serviram para arrecadar fundos para a comissão responsável pelo plebiscito de emancipação de Novo Hamburgo. Corria o ano de 1926, às vésperas da emancipação e a comissão distribuiu panfletos pela cidade, conclamando os habitantes para um jogo de futebol do Novo Hamburgo.

"Grande Meeting no Campo do Sport-Club Novo Hamburgo. Pede-se o comparecimento de todos os eleitores deste distrito munidos de seus títulos federais para assinarem um memorial que será dirigido ao Exmo. Sr. Presidente do Estado. Deverão comparecer também os cidadãos que não são eleitores ou que tenham extraviados seus títulos, para a comissão requerer segundas vias e dar andamento aos documentos para a qualificação.

No mesmo local realizar-se-á um MATCH AMISTOSO em benefício da Caixa Pró-Emancipação do 2º. Distrito, entre os seguintes quadros:
1º times - Bloco Nicolas D'Ajello versus Bloco Albano Adams
2º times - Bloco José J, Martins versus Bloco Guilherme Ludwig
Entrada Geral 1$000 Senhoras Grátis"

O Foot-Ball Club Esperança tinha sede em Hamburgo Velho, um arrabalde na parte alta da cidade. Apesar de Novo Hamburgo ser uma localidade que em 1927 possuía apenas 8.000 habitantes, criou-se uma intensa rivalidade social entre os dois clubes futebolísticos. O Esperança era integrado por segmentos populares, mas também contava com boa parte da elite comercial e industrial local. Além do futebol o clube mantinha departamentos de basquetebol, voleibol e teatro.

Relatos de torcedores e dirigentes que viveram este período do futebol gaúcho remontam grandes batalhas realizadas entre alvi-verdes e alvi-azuis. Quando o Novo Hamburgo mudou o nome para Floriano, o clássico passou a chamar-se “Flor-Esp”, e mobilizava a cidade em suas tardes de domingo ou qualquer outro dia que ocorresse. Toda partida se tornava uma decisão, capaz de fazer os jogadores irem além de seus limites para não perderem para o adversário.

A rivalidade era tanta que um dos prefeitos da época, Martins Avelino Santini, em uma última tentativa de unir os hamburguenses em torno da mesma bandeira, decidiu construir a sede da prefeitura justamente na divisa dos dois maiores bairros. Quem torcia para o Esperança morava no bairro Hamburgo Velho, enquanto os torcedores do Novo Hamburgo (Floriano) residiam próximo ao Centro. O estádio do Esperança estava localizado na área próxima ao Colégio Pasqualini, transferindo-se, anos mais tarde, para o bairro Rondônia.

No passado a política não conseguiu alterar a ordem dos fatos, a ponto de rapazes torcedores do Novo Hamburgo (Floriano) serem impedidos de namorarem com garotas do Esperança. Casar então, nem pensar. Ocorreram muitas desavenças durante as partidas, mas nunca foi registrado alguma capaz de ferir seriamente algum dos espectadores, como seguidamente vemos em todos os Continentes.

Nos primeiros anos de existência do Novo Hamburgo eram comuns jogos contra times de Caxias, em especial o Juventude. A imprensa da época se referia a essa rivalidade como o “Clássico da Colônia” ou o “Clássico Ítalo-Germânico. Era um tempo de futebol romântico, cheio de histórias sobre amor à camisa e à cidade acima de tudo. Foi quando surgiu o apelido do time: “Nóia”, criado através da abreviação de “Novo Hamburgo”, misturada ao sotaque alemão.

Em 1937, já completamente estruturado e dono de uma equipe forte e respeitada, o Novo Hamburgo venceu o Campeonato Metropolitano, derrotando, entre outros adversários, o Nacional, Renner, São José, Cruzeiro e Força e Luz.

Em 1942, o clube já era uma das principais forças do futebol gaúcho, tendo se sagrado vice-campeão do Estado do Rio Grande do Sul. Perdeu nos jogos finais para o Internacional por 10 x 2 e 4 X 1.

Era um tempo de guerra e o país vivia tempos difíceis com o “Estado Novo”, que exercia forte pressão sobre tudo que lembrasse a Alemanha. Quem falava alemão não era bem visto pelas autoridades, que impuseram a mudança do nome dos clubes e escolas, além da proibição do uso e do ensino da língua alemã em todas as atividades públicas e, mesmo, privadas.

Essa onda de mudança e de aportuguesamento dos nomes chegou mesmo a ameaçar a cidade, que quase mudou de nome para Marechal Floriano Peixoto, em uma homenagem forçada ao Marechal Floriano Peixoto, o Marechal de Ferro, o segundo Presidente da República do Brasil e um militar de linha dura. O time de futebol, porém, não resistiu à pressão política e houve a transformação de Sport Club Novo Hamburgo para E.C. Floriano. E foi com esse nome que o clube disputou sua primeira final de Gauchão, em 1942. E seria vuce-campeão gaúcho também em 47, 49, 50 e 52.

Essa pressão pela mudança de nome pode ser compreendida como uma das manifestações da influência das idéias fascistas no Brasil, especialmente no que se refere a sua perspectiva de uniformização da cultura nacional. Esse nome permaneceu até o final da década de 60, quando o clube retornou às origens, aportuguesando seu nome para o atual Esporte Clube Novo Hamburgo.

Em 1947, o Novo Hamburgo conseguiu chegar até a final do Campeonato Gaúcho. No dia 30 de novembro, no campo do Adams, no primeiro jogo das finais o Internacional venceu por 3 X 2. A torcida colorada foi de trem até Novo Hamburgo, lotando 40 vagões.

Alguns afirmam que a arbitragem favoreceu a equipe da capital. Aos 42 minutos do segundo tempo, quando o jogo estava empatado em 2 X 2, o árbitro Miguel Sallabery assinalou um pênalti a favor do Internacional, de Crespo em Alfeu, que somente ele viu. A torcida anilada invadiu o campo e não permitiu a cobrança. O jogo foi interrompido por falta de segurança e o tempo restante marcado para a sexta-feira seguinte, dia 5 de dezembro.

Carlito, batedor oficial do Internacional passou a semana recebendo telefonemas ameaçadores e respondendo sempre que Tesourinha era quem cobraria a pena máxima. Foi assim dentro de campo. Pressionado pelos adversários Carlito mandou Tesourinha tomar a frente para a cobrança e se escondeu atrás dele. Só na hora que o juiz apitou, cinco dias depois do pênalti cometido, ele tomou a frente de Tesourinha e chutou para marcar e vencer o jogo. Carlito nunca errou um pênalti.

Uma semana depois o jogo recomeçou e o pênalti foi cobrado por Carlitos, garantindo a vitória colorada. No segundo jogo, na Chácara das Camélias, em Porto Alegre, com arbitragem de José Carvalho, o Novo Hamburgo venceu por 2 X 1. Na prorrogação, o Internacional venceu por 1 X 0, gol de Carlitos, garantindo o título.

O time foi considerado por muito tempo como a terceira força do Estado. A cidade prosperava graças a indústria dos calçados e por causa delas, o mascote escolhido para o Novo Hamburgo foi a figura de um “Sapato”.

Na década de 50, quando a sede dos "Taquarais", a segunda do clube foi vendida, uma área de terra localizada na rua Avaí, 119 no Bairro Santa Rosa foi adquirida por Cr$ 1.250,00, de acordo com o tesoureiro da época e hoje Patrono do clube, Reinaldo Reisswitz. A nova sede, logo batizada de Estádio Santa Rosa, foi inaugurada em 1953 e abrigou o Novo Hamburgo até meados de 2008. A praça de esportes tinha capacidade para 17 mil torcedores. (Pesquisa: Nilo Dias)


Equipe do E.C. Novo Hamburgo, que no dia 16 de abril de 1936, goleou o Juventude, de Caxias do Sul, por 4 X 1, no chamado "Clássico da Colônia". (Foto: Acervo do E.C. Novo Hamburgo)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O centenário do E.C. Novo Hamburgo (1)

O próximo dia 1º de maio marca a passagem dos 100 anos de fundação do Esporte Clube Novo Hamburgo, uma das mais tradicionais agremiações esportivas do interior do Rio Grande do Sul, e que se orgulha de nunca ter fechado as portas do futebol.

Novo Hamburgo era 1º distrito de São Leopoldo desde a sua fundação em 1890, condição que persistiu até 1927. Mas já naquela época mostrava um intenso crescimento das atividades fabris, especialmente com a introdução dos curtumes de couro, depois com empresas artesanais e, posteriormente, com a indústria calçadista na cidade.

A partir da década de 1910, as cidades mais prósperas da região colonial rio-grandense começaram a criar também seus clubes de futebol, acompanhando a tendência iniciada na região sul e portuária do Estado, além da fronteira uruguaia e da capital.

Com a riqueza gerada pela indústria calçadista, Novo Hamburgo antes mesmo de sua emancipação política em 1927, já em termos de esportes, acompanhava as tendências ditadas pela não muito distante capital. Nessas regiões de influência alemã, existia uma grande tradição de criação de clubes de diversos tipos de organização. Cabe destacar as sociedades de tiro, de canto e música e de esportes.

Elas eram muito fortes do ponto de vista da participação e envolvimento e foram instituídas já na origem e formação das vilas e cidades, juntamente com as igrejas e escolas. O trinômio igreja, escola e clube marcou as comunidades, que se organizaram a partir da imigração alemã no Rio Grande o Sul.

Inicialmente, essas sociedades, especialmente em Novo Hamburgo, eram fechadas e procuravam manter e exercitar sua “germanidade”. Havia, também, um forte controle do ingresso de sócios, quase sempre limitados aos de descendência germânica, além do uso exclusivo da língua alemã nas dependências e atividades das sociedades.

Essas associações vinham se estruturando desde os primórdios da colonização no Estado, mas na região de Novo Hamburgo começaram a se erguer fortemente no final do século XIX. Assim, nessa cidade, surgiram a Sociedade Frohsin (1888), Sociedade Atiradores (1892), Sociedade Gymnastica (1894), Sociedade Gymnastica de Hamburgo Velho (1896) e a Sociedade de Atiradores de Hamburgo Velho (1896), Tiro de Guerra 251 (1916), Clube União Juvenil (1916), Sociedade de Canto Bruderbund (1917) e a Sociedade de Canto, Música e Teatro Palestrina (1919), apenas para marcar essa passagem de século.

Mas não foi a partir desses clubes tradicionais que surgiram as agremiações futebolísticas na cidade. O primeiro clube de futebol foi fundado no dia 1º de maio de 1911 quando os funcionários da Fábrica de Calçados Sul-Riograndense, de um dos empresários locais, Pedro Adams Filho, participavam de festejos comemorativos ao 1 de Maio.

Eles já haviam assistido uma demonstração do novo esporte, feita pelos alunos do Colégio Samuel Dietschi e gostado. Com a proximidade do dia 1º de maio e a festa tradicional na fábrica, os operários fizeram uma vaquinha para a compra de uma bola, para ser usada num jogo de confraternização inserido na programação do Dia do Trabalho. O operário Manoel Matos Lopes foi encarregado de viajar até Porto Alegre para compra da bola.

Nascia, assim, do sentimento de trabalhadores das nascentes empresas calçadistas, distantes dos tradicionais clubes da cidade, o Esporte Clube Novo Hamburgo. A reunião de fundação aconteceu nos Salões Diehl, onde funcionava a Sociedade Ginástica (Turnverein New Hamburg). Participaram dessa reunião e foram considerados fundadores, os seguintes desportistas:

Manoel Matos Lopes, José Scherer, Aluisio Hauschild, Alberto Adams, Manoel Outeiro, Luiz Schaefer, Frederico Arnaldo Fauth, João Ferreira, Balduino Feltes, Dario Coelho, Pedro Luiz da Silva, Felipe Heberle, Frederico Feltes, Alfredo Friedrich, Adão Steigleder, Reinaldo Backes, Leopoldo Steigleder, Arthur Steigleder, Ernesto von der Heyde, Oswaldo Machado, João Zuetsch, João Tamujo, Alberto Weick, Pedro Araújo, João Steigleder, Carlos Grin, Fernando Laporta, F. Djalmo Fauth, Adolfo J. Muller, Frederico Mayer, Antônio Cavasotto, Alfredo Diefenbach, João Magalhães e Alfredo Seger.

Também foi eleita a primeira Diretoria, que ficou assim constituída: Presidente, Manoel Matos Lopes; Vice-Presidente, Manoel Outeiro (também orador); 1º Secretário, Pedro Luiz da Silva; 2º Secretário, Alfredo Diefenbach; 1º Tesoureiro, Alberto Adams; 2º Tesoureiro, Ernesto von der Heyde; 1º Fiscal, Felipe Heberle; 2º Fiscal, Alfredo Friedrich; Capitão de Campo, Luiz Schaefer (Lulu) e Guarda-Esporte, Adão Steigleder.

Por pouco o clube não se chamou Adams Futebol Clube, já que uma corrente dos fundadores defendia a adoção desse nome em função da origem fabril de seus fundadores. Porém, saiu vitoriosa a idéia de desvincular o clube da empresa, em favor de se adotar o nome da localidade, que alguns anos depois se tornou município. A escolha das cores, azul anil e branca em riscas verticais, deu-se sem problemas. Os calções eram azuis e bem compridos, fechados com elástico abaixo do joelho e por cima da meia, pois era considerado ato vergonhoso andar com as pernas a mostra.

É verdade que existiu em Novo Hamburgo um clube de futebol amador chamado Adams F.C., fundado na década de 1940 e que reunia na Diretoria os sócios da firma Adams & Cia, nada tendo a ver com o E.C. Novo Hamburgo.

Na época, e principalmente nos núcleos de colonização germânica, era difícil escapar alguma coisa da influência teutônica. Em Porto Alegre, mesmo, quase todos os primeiros clubes esportivos tiveram seus estatutos e outros documentos redigidos em alemão. Com o próprio S.C. Rio Grande, o mais velho clube em atividade no futebol brasileiro, aconteceu isso.

Com o Novo Hamburgo foi diferente. Desde o início tudo foi escrito em português, porque seus fundadores tinham consciência que estavam em território brasileiro e não na Alemanha Setentrional, como queriam alguns.

A primeira sede se localizava na Avenida Pedro Adams Filho, no bairro Pátria Nova, onde hoje está instalada uma madeireira e foi cedida pelo senhor Guilherme Schmitt. Como faltava dinheiro para comprar as goleiras, a solução foi o uso de taquaras bem amarradas.

Os treinos eram diários, sempre após o expediente nas fábricas. Nos intervalos do serviço e logo após o almoço, eram comuns os bate-bolas no areal que existia no lado esquerdo da Praça 14 de Julho. Nos dias de chuva usavam a gare coberta da Viação Férrea, que também servia de depósito para o material esportivo. Quando de jogos era costume receber as equipes visitantes com banda de música e foguetórios

A primeira formação do Novo Hamburgo foi esta: João Magalhães – Lulu Schaefer e Djalmo Fauth – Pedro Luiz da Silva – Dario Coelho e Frederico Fauth – Armando Coelho – Alberto Adams – Israel Turco – Theodoro Kleinkauf e Jacó Cechin. Ninguém podia faltar aos treinos, senão teria de pagar uma multa de 200 réis. Todos os domingos o clube recebia a visita de um instrutor vindo de Porto Alegre, que ensinava as regras do jogo.

O primeiro jogo da história do Novo Hamburgo foi contra o Blitz F.C., de São Leopoldo, hoje extinto e terminou com a vitória dos leopoldenses. O escore se perdeu no tempo. O segundo jogo foi contra o E.C. 15 de Novembro, de Campo Bom, em disputa de 11 medalhas de ouro. Ao final verificou-se empate, porém não se sabe por quanto. Para desempatar foi realizada uma terceira partida, em Campo Bom, com vitória do 15, também por placar desconhecido. Foi a primeira excursão do Novo Hamburgo, e o curioso é que os jogadores viajaram montados em cavalos. (Pesquisa: Nilo Dias)

O E.C. Novo Hamburgo foi fundado neste prédio, onde funcionava a Sociedade Gymnástica Novo Hamburgo (Turnverein New Hamburg) (Foto: Acervo da Sociedade Ginástica Novo Hamburgo)

terça-feira, 26 de abril de 2011

O futebol da Mondálvia

Em agosto do ano passado o futebol na Moldávia comemorou 100 anos de existência. Até o Presidente da União Européia de Futebol (UEFA), o ex-craque francês Michel Platini esteve em Chisinau, capital do país participando das celebrações e felicitando os dirigentes da “Federaţia Moldovenească de Fotbal” (Federação de Futebol da Moldávia-FMF), que completou 20 anos de existência em 14 de abril do ano passado.

A primeira partida de futebol disputada na Moldávia aconteceu em 29 de agosto de 1910. A data foi lembrada com um jogo amistoso entre as equipes de veteranos da Moldávia e da Geórgia, que foi assistida por Platini. A Moldávia já fez parte da Romênia e da União Sovética e nunca disputou uma Copa do Mundo e nem se classificou para as fases finais do campeonato europeu.

O presidente da UEFA elogiou o trabalho da FMF e seu presidente Pavel Cebanu, afirmando que existem todos os motivos para se acreditar que o futebol tem um grande futuro na Moldávia. O país conta com sólidas bases para futuras infra-estruturas de treinamento. A FMF está afiliada à UEFA desde 1993 e a FIFA desde 1994. Após o fim da União Soviética, a Seleção da Moldávia disputou sua primeira partida em 2 de julho de 1991, tendo como adversário a Seleção da Geórgia.

Os dois melhores resultados alcançados pelo time nacional vieram durante a qualificação para o Campeonato Europeu de Futebol de 1996, quando obteve vitórias sobre a Geórgia (1 X 0), em Tbilisi, e País de Gales (3 X 2), em Chisinau. ou da Copa do Mundo da FIFA.

A Seleção da Mondálvia teve três participações no Campeonato da Europa, tendo disputado 26 jogos, com cinco vitórias, quatro empates e 16 derrotas. O time marcou 23 gols e sofreu 63. O treinador da seleção é Gavril Balint, a braçadeira de capitão está entregue a Sergey Laschenkov. O maior artilheiro da equipe mondálvia é Sergey Kleschenko, que marcou 11 gols. O jogador que mais atuou foi Radu Rebeja, com 74 participações.

O histórico da Mondálvia em Copas do Mundo mostra que não se inscreveu em 1930 e 1938, pois estava integrada a Seleção da Romênia. De 1950 aa 1994, novamente não se inscreveu, pois integrou a seleção soviética de futebol. De 1998 a 2010, não se classificou.

O histórico em Campeonatos Europeus mostra que de 1960 a 1992 não se inscreveu, tendo integrado a seleção soviética de futebol. De 1996 a 2008, não se classificou.

O maior feito da história do futebol da Mondálvia aconteceu em 2009, no estádio do FC Sheriff. Na ocasião, em jogo válido pela Pré-Eliminatória do Campeonato Europeu Sub-21, a Seleção da Moldávia derrotou a Seleção da Alemanha por 1 X 0. A vitória ganhou em importância porque o time mondálvio atuou sem o seu melhor jogador, Terek Groznyi, que estava de serviço para a equipe ucraniana.

O principal clube do país é o Fotbal Club Sheriff, da cidade de Tiraspol, mais conhecido como Sheriff Tiraspol (em russo: ФК Шериф Тирасполь), fundado em 1997. É eneacampeão (nove vezes campeão) do Campeonato Mondálvio, tendo conquistado todos os títulos de forma seguida: 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008 e 2009. Ganhou ainda a Copa da Mondálvia em 1999, 2001, 2002, 2006 e 2008 e a Copa CIS em 2003 e 2009. O treinador é o russo Andrey Sosnitskiy.

O Sheriff Tiraspol, que usa camisa amarela e preta é recordista mundial em jogos invictos. Ficou mais de um ano e meio e 47 partidas sem perder. O São Paulo foi o clube brasileiro que mais chegou perto, porém acabou perdendo quando disputava sua 30ª partida.

O sucesso do Sheriff se deve a três fatores: a presença de um quarteto brasileiro bom de bola, ao dinheiro de seu presidente russo, Victor Gusan e ao fato de o Campeonato da Moldávia ser muito fraco. Thiago, Leandro, Wallace e Nadson são os primeiros brasileiros a jogar no gelado país europeu, e ganham cerca de R$ 12 mil por mês. Eles estão a 10.101,61 km, de Brasília.

Vivem num paraíso, por conta da grana investida no clube. Para se ter uma idéia, o Sheriff conta com três estádios: o maior é usado no verão; o segundo, coberto, é aproveitado quando neva; e o terceiro conta com grama artificial e também é completamente fechado. O centro de treinamentos apresenta nada menos do que dez campos com dimensões oficiais.

O Sheriff tornou-se o primeiro clube da Moldávia a chegar a Terceira Eliminatória da Liga dos Campeões da Uefa, coisa que os demais times moldávios não conseguiram nem pensar. Entretanto, o sonho de se tornar o primeiro clube moldávio na "Champions" foi por água abaixo em decorrência da derrota para os holandeses do Twente.

O time mais novo da Moldávia é o Football Club Milsami Orhei, antigo Football Club Viitorul, da cidade de Orhei, fundado em 1997. Nele joga o brasileiro Caio Garcia, que quando garoto no Saão Caetano. Passou pela base do Mesc e Mercedes, até chegar ao São Paulo (futsal).

Em seguida, foi para o ABC de Natal (RN), onde excursionou pela Espanha. Lá, firmou acordo e permaneceu no Velho Continente onde atuou em times da terceira divisão. A Romênia foi o próximo passo. Após passagem pelo Arad, surgiu a proposta para atuar na Moldávia. Outros dois brasileiros jogam no clube, o paranaense Ademir Xavier e o paulista Pedrinho.

A liga modalvia conta com 14 equipes e é jogada em três turnos de pontos corridos. A maioria das partidas são realizadas aos sábados ou domingos. A cada 15 dias, acontecem jogos no meio da semana.

A temporada começa no mês de agosto. No fim de dezembro e janeiro, ocorre pausa em virtude do inverno rigoroso. Após esse período, a competição retorna no começo de fevereiro e termina no fim de maio.

O Flamengo, em 11 de julho de 1964 enfrentou amistosamente a Seleção da Federação da Moldávia, pois o país, na época, integrava a URSS. O time carioca venceu por 1 X 0.

No fim da Segunda Guerra Mundial, a Moldávia, que foi incorporada à Romênia no passado, tornou-se parte da União Soviética. Em 1991 o país conquistou a independência. Entretanto, forças russas ficaram para dar apoio ao povo eslavo, predominantemente russos e ucranianos, que anunciaram uma república da “Transnístria”.

A República da Moldávia é um dos países mais pobres da Europa, e elegeu um comunista como seu líder em 2001. A capital é Chisinau (Kishinev) e a língua oficial é o moldávio, virtualmente o mesmo que o romeno. A bandeira tem três listras verticais iguais de azul (lado do mastro), amarelo e vermelho; o emblema no centro é de uma águia romana de ouro delineada em preto com um bico vermelho, no qual carrega uma cruz amarela.

Na garra direita carrega um ramo verde de oliva e na esquerda um cetro amarelo; em seu peito está um escudo dividido horizontalmente em vermelho e azul com uma cabeça de boi estilizada, uma estrela, uma rosa e um crescente, todos em amarelo delineados em preto; o mesmo esquema de cores da Romênia.

A Moldávia, que faz fronteira com a Ucrânia e Romênia, tem uma população de 4.324.450 habitantes, de acordo com o senso de julho de 2008. A maior cidade é Chisinau, com uma área de 33.843 km². O que chama a atenção é o índice de alfabetização que chega a 99,1%, segundo dados de 2005.

Mesmo quase sem analfabetos e apesar de seu desenvolvimento econômico recentes, a Moldávia ainda é um dos países mais subdesenvolvidos da Europa. A economia depende fortemente do tabaco, vinho, legumes e frutas. O país importa a maior parte de seus recursos energéticos, especialmente da Rússia. Os desafios enfrentados pela economia incluem um clima agrícola pobre, altos preços de combustíveis e a falta de investimento estrangeiro.

O índice de desemprego é de 2,1%. Aproximadamente 25% dos moldávios em idade produtiva estão empregados no exterior, de acordo com dados de 2007. (Pesquisa: Nilo Dias)

FC Sheriff, o time mais popular da Mondálvia. (Foto: Divulgação)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O “Homem de Papel” (Final)

Chegou o ano de 1934 e a segunda edição da Copa do Mundo, dessa feita na Itália. Os austríacos eram considerados os grandes favoritos. E o time começou bem, vencendo a França nas oitavas de final por 2 X 1, com um gol de Sindelar, e a Hungria nas quartas de final, também por 2 X 1. Na semifinal a Áustria pegou a Itália, a quem tinha vencido há pouco tempo, dentro de Roma, por 2 X 1.

Mas dessa vez foi diferente. O ditador Benito Mussolini fazia de tudo para a Itália vencer a Copa. Contam que o juiz sueco Ivan Eklind, jantou com Mussolini uns dias antes. E o cardápio deve ter sido ótimo, porque durante o jogo ele fez de tudo para ajudar os italianos. Não via uma falta a favor dos austríacos e não marcou um pênalti claro em cima de Sindelar. A Itália se classificou para a final e o sueco foi novamente escolhido para dirigir o jogo. E a Itália ganhou na prorrogação.

Sindelar apanhou tanto no jogo contra a Itália, que não conseguiu participar da decisão do terceiro lugar, quando os austríacos perderam para a Alemanha, por 3 X 2. Nesse jogo, como as duas seleções tinham camisas iguais, a Áustria teve de usar o uniforme do Nápoli.

A Áustria se classificou bem para a Copa de 1938, na França. Mas, no dia 12 de março de 1938, o país foi anexado pela Alemanha. Ou seja, a Áustria sumiu do mapa. Faltavam aproximadamente três meses para o Mundial. A invasão da Áustria pelo exército alemão significou o fim temporário do futebol austríaco. Apenas dois meses depois, todos os contratos de jogadores profissionais foram dissolvidos e os clubes judeus, entre eles o Áustria Viena, foram proibidos.

O "Wunderteam" (Time Maravilha), como era conhecida a fabulosa seleção austríaca dirigida por Hugo Meisl, foi obrigada a se fundir com a seleção alemã. Dali em diante os jogadores austríacos teriam que jogar pela seleção da Alemanha.

Nessa época, Sindelar havia comprado uma cafeteria para ter uma segunda renda e passou a se recusar a defender a seleção nacional do Império Alemão, embora tenha sido várias vezes convocado pelo técnico Sepp Herberger.

Sempre dizia que estava machucado. Foi quando a Gestapo (Polícia Secreta do Estado) começou a investigar o jogador, e descobriu que ele era amigo de judeus, e simpatizante dos comunistas. Se isso já era ruim, o pior veio na partida para festejar a anexação. Havia no ar a sensação de que os austríacos poderiam vencer. Poderia ser perigoso para a saúde dos jogadores.

Por sugestão de Sindelar a Áustria jogou com camisas e meias vermelhas e calções brancos, as cores nacionais. E os austríacos dominavam a partida com facilidade, mas propositalmente perdiam incríveis chances de gol. Era uma humilhação, mas não podiam desafiar os alemães. Havia sido combinado que o resultado do jogo seria um empate.

O jogo ficou naquele chove e não molha até o meio do segundo tempo, quando o público começou a vaiar. Foi nesse momento que os jogadores austríacos decidiram desafiar os alemães e começaram a correr feito loucos. O jogo virou uma guerra. Logo depois, a bola sobrou para Sindelar na meia lua. Ele deu um toque sutil, encobrindo o goleiro que estava adiantado.

O público delirou, ainda mais quando o craque foi até a tribuna de honra onde estavam as autoridades nazistas, e dançou uns passos de “Rheinland Pfalz”, uma dança popular austríaca. Foi uma gargalhada geral em cima das autoridades alemãs. Depois disso, cheios de brio os austríacos ainda marcaram mais um gol, deixando o placar final em 2 X 0. O nazismo perdia ali, o primeiro embate onde tentava utilizar o futebol como instrumento de imposição e fortalecimento do regime.

No dia 26 de dezembro de 1938, Sindelar disputou a sua última partida pelo Áustria Viena, que havia sido obrigado a mudar de nome para SC Ostmark Viena. O "Homem de Papel" marcou o último gol da sua brilhante carreira no empate em 2 X 2 contra o Hertha Berlim.

Sindelar nunca serviu aos alemães nazistas e foi encontrado morto junto com sua namorada no início de 1939. A sua morte é até hoje um enorme mistério. Conta-se que na madrugada de 23 de Janeiro de 1939 recebeu um telefonema da sua companheira Camila Castagnola, uma prostituta italiana radicada em Viena. Sindelar encontrava-se reunido com alguns colegas de profissão num café da capital.

O “homem de papel” dirigiu-se então para a Rua Anna, morada de Camila, e de lá não voltou a sair. Os amigos estranharam a sua ausência no café pela manhã desse dia 23, e um deles que havia visto Matthias entrar na casa da sua amante, resolveu fazer uma visita ao local. E lá chegando encontrou os dois amantes estendidos no chão com uma garrafa de conhaque e dois copos. Sindelar estava morto e Camila a seu lado desacordada. Nunca mais saiu do coma. Os documentos da investigação policial desapareceram.

A autópsia revelou intoxicação por óxido de carbono, porém outras teorias foram levantadas, como a de suicídio, diziam que Sindelar abrira as torneiras do gás quando pressentiu que as tropas de Hitler avançavam a caminho de Viena. Tinha 36 anos, e Viena chorou a morte de um homem que anos mais tarde se saberia que nem judeu era.

Seu enterro reuniu cerca de 20 mil pessoas e transformou-se em demonstração de repúdio ao III Reich. Recentemente, Sindelar foi eleito pelo povo austríaco o maior jogador do país do século XX. Seu legado é um exemplo de dignidade e jogo limpo tanto nos gramados quanto na vida.

O seu enterro foi debaixo de fortes medidas de segurança porque se temia uma rebelião dos assistentes. Em Viena hoje existe a "Sindelarstrasse", rua do rebelde goleador onde soam os ecos do poema dedicado a ele pelo austríaco Friedrich Torberg:

"Jogava futebol como ninguém;
Tinha graça e fantasia;
Tinha um toque fácil e alegre;
sempre jogava e nunca lutava"

Matthias Sindelar foi enterrado no Cemitério Central de Viena, o mesmo onde estão Brahms, Beethoven, Schubert, Johann Strauss e Johann Strauss Jr., dentre outros. A sua tumba fica perto da de Beethoven. Um lugar apropriado para o “Mozart do futebol”, como também era chamado. Até hoje é realizada anualmente no dia da sua morte uma cerimônia fúnebre. (Pesquisa: Nilo Dias)

Sindelar com a camisa da seleção austríaca. (Foto: Divulgação)

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O “Homem de Papel” (1)

Matthias Sindelar, um mito do futebol mundial nasceu no dia 10 de fevereiro de 1903, numa pequena cidade chamada Kozlau, que era na Áustria, mas hoje por conta da mudança dos mapas fica na República Tcheca. Seu nome de batismo era Matěj Šindelář. Quando ele tinha dois anos de idade, seus pais mudaram-se para o bairro pobre de Favoriten, no subúrbio de Viena, a sofisticada capital austríaca. Foi lá que o jovem Matthias cresceu.

Em 1917, quando Sindelar tinha 14 anos, veio a I Guerra Mundial e seu pai morreu em combate. Teve então que começar a trabalhar como aprendiz de serralheiro para sustentar a mãe e três irmãs. Sua única diversão era jogar futebol no asfalto das ruas vienenses. Como os Sindelar não eram muito abastados, o futuro craque e os seus amigos não jogavam com bola de couro, e sim com uma bola feita de trapos.

Aos 16 anos, Sindelar foi descoberto por um olheiro que o levou para jogar nos juvenis do ASV Hertha, onde ele teve as primeiras experiências em uma equipe organizada. Após mostrar um alto rendimento nas categorias de base, fez a sua estréia no elenco principal quando tinha 18 anos.

Em 1923, sofreu uma séria lesão em um dos joelhos, fora dos gramados, e correu o risco de não poder mais jogar futebol. Graças ao famoso médico Hanz Spitzy, que o operou, o craque conseguiu se recuperar e dar continuidade à sua carreira. Um ano depois da lesão, o atacante deixou o Hertha, que foi rebaixado e em conseqüência passava por sérias dificuldades financeiras, sendo obrigado a vender seus principais jogadores.

Sindelar decidiu permanecer em Viena e em 1924 assinou contrato com o Wiener Amateure, o “time das camisas violetas”, que deu origem ao Áustria Viena, e que havia acabado de ser campeão nacional. Era um clube ligado à classe média judaica.

E logo vieram os títulos. Em 1925, o atacante conquistou o seu primeiro triunfo futebolístico, a Copa da Áustria, além de ter ficado com o vice no Campeonato Austríaco. Em 1926, com o fim do amadorismo o clube mudou a denominação para Áustria Viena e ganhou a copa austríaca e o campeonato nacional.

Em 1933, Sindelar conduziu praticamente sozinho o seu clube ao título da Copa da Europa Central, precursora da Liga dos Campeões da UEFA. Na final contra a Internazionale de Milão, que contava com ninguém menos do que Giuseppe Meazza em campo, o atacante fez os dois gols na vitória por 2 X 1 no jogo de ida e também balançou as redes no jogo de volta, vencido pela sua equipe por 1 X 0.

Depois de vencer a Copa da Áustria em 1935 e 1936, o Áustria Viena conquistou mais uma Copa da Europa Central em 1936. Para chegar ao seu segundo título continental em quatro anos, a equipe venceu o Sparta de Praga na final.

Sindelar era alto e magro, tinha 1,75 metro de altura e 76 quilos. Seu estilo de jogo era leve e elegante, sem usar o corpo. Por isso ganhou durante a Copa de 1934, o apelido de “Der Papierene”, que quer dizer “feito de papel”. É considerado o maior esportista austríaco do século XX. Era um centroavante goleador que também voltava para buscar jogo e puxar os marcadores para fora da área, tabelando com os meias.

O incrível é que detestava treinar, adorava fumar, beber, jogar baralho e se divertir com prostitutas nos bordéis. Apesar disso, foi um grande futebolista. Quando alguém lhe perguntava como conseguia ser um atleta com tantos vícios, costumava dizer: “Talvez por isso tudo. Só joga bem quem está feliz”.

Em 1926 Sindelar foi convocado pela primeira vez para jogar na seleção de seu país. No jogo de estréia contra a antiga Tchecoslováquia, tinha 23 anos e fez o gol da vitória por 2 X 1. Nos jogos seguintes, contra Suíça e Suécia, o atacante voltou a deixar a sua marca.

Depois de uma derrota para um selecionado do sul da Alemanha, o jogador ficou 14 jogos sem ser convocado pelo técnico Hugo Meisl, que por algum motivo não gostava da habilidade do atacante. Três anos depois, em 1931, voltou a ser chamado, principalmente devido à pressão dos torcedores e da imprensa, que exigiam a sua convocação.

Logo no primeiro jogo após o retorno de Sindelar, os austríacos conseguiram uma surpreendente goleada por 5 X 0 sobre a Escócia em uma partida que marcou a primeira derrota dos escoceses contra seleções de fora do Reino Unido. Foi o início de uma seqüência de vitórias sem precedentes e o nascimento do "Time Maravilha" austríaco.

Depois disso, a seleção austríaca conseguiu boas vitórias contra o Império Alemão, a Suíça, a França e a Bélgica. Mas o auge de Sindelar e dos seus colegas de selecionado aconteceu no dia 24 de abril de 1932 com a goleada de 8 X 2 sobre a Hungria. O craque de 29 anos marcou três gols e deu o passe para os outros cinco. No mesmo ano, a Áustria venceu a Copa Européia de Seleções (Coapa Doutor Gero), um torneio precursor da Eurocopa.

O "Time Maravilha" jogou 16 partidas entre 1930 e 1933, venceu 13, empatou duas e perdeu apenas para a Inglaterra, em Stamford Bridge, por 4 X 3, em dezembro de 1932. Aquela foi a primeira vez em que os ingleses levaram mais de um gol dentro da sua ilha.

Nesse jogo Sindelar marcou um gol maravilhoso, uma verdadeira obra de arte. “Ele pegou a bola no meio do campo e disparou com a sua incomparável elegância, driblando tudo o que aparecia pela frente, e concluiu para o fundo do gol." Foi assim que o árbitro belga John Langenus descreveu em sua súmula o gol de Matthias Sindelar.

Dias depois, em Viena, veio a desforra, 2 X 1. E entre as vitórias obtidas pela seleção da Áustria ocorreram algumas goleadas: 4 X 0 na Franca, 5 X 0 na Alemanha, 6X 1 na Bélgica, 8 X 2 na Hungria e 8 X 1 na Suíça.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Uma lenda chamada “Pantera”

O ano de 1947 marcou a chegada a Santana do Livramento, do goleiro Waldemar Silva, o “Pantera”, jogador que virou lenda no futebol local, defendendo a meta do E.C. 14 de Julho, o “Leão da Fronteira”. É até hoje considerado o melhor goleiro que pisou os gramados daquela cidade, em razão das defesas quase impossíveis que realizava.

"Pantera", que era natural de Erechim, defendia a bola chutada em sua meta segurando-a firmemente com apenas uma das mãos, direita ou esquerda, conforme o lado em que viesse. Sua figura impunha respeito aos adversários e a seus próprios companheiros, pelo modo destemido com que se movimentava, como se fosse mesmo uma pantera.

Quando abria seus compridos braços e pernas e esticava os dedos de suas grandes mãos, formava com eles um "x" que abarcava os quatro cantos da goleira.

“Pantera” jogou só três anos pelo 14 de Julho. Mas a sua passagem pelo rubro-negro mais velho do Brasil foi tão marcante, que muitas são as histórias contadas, verdadeiras ou não sobre esse legendário goleiro negro, que media quase dois metros de altura e era capaz de proezas tais como segurar uma cadeira com os dentes, e a erguer do chão com alguém sentado nela.

“Pantera”, não obstante a sua prodigiosa força física, tinha uma natureza tranqüila e uma leveza de gestos. Em 1949, numa campanha memorável da equipe quatorzeana, conquistou o título de campeão municipal, escrevendo seu nome na história do “Leão da Fronteira”, com letras douradas.

Ivo Gomes, ex-jogador do 14 de Julho nos anos 50, costumava dizer: “só existiram dois grandes goleiros no mundo, Iaschin e "Pantera”. O russo Iaschin, foi considerado pela FIFA o maior goleiro da história do futebol mundial.

É lógico que um goleiro com as qualidades de “Pantera” chamasse a atenção de vários clubes do centro do país, que quiseram contratá-lo, mas ele não queria sair do 14 de Julho. Contam, não se sabe se é verdade, ou não, que certa vez, pressentindo que iriam negociá-lo tomou uma bebedeira tão grande, que se manteve embriagado durante todo o tempo em que os dirigentes do clube interessado estiveram na cidade. E assim acabaram desistindo de comprar o seu "passe".

Sua prodigiosa carreira acabou cedo, devido o alcoolismo e mais tarde por distúrbios mentais, que o levaram a morar na cabina da Rádio Cultura, no Estádio João Martins, do 14 de Julho. Os últimos dias vividos pelo magnífico guarda-valas foram no Instituto Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre. (Pesquisa: Nilo Dias)

sábado, 2 de abril de 2011

Um bugre centenário

No dia de hoje está ingressando na seleta galeria dos clubes brasileiros centenários, o tradicional Guarani Futebol Clube, da cidade paulista de Campinas. Na realidade, a reunião que resultou na fundação do clube foi realizada no dia 1º de abril de 1911, na Praça Carlos Gomes. Mas para evitar gozações, principalmente de parte dos torcedores da A.A. Ponte Preta, o outro time da cidade, por causa do “dia da mentira (1º de abril), a data oficial de fundação passou a ser 2 de abril.

Os idealizadores do Guarani foram os estudantes do Gymnasio, Pompeo De Vito, Ernani Filippo Matallo e Vicente Matallo. Além deles, compareceram à reunião de fundação Antonio de Lucca, Romeo Antonio de Vito, Angelo Panattoni, José Trani, Luiz Bertoni, José Giardini, Miguel Grecco, Julio Palmieri e Alfredo Seiffert Jaboby Junior.

O nome do clube foi uma homenagem ao compositor campinense Carlos Gomes, autor da ópera “O Guarani”, baseada no romance homônimo de José de Alencar. Quem sugeriu o nome foi José Trani. As cores verde e branco foram sugeridas por Romeu de Vito, tendo em vista que todos estavam sentados sobre a grama da praça.

Depois de eleita uma diretoria provisória, tendo como presidente Vicente Matallo, estabeleceu-se que cada sócio contribuiria mensalmente com 500 réis. Em 9 de abril foi realizada uma segunda reunião, dessa vez em uma sala emprestada pela Sociedade Recreativa 7 de Setembro, para escolha da primeira Diretoria, com mandato de um ano.

Vicente Matallo foi confirmado como o primeiro presidente do Clube. Para os demais cargos foram escolhidos: Vice-Presidente: Adalberto Sarmento; 1º Secretário: Raphael Iório; 2º Secretário: Paulino Montandon; Tesoureiro: Pompeo de Vito; 1º Capitão: Luiz Bertoni; 2º Capitão: Francisco Oliveira; 1º Fiscal de Bola: Antonio de Lucca; 2º Fiscal de Bola: José Trani; e Procurador: Aurélio Rovere.

Os primeiros treinos e jogos do Guarani foram realizados num campo de terra batida cedido pela Prefeitura, na Vila Industrial. As traves foram feitas de bambu. No dia 23 de abril foi realizado o primeiro treino, quando se defrontaram dois times formados por associados.

O primeiro jogo da história do Guarani foi disputado no dia 18 de junho de 1911 e o adversário foi o Sport Club 15 de Novembro, que venceu por 3 X 0. A primeira vitória não demorou, veio no jogo seguinte frente, em 16 de julho de 1911, 2 X 0, contra o Corinthians Foot-Ball Club, de Campinas. O Guarani mandou a campo: Oliveira - Bertoni e Gonçalo – Marotta - Nick e Panattoni – Miguel – Trani – Fritz - Romeo e Grecco.

Em 1912 seis clubes se reuniram e decidiram fundar a Liga Operária de Foot-Ball e realizar o segundo campeonato municipal de futebol, da história de Campinas. O primeiro foi jogado em 1907 e vencido pela Associação Athletica Campineira. O Guarani sagrou-se vice-campeão, conquistando seu primeiro troféu - uma estatueta de bronze.

Como o clube começou a crescer e já contava com um número bastante grande de torcedores, foi preciso conseguir outro espaço para os jogos. Em 1913 foi alugado um campo de futebol junto ao S.C. Commercial, no bairro Guanabara, conhecido como “Ground do Guanabara”.

Em 1916 foi criada a Associação Campineira de Foot-Ball, que ficou com a responsabilidade de organizar um novo campeonato. O Guarani, que já era considerado o melhor time da cidade, apenas confirmou em campo sua superioridade, conquistando seu primeiro título de campeão citadino, e de maneira invicta.

Tempos depois, com o encerramento das atividades do Commercial, o Guarani conseguiu licença para usar gratuitamente o campo. A proprietária da área era a senhora Isolethe Augusta de Sousa Aranha, de família tradicional (filha do Barão de Itapura, Joaquim Policarpo Aranha e de dona Libânia de Sousa Aranha, Baronesa de Itapura), e tia de um dos pioneiros do clube, Egídio de Sousa Aranha.

Como a Prefeitura de Campinas não mostrou o menor interesse em conseguir uma área para que o Guarani construísse sua praça de esportes, Egidio de Souza Aranha teve papel decisivo ao convencer sua tia a vender o terreno de 20 mil metros quadrados, pelo preço irrisório de 900 réis o metro

Em seguida foi nomeada uma "Comissão Pró-Estádio", presidida por João Pereira Ribeiro. Várias promoções foram realizadas visando a arrecadação de fundos. Finalmente, em 15 de julho de 1923, foi inaugurado o chamado "Estádio do Guarany", na rua Barão Geraldo Resende.

Para o jogo inaugural foi convidado o Club Athletico Paulistano, na época o principal clube do futebol paulista, com Friedenreich e muito mais. O Guarani venceu por 1 X 0, gol de Zequinha, tendo jogado com: Pacheco - Joca e Tavares – Deputado - Juca e Joaquim – Miguel – Zequinha – Barbanera - Nerino e Pilla.

O Estádio da Rua Barão Geraldo de Resende passou por várias reformas e ampliações, servindo ao clube até 1953. Nele o Guarani recepcionou alguns dos maiores times do país, tendo ali mandado seus jogos pelos Campeonatos Paulistas de 1927; 1928; 1929; 1930; 1931; 1950; 1951 e 1952.

Em 1947 a Federação Paulista de Futebol implantou o profissionalismo no interior do Estado. O Guarani foi um dos primeiros clubes a aderir à iniciativa. Provém dessa época o acirramento da rivalidade com seu arqui-rival, a Ponte Preta, com quem faz o Derby Campineiro. Em 1947, o presidente da Federação Paulista de Futebol, Roberto Gomes Pedrosa, implantou a era profissional no esporte, criando os Campeonatos Paulista da primeira e segunda divisão.

Participou do Campeonato Profissional do Interior daquele ano e da 2ª Divisão de Profissionais de 1948, vencida pelo XV de Novembro de Piracicaba. Em 1949, porém, sagrou-se campeão da 2ª Divisão, ganhando o direito de disputar no grupo de elite do futebol paulista.

Mas isso trouxe um sério problema. O Estádio da Rua Barão Geraldo de Resende já não comportava o clube, e a FPF fez exigências que precisavam ser cumpridas. Então foi criada uma Comissão liderada por Antônio Carlos Bastos para estudar as alternativas possíveis. Descartadas as possibilidades de nova reforma ou ampliação do antigo estádio, o Guarani precisava partir para uma área maior, ainda que não tão próxima ao centro da cidade.

Foi quando uma empresa imobiliária propôs a troca da área do bairro Guanabara, por uma outra de 50.400 m2 na chamada “Baixada do Proença”, pagando ainda ao clube Cr$ 2 milhões em parcelas e encarregando-se da sondagem e a terraplenagem do terreno. E no local foi erguido o novo estádio do Guarani.

A denominação de “Brinco de Ouro” se deve ao jornalista João Caetano Monteiro Filho, do jornal “Correio Popular”. Ao ver a maquete do estádio, com a forma circular, ele logo pensou em um brinco. Como a cidade de Campinas era conhecida como "A Princesa D'Oeste", ele colocou em manchete: “Um Brinco de Ouro para a Princesa”. E epegou. A própria população passou a chamar o estádio de "Brinco de Ouro" e "Brinco da Princesa". Mas “Brinco de Ouro da Princesa” se tornou o nome oficial.

O estádio foi inaugurado em 1953, mesmo sem as cabeceiras, improvisando-se ali arquibancadas feitas de madeira. Na tarde de 31 de maio de 1953 adentravam ao gramado do "Brinco de Ouro" as equipes do Guarani e da S.E. Palmeiras, especialmente convidada para a inauguração. Num dia de muita chuva, o Guarani venceu por 3 X 1, cabendo a Nilo, meia-direita do Bugre, a marcação do primeiro gol, aos 44 minutos, cobrando falta no atual gol de entrada.

Completaram Dido e Augusto, no 2º tempo. Parte da cerimônia de inauguração acabou sendo adiada devido à chuva. Na segunda partida festiva, dia 4 de junho de 1953, o Guarani perdeu de 1 X 0 para o Fluminense F.C., do Rio de Janeiro. A iluminação foi inaugurada em 11 de janeiro de 1964, com um jogo amistoso em que o Guarani venceu ao Flamengo, do Rio de Janeiro por 2 X 1. O recorde de público chegou a 52.002 pagantes no jogo Guarani X Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro de 1982.

O maior feito da história do Guarani é ter conquistado o título de campeão brasileiro de 1978. O time chegou ainda a dois vice-campeonatos brasileiros, em 1986 (em uma final inesquecível contra o São Paulo, decidida após uma prorrogação e disputa de pênaltis) e o Modulo Amarelo de 1987 (contra o Sport), classificando-se em três oportunidades para a disputa da Taça Libertadores da América, principal competição sul-americana de futebol.

O clube já revelou jogadores de projeção mundial, como Careca, Amaral, Júlio César, Deco, Evair, Amoroso, Luisão, Mauro Silva, Neto, Edilson, Ricardo Rocha, Elano e João Paulo, além de ter tido em seu elenco jogadores nacionalmente destacados, como Zenon, Jorge Mendonça, Djalminha e Neneca.

Em 1954, cedeu o primeiro jogador para uma Seleção Brasileira de Futebol, Fifi, que participou do Campeonato Sul-Americano Juvenil. Em 1963, o Guarani teve pela primeira vez atletas convocados para uma Seleção principal: Tião Macalé, Oswaldo, Amauri e Hilton, que jogaram o Campeonato Sul-Americano daquele ano. (Pesquisa: Nilo Dias)

Campeão da Copa do Brasil, em 1978. (Foto: Blog "Planeta Guarani")