O próximo dia 1º de maio marca a passagem dos 100 anos de fundação do Esporte Clube Novo Hamburgo, uma das mais tradicionais agremiações esportivas do interior do Rio Grande do Sul, e que se orgulha de nunca ter fechado as portas do futebol.
Novo Hamburgo era 1º distrito de São Leopoldo desde a sua fundação em 1890, condição que persistiu até 1927. Mas já naquela época mostrava um intenso crescimento das atividades fabris, especialmente com a introdução dos curtumes de couro, depois com empresas artesanais e, posteriormente, com a indústria calçadista na cidade.
A partir da década de 1910, as cidades mais prósperas da região colonial rio-grandense começaram a criar também seus clubes de futebol, acompanhando a tendência iniciada na região sul e portuária do Estado, além da fronteira uruguaia e da capital.
Com a riqueza gerada pela indústria calçadista, Novo Hamburgo antes mesmo de sua emancipação política em 1927, já em termos de esportes, acompanhava as tendências ditadas pela não muito distante capital. Nessas regiões de influência alemã, existia uma grande tradição de criação de clubes de diversos tipos de organização. Cabe destacar as sociedades de tiro, de canto e música e de esportes.
Elas eram muito fortes do ponto de vista da participação e envolvimento e foram instituídas já na origem e formação das vilas e cidades, juntamente com as igrejas e escolas. O trinômio igreja, escola e clube marcou as comunidades, que se organizaram a partir da imigração alemã no Rio Grande o Sul.
Inicialmente, essas sociedades, especialmente em Novo Hamburgo, eram fechadas e procuravam manter e exercitar sua “germanidade”. Havia, também, um forte controle do ingresso de sócios, quase sempre limitados aos de descendência germânica, além do uso exclusivo da língua alemã nas dependências e atividades das sociedades.
Essas associações vinham se estruturando desde os primórdios da colonização no Estado, mas na região de Novo Hamburgo começaram a se erguer fortemente no final do século XIX. Assim, nessa cidade, surgiram a Sociedade Frohsin (1888), Sociedade Atiradores (1892), Sociedade Gymnastica (1894), Sociedade Gymnastica de Hamburgo Velho (1896) e a Sociedade de Atiradores de Hamburgo Velho (1896), Tiro de Guerra 251 (1916), Clube União Juvenil (1916), Sociedade de Canto Bruderbund (1917) e a Sociedade de Canto, Música e Teatro Palestrina (1919), apenas para marcar essa passagem de século.
Mas não foi a partir desses clubes tradicionais que surgiram as agremiações futebolísticas na cidade. O primeiro clube de futebol foi fundado no dia 1º de maio de 1911 quando os funcionários da Fábrica de Calçados Sul-Riograndense, de um dos empresários locais, Pedro Adams Filho, participavam de festejos comemorativos ao 1 de Maio.
Eles já haviam assistido uma demonstração do novo esporte, feita pelos alunos do Colégio Samuel Dietschi e gostado. Com a proximidade do dia 1º de maio e a festa tradicional na fábrica, os operários fizeram uma vaquinha para a compra de uma bola, para ser usada num jogo de confraternização inserido na programação do Dia do Trabalho. O operário Manoel Matos Lopes foi encarregado de viajar até Porto Alegre para compra da bola.
Nascia, assim, do sentimento de trabalhadores das nascentes empresas calçadistas, distantes dos tradicionais clubes da cidade, o Esporte Clube Novo Hamburgo. A reunião de fundação aconteceu nos Salões Diehl, onde funcionava a Sociedade Ginástica (Turnverein New Hamburg). Participaram dessa reunião e foram considerados fundadores, os seguintes desportistas:
Manoel Matos Lopes, José Scherer, Aluisio Hauschild, Alberto Adams, Manoel Outeiro, Luiz Schaefer, Frederico Arnaldo Fauth, João Ferreira, Balduino Feltes, Dario Coelho, Pedro Luiz da Silva, Felipe Heberle, Frederico Feltes, Alfredo Friedrich, Adão Steigleder, Reinaldo Backes, Leopoldo Steigleder, Arthur Steigleder, Ernesto von der Heyde, Oswaldo Machado, João Zuetsch, João Tamujo, Alberto Weick, Pedro Araújo, João Steigleder, Carlos Grin, Fernando Laporta, F. Djalmo Fauth, Adolfo J. Muller, Frederico Mayer, Antônio Cavasotto, Alfredo Diefenbach, João Magalhães e Alfredo Seger.
Também foi eleita a primeira Diretoria, que ficou assim constituída: Presidente, Manoel Matos Lopes; Vice-Presidente, Manoel Outeiro (também orador); 1º Secretário, Pedro Luiz da Silva; 2º Secretário, Alfredo Diefenbach; 1º Tesoureiro, Alberto Adams; 2º Tesoureiro, Ernesto von der Heyde; 1º Fiscal, Felipe Heberle; 2º Fiscal, Alfredo Friedrich; Capitão de Campo, Luiz Schaefer (Lulu) e Guarda-Esporte, Adão Steigleder.
Por pouco o clube não se chamou Adams Futebol Clube, já que uma corrente dos fundadores defendia a adoção desse nome em função da origem fabril de seus fundadores. Porém, saiu vitoriosa a idéia de desvincular o clube da empresa, em favor de se adotar o nome da localidade, que alguns anos depois se tornou município. A escolha das cores, azul anil e branca em riscas verticais, deu-se sem problemas. Os calções eram azuis e bem compridos, fechados com elástico abaixo do joelho e por cima da meia, pois era considerado ato vergonhoso andar com as pernas a mostra.
É verdade que existiu em Novo Hamburgo um clube de futebol amador chamado Adams F.C., fundado na década de 1940 e que reunia na Diretoria os sócios da firma Adams & Cia, nada tendo a ver com o E.C. Novo Hamburgo.
Na época, e principalmente nos núcleos de colonização germânica, era difícil escapar alguma coisa da influência teutônica. Em Porto Alegre, mesmo, quase todos os primeiros clubes esportivos tiveram seus estatutos e outros documentos redigidos em alemão. Com o próprio S.C. Rio Grande, o mais velho clube em atividade no futebol brasileiro, aconteceu isso.
Com o Novo Hamburgo foi diferente. Desde o início tudo foi escrito em português, porque seus fundadores tinham consciência que estavam em território brasileiro e não na Alemanha Setentrional, como queriam alguns.
A primeira sede se localizava na Avenida Pedro Adams Filho, no bairro Pátria Nova, onde hoje está instalada uma madeireira e foi cedida pelo senhor Guilherme Schmitt. Como faltava dinheiro para comprar as goleiras, a solução foi o uso de taquaras bem amarradas.
Os treinos eram diários, sempre após o expediente nas fábricas. Nos intervalos do serviço e logo após o almoço, eram comuns os bate-bolas no areal que existia no lado esquerdo da Praça 14 de Julho. Nos dias de chuva usavam a gare coberta da Viação Férrea, que também servia de depósito para o material esportivo. Quando de jogos era costume receber as equipes visitantes com banda de música e foguetórios
A primeira formação do Novo Hamburgo foi esta: João Magalhães – Lulu Schaefer e Djalmo Fauth – Pedro Luiz da Silva – Dario Coelho e Frederico Fauth – Armando Coelho – Alberto Adams – Israel Turco – Theodoro Kleinkauf e Jacó Cechin. Ninguém podia faltar aos treinos, senão teria de pagar uma multa de 200 réis. Todos os domingos o clube recebia a visita de um instrutor vindo de Porto Alegre, que ensinava as regras do jogo.
O primeiro jogo da história do Novo Hamburgo foi contra o Blitz F.C., de São Leopoldo, hoje extinto e terminou com a vitória dos leopoldenses. O escore se perdeu no tempo. O segundo jogo foi contra o E.C. 15 de Novembro, de Campo Bom, em disputa de 11 medalhas de ouro. Ao final verificou-se empate, porém não se sabe por quanto. Para desempatar foi realizada uma terceira partida, em Campo Bom, com vitória do 15, também por placar desconhecido. Foi a primeira excursão do Novo Hamburgo, e o curioso é que os jogadores viajaram montados em cavalos. (Pesquisa: Nilo Dias)
O E.C. Novo Hamburgo foi fundado neste prédio, onde funcionava a Sociedade Gymnástica Novo Hamburgo (Turnverein New Hamburg) (Foto: Acervo da Sociedade Ginástica Novo Hamburgo)
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