A privatização da Companhia Vale do Rio Doce em 1997 deixou dois times órfãos: o Valeriodoce Esporte Clube, de Itabira (MG) e a Desportiva Ferroviária, de Vitória (ES). Quando a empresa foi vendida pelo governo, ela parou de contribuir para o clube, mas entregou-lhe de presente o estádio Israel Pinheiro, no Bairro da Penha, em Itabira, com capacidade para 8 mil torcedores, onde manda seus jogos.
Com a perda de subsídios, os dois lubes passaram a enfrentar dificuldades financeiras. O time mineiro foi rebaixado para a segundona estadual em 2000 e até hoje não conseguiu voltar a primeira divisão.
O Valeriodoce foi fundado em 22 de novembro de 1942, por funcionários da empresa estatal Companhia Vale do Rio Doce, na cidade de Itabira, onde a empresa mineradora foi criada. O nome vem da junção da patrocinadora: VALE (do) RIO DOCE. As cores escolhidas foram camisa vermelha, calção branco e meias brancas.
A relação do time, torcedores e empresa sempre sofreu altos e baixos. Pela importância e tamanho da CVRD, cobrou-se durante muito tempo um apoio financeiro maior para o time, que chegou a disputar as Séries B, em 1988 e 1989 e a C em 1994 e 1995 do Campeonato Brasileiro de Futebol.
Os títulos mais importantes conquistados pelo clube foram estes: Campeão Mineiro da Segunda Divisão (1965); Vice-Campeão Mineiro da Segunda Divisão (2003); Torneio Início do Campeonato Mineiro (1962 e 1959); Campeão Mineiro do Interior (1971); Torneio Incentivo (1980); Campeão Mineiro de Juniores (1986 e 1989). O Valeriodoce Esporte Clube foi o primeiro clube do interior, na era do “Mineirão”, a ter um artilheiro do estadual, Luiz Alberto com 12 gols, em 1978.
Fernando Pieruccetti, o “Mangabeira”, foi o chargista que criou os principais mascotes mineiros. Ele escolheu para o Valeriodoce a ave “Ferreiro” ou “Araponga”. Mais tarde o clube resolveu adotar o “Dragão” como símbolo. Foi uma homenagem a locomotiva "Maria Fumaça", que era chamada de "Dragão", devido à fumaça que soltava.
Um dos grandes feitos da história do Valeriodoce foi uma vitória frente o Botafogo, do Rio de Janeiro. Foi no domingo, 17 de fevereiro de 1957, que aconteceu o amistoso entre os dois times. O estádio lotou completamente, mesmo com o ingresso custando Cr$ 80.00. O clube carioca jogou completo, colocando em campo seus grandes craques como Didi, Nilton Santos, Bauer, Garrincha, Amauri, Canête, Orlando e outros.
O placar foi 2 X 1 para o VEC, construído por gols históricos de Nino e Vitorino. Rossi descontou para o Botafogo. Alguns acusaram a forte chuva que caiu durante todo o jogo como responsável pelo resultado inesperado. Outros consagraram a grande vontade e raça do time mineiro, que nesse dia fez uma grande apresentação.
Durante o governo do prefeito Olímpio Pires Guerra (1993-1996), a empresa doou à Prefeitura o Valeriodoce de presente, sem as condições para manutenção do clube. Ela chegou a planejar, estudar e criar o Valério S.A., mas tudo ficou apenas no papel.
O jornalista José Sana, diretor da Revista “De Fato”, de Itabira, fez um dramático apelo ao poder público e população de Itabira, para que ajudassem o Valeriodoce a se manter vivo. Eis alguns trechos da matéria:
“Quando o clube pertencia a mineradora, esta é que indicava seus presidentes. A torcida costumava vaiar os jogadores e os chamava de “come-quieto”, porque recebiam da empresa salários de supervisor. Quando o Valério ganhou a independência, cresceu o número de torcedores.
A Prefeitura é a dona das instalações do Centro Esportivo Israel Pinheiro. Também a municipalidade tem o dever de zelar pelo nome da instituição. Prefeitura e Vale chegaram a subvencionar jogos do clube durante algum tempo, até que veio a proibição do poder público manter a ajuda.
Sabidamente, todo o dinheiro que a Prefeitura depositar na conta do Valeriodoce Esporte Clube será considerado ilegal. E mesmo se fosse permitido, os valores seriam abocanhados pela Justiça. Muita gente contesta essa decisão, dizendo que não são apenas as dívidas que o clube acumulou através dos anos, que impede seu crescimento: falta vontade política do prefeito”.
Já o outro “órfão” foi fundado em 17 de junho de 1963, como Associação Desportiva Ferroviária Vale do Rio Doce, resultado da fusão de Vale do Rio Doce, Ferroviário, Cauê, Guarany, Valeriodoce e Cruzeiro, todos eles times formados por ferroviários da Companhia Vale do Rio Doce.
Como os funcionários ligados aos cinco clubes seguidamente solicitavam ajuda financeira a direção da empresa, esta deu a idéia de que todos se fundissem numa única agremiação. E para que isso fosse possível, a Companhia garantiu a construção de um estádio para o novo clube. Foi assim que surgiu o “Estádio Engenheiro Araripe” em 1966, localizado em Jardim América, um bairro de Cariacica, então com capacidade para 36 mil torcedores. Alencar de Araripe foi engenheiro da Vale do Rio Doce e morreu antes da construção do estádio.
O resultado não poderia ser outro. Com o apoio de uma grande empresa, como a Vale do Rio Doce, a Desportiva tornou-se o “bicho-papão” do futebol capixaba durante muitos anos. Além do patrimônio doado, a empresa também garantia as despesas de manutenção do estádio. A arrecadação do clube contava com as generosas contribuições sociais de milhares de ferroviários, descontadas em folha.
Quem sentiu o duro golpe de ter de enfrentar um rival poderoso financeiramente, foi o Rio Branco, o antigo “papa-títulos”. O clássico Desportiva X Rio Branco é chamado de “Derby Capixaba”. O outro grande rival é o Vitória. Os três formam o “Trio de Ferro Capixaba”, das equipes mais vencedoras do Estado.
A Ferroviária passou a empilhar títulos de campeão estadual, durante quatro décadas no Espírito Santo. Em contrapartida, o rival Rio Branco perdia espaço a cada ano. A Desportiva possui a segunda maior torcida entre os clubes capixabas. É conhecida como “Grená”, “Locomotiva” e “Tiva”. O mascote do clube é o “Maquinista”.
Um feito histórico na vida da Desportiva foi a série de 51 jogos invicto, a maior do futebol brasileiro até então, construida nos anos de 1967 e 1968. O recorde foi batido em 1977 pelo Botafogo, do Rio de Janeiro. Até hoje a Desportiva possui a terceira maior série invicta do futebol nacional.
O crescimento do clube o credenciou a disputar o Campeonato Brasileiro de 1973. Na tentativa de chamar para seus jogos um público maior, foi contratado o atacante “Fio Maravilha”, já em fim de carreira. O melhor resultado da Ferroviária no “Brasileirão” foi um 15º lugar em 1980, num campeonato de 80 times. Nesse certame o seu jogador Botelho, foi eleito o melhor atacante pela esquerda, ganhando uma “Bola de Ouro” da Revista “Placar”, até hoje fato único no futebol capixaba.
A Desporiva Ferroviária por duas vezes esteve bem perto de voltar à elite do futebol brasileiro: em 1994, foi eliminada nas semifinais pelo Goiás. E em 1998, chegou ao quadrangular final, mas quem subiu foram Gama (DF) e Botafogo, de Ribeirão Preto (SP).
A história vitoriosa da Desportiva começou a mudar quando a Vale do Rio Doce foi privatizada em 1996. Os novos donos retiraram todo o apoio ao time e ainda cobravam pelo uso do estádio. Começou então uma uma longa e árdua disputa envolvendo às lideranças locais, só terminando quando a empresa doou em caráter definitivo o estádio para o clube.
O “Engenheiro Araripe” é o principal estádio de futebol do Estado do Espirito Santo, com a sua capacidade atual estimada em 20 mil pessoas. O estádio foi inaugurado em 16 de janeiro de 1966, no jogo em que a então Desportiva Ferroviária perdeu para o América (RJ), por 3 X 0. O primeiro gol no estádio foi marcado por Roberto Almeida, da Desportiva, contra. A capacidade na época era para cerca de 36 mil pessoas. O recorde de público, 27.600 pagantes foi no jogo entre Flamengo 0 x 1 Vitória, em 1995.
Sem o auxilio financeiro de antes, a entidade enfrentou dificuldades de toda a ordem, dentro e fora de campo. Além de ver o título estadual ir para outros times, foi rebaixada para a terceira divisão do Campeonato Brasileiro.
A Desportiva sempre revelou bons jogadores nas suas divisões de base. As duas principais revelações já vestiram a camisa da Seleção Brasileira: o meia Geovani e o ponta-esquerda Sávio. Ambos começaram nas escolinhas do clube. Geovani nasceu em Cariacica, bem perto da sede do Desportiva e foi lançado aos 16 anos no time profissional. É o maior ídolo da história do clube. Sávio deixou a Desportiva mais cedo, aos 14 anos, indo para o Flamengo, onde projetou-se a ponto de chegar à Seleção Brasileira.
Em maio de 1999 a Desportiva Ferroviária passou a ser um clube-empresa, atendendo exigências da Lei Pelé, vendendo 51% de suas ações para o grupo Frannel, de derivados de petróleo, e passando a chamar-se Desportiva Capixaba S.A. Foi o primeiro clube empresa do Espirito Santo. A promessa de colocar o clube na elite do futebol brasileiro não foi cumprida. Não demorou para que a Frannel saisse e o grupo Villa-Forte assumisse.
Em 2000 a Desportiva ganhou o Estadual, mas sofreu dois rebaixamentos na Série B do Brasileiro. Em 2007 voltou a série principal do “Capixabão”, ao vencer a “Segundona”. Em 2008 venceu a Copa Espirito Santo, em cima do rival Rio Branco, quando revelou o atacante Kieza, que teve passagens por Fluminense (RJ) e Cruzeiro (MG). Também contou com o reforço de Sávio, revelado pelo clube e ex-jogador do Flamengo e Real Madrid (Espanha). Em 2009 não passou da metade da tabela do “Capixabão”. Em 2010 foi rebaixado para a “Segundona”.
No dia 8 de abril deste ano, a 2ª vara Cível de Cariacica decidiu que o clube voltaria a se chamar Desportiva Ferroviária, em razão do Grupo Villa-Forte não ter pago as ações adquiridas. Com isso a Desportiva Capixaba ficou com apenas 10% das ações do clube, e a Ferroviária com 90%.
A Desportiva, que deveria disputar a Série B estadual deste ano se licenciou. Vai voltar as atividades em agosto, quando confirmou presença na Copa Espirito Santo.
Os principais títulos conquistados pela Desportiva Ferroviária foram: Campeonato Capixaba, (1964, 1965, 1967, 1972, 1974, 1977, 1979, 1980, 1981, 1984, 1986, 1989, 1992, 1994, 1996 e 2000); Taça Cidade de Vitória, (1966 e 1968); Torneio Início do Espírito Santo, (1967); Campeonato Capixaba da 2ª Divisão, (2007); Copa Espírito Santo, (2008); Taça Rio de Futebol Juvenil, (1995); Campeonato Capixaba de Juniores, (1995, 1997, 2001 e 2002); Copa Internacional Águia Branca de Futebol Juvenil, (2000); Copa Lázio, (2000); Copa Jornal Correio Popular Infantil, (2001); Campeonato Capixaba Juvenil, (2002) e Campeonato Capixaba Sub-15, (2010). (Pesquisa: Nilo Dias)
Carataz convidando para o jogo Valeriodoce X Botafogo, do Rio de Janeiro, em 1957.
Nenhum comentário:
Postar um comentário