Tem muita gente que costuma dizer que futebol é para macho. Será? Uma pesquisa realizada pelo professor de Cultura, Mídia e Esportes, Ellis Cashmore e pelo especialista em Sociologia, Jamie Cleland, revela que um de cada quatro jogadores profissionais de futebol, treinadores ou árbitros é gay. Isso, dentro de um espaço que já foi amplamente machista, é algo espantoso.
A pesquisa entrevistou 3 mil profissionais. E mais de um em cada quatro pesquisados (27%) revelou conhecer pessoalmente jogadores de futebol que são gays, mas que nenhum assume a sua homossexualidade. E 93% dos entrevistados acham que a homofobia não pode fazer parte do mundo do futebol.
Outro dado interessante revelado pelos pesquisadores da Universidade de Staffordshire (Inglaterra) é que a maioria dos profissionais homossexuais não tem medo dos fãs e, sim, de perder o patrocínio ou o emprego, caso assumam publicamente que são gays.
A imprensa tem sido muito cautelosa no trato desse tema, que realmente é polêmico. Mesmo assim alguns fatos já são de conhecimento público e ganharam espaços em jornais e revistas. Na Copa de 1982, a imprensa italiana, mesmo com seu país ganhando o título, insinuou que alguns jogadores eram homossexuais e promoviam verdadeiras orgias na concentração.
A revista esportiva alemã “Rund” publicou matéria de capa, onde dois jogadores que mantém relações sexuais "debaixo dos panos" foram entrevistados. Os dois disseram já ter feito quase tudo para esconder sua sexualidade de clubes, empresários e companheiros de time, mas que, ainda assim, viviam sob a constante ameaça de terem seus segredos descobertos.
Um dos jogadores, que é casado, disse que sua esposa não faz nem idéia de que ele seja gay e que já esteve envolvido em uma relação estável com um amigo de infância. O outro jogador entrevistado afirmou estar sempre acompanhado por uma mesma amiga em eventos e festas do clube, dando assim a impressão de ser heterossexual.
O futebol profissional alemão não conheceu nenhum jogador gay, até hoje, que assumisse publicamente essa condição. Pelo menos não oficialmente. A explicação não é a falta de jogadores homossexuais, mas o fato de eles manterem segredo sobre sua sexualidade, sob o risco de acabarem com suas carreiras caso "saiam do armário".
Para o editor chefe da revista, Rainer Schäfer, o futebol ainda é inacreditavelmente atrasado quando o assunto é homossexualidade. E gays no campo ainda são um tabu enorme. Ele passou dois anos pesquisando essa questão e acabou ganhando a confiança de dois jogadores homossexuais que defendem times da Primeira Divisão da “Bundesliga”. Ambos concordaram em contar suas histórias, desde que as identidades fossem mantidas em sigilo.
Mas não pensem que é só na Itália e na Alemanha que existem jogadores de futebol homossexuais. No Brasil, também. O saudoso jornalista e técnico, João Saldanha disse em entrevista ao jornalista pernambucano Geneton Moraes Neto, que tivemos vários jogadores homossexuais da melhor qualidade. Craques que dormiam com homens.
Vanderlei Luxemburgo, um dos treinadores mais vencedores da história do futebol brasileiro, disse que em seus 30 anos de carreira comandou alguns jogadores homossexuais declarados. Em entrevista ao programa “Esporte Fantástico”, da TV Record, garantiu que nunca viu isso como problema. Ele também confirmou que nunca recebeu nenhuma cantada de jogadores.
O hoje treinador do Flamengo já se envolveu em uma polêmica, em 2006, quando treinava o Santos. Em uma entrevista coletiva ele insinuou que o árbitro Rodrigo Cintra era homossexual e se sentiu "paquerado" pelo juiz. Agora, em 2011, Luxemburgo foi condenado a pagar uma indenização de R$ 50 mil ao árbitro, por conta desta declaração.
Em uma entrevista a revista “Isto É”, o ex-jogador e comentarista esportivo, Neto, contou que era comum jogar com homossexuais no seu tempo, nos anos 80 e 90. Questionado se um jogador gay teria condições de “sair do armário” no Brasil, Neto disse que sim. E revelou que muitos jogadores que atuaram com ele eram homossexuais e todo mundo os respeitava em campo.
As declarações de Neto foram divulgadas no mesmo dia em que a bancada evangélica barrou a votação de uma lei contra a homofobia no Congresso, e durante a repercussão da aprovação da união de pessoas do mesmo sexo pelo Supremo Tribunal Federal.
Outro episódio conhecido diz respeito as revelações do ex jogador “Dadá Maravilha”. Quando perguntado sobre a existência de homossexuais no futebol, respondeu que isso não era novidade. “Existem de montão”. E citou um exemplo: em 1970, segundo ele, tinha um corpo maravilhoso. E havia um zagueiro que era louco pelas suas pernas. Um dia, o cara lhe passou a mão e “Dadá” deu uma pernada nele e disse: “Sai pra lá, rapaz!”.
Para evitar esse tipo de preconceito, foi aprovado um projeto de lei que torna o tema, sexo e orientação sexual um crime resultante de discriminação. Trata-se de uma extensão da Lei 7716/89. Os termos “viado” e “bicha”, comuns no futebol e ditos no calor da disputa, passam a ser considerados discriminatórios e poderão levar quem os disser a ter de se explicar na Justiça.
Quem não lembra do caso envolvendo Ronaldo Fenômeno e um travesti, em um motel no Rio de Janeiro, acontecido em 2008? Na época o craque era jogador do Milan, da Itália. Após ter ido a uma boate no Rio de Janeiro, Ronaldo terminou a noitada na 16ª Delegacia de Polícia (Barra da Tijuca), depois de uma confusão com o travesti André Luis Ribeiro Albertino, conhecido como Andréia Albertine.
O travesti acusou Ronaldo de envolvimento com drogas e publicou um vídeo no “youtube” para comprovar a identidade do jogador. Em um comunicado oficial, divulgado por sua assessoria de imprensa, o craque defendeu-se da acusação dos travestis de que teria usado drogas. O Fenômeno afirmou ainda que estava sendo vítima de extorsão. O travesti André Albertino queria R$ 50 mil.
Segundo Ronaldo, o travesti foi contratado por engano. Ele pensava que se tratava de uma garota de programa e o levou para um motel na Barra da Tijuca. Lá, teria pedido mais duas mulheres para o programa. Quando descobriu que eram travestis, e que um deles teria ido buscar drogas na favela "Cidade de Deus", o atacante teria decidido não mais fazer o programa e deu R$ 1.000 para dois deles.
O outro, que seria André Albertino, não quis e pediu R$ 50 mil para não contar a história para a imprensa. Ronaldo teria ficado revoltado com a tentativa de extorsão e, após um escândalo do travesti na porta do motel, a polícia foi chamada.
André Albertini morreu devido a complicações do HIV, em 2009. De acordo com uma funcionária do Hospital de Clinicas Dr. Radamés Nardini, onde o travesti foi atendido, ele era HIV positivo e morreu por decorrência da doença.
Outro caso que ganhou às manchetes dos jornais, envolveu o ex-jogador do São Paulo, Richarlyson, hoje no Atlético Mineiro. Tudo começou em um programa de esportes, exibido na hora do almoço e apresentado pelo jornalista Milton Neves.
Os integrantes da mesa redonda discutiam sobre o boato de que algum jogador de um clube grande paulistano assumiria a homossexualidade no domingo à noite para todo o Brasil. Perguntado se esse jogador era do Palmeiras, José Cyrillo Júnior, dirigente do “Verdão” respondeu: “O Rycharlison quase assinou com o Palmeiras, mas optou por jogar no São Paulo.”
Logo depois Richarlyson entrou com uma queixa-crime contra o dirigente palmeirense pedindo indenização de R$ 300 mil. Porém, com uma decisão considerada homofóbica por grande parte da população, o juiz Maximiano Junqueira Filho alegou o caso em favor de José Cyrillo.
Mas tudo terminou com um final feliz. O dirigente do Palmeiras pediu desculpas públicas a Richarlyson, o jogador desculpou e foi ao programa televisivo “Fantástico” para afirmar que não é homossexual. (Pesquisa: Nilo Dias)
André Albertino, pivô de escândalo envolvendo o ex-craque Ronaldo Fenômeno.
o que ouvi de um treinador de conhecido time mineiro quando fazia pesquisa sobre o tema, em 2004:
ResponderExcluir“homossexuais no futebol até que são poucos, quem é assumido não sobe na carreira, mas homossexualidade, sexo entre homens, tem demais. Muito mais do que as pessoas imaginam! Se acha exagero é só verificar o seguinte – jogador que gosta de mulher, não aquele que ‘gasta’ mulher, é diferente, não fica desfilando cada semana com uma diferente, saindo em revista com uma mais bonita que a outra. É só ver o Zico, por exemplo. Namorou, casou e tá lá sossegado com a esposa dele, anônima, desconhecida. Esses são exceções, da mesma forma que gays propriamente são muito poucos. As orgias, por exemplo, acontecem em dois tempos, igual ao jogo: no primeiro tempo é com prostitutas, que na verdade, servem também como ‘divulgadoras’ da macheza deles no mundo lá fora, pois no mercado sexual sobe o cachê dizer que foi chamada pra esse tipo de ‘evento’, depois que elas são pagas e são ‘despachadas’, rola só entre eles. Sexo mesmo. Óbvio que não são todos – tem os evangélicos que vão dormir, os que gostam realmente do sexo feminino, mas pra grande maioria a mulher é como a cerveja ou a cocaína, um produto a ser consumido, sequer sabem os nomes delas. Na verdade, tem muito cara ali que desenvolve verdadeira relação de ‘namoro’ com colega – sente falta, ciúme, amor mesmo. Por que isso? O próprio processo de preparação desses atletas incentiva isso: os meninos começam a participar desse mundo exclusivamente masculino exatamente na idade em que começam a descobrir a sexualidade, aí já viu, com 13, 14 anos, as primeiras experiências sexuais vão acontecer com quem está mais perto, ‘na cama ao lado do alojamento’. Esses rapazes praticamente não interagem com garotas. São tirados do convívio com o sexo oposto. Até os termos com que o universo do futebol se refere às mulheres mostra essa cultura de desprezo por elas: periguete (que vem de perigo...) maria-chuteira... Só viajam, só convivem entre eles. Isso se torna habitual, mas, como eu disse, a grande maioria das pessoas não sabe disso, ou não quer saber; em resumo, jogadores exclusivamente heterossexuais são tão raros quanto os homossexuais, tenho certeza disso”.