O ex-técnico da Seleção Brasileira, Carlos Alberto Parreira acha que um jogador assumido causaria um impacto muito forte, como aconteceu nas forças armadas norte-americanas. O ambiente do futebol reagiria, porque é muito conservador. O treinador garante que em mais de 35 anos de carreira não conheceu nenhum homossexual nas equipes que dirigiu.
Para o presidente do Grupo Estruturação de Brasília, que há 12 anos defende os direitos de GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros), Welton Trindade, é inegável que também no futebol profissional existem gays, e não são poucos. Eles só não se expõem por puro preconceito, deles mesmos e do ambiente que os cerca. Para Welton o ambiente futebolístico ainda é agressivo e extremamente machista. Por isso resta aos gays procurarem por outro esporte. O próprio Welton pratica esgrima.
O atleta de remo, Arnaldo Luis Adenet Costa também afirma que os gays não se sentem atraídos pelo futebol como esporte. Ele salienta que o ambiente homofóbico do futebol sempre o afastou. Conta que traz uma imagem, desde criança, do futebol como um ambiente extremamente agressivo. Por isso, acha que nunca se interessou. Na sua opinião o vôlei é um esporte mais elegante, e de preferência do público gay.
Enquanto os praticantes gays são poucos, as lésbicas têm uma identificação maior com o futebol. O núcleo feminino do "Grupo Estruturação", de Brasília, por exemplo, lançou em 2005 o primeiro time oficial de futebol de campo de lésbicas, mulheres bissexuais e simpatizantes do país. Já em São Paulo, o grupo "GLS Ella & Ellas" organiza a "CopaDellas", um campeonato de futebol que reúne apenas times formados por mulheres, em sua maioria homossexuais.
Se no futebol e no Brasil os passos são lentos, a mudança de mentalidades é mais rápida em outras modalidades e países. Esera Tuaolo, David Kopay e Roy Simms, todos jogadores de futebol americano, assumiram publicamente a homossexualidade, depois da aposentadoria.
A tenista Martina Navratilova foi a primeira atleta famosa a declarar-se lésbica no começo da década de 1980. Em atividade, Amelie Mauresmo tomou a mesma iniciativa. Mais recentemente, Ian Roberts, jogador australiano de rugby assumiu a homossexualidade. E disse não saber como demorou tanto tempo e gastou tanta energia se escondendo.
Tentando trazer essa discussão também para o futebol, o jogador francês Vikash Dhorasso, meio-campista da seleção francesa e do Paris Saint-German, decidiu abraçar a causa em defesa da homossexualidade, dando o seu apoio ao time "Paris Foot Gay" (PFG), primeiro time formado apenas por gays na França. Dhorassoo é heterossexual e tem dois filhos, mas, como é filho de imigrantes da Mauritânia, se solidarizou com esse outro grupo discriminado.
Na Inglaterra, clubes como o "Stonewall FC" ou o "Brighton Bandits", totalmente compostos por homossexuais, disputam ligas amadoras e levantam a bandeira. Já no México existe uma Liga de Futebol Gay com cinco equipes de nomes fortes: “Los Fuckers”, “El Clan”, “Tu Mamá”, “Fashion Team” e “Fuerza G”. Um dos cuidados que os jogadores tomam, é que os árbitros dos jogos também sejam gays, para que exista uma melhor compreensão entre eles.
No ambiente profissional mesmo, só um jogador teve coragem de assumir em toda a história do futebol mundial a sua homossexualidade. O inglês Justin Fashanu, que teve seu auge no Nottingham Forest, assumiu publicamente em 1990, e a tragédia que se sucedeu a esta revelação deixou marcas profundas no esporte. Fashanu, o primeiro britânico negro a ser transferido por mais de um milhão de libras, se enforcou em 1998 numa garagem, depois de oito anos de perseguição.
Os jornais tablóides são o principal motor da pressão homofóbica na Inglaterra. Nos últimos tempos, por exemplo, publicaram insinuações sobre Joe Cole e Sol Campbell, ambos da seleção local. As publicações foram processadas pelos artigos. Anos atrás, quem sofreu foi Graeme Le Saux, ouvindo coros das torcidas rivais e provocações dos adversários e reportagens caluniosas.
Quem escapou dessa pressão foi o dirigente Elton John. O milionário cantor pop investiu parte da fortuna no seu time do coração, o Watford, do subúrbio londrino que está sempre oscilando entre a primeira e a segunda divisão local. Mesmo agora, quando já está afastado do clube, Elton John faz concertos no estádio para angariar dinheiro para o clube e é idolatrado pelos torcedores.
Enquanto manifestações antigays, como as dos técnicos Daniel Passarella e Vanderlei Luxemburgo, são toleradas, alguns jogadores exploram o filão, com propagandas sexys ou ensaios em revistas do público gay.
Se sair do armário é algo ainda muito complicado, explorar a imagem em propaganda de tendências homoeróticas é mais fácil. Vários jogadores já entraram nesse nicho comercial. O inglês David Beckham, e o sueco Freddie Ljungberg, não se importam em ser ícones do público gay.
Aqui no Brasil, os jogadores Vampeta e Dinei, além do goleiro Roger, já posaram nus para a revista “G”, voltada para o público gay, e nem por isso são taxados como tal. Roger enfrentou críticas internas no São Paulo pela iniciativa, mas conseguiu continuar com a carreira. Os estereótipos, porém, continuam, fazendo com que gays e lésbicas, em sua maioria, ainda se tranquem no vestiário.
Casos não faltam também em outros países da América do Sul. Quando dirigia a seleção argentina, Daniel Passarella disse que não toleraria gays no time e até mandou os jogadores cortarem o cabelo. Maradona e Caniggia comemoravam gols do Boca Juniors, com um beijo na boca.
Uma novela argentina exibiu cena de sexo gay entre jogadores de futebol. "Botineras" foi a história de dois jogadores de futebol: “El Flaco” e “Lalo”, que viveram um romance, com direito a cena de sexo gay entre os personagens, com muitas carícias, beijos e sensualidade.
A novela manteve sempre o público na expectativa de saber como os dois conseguiriam manter o romance escondido dos outros jogadores, dos dirigentes do time, da torcida, da esposa de “El Flaco” e da namorada de “Lalo”. (Pesquisa: Nilo Dias)
Cena de beijo gay, na novela argentina "Botineras".
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