O rádio esportivo brasileiro perdeu ontem (27), um de seus nomes mais importantes. Luiz Pineda Mendes, gaúcho de Palmeira das Missões, nascido a 9 de junho de 1924, faleceu aos 87 anos, devido a complicações decorrentes de uma leucemia linfocítica crônica. Desde o dia 17 de outubro estava internado no Hospital São Lucas, em Copacabana, na Zona Sul do Rio. O radialista sofria de diabetes e tinha parte de uma perna amputada por conta do problema.
Deixou a mulher, a atriz, radialista e ex-deputada estadual Daisy Lúcidi, que conheceu na Rádio Globo e com quem estava casado há 60 anos, um filho netos e bisnetos. O velório aconteceu no salão nobre de General Severiano e o enterro no cemitério São João Batista, hoje, às 10h.
Luiz Mendes começou a vitoriosa carreira em 1941, quando ainda era menino, no serviço de alto-falante da cidade de Ijuí, no Rio Grande do Sul. Mas foi em Porto Alegre, na Rádio Farroupilha, que ele se tornou locutor. No fim de novembro de 1944, esteve no Rio de Janeiro para fazer a transmissão de um jogo do campeonato brasileiro de seleções, pela Rádio Farroupilha, e ficou sabendo que a Rádio Globo seria inaugurada no dia 2 de dezembro.
Com apenas 19 anos de idade, foi até lá e procurou o Rubens Amaral, o locutor-chefe. Assim que mostrou a carteirinha da Farroupilha, uma das emissoras mais fortes do país na época, ele pediu para que Mendes retornasse no dia seguinte. “Não para fazer testes, se você é locutor da Rádio Farroupilha, será locutor da Rádio Globo”. E assim, quase no grito, foi um dos fundadores da emissora. E até ontem era um dos dois últimos sobreviventes da inauguração. Agora, só resta Benedito Silva, que era o Tesoureiro e hoje está com 92 anos.
Quando morava no Rio Grande do Sul, Mendes era um apaixonado torcedor do Grêmio. Ao mudar-se para o Rio de Janeiro, transferiu sua paixão para o Botafogo carioca.
Pela Rádio Globo trabalhou em 16 Copas do Mundo, tendo inclusive narrado a final do Mundial de 1950, o famoso "Maracanazzo", quando a Seleção Brasileira perdeu o título para o Uruguai, em pleno Maracanã, por 2 X 1. E foi o único brasileiro a transmitir a final da Copa de 1954, na Suíça, vencida pela Alemanha.
Anos depois, em uma entrevista para a televisão, confessou que enquanto narrava o jogo decisivo da Copa do Mundo de 1950, teve um baque emocional bastante forte logo após os uruguaios fazerem 2 X 1. Ele era um dos que consideravam ser quase impossível o Brasil perder a Copa. Mas, apesar de um tanto atordoado, seguiu narrando o jogo normalmente até o fim.
Em 1995, integrou a equipe de esportes da Super Rádio Tupi, retornando à Rádio Globo em 1999. Era conhecido como “O comentarista da palavra fácil” e foi um dos idealizadores do debate esportivo "Mesa Redonda" na televisão brasileira, com a criação da “Grande Resenha Facit”, na década de 1950, na TV Rio.
Também trabalhou na Rádio Nacional, Rádio Continental, TV Tupi e TV Educativa. Luiz Mendes narrou ou comentou mais de mil competições internacionais e pelo menos, 10 mil disputas nacionais. E encontrou tempo para escrever quatro livros sobre futebol: "As Táticas do Futebol Brasileiro - Da Pelada à Pelé" (1963), "As Táticas do Futebol (Antigas e Atuais)" (1979), "Futebol, Regras e Táticas" (1979) e "Sete Mil Horas de Futebol" (1999). Deixou um vasto e rico arquivo, agora aos cuidados da viúva Daisy Lucidi.
Luiz Mendes fez parte de uma geração de inesquecíveis nomes da radiofonia esportiva, como Galiano Neto, Oduvaldo Cozzi, Ari Barroso, Valdir Amaral, Sérgio Paiva, João Saldanha, Clóvis Filho, Jorge Curi, Doalcei Camargo e Orlando Batista.
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral ao lamentar a morte do radialista, “um profundo conhecedor do futebol”, disse que Mendes era um gaúcho com espírito de carioca, que mesmo não tendo perdido o sotaque bonito do sul, tinha uma grande identificação com o Rio. Já o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes lembrou que ainda era muito “moleque”, quando conheceu Luiz Mendes na cabine da Rádio Globo e depois os dois construíram uma sólida amizade. (Pesquisa: Nilo Dias)
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