Agnelo Correia dos Santos, o Nelinho, certamente foi um dos melhores zagueiros surgidos no futebol baiano em todos os tempos. Sergipano de Estância, onde nasceu em 1934, começou a carreira no tradicional Botafogo Sport Club, de Salvador. No “diabo rubro” baiano formou uma linha média famosa, nos anos 1950, atuando ao lado de Flávio, volante e, mais tarde, campeão da Taça Brasil de 59, pelo Bahia, e Júlio, lateral-esquerdo.
Ainda nos anos 50 foi vendido para o Vitória, quando o Botafogo desmanchou o time todo para fazer caixa, a fim de construir sua badalada sede de praia, em Amaralina.
Em 1957 defendeu o Brasil, vestindo a camisa da Seleção, representada por uma seleção baiana na Copa O'Higgins, no Chile. Depois foi vendido pelo Vitória ao Flamengo do Rio, por quem disputou um torneio no Chile, sendo eleito o melhor jogador da competição.
Pretendido pelo Bahia, voltou para Salvador, acertando um contrato com o rival Vitória. Dessa vez teve de jogar de médio volante porque o jovem Roberto Rebouças, mais tarde ídolo eterno da zaga do Bahia, havia conquistado a posição.
Diziam, no Vitória, em tom de ironia, que Nelinho foi quem ensinou Medrado, Romenil, Tinho e muitos dos seus companheiros de zaga de como jogar bola. O dom de tanta categoria dava uma sede danada ao “professor dos zagueiros”. Contavam que numa passagem do Vitória pela cidade de Valença, no Baixo Sul, em 1964, Nelinho bebeu todas as garrafas de cerveja de um bar e o dono foi obrigado a buscar um novo engradado no vizinho.
Jogou no time bicampeão baiano 1964/1965. Sempre capitão, era o homem de confiança dos treinadores. Foi também campeão baiano pelo Galícia em 1968. Voltou ao Vitória, no final de carreira, tendo atuado no Leônico, ao lado de um garoto chamado Raimundo Varella. Encerrou a carreira no antigo Ilhéus Futebol e Regatas, onde foi jogador e treinador na década de 70.
De estilo clássico e elegante, o jogador é sempre lembrado com saudade pelos privilegiados torcedores e jornalistas que tiveram a sorte de vê-lo atuar nos anos 50 e 60. Contam que dava a impressão que as suas pernas tinham ímã para a bola. Ele dava o “bote” certo, porque sabia para que lado o atacante ia driblar. Tinha um senso de colocação fora do comum em campo.
Quem conviveu com ele, garante: era tanta facilidade com a bola que ela parecia querer, por vontade própria, ficar no seu pé. Nelinho desenvolveu essa habilidade de grudar a bola no pé, para compensar a falta de vigor que se exige de um zagueiro troncudo convencional.
Era baixo, uma antítese de zagueiro, mas tinha uma impulsão surpreendente. Seu estilo lembrava o de Gamarra, tomava a bola sem fazer falta. Dono de uma técnica invejável para um jogador de defesa, Nelinho impressionava também pela raça em campo. E tinha uma postura elegante de Beckembauer, sempre de cabeça erguida.
Nelinho morou a vida toda na Cidade Baixa, em Salvador. Dono de um apetite de fazer inveja, se esbaldava comendo mocotó e fazia farra a noite toda. E foi essa vida desregrada que acabou lhe causando sérios problemas no coração, logo depois que deixou de jogar. Havia parado de beber, mas não deixou o cigarro. Acabou sofrendo um infarto em casa, no bairro da Ribeira. Ultimamente os remédios não faziam mais efeito. Nelinho morreu aos 77 anos de idade, no dia 3 de maio do ano passado.
No velório, no cemitério Campo Santo, estiveram presentes os ex-jogadores Edmundo, Alencar, Ademir, André Catimba, Teixeira, Reginaldo, Catu, Paulo Leão e Valtinho. O Conselheiro Babau, único representante do Vitória no adeus a Nelinho, era só elogios: "Jogava como a porra, viu? Não teve zagueiro como ele".
André Catimba, acostumado aos duelos na área, garante: "Nelinho era um senhor quarto-zagueiro. Outro igual nunca existiu. Era craque". Pai do lateral Róbson, Nelinho encantou até o jornalista João Borges Bougê, que viu dezenas de zagueiros em ação, em 25 anos de carreira de cronista. “Nelinho era um negócio impressionante. Não dava um pontapé. Ele hoje seria um super-craque”, disse. (Pesquisa: Nilo Dias)
Alô, Nilo.
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