Em 1974, na decisão do último campeonato amador de Brasília, jogavam CEUB X Ministério das Relações Exteriores, no antigo Estádio Pelezão. O juiz do jogo era Édson Rezende de Oliveira, que anos mais tarde foi presidente da Comissão de Arbitragem da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Naquele tempo era comum acontecer de tudo no certame brasiliense, inclusive jogadores atuarem dopados.
Foi o caso de um zagueiro do Relações Exteriores, um tipo de altura descomunal, forte como um touro. Era daqueles jogadores que costumavam chamar de armários. Sob os efeitos das “bolinhas” milagrosas, o zagueirão estava com os olhos esbugalhados e derramando saliva pelos cantos da boca. Logo em seu primeiro lance no jogo, quase abriu ao meio um atacante do CEUB. Levou cartão amarelo.
Minutos depois outra entrada, ainda mais dura que a primeira. Precavido, para evitar ser agredido pelo violento jogador, o juiz discretamente chamou os dois únicos policiais presentes ao estádio. Assim que o “homão” foi seguro pelos PMs, Edson Rezende de Oliveira mostrou o cartão vermelho.
Foi então que o jogador completamente fora de si, tentou de todas as maneiras se desvencilhar dos PMs para sair em busca do juiz. Chegou a jogar um policial longe, acertou socos nos próprios colegas de time e gritava: “Eu quero achar ele. Cadê? Vou dividir este filho da p... em dois!”Finalmente algemado, foi levado ao distrito policial.
Em outubro de 1994, o Clube do Remo, de Belém do Pará, precisava vencer o Bragantino, de São Paulo, por 3 X 0, para escapar do rebaixamento para a Segundona do Brasileiro. O árbitro carioca Léo Feldman, preocupado com a hostilidade da fanática torcida local, sai do estádio de táxi, rumo ao hotel. No caminho, o motorista passa por um grupo de torcedores do Remo e grita:
“Ei pessoal, eu estou levando o juiz do jogo!”. Feldman, desesperado com a possibilidade de ser linchado, desce do táxi, correndo e consegue entrar em outro carro, livrando-se dos torcedores que corriam atrás dele.
Em 1997 as seleções do Paraguai e Colômbia jogavam no Defensores Del Chaco, em Assunció, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 1998. O juiz era o brasileiro Wilson de Souza Mendonça. No gol paraguaio o polêmico goleiro Chilavert. Achando que o árbitro não estava olhando, deu uma cusparada em Asprilla. O colombiano passou a mão no rosto e revidou com um soco. Incontinente, Wilson foi até o local expulsou o agressor que saiu sem falar nada.
Caído, Chilavert recebeu o atendimento medico e após um bom tempo levantou- se meio zonzo. “ Tem condições de jogo?”, perguntou Mendonça. “Sim”, respondeu o goleiro. “Não, o senhor não pode. Está expulso!”. “O quê? Mas eu não fiz nada?”. “Eu sei o que vi e o senhor sabe o que fez “, completou Mendonça.
O estádio veio abaixo. Impassível, o árbitro esperou os ânimos serenarem, pegou a bola e apontou para a área do Paraguai: Pênalti! Nova confusão, mas a partida prosseguiu e a Colômbia marcou o gol. No final, o jogo terminou empatado e Wilson recebeu do inspetor de árbitros da FIFA uma das maiores notas da história da entidade: nove e meio.
Este fato eu contei no meu livro “100 anos de futebol em São Gabriel (RS). Segundo os jornais da época, no dia 8 de junho de 1935 foi disputada em São Gabriel, no “ground” existente no local onde hoje se acha o Ginásio São Gabriel e o Colégio Menna Barreto, “a mais sensacional, encardida e discutida partida de futebol já vista naquela cidade”.
Foram degladiantes as equipes do Artilharia F.B.C., que reunia militares do 6º Grupo de Artilharia de Campanha e G.S. Militar, formado por integrantes do 9º Regimento de Cavalaria independente. Os dois rivais eram considerados os “maiorais” do futebol gabrielense na época.
Antes do jogo o ambiente estava bastante carregado. Na cidade só se falava na possibilidade de haver uma grande briga entre os jogadores. Ninguém queria apitar o jogo. Por essa razão o prélio estava no sai não sai. Até que apareceu o salvador da pátria, o desportista Adair Menna Barreto de Abreu, considerado o melhor árbitro da cidade por muitos anos. “Competente, enérgico e rigorosamente imparcial”. Adair teve uma atuação sensacional, do principio ao fim, sem que houvesse um único lance de deslealdade entre os litigantes.
O pesquisador esportivo Celso Unzelte conta que certa vez, o Bangu foi jogar um amistoso em Barbacena, interior de Minas Gerais. A maior atração era Zizinho, o craque do time e da própria Seleção Brasileira vice-campeã mundial em 1950. Junto com a delegação, foi o juiz Eunápio de Queiroz, na época também apelidado pelos torcedores de “Larápio” de Queiroz, que dirigiu a partida.
Começa o jogo, Eunápio erra uma marcação e logo toma uma bronca de Zizinho: “Puxa, Eunápio, até em amistoso?” Eunápio não gostou e expulsou o Mestre Ziza. O jogador já ia saindo quando entram no campo os promotores do amistoso: “O que houve?” “Fui expulso.” “Nada disso. Volta já pro campo, porque nós pagamos um dinheirão foi pra ver você jogar, não pra ver esse cara aí apitar”. E quem acabou expulso foi o juiz.
Outra ótima historinha: nos anos 40, o São Paulo de Leônidas da Silva teria ido ao Recife jogar contra o Sport. E o juiz não deixava Leônidas avançar. Era só o “Diamante Negro” pegar na bola e lá vinha um apito, marcando falta, toque, impedimento, qualquer coisa que o impedisse de continuar a jogada.
Lá pelo segundo tempo, ainda 0 X 0, o juiz perdeu o apito, que sumiu na grama. Enquanto tateava o gramado na busca de seu instrumento de trabalho, o árbitro via Leônidas receber a bola e partir driblando para dentro da área. Então, desesperado, desistiu de procurar o apito e saiu gritando: “Perdi meu apito! Agarrem esse crioulo que ele vai fazer o gol!”
E para encerrar, a oração de Carlito Rocha, o histórico e folclórico presidente do Botafogo, destinada à arbitragem antes dos clássicos mais importantes: “Minha Nossa Senhora Aparecida, fazei com que esse ladrão roube hoje para nós!” (Pesquisa: Nilo Dias)
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