Airton Ferreira da Silva, também conhecido por “Airton Pavilhão”, um dos melhores zagueiros surgidos no futebol gaúcho e brasileiro em todos os tempos, faleceu ontem na UTI do hospital Ernesto Dorneles, em Porto Alegre, onde estava internado desde a última sexta-feira com um quadro de septicemia, infecção generalizada.
O presidente do Grêmio, Paulo Odone decretou luto oficial por três dias e a bandeira gremista ficará a meio mastro neste período. O velório de Airton Ferreira da Silva se realiza no Salão Nobre do Conselho Deliberativo do Grêmio, desde às 23 horas de ontem, até as 17 horas de hoje. O enterro será no cemitério João XXIII, em Porto Alegre, na tarde desta quarta.
Airton nasceu em Porto Alegre no dia 31 de outubro de 1934. Surgiu para o futebol defendendo as cores do G.E. Força e Luz, da capital gaúcha, na época, um clube de ponta dentro do futebol do Estado. Com 13 anos de idade o menino esguio, filho de um sapateiro, chamava atenção pela técnica apurada. Já jogava na ponta-direita do time da Timbaúva.
Aos 20 anos, com um 1,87 metros e porte físico avantajado, se transformou em center-half, o nome como eram conhecidos os volantes de antigamente. Suas atuações exuberantes chamavam a atenção. Na metade do ano de 1954, foi cedido ao Grêmio, numa transação no mínimo curiosa.
Segundo se conta o Estádio da Baixada, antiga casa tricolor, localizado onde hoje é o Parque Moinhos de Vento, havia sido desmanchado. As tábuas da arquibancada estavam disponíveis. Na negociação com o Força e Luz, além de um valor em dinheiro (Cr$ 50 mil), foi entregue aquele lote de madeira. Este fato valeu ao jogador contratado o apelido de Aírton "Pavilhão".
Segundo se conta, o acerto gremista com Airton aconteceu dentro de um cinema de Porto Alegre. Em junho de 1954, o jogador se preparava para entrar no cinema, acompanhado da namorada. Enquanto a moça escolhia balas para degustar durante o filme, Airton foi abordado por dois emissários do Grêmio. A proposta era excepcional: além de um bom salário, incluía um automóvel. Nenhum jogador de futebol que atuava no Rio Grande do Sul, possuia carro naquela época.
Com a camisa tricolor, Airton foi uma unanimidade, um dos símbolos da garra gremista. Em sua primeira passagem pelo Grêmio ficou por seis anos, transferindo-se para o Santos. No ano seguinte, o atleta voltou ao Tricolor onde ficou por mais seis anos.
No Grêmio, o técnico Oswaldo Rolla, passou a escalá-lo na zaga central, ao lado de Ênio Rodrigues, também oriundo do Força e Luz. Foi uma zaga que marcou época. Marcador implacável, impunha-se também no cabeceio, mas principalmente pela técnica refinada, com a qual defendia a cidadela tricolor. Durante 13 anos, Aírton “Pavilhão” foi o principal jogador do Grêmio. O "zagueiro que driblava" marcou 120 gols na carreira.
Em um treino da seleção brasileira que se preparava para a Copa de 62, disputada no Chile. Aymoré Moreira, o técnico, não gostou de ver o zagueiro Airton, o único convocado de fora do eixo Rio-São Paulo, fazer uma jogada considerada perigosa: levou a bola em direção à linha lateral do campo, chegando junto à bandeirinha de escanteio puxando com ele os atacantes. De repente, virou o corpo e, colocando uma perna por trás da outra, de letra, recuou a bola para as mãos do goleiro Gilmar.
Todos ficaram boquiabertos com o lance, inclusive o treinador, Aymoré Moreira, que nunca vira nada parecido. E diante disso achou melhor dispensar Aírton do grupo que iria ao Mundial, com medo que ele repetisse e errasse a jogada durante o torneio.
Avesso a aviões, ele não acompanhava a delegação gremista em viagens aéreas curtas. Quando o Grêmio atuava no interior do Rio Grande do Sul, em Santa Catarina ou no Paraná, enquanto a delegação voava, ele seguia de ônibus ou de carro. Seu pânico por aviões era imenso. Na vitoriosa excursão gremista à Europa, em 1961, Aírton alegou problemas médicos e pediu dispensa. A Direção não lhe deu ouvidos e ele estava no grupo que brilhou nos gramados do Velho Continente.
Após marcar Pelé com maestria, Aírton foi jogar no Santos em 1960. Sem oportunidade para mostrar seu futebol (o Santos tinha Mauro Ramos), preferiu retornar ao Grêmio, sagrando-se Hexacampeão Gaúcho (1962-1967). Há quem diga que o verdadeiro motivo foi outro: aquele Santos de Pelé viajava demais. E, quase sempre, de avião.
Em 1967, com 33 anos, tendo vencido 12 campeonatos gaúchos em 13 disputados, marca nunca igualada, com uma distensão na virilha que limitava seus movimentos, Aírton despediu-se do Grêmio, indo atuar no Esporte Clube Cruzeiro de Porto Alegre. Posteriormente, foi convidado para ser técnico e zagueiro no Cruz Alta, onde se aposentou em 1971.
Na memória tricolor, porém, Aírton Ferreira da Silva nunca parou. No dia 04 de agosto de 2004, nos exatos 50 anos da estréia com a jaqueta gremista, Airton foi homenageado pelo clube. Antes de jogo contra o Santos, pelo Campeonato Brasileiro, o "Pavilhão" foi recebido no gramado do Olímpico, onde Luiz Felipe Scolari lhe entregou uma placa alusiva à data e uma camisa número 3 do Grêmio, com seu nome gravado. A torcida aplaudiu de pé e gritou seu nome em coro, como se tivesse acabado de assistir um gol de letra.
Airton foi um dos primeiros homenageados pelo Grêmio na Calçada da Fama em 1996, como forma de eternizar sua passagem pelo Clube. O ex-zagueiro também atuou como conselheiro do Clube, além de ter recebido o título de Atleta Laureado. (Pesquisa: Nilo Dias)
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