Oliver Roberto Bazzani, o “Bazzaninho”, nasceu na cidade paulista de Mirassol, no dia 30 de julho de 1941. Ele faz parte de uma família que tem história no futebol de São Paulo. Seu pai, Olivério Bazzani, foi zagueiro do E.C. Corinthians Paulista na década de 30. Ele participou de um jogo trágico na história corinthiana, a goleada de 8 X 0 sofrida para o Palestra Itália, atual Palmeiras, no dia 11 de novembro de 1933.
Seu irmão Olivério Bazzani, o “Rubi”, cinco anos mais velho (3/6/1935) e já falecido, é considerado o maior nome da Associação Ferroviária de Esportes, de Araraquara, em todos os tempos. A irmã Nadir foi jogadora de basquete. Os filhos de “Bazzaninho”, Rodrigo e Diego são jogadores e tentam o sucesso como profissionais da bola. Já os filhos Oliver, Jéferson e Olivério, frutos de seu primeiro casamento, preferiram ser empresários em Sorocaba.
Bazzani começou a carreira nas categorias de base do Mogiano, passou pelo Rio Preto, antes de chegar na Ferroviária, em 1954. Ele foi um meia-esquerda de muita qualidade. Fazia lançamentos longos com precisão milimétrica. Costumava jogar com a bola no chão. Era um artilheiro nato e emérito cobrador de faltas. E também auxiliava na marcação, o que fazia dele um jogador completo.
Bazzani fez parte de ataques que deixaram saudade nos torcedores da Ferroviária. Atuou ao lado de Boquita, Beni, Pio e Nei. E também de Gomes, Baiano, Téia, Maritaca e Zé Luis, entre outros. Não esquecendo Dudu, outra glória afeana, que depois se imortalizou defendendo a S.E. Palmeiras.
Com Bazzani no time, a Ferroviária viveu seus melhores momentos. Em 1959 foi terceira colocada no Campeonato Paulista, ficando na frente de São Paulo, Corinthians e Portuguesa de Desportos. Graças ao seu exuberante futebol foi convocado para Seleção Paulista que disputou o Campeonato Brasileiro de Seleções, junto com Dudu e Rosan, seus companheiros de equipe. Contribuiu para o tetracampeonato do torneio, chegando a deixar Pelé no banco, contra a Seleção Mineira.
Em 1960 participou de uma excursão da Ferroviária por gramados da Europa e África. Foram 20 amistosos em dois meses, enfrentando equipes poderosas como Belenenses, F.C. do Porto e Atlético, de Madrid. O saldo foi altamente positivo, com apenas uma derrota, para o Sporting, de Lisboa e dois empates. Na África, o time interiorano paulista aplicou muitas goleadas.
Entre os anos de 1963 e 1965 foi jogar no Corinthians. A Ferroviária realizava mais uma excursão internacional, dessa feita por gramados da América do Sul e Central, onde foi o artilheiro, com oito gols. Não participou de todos os 17 jogos realizados, pois teve de se apresentar ao novo clube.
Sem sua maior estrela, a Ferroviária acabou rebaixada para a Segunda Divisão Paulista, em 1964. E Bazzani, por sua vez, também não confirmou no Corinthians tudo o que se esperava dele. No clube do Parque São Jorge jogou 87 partidas e marcou 15 gols. Em 1965 estava de volta ao time de Araraquara, e ajudau na conquista do título de campeã paulista da Segunda Divisão de 1966. Foi o artilheiro do time, com 16 gols.
No jogo comemorativo ao título, com direito a entrega de faixas, um empate em 2 X 2 com o Cruzeiro, de Belo Horizonte, que tinha na sua formação astros da categoria de Tostão, Raul e Dirceu Lopes.
Bazzani ainda participou do tri-campeonato do Interior, conquistado pela “Locomotiva Grená”, em 1967, 1968 e 1969. Em 1968 a AFE foi terceira colocada no “Paulistão”, ficando atrás apenas Santos e Corinthians.
Para coroar tão bonita campanha, a Ferroviária teve o artilheiro da competição, o atacante Téia, com 20 gols. Foi a primeira vez em toda a história do Campeonato Paulista, que o artilheiro jogava em um clube do interior. Entre 1957 e 1970, Pelé foi o artilheiro do campeonato em 10 oportunidades, Toninho Guerreiro em duas e Flávio, do Corinthians, uma vez.
Em 1968 a Ferroviária fez o jogo de entrega das faixas de bi-campeão do interior. E enfrentou na Fonte Luminosa ao Nápoli, da Itália, que foi goleado por 4 x 0. Depois veio nova e vitoriosa excursão pela América Central. Foram 13 jogos e apenas uma derrota. Em 1970 participou da conquista da “Taça dos Invictos” e um ano antes de encerrar a carreira, Bazzani participou de um dos jogos inesquecíveis para o torcedor grená.
Foi em março de 1971, uma goleada de 4 X 1, frente o Santos de Cejas, Clodoaldo, Edu e Pelé, na Fonte Luminosa. Bazzani não começou o jogo como titular, mas quando entrou fez um dos gols da goleada, que teve 20 mil assistentes no estádio.
Sua partida de despedida foi um amistoso contra o Guarani, de Campinas em 28 de março de 1973, uma quarta-feira na Fonte Luminosa. O time visitante venceu por 1 X 0. Bazzani, então com 35 anos deu a “volta olímpica” e espalhou emoção a todos os presentes quando foi às lágrimas, descalço no centro do campo. Por tudo isso a história desse jogador se confunde com a história da Ferroviária.
Ao deixar os gramados, o craque se dedicou a profissão de cirurgião-dentista, mas em momento algum abandonou os laços afetivos com a Ferroviária. Chegou a ser treinador em várias oportunidades, tanto no profissional quanto nas categorias de base. Também trabalhou no Departamento de Futebol e em funções administrativas.
A imagem de Bazzani está imortalizada e eternizada na história do clube de Araraquara. No Estádio da Fonte Luminosa foi erguido o busto daquele que soube honrar a camisa ferroviária, como poucos. Em 18 de abril de 2007 aconteceu a festa de inauguração do busto, num jogo contra o Corinthians Paulista B, vencido pela AEF por 3 X 0. A partida foi organizada pela Prefeitura Municipal de Araraquara.
Bazzani não compareceu a festa, porque enfrentava sérios problemas de saúde, como “Mal de Alzheimer”, “Mal de Parkinson”, assim como complicações no sistema urinário e próstata. Uma cirurgia deveria ter sido realizada, mas as condições cardiológicas impediram. Assim, o velho “Rabi” não viu a cerimônia de inauguração do seu busto confeccionado em São Paulo pelo artista plástico Wagner Gallo.
Mas no estádio estiveram companheiros de grandes e inesquecíveis jornadas no time da Ferroviária, entre eles Nei, Maritaca, Fogueira, Pio, Geraldo Scalera e Peixinho. A iniciativa foi de Edinho juntamente com o presidente da Ferroviária Futebol S.A., Welson Alves Ferreira Júnior, o “Juninho”. E o mais importante é o fato da homenagem ao grande ídolo ter sido proporcionada ainda em vida, como não é usual aos grandes homens.
A esposa de Olivério Bazzani Filho, Aparecida Castro Bazzani e o prefeito Edinho Silva (PT), inauguraram o busto de bronze em homenagem ao eterno dono da camisa 10 grená. Bazzani faleceu aos 72 anos de idade, em Araraquara, no dia 13 de outubro de 2007, um sábado, pouco mais de seis meses após a derradeira homenagem que recebeu.
Voltando a falar em Oliver Roberto Bazzani, o “Bazzaninho”, irmão do saudoso craque da Ferroviária, sabe-se que em razão do sobrenome Bazzani já ter sido incorporado a figura do mano mais velho, optou por se chamar “Bazzaninho”.
Começou a jogar futebol na equipe juvenil da sua terra natal, comandada pelo técnico Anésio Pelicione, o “Matinê”. Disputou o “Amadorzão” do Estado pelo Bálsamo, até ser descoberto por Olavo Fleury e seu filho José Teóphilo Fleury Netto, são-paulinos fanáticos, que o indicaram ao tricolor.
Em outubro de 1958, o São Paulo foi jogar contra o América, em Rio Preto. O técnico Vicente Feola e o diretor Raimundo Paes de Almeida deram uma esticada até Mirassol e viram Bazaninho em ação. Não tiveram dúvida e acertaram a transferência do promissor meia-esquerda, de apenas 17 anos.
Seu pai, Olivério Bazzani ganhava Cr$ 20.00 por semana como sapateiro, e o São Paulo pagou Cr$ 12 mil a ele para levar “Bazzaninho”. O promissor jogador fez a estréia com a camisa são-paulina numa vitória de 3 X 1 sobre o Corinthians, no Pacaembu, pelo Campeonato Paulista de Aspirantes, tendo marcado o primeiro gol do jogo.
Em 1960, o time profissional do São Paulo foi disputar uma série de jogos no México. Ele e “Peixinho”, autor do primeiro gol da história do então ainda inacabado Morumbi, se destacaram nos aspirantes e foram convocados, também.
Mesmo sendo um jogador de muito talento, que driblava fácil e cobrava faltas com perfeição, “Bazzaninho” não cresceu mais como jogador de futebol, porque teve o azar de jogar numa época em que proliferavam grandes craques na sua posição, como Didi e depois, Rivelino, Gerson e Ademir da Guia.
E “Bazzaninho” também defendeu o São Paulo, num tempo em que o clube estava mais interessado em concluir o seu estádio, do que formar equipes fortes. Os títulos naquela época foram raros. Mas ainda assim ele participou de algumas conquistas importantes como: Bi-campeão Fita Azul da Europa e dos torneios de Cali e de Firenze. E também do torneio de inauguração do estádio Jalisco, na Cidade de Guadalajara, no México.
No ano seguinte foi emprestado ao Batatais, onde ficou por duas temporadas, e em 1962 transferiu-se para o São Bento, de Sorocaba. Integrou o melhor São Bento de todos os tempos ao lado de Walter, Odorico, Salvador, Gibe, Nestor, Marinho, Picolé, Afonsinho, Cabralzinho, Paraná e outros. A equipe sorocabana foi campeã da Primeira Divisão (atual A-2) ao ganhar do América na decisão em uma série melhor de três partidas.
Retornou ao São Paulo em 1964/1965. Arrebentou numa excursão à Itália e o Milan queria comprá-lo, mas não houve acordo financeiro. Laudo Natel, presidente do tricolor na época, não aceitou a proposta de Cr$ 150 milhões para o clube e Cr$ 40 milhões para o jogador.
Os dirigentes são-paulinos lhe deram um carro Volkswagem e Cr$ 1 milhão por mês. Depois do negócio emperrado, “Bazzaninho” disse que o técnico José Poy passou a persegui-lo. O talentoso meia-esquerda ficou desiludido e entrou em depressão.
Pouco tempo depois, o Grêmio (RS) também se interessou por ele. Novamente não houve acordo financeiro entre os clubes. Em 1965, o São Bento, então, pagou Cr$ 20 milhões, mais o passe do ponta-esquerda Paraná para ficar em definitivo com “Bazzaninho”. Ficou na equipe de Sorocaba até 1970. No ano seguinte jogou três meses na Ponte Preta, de Campinas e outros três no Paulista, de Jundiaí. Depois foi para o América e subiu para o Paulistão.
Em 1972 defendeu o XV de Piracicaba por quatro meses, não tendo visto um tostão do pagamento. No começo de 1973 transferiu-se para o Vila Nova (GO). Formado químico metalográfico, estudo básico do alumínio, passou a trabalhar na Companhia Brasileira de Alumínio, do Grupo Votorantim, na cidade paulista de Alumínio.
Já em final de carreira, atuou pela Associação Atlética Alumínio, que durante alguns anos disputou a Terceira Divisão de Profissionais do futebol paulista. Em 1974 a equipe local deixou de participar de campeonatos profissionais, e “Bazzaninho”, que morava em Alumínio voltou para Mirassol. Entrou em depressão, caiu no alcoolismo e acabou internado em uma clínica.
Com a ajuda de amigos, principalmente do empresário João Mahfuz, superou o vício e trabalha até hoje na sua rede de lojas, como gerente de vendas. Os pais de ambos também foram amigos. Em 1979 ainda jogou algumas partidas pelo Mirassol. O peso da idade - estava com 38 anos - falou mais alto e decidiu abandonar definitivamente o futebol.
“Bazzaninho”, que é casado com Renata e pai de Diego e Rodrigo, se tornou evangélico. Seus outros filhos são Júnior, Jeferson, Laurinha, Simone e Lelo, frutos do primeiro casamento. Mora em Sorocaba desde 2005, e apesar de aposentado trabalha ainda trabalha na loja de seu amigo.
Quem vai ao culto ou à Escola Bíblica Dominical no templo da 4ª Igreja Presbiteriana Independente de Sorocaba, terá a chance de conhecer o irmão Oliver Roberto Bazzani, um simpático senhor de 71 anos de idade. (Pesquisa: Nilo Dias)
Busto de Bazzani, no Estádio da Fonte Luminosa, em Araraquara.
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