O clássico entre Grêmio X Internacional marcou ontem a despedida do Estádio Olímpico Monumental, que foi a casa do tricolor gaúcho durante longos 58 anos. O Estádio foi inaugurado no dia 19 de setembro de 1954, com a realização de um torneio de inauguração.
O Estádio foi projetado pelo arquiteto Plínio Oliveira Almeida, que venceu o concurso realizado em 1950, para esse fim. Quando de sua construção foi tido como o maior estádio particular do mundo. O atacante Vitor entrou para a história do clube por ter anotado o primeiro gol no estádio. Aliás, ele marcou dois gols naquela oportunidade, quando do amistoso contra o Nacional de Montevidéu, vitória gremista por 2 X 0.
A impiedosa goleada da inauguração. Era para ser uma festa. E nada melhor que um jogaço, um clássico já consagrado, para a estréia. Esse deve ter sido o pensamento dos dirigentes gremistas à época da inauguração do estádio Olímpico, em setembro de 1954. Mas os planos não saíram bem conforme o planejado. O resultado da partida daquele dia – um estrondoso 6 X 2 para o maior rival – ficou tão famoso quanto o evento.
E se houve um culpado para a goleada, este culpado chama-se Larry Pinto de Faria, também conhecido pela alcunha de “Cerebral”. Dos pés do atacante – que havia chegado a Porto Alegre meses antes – saíram quatro dos gols da tarde. Jerônimo e Canhotinho completaram o placar do Inter, enquanto Sarará e Zunino marcaram os primeiros gols do Grêmio em Gre-Nais no Olímpico.
O Estádio Olímpico só foi totalmente concluído em meados de 1980, quando foi fechada a última parte do anel superior, ainda sob a coordenação do arquiteto Plínio Almeida, que teve a colaboração dos arquitetos e co-autores Rogério de Castro Oliveira e Flavio Boni. O jogo que marcou a conclusão do estádio, que acresceu ao nome a palavra Monumental, foi um amistoso em que o Grêmio derrotou o Vasco da gama, do Rio de Janeiro, por 1 X 0, disputado no dia 21 de julho de 1980.
Outros Gre-Nais marcantes na história do Estádio Olímpico. Catimba quebrou a hegemonia do Inter e arriscou salto mortal. O Inter havia empilhado oito campeonatos Gaúchos na sequência (de 1969 a 76). Para piorar, o arqui-rival tinha também se consagrado bicampeão brasileiro. E foi em setembro de 1977 que André Catimba, aos 42 minutos do segundo tempo, acabou com a hegemonia colorada.
No jogo que decidia o título do Gauchão daquela temporada, os gremistas esperaram Tarciso bater uma falta da direita, que foi desviada no meio do caminho e caiu na frente de Catimba. O atacante mandou a bola para o gol. A euforia foi enorme no estádio. Entusiasmado, o herói gremista deu um salto desajeitado e desabou de cara no chão - tão forte que foi substituído logo depois. Com o 1 X 0, o Tricolor ficou com a taça e começou a se reerguer para os anos seguintes.
A troca de faixas após a conquista do mundo. A idéia foi de Renato Portaluppi. Responsável pela conquista do Mundial Interclubes de 1983, o dono eterno da camisa 7 gremista respondeu a uma provocação do arqui-rival e marcou o clássico para o início da temporada seguinte. Tudo começou quando Mauro Galvão disse que de nada adiantava o Tricolor ser campeão mundial, se no Estado quem mandava era o Inter, tricampeão gaúcho.
O retruco foi intempestivo. Para decidir quem era melhor, foi realizado um clássico em janeiro de 1984. O jogo ficou conhecido como o Gre-Nal da troca de faixas. E Renato pintou também o Rio Grande do Sul com as cores do Tricolor. O resultado foi 4 X 2 para os donos da casa. O Inter até começou na frente, com gol de Silvio. Daí Osvaldo, Renato, Paulo Cesar e Caio marcaram em sequência para o time gremista. O Colorado ainda fez mais um no final.
Durante mais de meio século o Grêmio viu passar pelo Olímpico Monumental nomes históricos que participaram da vida do clube, como dirigentes, torcedores, técnicos e jogadores. Nesse momento de despedida não podem ser esquecidos nomes como Saturnino Vanzelotti, Fernando Kroeff (o patrono), Renato Souza, Rudi Armin Petry, Hélio Dourado, Fábio Koff e Paulo Odone, este o maior responsável pela construção da nova Arena do clube, um dos estádios mais modernos do mundo, que será inaugurado no próximo sábado, num jogo amistoso contra o Hamburgo, da Alemanha, clube a quem o Grêmio derrotou quando da memorável conquista do Mundial de Clubes, em 1983.
“Uh, Fabiano” faz um risco vermelho em década tricolor. Em 1997, o cenário era outro. Naquele ano, uma luz colorada tentava resplandecer diante de uma década em azul, preto e branco. Cena rara naquela época, o Inter brigava pelo título do Brasileirão. Antes de a bola rolar no Olímpico, provocações azuis, que usaram até um coelho para fazer analogia com a história em que a tartaruga passava na frente. Não adiantou em nada. O placar do jogo terminou em 5 X 2 para o Inter.
Camisa 7 colorado, o atacante Fabiano foi o nome do jogo. Mas não foi dele o primeiro da tarde: Christian abriu o placar logo aos 4. Sandoval aumentou antes do intervalo. No segundo tempo, Fabiano fez dois e Marcelo fez o quinto colorado. No lado do Grêmio, Sérgio Manoel descontou e Gilmar anotou um golaço no finzinho do jogo.
O clássico dos cem anos de rivalidade. Um dia após o aniversário de cem anos do primeiro Gre-Nal, o estádio Olímpico recebeu o clássico de número 377. Na tarde de 19 de julho de 2009, as duas equipes se enfrentaram por mais uma rodada do Campeonato Brasileiro. E nesse embate levou a melhor quem arriscou. Sem contar com Thiego, o técnico Paulo Autuori confiou na improvisação de Mário Fernandes na lateral-direita e confundiu Tite, então comandante do colorado.
O Inter saiu na frente. Aos 25 minutos, Nilmar puxou forte contra-ataque e bateu na saída de Victor. Só que a festa colorada durou apenas dez minutos. O meia Souza cobrou falta perto da área e colocou a bola dentro das redes. O empate entusiasmou os tricolores, que conseguiram a virada no segundo tempo. Após cobrança de escanteio, Réver chutou a bola dentro da área, Guiñazu afastou e o atacante Maxi López empurrou a bola com a cabeça para a meta – 2 X 1.
A última taça é colorada. Um Gre-Nal cheio de atrativos acabou marcando a última finalíssima do estádio Olímpico. Renato Portaluppi ocupava a casamata tricolor, enquanto Paulo Roberto Falcão comandava os colorados na decisão do Gauchão de 2011. E os colorados pisaram no campo do rival como zebras, afinal, uma semana antes, haviam levado 3 X 2 em casa. E, para piorar, saíram perdendo aos 14 minutos do primeiro tempo.
Até meados da etapa inicial só um milagre salvaria o Inter. Falcão, então, ousou. Trocou o zagueiro Juan por Zé Roberto, que deu novo gás ao time. Aos 30, Damião deixou tudo igual e, na garra, um Andrezinho lesionado conseguiu virar aos 45. Na etapa final, D’Alessandro ampliou a vantagem do Inter, que só não conquistou o título durante o jogo, porque Borges descontou antes do apito final: 3 X 2. A decisão, então, foi para os pênaltis. Daí brilhou a estrela de Renan, que defendeu três penais. As cobranças alternadas só terminaram quando, após o erro de Adilson, Zé Roberto converteu e garantiu a taça – que se tornou a última levantada do Olímpico.
Estatísticas do Gre-Nal no Olímpico. Número de clássicos – 122; Vitórias do Grêmio – 41; Vitórias do Inter – 34; Empates – 47; Gols do Grêmio –152;Gols do Inter –132
Jogadores que marcaram suas passagens pelo Grêmio e se tornaram ídolos da torcida, como Alcindo, Ancheta, Everaldo, André Catimba, Baltazar, o artilheiro de Deus, Renato Portaluppi, o uruguaio De Leon, o artilheiro Jardel, porque não Ronaldinho Gaúcho, Anderson Luis, o herói da “Guerra dos Aflitos”, e tantos outros. Os técnicos Osvaldo Rola, o “Foguinho”, Luiz Felipe Scolari, o “Felipão”, Mano Menezes e atualmente o consagrado Vanderlei Luxemburgo.
Alguns torcedores famosos do Grêmio, ainda vivos: Guri de Uruguaiana, Juliano Cazarré, Paulo Santana, Pedro Ernesto Denardin, Adriana Calcanhoto, Antônio Augusto Fagundes, João de Almeida Neto, Kleiton Ramil, Luis Marenco, Luis Carlos Borges, Pedro Ortaça, Renato Borghetti, Yamandu Costa, Luiz Felipe Scolari, Mano Meneses, Alexandre Grendene, Claudio Oderich, Jorge Gerdau, José Fortunati, Nelson Sirotski, Gisele Bundchen, Aleu Collares, Antônio Brito, José Fogaça, Marco Maia e Yeda Crusius.
A capacidade do Estádio era de 45 mil expectadores, confortavelmente instalados em dois anéis, sendo o superior composto por cadeiras. Também possuía no centro um conjunto de 40 camarotes, com 10 lugares cada e cinco camarotes com 20 lugares cada. A Tribuna de honra tinha 140 lugares especiais. Setores para deficientes físicos abrigavam 28 cadeiras de rodas e 22 acompanhantes. E o Salão Nobre do Conselho Deliberativo, composto de um auditório com 220 lugares.
O Estádio possuía seis vestiários profissionais, sendo cinco com saídas para o campo e mais um vestiário de arbitragem. Iluminação: Seis postes de iluminação, com 20 refletores de 1500 watts em cada um, numa potência: 650 Lux. Havia também 26 cabines duplas fixas para a imprensa, e mais 50 cabines provisórias. Duas salas de imprensa e duas salas para entrevistas coletivas. O estacionamento permitia 700 vagas.
A grama utilizada era a Bermuda Green, mas no inverno era trocada pela Raygrass Americana. A distância do gramado, até a torcida, era de 40,7 metros na parte da social. A altura da última fileira de cadeiras, do anel superior, em comparação com o gramado era de 15 metros. A distância da última fileira de cadeiras, do anel superior até o gramado era de 68,83 metros. O gramado possuía 105 x 68m, dimensão esta determinada pela FIFA em jogos de Copa do Mundo.
Um novo placar eletrônico havia sido instalado na parte inferior das arquibancadas. Uma parceria do clube com uma empresa substituiu o antigo,que era composto de diversas lâmpadas e que apenas podia mostrar textos, por um novo com capacidade de gerar imagens com mais de um bilhão de cores. O novo equipamento tinha 32 metros quadrados de área. A mesma empresa instalou o placar eletrônico no estádio Beira-Rio.
O maior público que o estádio recebeu em toda a sua história, foi no dia 26 de abril de 1981, quando 98.421 pessoas, sendo 85.751 pagantes, assistiram o jogo Grêmio 0 X 1 Ponte Preta, pelo Campeonato Brasileiro daquele ano.
O Grêmio conta com uma sede recreativa para sócios na Ilha Grande dos Marinheiros, a Escolinha de Futebol no Parque Cristal, um parque náutico as margens do Guaíba e o Centro de Treinamento Hélio Dourado para as categorias de base em Eldorado do Sul.
O Estádio Olímpico Monumental foi palco para a apresentação de diversas atrações internacionais em Porto Alegre, entre eles: Sting (1984), Rod Stewart (1984), Eric Clapton, com The Reptile Tour, em 10 de Outubro de 2001, Roger Waters, com In The Flash Tour, em 12 de Março de 2002, Rush, com Vapor Trails Tour, em 20 de Novembro de 2002 e Lenny Kravitz, com Baptism Tour, em 15 de Março de 2005. A cantora Madonna é esperada para um show da The MDNA Tour, em 9 de Dezembro de 2012, na nova Arena gremista. (Pesquisa: Nilo Dias)
O Estádio Olímpico agora vai ser demolido.
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