Antônio Edgar da Silveira, o “Mitotônio” foi um ponta-esquerda que se destacou como um dos grandes jogadores que atuaram no futebol cearense em todos os tempos. Nascido em Granja (CE), no dia 22 de fevereiro de 1916, quando garoto costumava jogar em um campo onde hoje se localiza o Mercado Público. Chegou à capital cearense para atuar pelo Fortaleza, em 1938, participando discretamente do título daquele ano, pois não possuía contrato formal com o clube.
“Mitotônio” foi parar no Fortaleza a convite do diretor Lauro Martins, que também era natural de Granja. No “tricolor”, em principio, o técnico Valdemar Santos, o “Gavião” não quis colocá-lo no time principal, sob a justificativa de que nunca o tinha visto jogar. Por isso “Mitotônio” apareceu no time de aspirantes, que na época fazia as partidas preliminares.
Mas não demorou mais que um jogo nos aspirantes, para o técnico colocá-lo no time de cima. “Mitotônio” chegou a ser escalado algumas vezes com o nome de “Massantônio”, em alusão ao centroavante de igual nome da seleção argentina de 1940. Mas o apelido não pegou.
Jogou no Fortaleza até o início de 1941 quando o técnico “Gavião” brigou com a diretoria e foi para o Ceará, levando metade dos atletas. No “Vovô” do futebol cearense, “Mitotônio” ficou por 10 anos quase ininterruptos. Era também o ponta-esquerda da Seleção Cearense, que disputava o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais.
Em 1945 o Ceará não disputou o Estadual, pois havia brigado com a Federação no ano anterior. Sem clube, “Mitotônio” e Hermenegildo, os dois melhores atletas do time, foram para o Náutico, de Recife. Ganharam o Campeonato Pernambucano daquele ano e voltaram para o Alvinegro em 1946.
Em 1949 0 Sussex Trader, time da Inglaterra que excursionou pelo Brasil, levou 16 X 0 do Ceará, numa jornada histórica da equipe alvinegra. “Mitotônio” deu um verdadeiro show, sendo considerado o melhor jogador em campo.
A popularidade de “Mitotônio” o levou a ganhar o concurso "Craque Mais Querido do Estado" e a figurar entre os 20 jogadores mais votados do País em promoção semelhante, promovida pelo “Jornal dos Sports”, do Rio de Janeiro.
O craque cearense morreu às 3 horas da madrugada de 1 de abril de 1951, depois de ter comido no dia anterior uma “panelada”, prato típico da culinária nordestina, feito com vísceras de bode. Pouco tempo depois da refeição, jogou pelo Ceará na vitória de 4 X 1 sobre o Gentilândia, em partida disputada no Estádio Presidente Vargas, em 31 de março, e válida pelo campeonato estadual. Tudo parecia normal com ele, tanto é verdade que logo aos 6 minutos marcou o primeiro gol da sua equipe.
Porém alguns minutos depois ele sentiu-se mal. Naquele tempo não eram permitidas substituições, por isso “Mitotônio” tentou continuar jogando, mas o técnico o retirou de campo, não permitindo o seu retorno para a etapa final. O escore já estava 3 X 0 para o Ceará, que mesmo com 10 jogadores em campo, ainda marcou mais um gol no segundo tempo.
O jogador foi levado para ser atendido na Assistência Municipal, hoje Instituto José Frota. Os médicos diagnosticaram congestão estomacal aguda, transformada em hemorragia, causada pela refeição pesada e mal digerida.
Como na época os clubes, na maioria, não contavam com Departamentos Médicos, muito menos com nutricionistas, “Mitotônio” não informou que almoçara uma “panelada”, pouco antes do jogo. Ele chegou a ser liberado do hospital após o atendimento, mas, durante a madrugada, voltou a sofrer com dores estomacais e acabou falecendo em sua residência.
O último jogo de “Mitotônio” era importante para o Ceará. O time precisava vencer para decidir o título na semana seguinte, contra o Ferroviário. Bateu o Gentilândia por 4X 1 mas perdeu o Estadual na derrota por 1 X 0 para o time da Ferrovia.
A história trágica de “Mitotônio” está contada nos livros "Ceará - Alegria do Povo", de Haroldo Moura e "Ceará - Uma História de Paixão e Glória", de Airton de Farias.
O ex-jogador do Gentilândia e hoje pesquisador de futebol, Airton Monte, que marcou “Mitotônio” em seu último jogo, contou que o atleta do Ceará parecia não estar na melhor forma física. Disse ter presenciado o lance que pode ter ocasionado a complicação no quadro de saúde do jogador.
“O Ceará contra-atacou, um atacante chutou e a bola bateu no travessão e, na volta, “Mitotônio” aproveitou para cabecear e caiu de joelhos, com a mão na cabeça. Eu vinha correndo atrás dele e cheguei perto e perguntei: o que foi “Mitotônio”? Ele respondeu: rapaz, parece que enfiaram uma espada na minha cabeça".
A morte de “Mitotônio” originou uma série de homenagens ao atleta e promessas de ajuda aos seus familiares. O Ceará organizou a "Campanha da Gratidão", visando arrecadar donativos de torcedores do clube e de outros desportistas, para a doação de uma casa para a família do jogador, desamparada após o seu falecimento.
Até uma comissão organizadora foi montada na sede do “Vovô”, para receber doações. No dia 7 de abril, o Ceará decidiria o título estadual do ano anterior com o Ferroviário, e os torcedores presentes ao estádio Presidente Vargas foram convidados a colaborar com a campanha.
Foi sugerida a realização de um Torneio Início, com a verba arrecadada sendo revertida para a família de “Mitotônio”. Não se sabe com certeza se a casa realmente chegou a ser entregue. O atleta deixou esposa e três filhos.
O Estádio Municipal de Granja tem o nome de “Mitotônio”, homenagem da terra natal ao seu maior personagem. (Pesquisa: Nilo Dias)
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