Hoje o Campeonato Gaúcho da Divisão Principal é disputado por clubes de cidades que na maioria se localizam próximas a Porto Alegre. As viagens mais longas para os clubes da capital são Ijuí (402 km), Passo Fundo (280 km) e Pelotas (246 km). De resto tudo é perto: Canoas (9 km), Gravataí (23 km), Novo Hamburgo (35 km), Bento Gonçalves (120 km), Lajeado (114 km), Caxias do Sul (134 km), Veranópolis (147 km) e Santa Cruz (150 km).
Mas nem sempre foi assim. Num passado não muito distante clubes de Uruguaiana, São Borja, Santo Ângelo, Bagé, Rio Grande e Livramento constantemente se classificavam para o mais importante certame do Estado. Os clubes da capital precisavam atravessar o Estado para jogar contra os times dessas cidades.
Uruguaiana, por exemplo, fica a 649 quilômetros de Porto Alegre; São Borja, a 594; Santana do Livramento, 489; Santo Ângelo, 442; Bagé, 366 e Rio Grande, 309 km. A decadência futebolística dos clubes dessas cidades os afastou da principal competição do Estado. Associações tradicionais como Grêmio Santanense, F.B.C. Rio-Grandense (Rio Grande), S.E. São Borja e Ferro Carril, Uruguaiana e Sá Viana, de Uruguaiana praticamente enrolaram as bandeiras.
São Paulo e S.C. Rio Grande, Guarany e Grêmio Bagé, 14 de Julho, de Livramento e S.E.R. Santo Ângelo ainda vivem de teimosos, envolvidos em campeonatos de divisões inferiores, altamente deficitários.
Eu hoje vou contar um pouco da história da S.E. São Borja, que nasceu de uma fusão entre dois antigos e tradicionais clubes rivais de São Borja, Cruzeiro e Internacional, que sucumbiram devido a graves crises financeiras. O novo clube herdou a cor vermelha do Internacional, a azul do Cruzeiro e o branco que simbolizava a paz entre as duas agremiações. A fusão pretendia unir a população para apoiar e fortalecer o futebol da cidade.
Já no seu primeiro ano de vida o São Borja disputou o campeonato da Primeira Divisão do Campeonato Gaúcho, onde se manteve ininterruptamente por 11 anos, de 1977 a 1987, chegando à fase final da competição em três oportunidades: 1980: 6º lugar (melhor campanha da história do clube); 1981: 7º lugar e 1983: 8º lugar.
Por muitos anos durante as disputas do campeonato gaúcho a equipe que tivesse que jogar contra a extinta Sociedade Esportiva São Borja tinha três preocupações: jogar no caldeirão do estádio Vicente Goulart, a distância e ainda a duração das viagens.
No Campeonato Brasileiro da Série C de 1981, o São Borja chegou à 3ª fase da competição, terminando a competição em 5º lugar. No Campeonato Gaúcho de 1987 o time ficou em 14º (último lugar) e foi rebaixado para a “Segundona” pela primeira vez. O time era chamado pelos torcedores de “Bugre Missioneiro” e “Missioneiro de Alma”, tendo como mascote a “Cruz de Lorena” e um “Índio”.
Em 1997, o São Borja retornou à Primeira Divisão disputando a Série B (Divisão de Acesso), na época em que a Primeira Divisão era dividida em duas séries. A equipe entrou numa das vagas deixadas por Aimoré e Atlético de Carazinho - que haviam se licenciado. Mas o São Borja tornou a ficar em último lugar (14º na Série B) e foi rebaixado. Após o campeonato o São Borja se licenciou do futebol profissional.
A S.E. São Borja não teve vida fácil. Não jogava nunca perto de casa, tendo sempre que enfrentar grandes distâncias para cumprir seus compromissos. Para se ter uma ideia, os tempos de viagem, só de ida, para algumas cidades: Pelotas: 8 horas de viagem e 600 km; Santa Maria: 4 horas de viagem e 300 km; Porto Alegre: 8 horas de viagem e 600 km; Caxias do Sul: 8 horas de viagem e 600 km; Santa Cruz do Sul: 6 horas de viagem e 450 km e Veranópolis: 6 horas e 30 minutos e 515 km.
O São Borja disputava seus jogos no Estádio Municipal Vicente Goulart, também conhecido por “Vicentão”, com capacidade para 12 mil expectadores, que fora cedido pela prefeitura em comodato por 10 anos. Ali foram realizados grandes jogos contra a dupla Gre-Nal e inesquecíveis vitórias do futebol são-borjense.
Em 2009 o São Borja retomou suas atividades com a denominação de Associação Esportiva São Borja, inicialmente dando ênfase nas categorias de base, participando do Campeonato Gaúcho de Juvenis.
A Associação Esportiva São Borja, foi fundada por um grupo de empresários são-borjenses, em sua maioria ex-jogadores, no dia 19 de fevereiro de 2009, após um longo período sem futebol profissional na cidade.
Os ex-jogadores, Gilberto Alvarez da Costa (Giba), Cassiá Carpes, João Carlos Falcão (Polaco) e Jesus Franco, juntamente com os profissionais liberais Clóvis Alberto Emanuelli (Beto) e José Carlos Dubal idealizaram um projeto que visava primeiro fortalecer as categorias de base para depois pensar em profissionalizar a instituição.
O projeto começou com a organização do time juvenil do São Borja, comandado pelo ex-jogador Polaco, que dirigiu a equipe na primeira competição estadual, e por motivos de força maior, entregou o cargo ao seu auxiliar técnico naquela época, Airton Fagundes. No segundo semestre de 2009, Fagundes comandou o juvenil da AESB em seu primeiro torneio internacional na cidade de Rio Negrinhho, quando o Bugre terminou a competição como vice-campeão, invicto, pois a decisão fora por pênaltis.
No ano seguinte, o meia-atacante Igor Pinto se destacou no campeonato estadual e despertou interesse dos grandes clubes brasileiros. A direção do Clube viu que era hora de crescer e profissionalizou a instituição e o atleta.
Em 2011, o clube consolidou sua melhor campanha e terminou a Copa RS em 5º lugar, sendo eliminado nas quartas de final da competição, tornando-se assim a referência da fronteira Oeste nas categorias de base.
Com a profissionalização da Instituição em 2010, a Associação Esportiva São Borja foi obrigada a acelerar o projeto e ingressar antes do previsto no futebol profissional do Rio Grande do Sul, e no ano de 2012 disputou pela primeira vez um campeonato gaúcho, a Série C do estadual.
No dia 29 de julho do ano passado, 15 anos depois do último jogo de futebol profissional na cidade, a nova Associação Esportiva São Borja entrou em campo para enfrentar em partida amistosa no lendário Estádio Coronel Vicente Goulart, ao E.C. Ferro Carril, de Uruguaiana. Mais de 500 torcedores compareceram ao Estádio para ver o time local ser derrotado por 2 X 1.
A cidade já revelou grandes nomes para futebol gaúcho. O zagueiro Cássia Carpes saiu do Internacional, de São Borja, para o Grêmio, onde conquistou títulos como jogador e treinador. O goleiro Mano saiu da SESB para o Internacional e também jogou no Santos. Seu último trabalho foi como treinador do Sub-17 da própria AESB, no início da Copa FGF de Futebol Juvenil nesse ano. E também Zé Alcino, que jogou na Dupla Gre-Nal e no exterior.
Em abril de 2011 o São Borja deu um passo importante na consolidação da instituição como clube moderno, quando começou a construir o Centro de Treinamento Pirahy, que tem um campo com medidas oficiais, um gramado similar ao do Estádio Olímpico, caixa de areia, sala de musculação, vestiário, sala de reunião, de TV e de materiais, que já tem projeto para ser ampliado.
O novo C.T. terá uma área de aproximadamente 20 mil metros quadrados, com alojamento para 52 atletas, mais dois campos oficiais e três de futebol sete, quadra sintética coberta, duas piscinas sendo uma climatizada e outra natural, consultórios médico e odontológico, academia, vestiários modernos e lavanderia.
Títulos. Torneios Estaduais. Seletiva do Campeonato Brasileiro Série C (1981); Torneio Incentivo (1982); Copa Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos-ACEG (1985). Artilheiros. Do Campeonato Gaúcho - Segunda Divisão: Zé Alcino (1994 com 23 gols).
Jogadores de destaque: Zé Alcino (atacante); Mano (goleiro); Ilo (centroavante); Morça (ponta direita); Silmar (lateral direito); Aguiar (zagueiro central); Canhotinho (ponta esquerda); Cassiá (zagueiro); Vadinho (ponta direita) e Brandão (atacante). (Pesquisa: Nilo Dias)
O último time profissional que o São Borja teve, em 1997, antes do retorno em 2012. (Foto: Mario Aguiar)
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