Um
dos primeiros grandes jogadores a atuar no futebol brasileiro foi George Paul
Hermann Frieser, um jovem alemão que nasceu em Hamburgo, no dia 30 de maio de
1882 e faleceu em São Paulo, em outubro de 1945, aos 66 anos. Ele foi aquilo
que se poderia chamar de um verdadeiro atleta.
Já
na Europa, em 1902, havia vencido os 1.500 metros no campeonato alemão de
atletismo. E também já havia se sagrado campeão em corridas de curta e média
distância. Participou de competições internacionais de esportes atléticos em
Berlim, Praga e outras capitais européias.
Frieser
emigrou para o Brasil em 1903, quando tinha 21 anos de idade. Logo que chegou
na capital paulista disputou uma partida amistosa pelo São Paulo Athletic Club.
Mas não demorou a se juntar aos seus compatriotas do Germânia, equipe que
representava a colônia alemã radicada em São Paulo. Esse clube foi fundado por
Hans Nobiling, um
jovem alemão que chegou ao Brasil em meados de 1897.
Mesmo
com a fama de campeão de corridas, Frieser se destacou mesmo foi no futebol,
embora em maio de 1907 tenha sido o único atleta brasileiro nos "Juegos
Olímpicos Internacionales", no Uruguai. Mesmo machucado, conquistou a
vitória nas provas dos 800 e 1.500 metros e ficou em segundo nos 400 metros.
Alto,
corpulento e forte não escolhia posição para jogar. Isso porque conjugava a
arte do drible, a suavidade no trato da bola, com a dureza em relação aos
adversários. Tanto é verdade que os jornais da época diziam que ele valia por
um time inteiro.
Por
conta de seu físico avantajado, foi considerado um dos precursores do futebol
força no Brasil. Tinha facilidade para atuar tanto no ataque quanto na defesa.
O
que mais o destacava era sua capacidade de marcar gols. Foi artilheiro por três
temporadas em São Paulo, em 1905 com 14 gols, e em 1906 e 1907, ambas com seis.
A crônica do jornal “O Estado de São Paulo”, em 1903 lhe chamou de o
"sensacional futebolista de todos os tempos".
Considerado
um atleta completo e verdadeiro fenômeno, a ele é atribuída a criação da jogada
de corpo chamada de “marreta”, lance que provocou muitos protestos dos
adversários.
No
currículo de Frieser consta que ele foi treinador do Germânia em 1909, e
responsável pelo surgimento de Friedenreich, o primeiro gênio do futebol
brasileiro, que depois foi chamado pela imprensa internacional de “El Tigre”.
Friedenreich
era filho de um imigrante e comerciante de Hamburgo e uma negra brasileira. Como
era mulato foi proibido de fazer parte do clube. Graças à intervenção de Frieser,
tal medida racista foi revogada, o que permitiu ao jogador defender o Germânia
por três anos, para depois conquistar o apogeu no Clube Paulistano.
Frieser,
ao lado de Hans Nobiling e Charles Miler é reconhecido como um dos mais
importantes pioneiros do futebol brasileiro, e o primeiro craque a atuar em
nosso país. Durante os 11 anos que se seguiram à chegada de Hermann Friese, o
Germânia teve um time de craques de primeiríssima qualidade, como Muus, Tommy
Rittscher, Thiele Gerhardt e outros, que formavam um elenco marcado pela
disciplina.
Frieser
representou uma verdadeira revolução no Germânia. Sua figura predominava tanto
no futebol quanto no atletismo, nos quais conquistou várias medalhas e empolgou
o mundo esportivo de São Paulo.
Mas
o cenário paulista dos grandes clubes era de tal forma competitivo, que às
disputas não se restringiam ao campo de jogo. Verdadeiras batalhas políticas
eram travadas entre entidades associativas, dividindo os clubes e os torneios.
De
um lado, havia a Associação Paulista de Esportes Athléticos, que congregava
clubes como o Paulistano, o Palestra Itália e outros mais. De outro, a Liga
Paulista de Futebol integrada pelo Americano, Ypiranga, Internacional, Germânia
e Corinthians.
Nos
primeiros campeonatos o Germânia teve participações modestas, ficando sempre
entre os últimos. Mas a partir de 1903, passou a contar com Hermann Friese, e
devido à sua refinada técnica e surpreendente variedade de jogadas em campo, se
tornou o primeiro craque da história do futebol brasileiro.
Com
ele, o time começou a se destacar e em 1905 terminou como vice-campeão. Em 1906
conquistou seu primeiro título, com sete vitórias e uma única derrota e ainda
deixando o desafeto Internacional com o vice. Em 1907 repetiu o feito.
O time acabou em 1926, entre outros motivos, por causa
da profissionalização do futebol ocorrida em 1932. O Germânia depois mudou o
nome para E.C. Pinheiros.
Frieser foi também o primeiro grande árbitro do futebol brasileiro, chegando a apitar as finais dos Campeonatos Paulistas de 1903, 1904, 1910 e 1920 e a final do Troféu Interestadual de 1910, vencido pelo Botafogo F.C., do Rio de Janeiro, que goleou por 7 X 2 a A.A. das Palmeiras, no Velódromo de São Paulo. Na época era comum jogadores atuarem como árbitros de futebol.
Foi
Frieser que dirigiu o jogo em que o Palestra Itália, hoje Palmeiras, derrotou o
Paulistano por 2 X 1 em 19 de dezembro de 1920, conquistando pela primeira vez
um Campeonato Paulista. No dia 22 de outubro de 1916 apitou o jogo do
“Paulistão” entre Santos F.C. X C.A. Ypiranga. Naquela naquele ocasião também
foi inaugurado o estádio do Santos, na Vila Belmiro. O time santista ganhou a
partida por 2 X 1.
Na
sua carreira conduziu 53 ou mais jogos do Campeonato Paulista. Frieser é hoje
um dos 10 patronos da “Academia Paulista de Árbitros de Futebol Charles Muller”,
compartilhando essa honra, entre outros, com José Roberto Wright, Armando
Marques, Arnaldo Cézar Coelho e Romualdo Arppi Filho, que apitaram em Mundiais.
Atualmente
é disputada uma competição envolvendo escolas alemãs de São Paulo, denominada
“Taça Frieser”, que homenageia o grande atleta que foi Hermann Frieser.
(Pesquisa: Nilo Dias).
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