quinta-feira, 6 de março de 2014

A memória do futebol de Rio Grande

Hilton Xavier de Almeida, talvez poucos conheçam. Trata-se de alguém que nasceu e viveu sua infância e juventude em Rio Grande (RS), onde teve intensa atividade na política estudantil. Na década de 1950 mudou-se para Porto Alegre, onde foi um dos fundadores da Associação Riograndense de Propaganda. Bacharel em Administração, também publicou trabalhos na imprensa, especialmente no jornal “Agora”, de Rio Grande.

Escrevo este artigo como uma homenagem a ele, que sem sombra de dúvida deu uma valiosa contribuição à memória futebolística riograndina, ao lembrar casos verídicos, que certamente teriam se perdido no tempo, não fosse sua memória privilegiada. Mas vamos aos fatos.

Começo pela sua crônica intitulada “O açougue da Junção”. Conta o autor que na rua Saturnino de Britto, também conhecida como “Estrada dos Carreiros”, logo no seu início, após a curva da Junção, existia um pequeno prédio em estado de semi-abandono,onde funcionou um açougue, que até algum tempo atrás mantinha intacta a porta com duas grades de ferro,que serviam para manter o ambiente arejado, uma vez que na época não existiam câmaras frigoríficas.

Na fachada havia um remate ornamental com as iniciais EB, marco histórico da primeira atividade empresarial de Eduardo Ballester, começo de uma história que culminou com um dos mais importantes empreendimentos industriais da cidade.

E quem foi Eduardo Ballester? Foi um homem elegante, generoso, mas excêntrico. Há quem diga que foi uma figura bizarra, na plenitude do termo. Era elegante à sua maneira, e mesmo sem muitos formalismos, sabia se portar com desenvoltura em qualquer atividade social.

E que tem a ver ele com o futebol de Rio Grande? Muito. Sua generosidade era maior quando se tratava do S.C. São Paulo, não fazendo economia para ajudar o clube nos momentos de dificuldades. Foi sem dúvida uma figura marcante.

Gerou vasta prole e além de uma família formou um rijo clã. Foram 12 filhos, sendo nove homens, que se destacaram com o passar dos anos como seus fieis guardiães, companheiros, auxiliares e esteios. A família tinha uma paixão em comum, o futebol. Tanto é verdade que sete dos filhos de Ballester foram jogadores de futebol.

João jogou no F.B.C. Rio-Grandense, lá pelos idos de 1930. Ruy foi campeão estadual em 1933 pelo S.C. São Paulo. Já os mais moços, Dirceu e Dinarte brilharam no futebol da cidade no final dos anos 40, os dois defendendo o São Paulo. Dinarte ainda defendeu o Rio-Grandense e Dirceu o S.C. Rio Grande. Luiz embora tivesse jogado durante algum tempo, trocou os gramados pela Medicina. Ciro não vestiu a camisa de nenhum dos principais clubes da cidade, mas chegou a jogar ao lado de atletas consagrados, em times de verão.

O que mais se destacou entre os irmãos Ballester, sem dúvida foi Osny. Começou a carreira no São Paulo, indo depois para o Rio-Grandense e América, do Rio de Janeiro, levado pelas mãos de Gentil Cardoso, que havia servido na Marinha, em Rio Grande e treinado o "colorado marítimo".

Nos anos 30 o clube rubro carioca era um dos preferidos da elite, junto do Fluminense. Graças às suas atuações exuberantes, Osny foi considerado o segundo melhor zagueiro do país, ficando atrás somente de Domingos da Guia, considerado até hoje um dos “monstros sagrados” do futebol brasileiro.

Mas Osny soube conquistar o seu espaço, tornando-se um dos xodós da sociedade carioca, em especial do sexo feminino. Tinha trânsito livre no “grand-monde” da então capital do país, sempre com a mesma elegância e desenvoltura com que se apresentava nos gramados. Osny formou famosa dupla de zaga com o argentino Gritta.

Enquanto isso, em Rio Grande, o velho Eduardo Ballester não escondia a saudade do filho. Preferia que todos estivessem à sua volta, ajudando na consolidação do empreendimento industrial da família, que só terminou quando sua geração se desvaneceu.

Em outras oportunidades voltarei a contar as histórias imperdíveis de Hilton Xavier de Almeida. Aguardem. (Extraído da série de crônicas publicadas pelo autor, no jornal “Agora”, de Rio Grande-RS) 

Osny Ballester, quando jogava no F.B.C. Rio-Grandense, de Rio Grande. (Foto:Arquivo de Nilo Dias)

2 comentários:

  1. Que saudades do tio Osny.Foi casado com a tia Sirley ,irmã da minha mãe Leny.

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  2. Meu pai, Sully Ballester, jogou no F.B.C. Rio Grandense entre 38 e 1940... Meu irmão, Marconi, no E.C. Rio Grande entre 76 e 77... Muitos primos jogavam bem mas não foram pra frente... Têm também o gen no sangue... Um primo da nova geração está despontado. Ainda é novo...

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