quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

O mestre dos comentaristas esportivos

No dia 6 de abril de 2001 morreu em São Paulo o jornalista Ary Silva, aos 84 anos, proprietário e diretor do jornal semanário “A Gazeta da Zona Norte”, fundado por ele. Também foi um dos fundadores da Associação dos Jornais de Bairro de São Paulo (AJORB). 

Era filho do motorista de praça Antônio Justino da Silva, e de Maria Benedicta de Moraes, que morreu meses depois de dá-lo a luz. Foi criado por sua avó materna, Maria Emília de Souza, que era cozinheira do Palácio Campos Elíseos. Filho de negros, Ary nasceu no bairro do Canindé, capital paulista, a 21 de junho de 1917.

Começou a trabalhar cedo. Primeiro foi vendedor de rádio, mas não conseguiu vender nenhum. Então passou a ser redator e revisor de jornal. O pai de Ary tinha um amigo que era motorista do famoso jornalista e empresário Assis Chateaubriand, o que facilitou a conquista do novo emprego.

Ary na época já estudava Direito. No jornal foi trabalhar na Editoria de Esportes. Ao receber o seu primeiro salário comprou uma caneta “Parker”, e um terno. Estudou com livros dados, e se formou advogado, pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco.

Mas não abandonou o jornalismo esportivo. Mudou de emprego, indo trabalhar na Rádio Bandeirantes onde foi escalado para cobrir a Copa do Mundo de 1938, trabalho que outros colegas desprezaram.

Foi em Caxambu, Minas Gerais que Ary Silva tornou-se o primeiro comentarista esportivo do rádio brasileiro. Da Bandeirantes passou para as Emissoras Associadas de São Paulo. Sempre no rádio. Em 1966 transferiu-se para a rádio Excelsior, que dois anos antes havia sido adquirida pelas Organizações Globo. Ficou por lá até 1970.

Como comentarista esportivo, durante longos anos, destacou-se no rádio e na televisão. Ainda marcou presença como líder comunitário estando sempre à frente das principais reivindicações que beneficiaram o bairro de Santana e a Zona Norte paulista. Por várias legislaturas ocupou uma cadeira na Câmara Municipal  de São Paulo.

Com a frase “Torcida amiga, bom dia”, Ary Silva começava a coluna de esportes que diariamente escrevia no Diário de São Paulo. Naquele tempo as pessoas almoçavam em casa, ao contrário de hoje, e traziam embaixo do braço o jornal para que os outros familiares também o lessem.

A expectativa era sempre muito grande para se saber o que Ary Silva havia escrito a respeito do fascinante mundo do futebol. Também tinham grandes audiências a sua opinião abalizada nas transmissões esportivas da TV Tupi, onde atuava junto de cobras do jornalismo da época, como Geraldo Bretas, Maurício Loureiro Gama, Carlos Spera e o inconfundível repórter “Tico-Tico”.

Os argumentos irrefutáveis de Ary Silva levaram o doutor Paulo Machado de Carvalho, a convidá-lo a participar da “Comissão de Especialistas” que traçou o planejamento da Seleção Brasileira que participou e venceu o Mundial de 1958 , na Suécia. 

Quando de sua atuação frente o jornal a “Gazeta do Ipiranga”, Ary Silva mostrou-se um líder comunitário atuante, depois de ter sido vereador por São Paulo. Ele costumava chamar o periódico de “Menina”, e que lutava pelos interesses do bairro de Santana, onde sempre morou e região.

Ary foi um dos fundadores e primeiro presidente da Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo. Também criou a Associação dos Jornais de Bairro (AJORB) ao lado de outros pioneiros como Durval Quintiliano, à época a frente da “Gazeta de Pinheiros”, Armando da Silva Prado , da “Gazeta de Santo Amaro” e Araci Bueno, da “Gazeta do Ipiranga”.

Em 1950, quando chegou a televisão, quase todos os elementos que comentavam esportes, quer no rádio, como na televisão, eram formados em Direito. E nisso se incluía Ary. A profissão exigia muito improviso, o que facilitou a ida de muitos deles para a política. E Ary não foi exceção.

Ele era muito conhecido, até por seus trabalhos na Federação Paulista de Futebol, onde foi Diretor do Departamento de Árbitros. Isso o ajudou a se eleger vereador pelo Partido Republicano. Depois foi eleito por duas vezes, para a Assembléia Estadual de São Paulo.

Ao tentar pela terceira vez uma cadeira na Assembléia, acabou não conseguindo. E deixou a política. Pediu demissão da Globo e fundou o seu próprio jornal, “A Gazeta da Zona Norte”, em 1963.  

A luta com seu jornal de bairro foi intensa. E assim foi ele que, praticamente, levou a modernidade para a zona norte da capital paulistana. Lutou pela construção da Ponte Cruzeiro do Sul, que hoje leva o seu nome e fez o projeto da Avenida Brás Leme, da Água Fria, da Avenida Santos Dumont, enormes vias de acesso àquela região. Foi também dele a criação das Delegacias das Mulheres.

O seu jornal ganhou penetração, até porque não era vendido, dependia de anunciantes para sobreviver. Mas Ary conseguiu manter o jornal que circula até hoje. Lutou por Santana e sua população. Casado com Maria Santos Silva, com quem comemorou “Bodas de Ouro”, teve filhos e netos. (Pesquisa: Nilo Dias)


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