No dia 6 de abril de 2001 morreu em São Paulo o jornalista Ary Silva, aos 84 anos,
proprietário e diretor do jornal semanário “A Gazeta da Zona Norte”, fundado
por ele. Também foi um dos fundadores da Associação dos Jornais de Bairro de
São Paulo (AJORB).
Era
filho do motorista de praça Antônio Justino da Silva, e de Maria Benedicta de
Moraes, que morreu meses depois de dá-lo a luz. Foi criado por sua avó materna,
Maria Emília de Souza, que era cozinheira do Palácio Campos Elíseos. Filho de
negros, Ary nasceu no bairro do Canindé, capital paulista, a 21 de junho de
1917.
Começou
a trabalhar cedo. Primeiro foi vendedor de rádio, mas não conseguiu vender nenhum.
Então passou a ser redator e revisor de jornal. O pai de Ary tinha um amigo que
era motorista do famoso jornalista e empresário Assis Chateaubriand, o que
facilitou a conquista do novo emprego.
Ary
na época já estudava Direito. No jornal foi trabalhar na Editoria de Esportes. Ao
receber o seu primeiro salário comprou uma caneta “Parker”, e um terno. Estudou
com livros dados, e se formou advogado, pela Faculdade de Direito do Largo São
Francisco.
Mas
não abandonou o jornalismo esportivo. Mudou de emprego, indo trabalhar na Rádio
Bandeirantes onde foi escalado para cobrir a Copa do Mundo de 1938, trabalho
que outros colegas desprezaram.
Foi
em Caxambu, Minas Gerais que Ary Silva tornou-se o primeiro comentarista
esportivo do rádio brasileiro. Da Bandeirantes passou para as Emissoras
Associadas de São Paulo. Sempre no rádio. Em 1966 transferiu-se para a rádio
Excelsior, que dois anos antes havia sido adquirida pelas Organizações Globo.
Ficou por lá até 1970.
Como
comentarista esportivo, durante longos anos, destacou-se no rádio e na
televisão. Ainda marcou presença como líder comunitário estando sempre à frente
das principais reivindicações que beneficiaram o bairro de Santana e a Zona
Norte paulista. Por várias legislaturas ocupou uma cadeira na Câmara
Municipal de São Paulo.
Com
a frase “Torcida amiga, bom dia”, Ary Silva começava a coluna de esportes que
diariamente escrevia no Diário de São Paulo. Naquele tempo as pessoas almoçavam
em casa, ao contrário de hoje, e traziam embaixo do braço o jornal para que os
outros familiares também o lessem.
A
expectativa era sempre muito grande para se saber o que Ary Silva havia escrito
a respeito do fascinante mundo do futebol. Também tinham grandes audiências a
sua opinião abalizada nas transmissões esportivas da TV Tupi, onde atuava junto
de cobras do jornalismo da época, como Geraldo Bretas, Maurício Loureiro Gama,
Carlos Spera e o inconfundível repórter “Tico-Tico”.
Os
argumentos irrefutáveis de Ary Silva levaram o doutor Paulo Machado de
Carvalho, a convidá-lo a participar da “Comissão de Especialistas” que traçou o
planejamento da Seleção Brasileira que participou e venceu o Mundial de 1958 , na
Suécia.
Quando
de sua atuação frente o jornal a “Gazeta do Ipiranga”, Ary Silva mostrou-se um
líder comunitário atuante, depois de ter sido vereador por São Paulo. Ele costumava
chamar o periódico de “Menina”, e que lutava pelos interesses do bairro de
Santana, onde sempre morou e região.
Ary
foi um dos fundadores e primeiro presidente da Associação dos Cronistas
Esportivos do Estado de São Paulo. Também criou a Associação dos Jornais de
Bairro (AJORB) ao lado de outros pioneiros como Durval Quintiliano, à época a
frente da “Gazeta de Pinheiros”, Armando da Silva Prado , da “Gazeta de Santo
Amaro” e Araci Bueno, da “Gazeta do Ipiranga”.
Em
1950, quando chegou a televisão, quase todos os elementos que comentavam
esportes, quer no rádio, como na televisão, eram formados em Direito. E nisso
se incluía Ary. A profissão exigia muito improviso, o que facilitou a ida de
muitos deles para a política. E Ary não foi exceção.
Ele
era muito conhecido, até por seus trabalhos na Federação Paulista de Futebol,
onde foi Diretor do Departamento de Árbitros. Isso o ajudou a se eleger
vereador pelo Partido Republicano. Depois foi eleito por duas vezes, para a
Assembléia Estadual de São Paulo.
Ao
tentar pela terceira vez uma cadeira na Assembléia, acabou não conseguindo. E
deixou a política. Pediu demissão da Globo e fundou o seu próprio jornal, “A
Gazeta da Zona Norte”, em 1963.
A
luta com seu jornal de bairro foi intensa. E assim foi ele que, praticamente,
levou a modernidade para a zona norte da capital paulistana. Lutou pela
construção da Ponte Cruzeiro do Sul, que hoje leva o seu nome e fez o projeto
da Avenida Brás Leme, da Água Fria, da Avenida Santos Dumont, enormes vias de
acesso àquela região. Foi também dele a criação das Delegacias das Mulheres.
O
seu jornal ganhou penetração, até porque não era vendido, dependia de
anunciantes para sobreviver. Mas Ary conseguiu manter o jornal que circula até
hoje. Lutou por Santana e sua população. Casado com Maria Santos Silva, com
quem comemorou “Bodas de Ouro”, teve filhos e netos. (Pesquisa: Nilo Dias)
Nenhum comentário:
Postar um comentário