quinta-feira, 2 de maio de 2019

Os 100 anos do Bauru Atlético Clube

O Bauru Atlético Clube, da cidade paulista de Bauru, conhecido também como “BAC” ou “Baquinho”, completou ontem 100 anos de existência. Foi fundado no dia 1 de maio de 1919, como um clube de futebol. Hoje, não mais pratica o esporte, sendo um clube social e recreativo.

Originalmente seu nome era Luzitana Futebol Clube e o primeiro Presidente foi o benemérito Antônio Garcia, que foi o doador do terreno onde foi erguido o estádio que leva o seu nome e onde o Bauru sediava seus jogos.

Além das conquistas municipais, o BAC obteve relativo destaque na esfera estadual. Em 1937, foi campeão da Liga Sorocabana, torneio a respeito do qual um dos poucos registros existentes é uma montagem com os retratos dos jogadores vencedores da época.

Já em 1942, ainda como Luzitana, o clube chegou à final do Campeonato do Interior, disputado pelos campeões de 24 regiões esportivas do estado de São Paulo.

Campeão da 3ª Região (região de Bauru), o time alviceleste venceu a primeira partida da decisão contra o Taubaté (campeão da 24ª Região) por 4 X 0, em Bauru.

Dado como campeão pela torcida e imprensa local, o Luzitana foi jogar a partida de volta na casa do adversário, uma semana depois, com imensa vantagem, mas sofreu um inacreditável revés de 7 X 0, tendo de amargar o vice.

Para piorar, os baqueanos viram seu arquirrival Noroeste trazendo o primeiro título do Interior para o futebol de Bauru já no ano seguinte, em final disputada contra o tradicional Guarani no Pacaembu.

No início de 1947, entretanto, o sonhado título interiorano veio (válido pelo campeonato de 1946), em goleada por 4 X 1 contra o Cruzeiro, da cidade de mesmo nome (localizada no Vale do Paraíba).

Posteriormente, o time de Bauru conquistou o título amador do estado ao vencer o SAMS, campeão da capital, em duas partidas. A vitória por 2 X 0 fora, somada ao empate por 2 X 2 em casa, levou o futebol da cidade ao seu primeiro título estadual.

Vale destacar que, em homenagem ao cinquentenário do município, buscando ainda maior identificação com a população, o Luzitana já havia se tornado BAC meses antes (a mudança de nome veio justamente no dia do aniversário de 50 anos de Bauru, em 1º de agosto de 1946).

Nos tempos de futebol, ao todo o Bauru participou de 13 edições do Campeonato Paulista. Segunda Divisão, atual A-2, em sete vezes (1948 - 1949 - 1950 - 1951 - 1952 - 1953 e 1954); Terceira Divisão, atual A-3, com seis participações (1963 - 1964 - 1965 - 1966 – 1967 e- 1968).

O Bauru entrou para a história do futebol brasileiro e mundial por ter sido o clube onde Édson Arantes de Nascimento, o grande “Pelé”, o melhor jogador de futebol de todos os tempos,  começou a sua carreira

Pelé e seu pai “Dondinho” usavam as dependências do BAC, nas décadas de 1940 e 1950. Vestiu sua camisa pela primeira vez em 1954, não demorando a se destacar junto com seus companheiros.

No campeonato da Liga Bauruense de 1954, a equipe disputou 33 partidas e marcou 148 gols, uma média de 4,5 por jogo, levantando a taça com seis rodadas de antecipação.

Embora nunca tenha jogado fora do país, ao contrário do rival Noroeste, o BAC conseguiu grandes feitos contra equipes estrangeiras: venceu por 6 X 0 um adversário polonês e por 8 X 2 o argentino Atlanta, ambos em seu campo.

O Atlanta estava excursionando pelo país e havia acabado de bater o São Paulo por 1 X 0, em amistoso, no Pacaembu. A extraordinária goleada às vésperas do Natal (23 de dezembro) de 1951 fez com que o nome de Bauru ganhasse repercussão internacional.

Aquele time do BAC ficou conhecido como “Esquadrão da Primavera”, marcando época. Mesmo assim, não foi capaz de levar o clube à elite estadual.

Outra vitória inesquecível ocorreu no dia 22 de novembro de 1942, quando o então Lusitana, vice-campeão do interior semanas antes, convidou a Seleção do Mato Grosso para um amistoso em Bauru e fez incríveis 10 X  no adversário.

O maior rival do BAC foi o Noroeste, hoje o único clube profissional da cidade de Bauru. Quando o BAC ainda se chamava Luzitana (ou Lusitana), o clássico era conhecido como NO-LU e dividia a cidade em azul (do BAC) e vermelho (do Noroeste).

O BAC/Lusitana era o alviceleste, enquanto o Noroeste era o alvirrubro. Uma prova da força das duas equipes é que, dos primeiros 14 Campeonatos Bauruenses, realizados entre 1931 e 1946, os rivais só deixaram de conquistar a taça em duas ocasiões, com seis títulos para cada um e várias finais disputadas entre eles.

Até o surgimento do Lusitana, em 1919, somente o Smart fazia frente ao Noroeste em Bauru. Foi então que, na estreia de sua camisa azul e branca, no mesmo ano, o clube recém-fundado resolveu aprontar: enfrentou um combinado Smart-Noroeste e goleou por implacáveis 9 X 3.

Era o cartão de visitas do time que, anos mais tarde, encantaria os bauruenses e faria grandes clássicos contra o eterno rival.

O Noroeste é um clube que surgiu da ferrovia e para os ferroviários. Uma relação íntima com uma categoria fundamental para o crescimento de Bauru.

Mas, inicialmente, era uma identificação com apenas um segmento dos bauruenses. Quando o Bauru Atlético Clube estava ativo, não eram poucos os que afirmavam que o clube da cidade era o BAC, enquanto o “Norusca” era o “time dos ferroviários”.

Apesar da grande rivalidade, no dia do cinquentenário de Bauru (1° de agosto de 1946), BAC e Noroeste se uniram para receber o Corinthians em jogo festivo, como parte das comemorações pela data.

A vitória da equipe da capital por 5 X 2, porém, não atrapalhou a festa: afinal, nesse dia, o antigo Luzitana dava lugar ao eterno Bauru Atlético Clube, uma vez que ter a cidade no nome significaria maior identificação do clube com o município, e não somente com a colônia lusitana de Bauru. Foi uma pausa nos confrontos dos dois rivais para unir a cidade em uma só torcida.

Das dezenas de jogos entre Bauru e Noroeste, pode ser destacado um pela Segunda Divisão (atual A-2) do estado, em 1950, vencido pelo Bauru por 1 X 0.

A partida ocorreu nos mesmos dia e hora do “Maracanaço”. E as coincidências não param por aí: o gol do BAC foi marcado, praticamente, ao mesmo tempo em que Ghiggia virava a partida para o Uruguai no Maracanã.

Os baqueanos presentes ao “Estádio Antônio Garcia” que ouviam a virada uruguaia pelo rádio se dividiam entre a alegria e a tristeza, enquanto os noroestinos lamentavam duplamente.

Além do embate histórico de 1950, também merecem menção as duas partidas pela primeira fase da “Segunda Divisão” de 1953, ambas vencidas pelo alvirrubro: 3 X 1, de virada, no primeiro turno da competição, e 4 X 3, em pleno campo do BAC, no segundo turno.

Ao final dessa fase, o Noroeste se classificou em primeiro do grupo, com 15 pontos, enquanto o Bauru terminou com apenas 1 ponto, na última colocação da chave.

Posteriormente, o “Norusca” acabou conquistando o título do certame e o acesso para a elite pela primeira vez. Esse foi o último ano em que os rivais bauruenses estiveram na mesma divisão do “Paulistão”.

Em setembro de 1970, Bauru viu seu derradeiro dérbi, com um BAC já em baixa perdendo por 3 X 0 para o Noroeste em amistoso comemorativo aos 60 anos do rival. Nesse mesmo mês, o time alvirrubro, tal qual em 1953, conquistou o título da “Segunda Divisão” (feito ainda repetido em 1984).

Durante décadas, o BAC, organizou shows com os maiores nomes da música brasileira. Nélson Gonçalves, Emilinha Borba, Agnado Rayol, Roberto Carlos, Jamelão entre outros. O Carnaval do BAC traz saudades pela sua movimentação e grandiosidade. As piscinas inauguradas no começo dos anos 70 foram outro ponto marcante.

No final da década de 90, o clube começou a perder os associados por diversas razões, culminado em 2006 com a venda da Sede Social para a Rede de Supermercadista Tauste. O supermercado homenageou o clube com um painel que está imortalizado em suas paredes externas.


Depois do futebol, o vôlei foi o esporte mais tradicional no BAC. Foram inúmeras disputas em Jogos Regionais e em Jogos Abertos, tanto no masculino quanto no feminino, ao longo de décadas.

O ápice, no entanto, veio com as mulheres, no final da década de 90. Com o nome de BAC/Preve, a equipe feminina debutou na Divisão Especial do Campeonato Paulista em 1999, terminando o torneio na sétima colocação.

No Campeonato Paulista de 2000, sob a denominação BAC/Preve/Jopema, o time alcançou os playoffs, mas parou nas quartas de final, ao ser derrotado por 2 X 0 na série melhor de três pelo São Caetano.

Na classificação final, o BAC ficou com o sexto lugar. Nos anos seguintes, o Bauru não disputou o Campeonato Paulista, mas permaneceu em atividade disputando o Campeonato da Associação Pró-Voleibol (APV), Jogos Regionais e Abertos, além do Campeonato Paulista da Primeira Divisão (considerado o torneio de acesso à elite), competição em que foi pentacampeão.

Apesar de ter ganhado cinco vezes a divisão de acesso, o BAC disputou a elite em apenas duas oportunidades, por não conseguir reunir recursos financeiros que permitissem à equipe bater de frente com os principais times do estado de São Paulo.


O voleibol no clube foi perdendo força após a morte do presidente Pedro Macéa, até o departamento acabar sendo desativado.

O Clube, enquanto instituição sobrevive com sua sede de campo, onde a população de Bauru e região pode desfrutar de piscinas, campos de futebol society e um parque de esporte radical para a prática de arvorismo. 

Troféus conquistados: 3 Copas Iniciação; 7 Torneios de Bauru; 1 Taça José Ermínio de Morais; 1 Copa Interior de São Paulo e 5 Estaduais Quadrangular A-3. (Pesquisa: Nilo Dias)


Uma das últimas formações do time de futebol do Bauru Atlético Clube, onde Pelé começou a carreira.

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