A
ideia de uma competição de futebol que reunisse atletas homossexuais não é
recente. Em 1982, em San Francisco, nos Estados Unidos, foi organizado o
primeiro torneio desportivo dentro da comunidade gay.
Ao
longo dos anos, passaram a surgir ao redor do mundo diversas propostas visando
combater a homofobia no esporte, assim como promover eventos recreativos para a
comunidade LGBT. Na Europa, a GFSN National League britânica ocorre desde 2002,
e a Paris Foot Gay desde 2007.
Com
o sucesso da Copa do Mundo Gay na última década, faltavam no Brasil equipes que
representassem o país do futebol na competição. Assim, em 2017, foi organizada
a irreverente Champions LiGay Nacional de Futebol Society do Brasil , o nome é
um trocadilho com o mais rico torneio de clubes no mundo.
O
futebol é um dos campos onde o preconceito sexual está mais enraizado
culturalmente no Brasil. Para quebrar essa lógica, o Rio de Janeiro realizou em
25 novembro de 2017 a 1ª edição do campeonato brasileiro de futebol gay.
Champions LiGay.
A
LiGay foi fundada por BeesCats (RJ), Futeboys e Unicorns (SP), após um mini
torneio entre as equipes disputado em julho em São Paulo, a Taça Hornet.
Participaram
oito times gays de seis cidades do país, todos militantes da inclusão LGBT no
futebol: Magia Sport Clube, do Rio Grande do Sul; Unicorns Brasil, de São
Paulo; Bees Cats BR, do Rio de Janeiro; Sereyos Futebol Clube, de Santa
Catarina; Bravus BSB, de Brasília; Bharbixas, de Minas Gerias; Alligaytors
Futebol Clube, do Rio de Janeiro e Futeboys Futebol Clube, de São Paulo.
Os
participantes foram divididos em dois grupos de quatro equipes cada, que
jogaram entre si em turno único, definindo os classificados para a fase
seguinte. Assim como em competições de futebol profissionais, houve a disputa
de semifinais, final e terceiro lugar. As partidas tiveram duração de dois
tempos de 12 minutos cada.
A
primeira edição do torneio ocorreu na arena Rio Sport, na Barra da Tijuca, Rio
de Janeiro. Entre 25 e 26 de novembro de 2017, as oito equipes duelarem por
duas vagas na final. A página "LiGay" no Facebook retransmitiu todos
os jogo.
Foi
um torneio de futebol soçaite, com as regras do Fut7 – seis jogadores na linha
e um no gol, com máximo de 16 atletas por equipe. Todos eles gays, enfatizou a
organização.
“Já
que é um torneio para provar que gay pode jogar futebol, criamos essa restrição
‘técnica'”, explicou André Machado, líder do BeesCats e da LiGay, organizador
do torneio.
O
time do Bharbixas, de Minas Gerais, foi o campeão. O BeesCats, do Rio de
Janeiro, segundo lugar e Unicorns (SP), o terceiro classificado.
Em
2018, já em sua segunda edição, a competição passou a contar com 12 equipes
participantes, reunindo um público de cerca de 1,2 mil pessoas em Porto Alegre.
Para
recepcionar os atletas e o público de fora da capital gaúcha, cerca de 170
quartos foram reservados na rede hoteleira. Durante o evento, houve food
trucks, shows de drag queens, animação conduzida por cheer leaders e
apresentação de escola de samba, além das cerimônias de abertura e de
encerramento, com tradução simultânea para Libras.
O
presidente da Federação de Soccer Society do Rio Grande do Sul, Vinicius
Santos, que foi o árbitro da final da segunda edição, disse que recebeu com
surpresa o fato do fair play predominar no evento, por estar acostumado com a
agressividade corriqueira nos torneios profissionais.
O
Bulls (SP) sagrou-se campeão, seguido por BeesCats (RJ), em segundo e Sereyos
(SC), terceiro.
Ainda
em 2018 houve um segundo torneio, disputado em Sao Paulo, com o Bulls, campeão,
Bharbixas, em segundo e Sereyos em terceiro.
Em
2019, na quarta edição, o número de participantes dobrou para 24 equipes, com o
torneio sendo realizado em Brasília (DF)
O
BeesCats (RJ), levantou a taça. Em segundo lugar classificou-se o Bulls (SP),
com o Bharbixas (MG), chegando na terceira colocação.
Misturar
jogadores héteros perderia o sentido da causa, que é dar luz ao tema.
Inclusive, esperamos que em breve não seja preciso mais fazer movimentos como
esse de criação dos times inclusivos, pois gays poderiam jogar normalmente pelo
Brasil sem se preocuparem com gracinhas ou atos homofóbicos.
Vamos
confiar nas equipes. Mentira tem perna curta, se algum time tentar enganar os
outros, cedo ou tarde a verdade virá à tona. E aí o time que trapaceou será
excluído permanentemente da liga.
Vários
jogadores das equipes sofreram preconceito quando eram mais jovens. Muitos
deixaram de jogar futebol por causa do bullying que sofreram na escola.
Encontrar um ambiente acolhedor e seguro para a prática do futebol, junto com
seu estilo de ser, é o principal propósito da criação desses times inclusivos.
O
ambiente em que você pode dar a pinta que quiser sem ter alguém olhando torto
para você. Outro ponto importante é a questão da falta de habilidade de algumas
pessoas. No futebol gay não importa se você é bom ou ruim, estamos todos lá
para nos divertir e nos integrar. O jogar bem ou jogar mal fica em segundo
plano. Mesmo as disputas mais ríspidas ou discussões são deixadas de lado.
A
maioria das equipes joga no esquema “pelada” – com jogadores da própria equipe.
Algumas equipes não fazem jogos contra adversários héteros: é o caso dos
Unicorns. Já os BeesCats são o primeiro time 100% gay a jogar a Liga Carioca de
Futebol. (Pesquisa: Nilo Dias)
O BeesCats, do Rio de Janeiro, foi campeão em 2019.