Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

quarta-feira, 31 de julho de 2019

A irreverente Champions LiGay

A ideia de uma competição de futebol que reunisse atletas homossexuais não é recente. Em 1982, em San Francisco, nos Estados Unidos, foi organizado o primeiro torneio desportivo dentro da comunidade gay.

Ao longo dos anos, passaram a surgir ao redor do mundo diversas propostas visando combater a homofobia no esporte, assim como promover eventos recreativos para a comunidade LGBT. Na Europa, a GFSN National League britânica ocorre desde 2002, e a Paris Foot Gay desde 2007.

Com o sucesso da Copa do Mundo Gay na última década, faltavam no Brasil equipes que representassem o país do futebol na competição. Assim, em 2017, foi organizada a irreverente Champions LiGay Nacional de Futebol Society do Brasil , o nome é um trocadilho com o mais rico torneio de clubes no mundo.

O futebol é um dos campos onde o preconceito sexual está mais enraizado culturalmente no Brasil. Para quebrar essa lógica, o Rio de Janeiro realizou em 25 novembro de 2017 a 1ª edição do campeonato brasileiro de futebol gay. Champions LiGay.

A LiGay foi fundada por BeesCats (RJ), Futeboys e Unicorns (SP), após um mini torneio entre as equipes disputado em julho em São Paulo, a Taça Hornet.

Participaram oito times gays de seis cidades do país, todos militantes da inclusão LGBT no futebol: Magia Sport Clube, do Rio Grande do Sul; Unicorns Brasil, de São Paulo; Bees Cats BR, do Rio de Janeiro; Sereyos Futebol Clube, de Santa Catarina; Bravus BSB, de Brasília; Bharbixas, de Minas Gerias; Alligaytors Futebol Clube, do Rio de Janeiro e Futeboys Futebol Clube, de São Paulo.

Os participantes foram divididos em dois grupos de quatro equipes cada, que jogaram entre si em turno único, definindo os classificados para a fase seguinte. Assim como em competições de futebol profissionais, houve a disputa de semifinais, final e terceiro lugar. As partidas tiveram duração de dois tempos de 12 minutos cada.

A primeira edição do torneio ocorreu na arena Rio Sport, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Entre 25 e 26 de novembro de 2017, as oito equipes duelarem por duas vagas na final. A página "LiGay" no Facebook retransmitiu todos os jogo.

Foi um torneio de futebol soçaite, com as regras do Fut7 – seis jogadores na linha e um no gol, com máximo de 16 atletas por equipe. Todos eles gays, enfatizou a organização.

“Já que é um torneio para provar que gay pode jogar futebol, criamos essa restrição ‘técnica'”, explicou André Machado, líder do BeesCats e da LiGay, organizador do torneio.

O time do Bharbixas, de Minas Gerais, foi o campeão. O BeesCats, do Rio de Janeiro, segundo lugar e Unicorns (SP), o terceiro classificado.

Em 2018, já em sua segunda edição, a competição passou a contar com 12 equipes participantes, reunindo um público de cerca de 1,2 mil pessoas em Porto Alegre.

Para recepcionar os atletas e o público de fora da capital gaúcha, cerca de 170 quartos foram reservados na rede hoteleira. Durante o evento, houve food trucks, shows de drag queens, animação conduzida por cheer leaders e apresentação de escola de samba, além das cerimônias de abertura e de encerramento, com tradução simultânea para Libras.

O presidente da Federação de Soccer Society do Rio Grande do Sul, Vinicius Santos, que foi o árbitro da final da segunda edição, disse que recebeu com surpresa o fato do fair play predominar no evento, por estar acostumado com a agressividade corriqueira nos torneios profissionais.

O Bulls (SP) sagrou-se campeão, seguido por BeesCats (RJ), em segundo e Sereyos (SC), terceiro.

Ainda em 2018 houve um segundo torneio, disputado em Sao Paulo, com o Bulls, campeão, Bharbixas, em segundo e Sereyos em terceiro.

Em 2019, na quarta edição, o número de participantes dobrou para 24 equipes, com o torneio sendo realizado em Brasília (DF)

O BeesCats (RJ), levantou a taça. Em segundo lugar classificou-se o Bulls (SP), com o Bharbixas (MG), chegando na terceira colocação.

Misturar jogadores héteros perderia o sentido da causa, que é dar luz ao tema. Inclusive, esperamos que em breve não seja preciso mais fazer movimentos como esse de criação dos times inclusivos, pois gays poderiam jogar normalmente pelo Brasil sem se preocuparem com gracinhas ou atos homofóbicos.

Vamos confiar nas equipes. Mentira tem perna curta, se algum time tentar enganar os outros, cedo ou tarde a verdade virá à tona. E aí o time que trapaceou será excluído permanentemente da liga.

Vários jogadores das equipes sofreram preconceito quando eram mais jovens. Muitos deixaram de jogar futebol por causa do bullying que sofreram na escola. Encontrar um ambiente acolhedor e seguro para a prática do futebol, junto com seu estilo de ser, é o principal propósito da criação desses times inclusivos.

O ambiente em que você pode dar a pinta que quiser sem ter alguém olhando torto para você. Outro ponto importante é a questão da falta de habilidade de algumas pessoas. No futebol gay não importa se você é bom ou ruim, estamos todos lá para nos divertir e nos integrar. O jogar bem ou jogar mal fica em segundo plano. Mesmo as disputas mais ríspidas ou discussões são deixadas de lado.

A maioria das equipes joga no esquema “pelada” – com jogadores da própria equipe. Algumas equipes não fazem jogos contra adversários héteros: é o caso dos Unicorns. Já os BeesCats são o primeiro time 100% gay a jogar a Liga Carioca de Futebol. (Pesquisa: Nilo Dias)


O BeesCats, do Rio de Janeiro, foi campeão em 2019.

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Está de luto o rádio gaúcho e brasileiro

Morreu na manhã deste domingo (28), em Porto Alegre, aos 83 anos, o radialista Milton Ferreti Jung. Conhecido como a “Voz do Rio Grande”, o ex-locutor esportivo e do “Correspondente Renner”, o noticioso de maior credibilidade no rádio do Rio Grande do Sul.

Lutava há anos contra o Alzheimer, doença neurodegenerativa crônica que se manifesta lentamente e vai agravando ao longo do tempo.

A causa da morte, segundo nota do hospital "Moinhos de Vento", onde estava internado, foi "em decorrência de choque séptico relacionado à infecção respiratória complicada por insuficiência renal".

Milton Ferretti Jung nasceu em Caxias do Sul, no dia 29 de novembro de 1935. A cerimônia de cremação do radialista aconteceu nesta segunda-feira, às 11 horas, no Crematório Metropolitano São José, na avenida Oscar Pereira, no bairro Azenha, em Porto Alegre.

Milton deixou a mulher Maria Helena, os filhos Milton Júnior, radialista da CBN, Christian e Jaqueline, e quatro netos. Pelo Twitter, o jornalista Milton Jung, filho do ex-locutor, se despediu com a seguinte mensagem:

"Valeu, pai! Sua alma é abençoada, sua história é imortal. Se para muitos você foi "A Voz do Rádio" para nós você foi a voz da sabedoria. Obrigado por tudo que nos ensinou."

Também pelas redes sociais, o professor Luiz Artur Ferraretto, referência em radio jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), afirmou que "faleceu o locutor da pronúncia mais correta do rádio brasileiro, aquele que, durante mais tempo, deu vida e emoção às notícias do "Correspondente Renner", da Rádio Guaíba, de Porto Alegre.

Faleceu o comentarista esportivo de também precisas opiniões. Faleceu o narrador de tantos embates futebolísticos. Faleceu um sujeito perfeccionista e correto. Faleceu o pai de uma família de profissionais de comunicação.”

Começou a carreira na Rádio Canoas, como locutor de radioteatro da emissora, onde trabalhou por quatro anos. Em 1958 iniciou o trabalho na Rádio Guaíba. Em 1964, passou a apresentar o principal programa de notícias da emissora, “o Correspondente Renner”. Trabalhou na rádio por 56 anos, de 1958 a 2014.

Participou das “Copas do Mundo” de 1974, 1978 e 1986. Deixou a narração em 1988 e voltou no mesmo ano narrando algumas partidas do Grêmio ou em casa ou em São Paulo, onde aproveitava para visitar o filho Milton.

Em 2007, teve um AVC quando apresentava “O Correspondente Renner”.  Mesmo assim conseguira narrar toda aquela edição, que à época durava 10 minutos.

Em 2008, quando completou 50 anos de rádio, Milton recebeu homenagens dos principais nomes da emissora, como Luiz Carlos Reche, Jurandir Soares, Vladimir Oliveira e Rui Strelow durante a edição das 13h do “Correspondente Renner”.

Em 2012, narrou os 15 primeiros minutos do Grenal de encerramento do Estádio Olímpico ao lado de Orestes de Andrade, tendo muita repercussão nas redes sociais.

Em 2014, foi demitido da Rádio Guaíba, aonde trabalhou durante quase toda sua carreira. Milton fora dispensado junto com seu amigo e ex-operador de externas, Celso Costa, que junto com Milton era o mais antigo profissional da Guaíba.

Em homenagem, a Rádio Guaíba exibiu áudios históricos de Milton na emissora, como o milésimo gol de Pelé narrado por ele em 1969.

Em homenagem ao seu legado esportivo, o radialista e locutor recebeu homenagens do Grêmio e do Internacional no dia de ontem Em nota divulgada nas redes sociais, o Inter lamentou o falecimento de Milton Ferretti Jung: "Uma das mais marcantes vozes do rádio brasileiro. O Clube do Povo se solidariza com os amigos e os familiares deste brilhante radialista e locutor esportivo".

O Tricolor gaúcho lamentou e se solidarizou com seus familiares e amigos: “Com sua tradicional e respeitada voz, apurada locução e narração, além de gremista ilustre, acompanhou nossa grande caminhada de conquistas.” (Pesquisa: Nilo Dias)


quinta-feira, 25 de julho de 2019

Tramways, o “Furacão elétrico" pernambucano

O Tramways, time que era sustentado pela “Pernambuco Tramways and Power Company Limited”, que explorou os serviços de energia elétrica e de bondes do Estado durante 50 anos (1912 até 1962), e que está desativado há muito tempo, conseguiu uma façanha, até hoje não igualada: é o único clube que conquistou de maneira invicta um bi-campeonato estadual, nos anos de 1936 e 1937.

A empresa inglesa foi responsável pela transição dos bondes puxados por burros para os elétricos, na primeira metade do século 20. Daí, a equipe de futebol também ser conhecida como os “elétricos”.

O clube disputou por sete anos o principal “Campeonato Pernambucano”. E nesse período causou muitos estragos aos seus adversários mais fortes, o chamado “trio de ferro”, Sport, Náutico e Santa Cruz, além do América, que na época gozava de prestigio. Mas desapareceu da mesma forma como surgiu, rapidamente, e por isso ganhou o apelido de “Furacão”.

Os jogadores eram funcionários da Companhia. Domingos, Furlan e Rubinho, despachavam no escritório central, que ficava na esquina da Rua Aurora com a Princesa Isabel.

O ponteiro Olívio trabalhava na seção de energia. O goleiro Zé Miguel ficava até altas horas da noite como chefe de quarto do departamento de luz. Já “Sopinha”, “Guaberinha”, “Paisinho” e Faustino exerciam outras funções na empresa.

Alguns desses jogadores também atuavam em times de bairros, na “Liga Suburbana”, que era muito forte na época. Casos de Zé Miguel, Olívio, “Paisinho” e “Quetreco”.

Os “Elétricos” disputaram sete estaduais, de 1935 a 1941. O primeiro título, em 1936, foi tumultuado. Mesmo faltando 16 jogos para o campeonato acabar, os clubes e a “Federação Pernambucana de Desportos” resolveram encerrar o certame.

Mesmo com uma campanha muito superior a dos rivais, com sete pontos a mais do que Náutico e Santa Cruz, ainda ficou a dúvida se o time teria fôlego para se manter na ponta.

Sua última partida foi contra o Sport, a quem venceu por 3 X 2, com dois gols de “Sopinha” e um de Olívio. Foram 11 vitórias e dois empates.

O time campeão de 1936 tinha essa formação: Zé Miguel – Domingos – Jorge. Zezé – Faustino e Furlan. Alcides – Bermudes – Sopinha – Quatreco e Olívio.

No ano seguinte, os “Transviários” fizeram uma campanha ainda mais arrebatadora, para dizimar quaisquer dúvidas: 14 vitórias e apenas um empate, 64 gols marcados e 16 levados.

A prova da superioridade do Tramways foi a goleada aplicada no Sport, por 5 X 2, no jogo que ratificou o título. Olívio, Navarra, Alcides, Quetreco e Sopinha “Elétricos”.

Só utilizando atletas “prata da casa”, talvez o Tramways não conseguisse sagrar-se bi-campeão invicto. Foi preciso tirar os jogadores “Zezè”, Júlio Fernandes e “Alcides Cachorrinho”, todos do Santa Cruz.

“Cachorrinho” marcou 56 gols pelo Tramways em campeonatos pernambucanos, tornando-se o maior artilheiro da equipe na história da competição. Com dinheiro de sobra, o técnico Joaquim Loureiro veio de São Paulo para armar a equipe.

O time bi-campeão tinha esta formação: Zé Miguel – Domingos e Ernesto. Guaberinha – Paizinho e Furlan. Alcides – Omar – Navarra (Spinha) – Quetreco e Olívio.

Na trajetória do primeiro título estadual do Tramways, em 1936, um jogador merece um capítulo à parte. Dono de um potente chute, de causar medo nos goleiros, como diziam os jornais pernambucanos da época, o argentino Bermudes foi um dos pilares da inédita conquista do grêmio transviário.

Em 13 jogos pelo Tramways no Estadual de 36, o meia-direita Bermudes fez 19 gols, cravando o seu nome na galeria dos artilheiros do Campeonato Pernambucano.

Náutico, Sport e Santa Cruz sofreram nas mãos, ou melhor, nos pés do gringo, que balançou a rede do trio de ferro. O Torre, principal rival do Tramways, era sua vítima favorita. Na goleada por 8 X 4 sobre o Madeira Rubra, Bermudes fez a metade dos gols do seu time.

Ao todo, juntando os Estaduais de 1935 e 36, Bermudes marcou 32 gols pelo Tramways – terceiro maior goleador da equipe no Pernambucano, atrás de “Alcides Cachorrinho” (56 gols) e Olívio (46).

O sucesso nos “Elétricos” fez com que o Náutico o contratasse. No Timbu, ele foi novamente campeão pernambucano, em 1939, o segundo da história alvirrubra, ao lado dos Carvalheira: Fernando, Zezé e Emídio.

Companheiro de Bermudes nessa conquista, o ex-goleiro Djalma Cristaino Santos, falecido em agosto de 2012, aos 94 anos, lembrava com muita saudade do amigo.

“Bermudes era formidável, um grande amigo. Dançava muito bem tango. Um dia, chegou a notícia de que ele havia morrido. Pedi licença a Cabelli (Umberto, técnico uruguaio, que comandava o Náutico) e fui para a pensão onde ele morava.

Chegando lá, o encontrei no chão, envolto em cigarros e bebidas, mas estava vivo. Então, entrei em contato com a família dele e o seu pai mandou dinheiro para enviá-lo de volta a Buenos Aires”, relatou.

Nos anos 50, o ex-goleiro alvirrubro foi à capital argentina somente para rever o amigo. “Em 1953, nos encontramos em Buenos Aires. Ele estava trabalhando como locutor de rádio.

Foi a última vez que nos vimos”, relembrava Djalma, que soube da morte do amigo anos depois, através de uma carta enviada pelo esposa do argentino, Helena.

Pelo Náutico, Bermudes anotou 12 gols pelo Estadual de 39. No ano seguinte, porém, anotou apenas dois, ambos em amistosos.

As cores do Tramways eram branco, azul e vermelho, por isso era chamado de tricolor transviário. No biênio 1936/1937, foi ele que mandou no futebol pernambucano, mantendo-se invicto nesse período.

O Tramways era de uma época em que o profissionalismo ainda não tinha se consolidado em Pernambuco. A maioria dos jogadores  ainda não tinha contrato e não recebia dinheiro para jogar futebol.

Mas no caso dos “Elétricos”, a situação era um pouco diferente. Muitos que jogavam pelo Tramways era em troca de emprego na empresa, o que se constituía em uma espécie de amadorismo marrom, já que os atletas tinham salário, não pelo futebol, mas pelas funções que exerciam na companhia inglesa.

O médico cardiologista escritor Rostand Paraíso, autor do livro “Esses Ingleses”, destacou na obra a presença e influência inglesa no Recife, contando passagens vivenciadas pelo Tramways. 

Até 1941, quando disputou o seu último Estadual, o Tramways seguiu fazendo um papel digno. O fim da equipe foi assim explicado por Haroldo Praça, em seu livro “O Gôl de Haroldo”, de 2001.

“Não obstante reunir bons jogadores e armar equipes destacadas, o “Elétrico” foi vitimado por moléstia incurável: clube de dono (Antônio Rodrigues de Souza, diretor da empresa britânica, responsável pelo investimento na montagem dos times de 1936/37). E aí começou a entrar para a história mais uma aparição brilhante efêmera.” (Pesquisa: Nilo Dias)


O time campeão de 1936

terça-feira, 23 de julho de 2019

O rádio esportivo brasileiro está de luto

Morreu hoje aos 78 anos de idade o conhecido jornalista esportivo Juarez Soares Moreira que lutava contra um câncer no intestino e no reto, porém a causa da morte foi  um infarto fulminante após sofrer duas paradas cardíacas.

Nasceu em São José dos Campos (SP), na região do Vale do Paraíba, no dia 16 de julho de 1941. Era casado com a também jornalista Helena de Grammont, irmã de Elaine de Grammont, vítima de um assassinato passional ocorrido em março de 1981 pelo ex-marido, o cantor Lindomar Castilho.

Um dos mais completos jornalistas esportivos do Brasil, China (como ficou conhecido pelos mais próximos) teve experiência em diversos segmentos da comunicação.

A primeira oportunidade na profissão surgiu praticamente por acaso. No colégio São Joaquim, onde estudava na cidade de Lorena, era amigo de Sabará, que fazia sucesso cantando na Rádio Cultura local.

Certo dia, Juarez perguntou ao amigo se poderia lhe ajudar a fazer um teste na emissora. A resposta foi positiva e dias depois, aos 17 anos, Juarez fazia sua primeira narração esportiva.

A vida seguiu sem grandes mudanças até Juarez ficar sabendo de um teste que a rádio Difusora realizaria em São Paulo. Embora seja necessário dizer que naquele tempo, seu sonho era vir para capital apenas para estudar Filosofia ou História. Juarez passou no teste, mas voltou a Lorena antes de saber o resultado.

Quando o pessoal da Difusora me achou, eu estava trabalhando novamente na Cultura de Lorena. Convidaram-me para ser repórter. Aceitei na hora", recorda Juarez.

A estreia aconteceu no dia 16 de agosto de 1961, na partida em que o Hepacaré, de Lorena, bateu o Estrela da Saúde por 1 X 0, com um gol de Tijolinho. Começava efetivamente uma carreira que ganhou mais corpo quando Pedro Luís, um dos maiores locutores esportivos de todos os tempos, desembarcou na Difusora.

Pedro fez questão de reunir os maiores nomes de então, mas fez uma exigência: narrar na Rádio Tupi, pertencente ao mesmo grupo de comunicações. Surgia a equipe 1040, que fez história no rádio brasileiro.

Atuou como repórter na Rede Globo na década de 1970 até o início dos anos 80, participando da cobertura da emissora na Copa do Mundo de 1982, na Espanha e nessa época também foi locutor das Rádios Globo e Excelsior.

Trabalhou muito tempo na TV Bandeirantes na equipe de Luciano do Valle, onde foi demitido por politizar seus comentários. De 1995 a 1998, esteve na equipe esportiva do SBT. Apesar de ter começado a carreira como narrador, ganhou fama e respeito como repórter e comentarista.

Torcedor confesso do Corinthians, fez também parte da equipe de esportes da Rádio Record e do programa “Debate Bola”, comandado na TV Record por Milton Neves.

O comentarista Osmar Oliveira, já falecido, contou uma história acontecida com Juarez em um jogo, que ele não recordava qual, em que o repórter teve uma disenteria volumosa e teve de correr para o banheiro. O narrador Pedro Luiz o chamava insistentemente cada vez que a bola ia pela linha de fundos e nada de Juarez responder.

Foi quando o cara que ajudava a puxar os fios ouviu os chamados, pegou o microfone lascou: "O licutor (locutor) foi cagar e já volta".

Foi filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) por 21 anos, legenda pela qual foi eleito vereador em 1988 como o 6.º vereador mais votado da cidade e o terceiro melhor do PT, com quase 40 mil votos.

Além de segundo-secretário do Sindicato dos Jornalistas durante a presidência de Gabriel Romeiro, também foi Secretário dos Esportes da cidade de São Paulo, no governo de Luiz Erundina. Como secretário, conseguiu trazer a Fórmula 1 de volta para o autódromo de Interlagos que havia perdido anos antes para o autódromo de Jacarepaguá.

Desfiliou-se do PT em 2003 e em junho do mesmo ano ingressou no PDT, sendo candidato a vice-prefeito na chapa de Paulo Pereira da Silva nas eleições de 2004, mas a chapa não obteve sucesso amargando a 5.ª colocação com 86.549 votos (1,4% dos votos válidos).

No governo de José Serra a frente da Prefeitura de São Paulo, Juarez Soares foi secretário-adjunto da Secretaria do Municipal do Trabalho, mas pediu exoneração no início de 2006, quando o jornal Folha de São Paulo publicou uma denúncia de nepotismo contra Soares, que mantinha a filha e o genro empregados na secretaria onde trabalhava.

Juarez Soares foi comentarista da Rádio Transamérica, que o demitiu em janeiro de 2016. Foi comentarista de futebol na RedeTV! até 5 de abril de 2019, quando foi demitido. Também em 2019, voltou ao rádio esportivo como comentarista do programa “Capital da Bola”, pela Rádio Capital.

É de Juarez Soares a frase, "Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa".

O Santos Futebol Clube emitiu nota oficial lamentando a morte do radialista: "Lamentamos o falecimento do jornalista Juarez Soares, que dedicou boa parte de sua vida ao jornalismo esportivo. Força à família neste momento". (Pesquisa: Nilo Dias)


sexta-feira, 19 de julho de 2019

O Blumenau agora é centenário

O Blumenau Esporte Clube, da cidade de Blumenau (SC), está completando hoje 100 anos de existência. O clube foi fundado no dia 19 de julho de 1919 com o nome de Brasil Football Club, o primeiro clube de futebol da cidade.

Pouco depois, com a criação da “Liga Santa Catharina de Desportos Terrestres”, começou a ser realizado um campeonato estadual, no qual os clubes de Blumenau passaram a competir. O Brasil conquistou dois vice-campeonatos seguidos em 1927 e 1928, ambos com o Avaí campeão.

Em 1936, mudou a razão social do clube para Recreativo Brasil Esporte Clube, devido a sérios problemas financeiros, que com essa mudança, desapareceram.

Mesmo com a modificação, o Brasil continuou forte, com uma grande torcida e venceu os campeonatos de 1941 e 1942, da “Liga Blumenauense de Futebol”, criada em 1941 e que realizava um torneio com todos os times da cidade, Amazonas, Brasil, América, Vasto Verde e Blumenauense.

Quando da “2ª Guerra Mundial”, o então presidente da República, Getúlio Vargas, assinou um decreto de lei determinando que clubes esportivos estavam proibidos de ter nomes de nações, estados, territórios e municípios, nem mesmo podendo a associação incorporar ao seu nome próprio a palavra Brasil.

A diretoria do Brasil encaminhou requerimento ao Ministério da Educação e Saúde, por intermédio do CRD, a fim de obter permissão para continuar como Brasil, o que foi negado.

Assim, no dia 12 de março de 1944, houve uma reunião no Clube Náutico América em que por decisão unânime o nome do Brasil foi oficialmente mudado para Palmeiras Esporte Clube, motivado pelo time mandar seus jogos na Rua das Palmeiras, atual Alameda Duque de Caxias.

Os outros times de Blumenau mudaram seus nomes: o Amazonas, para Aimoré; o América para Guarani Esporte Clube e o Blumenauense para Grêmio Esportivo Olímpico.

A fase com o nome de Palmeiras foi a mais frutífera da história do clube em relação a títulos. O time, junto ao seu rival Olímpico, foi ganhando mais notoriedade no cenário estadual, devido a quatro vice-campeonatos estaduais e um tetracampeonato local (de 1944 a 1947), com a conquista do super campeonato no ano seguinte.

O clube também conquistou alguns torneios menores pela região. Durante este período fez-se necessária a construção de um novo estádio, pois uma enchente que havia assolado a cidade em outubro de 1954 destruiu completamente o campo do Palmeiras.

O Estádio Aderbal Ramos da Silva foi inaugurado na década de 1960 e passou a ser um símbolo do clube.

Em 1980, um grupo de empresários começou a investir alto no futebol blumenauense com o intuito de elevar o nome da cidade, polo industrial do Vale do Itajaí, porém, exigiam a mudança de nome do único clube restante da cidade, o Palmeiras.

Os outros quatro clubes haviam desativado o futebol profissional em meados da década de 1970.

A ideia já havia sido proposta cinco anos atrás pelo então presidente Melchior Barbieri, mas não foi levada adiante para não mexer com as raízes já firmadas da denominação Palmeiras.

Em 19 de julho de 1980, um grupo de 30 empresários esteve reunido no Restaurante Chinês, com o novo presidente do Palmeiras, Ivan Carlos Rizzeto, que substituiu o demissionário Altair Carlos Pimpão. Na ocasião, este expôs o seu projeto, que foi logo aprovado, garantindo um suporte financeiro para o clube investir em grandes contratações e criar um elenco competitivo.

E também se decidiu pela mudança de nome de Palmeiras para Blumenau Esporte Clube. Com a nova denominação criada, adiantou-se as eleições para compor a primeira diretoria do Blumenau, disputada em chapa única resultando na condução de Ivan Carlos Rizzeto para presidente.

Logo, grandes contratações foram realizadas a fim de justificar os altos investimentos feitos, e também foram adotadas novas cores para o clube, simbolizando a união dos antigos rivais Palmeiras (verde), Olímpico (grená) e Guarani (branco). O mascote, que historicamente era o urso, a partir de 2013 passou a ser uma capivara.

O primeiro jogo do Blumenau Esporte Clube aconteceu em 2 de setembro de 1980, entre Blumenau e Joaçaba pela Taça Santa Catarina. Antes da bola rolar foram realizadas solenidades de inauguração da nova denominação, com as autoridades hasteando a bandeira nacional, sob forte  tensão emocional da torcida.

Depois, os jogadores entraram em campo vestindo a camisa do Palmeiras por cima da camisa do Blumenau e após o cumprimento, tiraram as camisas verdes e brancas e jogaram-nas à torcida, sob aplausos.

O Blumenau derrotou o Joaçaba por 1 X 0, gol de Cabinho, o primeiro da nova denominação oficial. O mais importante é que parecia que a torcida havia aceitado o nono time, gritando "Blumenau, Blumenau" durante todo o jogo.

Mas não foi bem assim. Ao invés de se unirem, as duas facções rivais dos dois antigos clubes da cidade começaram a boicotar pessoas que fossem ligadas a outra.

Mesmo com este obstáculo, o time conseguiu chegar às semifinais do primeiro Campeonato Catarinense com a nova denominação e em 1982 conquistou o título estadual de juniores.

Porém, em 1985, foi rebaixado pela primeira vez em sua história, retornando a elite catarinense dois anos depois após conquistar o título da “Segunda Divisão” em cima do Figueirense.

Em 1988, conseguiu um feito espetacular, o vice-campeonato estadual decidido em uma final histórica contra o Avaí, na “Ressacada”.

Tal feito possibilitou o BEC a participar de sua primeira e única “Copa do Brasil”, em 1989, sendo eliminado pelo Flamengo nas oitavas-de-finais, jogando em pleno Maracanã.

Após essa experiência, o BEC começou a se aventurar a nível nacional, disputando o “Campeonato Brasileiro da 2ª Divisão” de 1989 a 1991, e a “3ª Divisão” em 1988, 1992, 1994, 1997 e 1998, sem muito êxito.

Ainda em 1998, com o novo rebaixamento no campeonato estadual e acometido por uma grave crise financeira, o futebol profissional do BEC foi desativado.

As conseqüências foram danosas: através de ação jurídica, o INSS conseguiu a penhora do patrimônio do clube por conta de dívidas, prometendo retornar em 2000.

Mas ao invés o clube optou por decretar falência. Nos anos seguintes, houve tentativas de fazer renascer o futebol da cidade com a criação de clubes como Santa Catarina, Real e Metropolitano.

Em 2003, a Justiça autorizou à “Associação Beneficente União do Vale”, administradora no processo de insolvência do clube, a gestão e consequente retorno do clube ao futebol profissional, administrando a receita e dívidas.

O acordo previa que toda receita gerada pelo BEC teria 5% do valor destinado ao pagamento de dívidas anteriores do clube. Com o espírito renovado e reformas no “Estádio Aderbal Ramos da Silva”, o Blumenau Esporte Clube partiu para a disputa da série B1 do “Campeonato Catarinense” de 2004.

Após a frustração no campeonato, a Justiça destituiu a “Associação Beneficente União do Vale” como gestora da insolvência do BEC, nomeando um novo gestor: o advogado André Jenichen, que conseguiu quitar algumas dívidas do clube. Mesmo assim, o futebol profissional fechou as portas novamente.

Após o novo fechamento do Blumenau, surgiram pretendentes herança deixada pelo clube. O primeiro foi em 2006, o Sport Club Madureira, campeão de 2004 do futebol em Blumenau, que passou a chamar-se Blumenau Sport Club Madureira, já que a marca BEC não poderia ser utilizada.

Com a nova denominação, passou a utilizar as cores grená, verde e branco, e um escudo quase idêntico ao do BEC de 1980. O time entrou para a disputa da “Divisão de Acesso” do “Campeonato Catarinense” de 2006, mandando seus jogos no “Complexo Esportivo Bernardo Werner”, uma vez que os bens do BEC incluíam o “Estádio Aderbal Ramos da Silva”.

O time ganhou o returno da competição e disputou o quadrangular final com Videira, Camboriuense e Maravilha em turno e returno, mas acabou sendo eliminado.

No ano seguinte, não participou de nenhuma competição e perdeu apoio com incentivo de setores jornalísticos de Blumenau para que investimentos fossem feitos no “Metropolitano”, e a perda de seu principal patrocinador, a “Unimed”, que decidiu formar uma cúpula de dirigentes para deter o comando do CAM.

Em 23 de setembro, após ter sido leiloado em 15 de março de 2006 pelo processo de insolvência do clube, o “Estádio Aderbal Ramos da Silva” foi demolido.

De acordo com rumores, a decisão teria sido tomada pelo novo dono Ailton Borba, devido a mobilização de torcedores para tentar transformar o local em patrimônio histórico da cidade.

Em 2008, participou da ‘Divisão de Acesso’ do ‘Campeonato Catarinense’, outro clube com o nome de Blumenau Entretenimentos Comunitários, mantendo as cores e símbolos semelhantes aos do BEC e tendo José Alencar Farias, presidente do BEC em 1993, como presidente e Chicão, antigo ídolo do clube, como técnico.

No dia 14 de março de 2013 foi anunciado a volta do Blumenau Esporte Clube, tendo como presidente Eduardo Corsini e vice o tetra campeão com a seleção brasileira, o ex jogador Márcio Santos.

Ficou decidido que a equipe iria disputar a “Divisão de Acesso” de 2013, o que em Santa Catarina equivale a “Terceira Divisão”. Sem o seu estádio, o “Aderbal Ramos da Silva”, o BEC mandou seus jogos no “Estádio do SESI”.

Em 2014 com a desistência do Imbituba de participar da “Série B”, do Catarinense o Blumenau herdou a vaga e disputou o campeonato. Fez uma campanha regular, alternando bons e maus momentos.

Com problemas extracampo, o Blumenau acabou se perdendo e fechando as portas temporariamente. Além disso, na disputa do Catarinense da “Segunda Divisão”, de 2015 acabou sendo rebaixado com uma pontuação de menos nove pontos por uma decisão do TJD-SC pela escalação irregular de nove atletas.

O ano de 2017 foi especial para o Blumenau. Além de retornar ao futebol, conseguiu de forma invicta vencer o “Campeonato Catarinense da Série C”, jogando a final diante do CEC/Orleans em pleno “Complexo Esportivo Bernardo Werner”.

Com isso, o Blumenau garantiu vaga para disputar em 2018 a “Segunda Divisão” do “Campeonato Catarinense”, fazendo o clássico blumenauense, contra o Metropolitano.

2018 foi um ano marcado pela volta do Blumenau a “Série B” do “Catarinense” e a “Copa Santa Catarina”. A campanha na “Série B” foi regular atingindo a sétima colocação.

Já na “Copa Santa Catarina”, o BEC acabou ficando em último lugar no grupo A, sendo eliminado na primeira-fase. O ano de 2018 também ficou marcado pelo retorno do “Clássico de Blumenau”, entre o Blumenau e o Metropolitano.

Títulos. Estaduais: Campeonato Catarinense - Série B (1987) e Campeonato Catarinense - Série C      (2017). (Pesquisa: Nilo Dias)

Em 2017 o time sagrou-se campeão catarinense da Série C.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

A mulher que presidiu o Veranópolis

Em 15 de janeiro de 1992 foi fundado o Veranópolis Esporte Clube Recreativo e Cultural, resultado de uma fusão entre os dois clubes da cidade, Dalban e Veranense, que eram semiprofissionais. Quando da fusão o clube se chamava Associação Veranópolis de Futebol.

O futebol da cidade serrana de 25 mil habitantes, distante 189 quilômetros de Porto Alegre não atravessava um bom momento e a fusão foi o caminho encontrado para tentar mudar a situação.

E deu certo. Disputou a segunda divisão em 92 e 93, ano em que se sagrou campeão sob o comando do técnico Tite, que hoje treina a Seleção Brasileira. Subiu para a primeira divisão do campeonato gaúcho e nunca mais foi rebaixado.

Foi eleito para presidir o clube o médico Giocondo Toschi, que não aguentou o tranco e renunciou dois meses após ter assumido, alegando falta de tempo. Ninguém se apresentou para ocupar o cargo, até que aconteceu o inesperado.

A professora Zenaide Maria Boff, que lecionava Moral e Civismo no Colégio Estadual e no Colégio Agrícola e Legislação na Escola Técnica de Comércio, além de ser diretora do Colégio Divino Mestre, vereadora, presidente da Câmara Municipal e diretora do Colégio Divino Mestre, encontrou tempo para aceitar presidir o clube.

Sem antes perguntar: “Não tem homem nesta terra?!” E disse em alto e bom som: “Então aceitava”. Ninguém se zangou, já conheciam o seu jeito.

Alta, cabelos curtos, 47 anos na época, voz grave, solteira (ela dizia que “graças a Deus”), era conhecida na cidade como uma mulher ativa. E comprovou isso ao dizer que aceitava o cargo com a maior naturalidade, pois na sociedade moderna não havia mais lugar para discriminação.

E entrou firme no desafio. Corria a cidade arrecadando dinheiro, acompanhava o time nos dias de jogos, em Veranópolis ou fora, dava muitas ordens aos assessores, xingava os jogadores que caiam na farra e ainda brigava com a imprensa, pois não aceitava críticas ao clube.

Seu problema maior era unir as torcidas de Dalban e Veranense. Uma ocasião ela ficou na porta do clube e foi intimando quem entrava: “Quanto vai dar?”. E não admitia que tirassem o corpo fora. E dizia: “É preciso muito peto para me dizer não”.

Arrecadou Cr$ 1.800.00 e a promessa de que continuariam cooperando. E avisava: “Se alguém pensa que vai se livrar de mim, está enganado”. E ela uniu as torcidas“ no peito”. No fim de cada mês pegava o recibo de sócios e ia em cima dos torcedores buscar os recursos que o clube precisava.

O técnico Paulo Velduga, na época com 27 anos, apoiava a presidente. Foi ele que indicou seu  nome para dirigir a agremiação. O time contava com 18 jogadores que ganhavam salário mínimo e estavam com os pagamentos em dia.

Guilherme Giugno, diretor da Rádio Veranópolis dizia que os homens da cidade gostavam do jeito aberto dela de administrar o clube. Contam que ela costumava ir aos bares ou clubes da cidade e, quando via amigos reunidos, ia logo pedindo um uísque e soltando palavrões.

Dizem que ela era uma tremenda “boca suja”, mas não chocava ninguém, porque era espontânea.

E no time mostrou ser durona. Dizia que o jogador que  caísse na farra ia ouvir o diabo. Até concordava que não entendia muito de futebol, mas falava que sua experiência como torcedora bastava para saber que uma farra na véspera de jogo, liquidava com qualquer atleta.

Na verdade ela já havia começado uma guerra. Na véspera de um jogo contra o Pratense, de Nova Prata, ela estava reunida com amigos no clube, quando um dedo-duro foi lhe contar que o ponteiro esquerdo Marquinhos  estava bebendo no boliche.

Zenaide deu um pulo da cadeira e foi lá.. Na frente de todos deu a maior bronca no jogador. “Éramos seis”, contou Marquinhos, “bebendo três cervejas. Mesmo que eu estivesse bêbado, um homem me chamaria do lado de fora e depois me multaria.

Mas foram inventar uma mulher cartola, agora é fogo. Ela quase me matou de vergonha , com aquela bronca. Por isso me invoquei e fui a um bale em Monte Berico, e fiquei até o sol raiar. No outro dia, ela não me deixou nem trocar de roupa. Vamos ver como é que fica”.

Mas Zenaide não puniu e em dispensou Marquinhos. Primeiro, porque o técnico precisava de seu futebol ofensivo. Segundo, porque ela acreditava que o jogador não ia se meter a tomar cerveja nos sábados à noite, outra vez.

No entender dela, os jogadores eram como os alunos, só precisavam de algumas lições para encontrarem o caminho do dever, segundo seus métodos pedagógicos.

Se não se abriam em elogios a presidente, os jogadores em geral sentiam-se satisfeitos. “Eu acho meio estranho uma mulher de cartola, mas não sou eu que vai chiar. Além disso, nos tempos de Veranense e Dalban era pior, os mais malandros tinham de ficar concentrados no hotel.

Ela acabou com a concentração e diz que vai usar o dinheiro economizado para melhorar os bichos. Até agora não melhorou, mas ela diz que tem palavra e nós estamos confiando nela.

Com toda essa decisão, os jogadores até achavam que Zenaide jogava suas peladas quando menina. Ela nega, dizia que ia aos jogos, mas só para ver. Dizia que gostava mesmo era de tomar conta de seus três irmãos mais moços.

Depois, em 1958, foi para Porto Alegre estudar. Mais tarde, enquanto cursava a Faculdade de Direito, em Caxias, foi delegada de Ensino em Bento Gonçalves. Quando voltou, em 1967, começou a exercer várias atividades ao mesmo tempo.

Em sua luta para unir a cidade em torno do clube, Zenaide dava uma de cartola típico, ao não admitir críticas da imprensa, especialmente da Rádio Veranópolis. Depois de uma derrota o comentarista Milton Alves fez duras críticas ao time. Foi o que bastou para Zenaide romper reações com ele. (Pesquisa: Nilo Dias)



quarta-feira, 17 de julho de 2019

Clube centenário guarda histórias do futebol e do carnaval

O Vila Santista Futebol Clube, da cidade paulista de Mogi das Cruzes, fundado em 14 de julho de 1919 é mais um clube centenário no futebol brasileiro.

A equipe participou nesses 100 anos de existência de cinco edições do “Campeonato Paulista” nas segunda (atual A2), terceira (atual A3) e quarta divisões (atual B).

O clube que foi fundado por Ângelo Pereira Passos, começou na Rua Francisco Franco, na região chamada de “Jardim Santista”, por isso o nome Vila Santista, inicialmente apenas com o futebol.

Ali só havia o campo, a arquibancada e uma pequena área coberta, mas o local era bastante movimentado e frequentado, principalmente aos finais de semana.
O time fez história na cidade, participando de várias disputas e venceu diversos campeonatos.

Em 1947, a “Seleção de Ouro” do Vila era formada por Gordo – Chispa – Moacir – Lindo - Peru e Porcelli. Mas também houve grandes jogadores como Ubiratan, chamado de Bira, Barbosinha, Nonô, Baleiro, Zezinho, Elpídio, entre outros.

Era o auge do futebol também na cidade, que tinha outros times fortes, como o União, o grande rival do Vila. Em dias de jogos, os torcedores dos dois times não podiam se encontrar na rua porque saía briga antes mesmo das partidas.

Inicialmente, o clube ganhou fama na região pelo trabalho realizado pelas equipes altamente competitivas que através dos tempos defenderam as cores vilistas nas disputas de diversos campeonatos.

Depois de ter sido campeão regional várias vezes na década de 1940, a equipe optou pelo profissionalismo, em 1957, estreando na “Terceira Divisão do Campeonato Paulista” daquele ano.

Já no ano seguinte, estreou na “Segunda Divisão”, onde fez uma batalha particular contra o rival de casa, o União Mogi, que ainda permanece nos quadros da FPF.
Atualmente o Departamento de Futebol do clube se dedica apenas a competições amadoras. Amizades e recordações emocionam quem costuma frequentar o local.

Nesta época, antes da construção na Ponte Grande, o Vila fazia os carnavais e bailes em um salão no centro, localizado na Rua Barão de Jaceguai.

Em foto do ano de 1938 feita pelo fotógrafo Fitipaldi, os sócios aparecem fantasiados durante o Carnaval, em um salão todo enfeitado de confete e serpentina.

Homens, mulheres e crianças brincavam juntos. Na Ponte Grande, esta tradição foi mantida, com bailes que chegavam a reunir cerca de oito mil pessoas por noite circulando em quatro ambientes, com samba, marchinhas carnavalescas, pop rock e música dos anos 60, 70 e 90. Eram quatro noites e duas matinês, além de concurso de fantasias.

Com o tempo foi ficando difícil manter o futebol, então, chegou um momento em que o Vila decidia se fechava ou crescia e, em 1971, foi feita a permuta daquela área no centro com a da Ponte Grande, onde foram construídos o campo, a piscina e o salão de festas para que o clube se tornasse social.

Foi um projeto audacioso e de coragem, porque a área é enorme, com 74 mil metros quadrados. Após três anos de construção, o Vila se mudou. A bocha, sinuca e sauna também se tornaram tradicionais na cidade.

Dizem que a sauna ainda é uma das melhores por ser a vapor e não elétrica. Pessoas de outras cidades vêm para o clube por causa disso.

Contém diversas opções para esporte e lazer: Academia - Conjunto de Piscinas - Sauna - Salão Social - Playground - Ginásio Poliesportivo - Quadra Poliesportiva - Quadra de Tênis - Campo de Futebol - Campo Society  - Salão de Bilhar - Canchas de Bocha - Espaço para SlackLine e Estacionamento.

Com a chegada dos prédios residenciais com equipamentos de lazer, o número de sócios caiu e o clube luta para se manter. 

“Infelizmente, esse modelo de clube, já está um pouco ultrapassado e temos que buscar outras alternativas. Estamos com vários projetos para a gente trazer mais sócios, sócios familiares, já que aqui é um clube familiar”, explica o presidente Paulo Ferreira Santiago.
       
O salão de eventos do Vila sempre foi o palco principal da folia e centenas de pessoas se reúnem para o Carnaval. “Vai ser o Carnaval dos 100 anos”, finaliza Paulo.

Um dos sócios mais antigos, Odair Cardoso, participou do título de 1963 e diz lembrar do campo que era profissional e tinha uma arquibancada de madeira. Uma época em que as mulheres não tinham o hábito de frequentar muito o campo de futebol, por isso a presença masculina era maior.

O clube chegou a se profissionalizar, disputou a “Segunda Divisão”, do Paulista, o que não durou muito. Odair ainda lembra que a eterna rivalidade com o União movimentava a cidade.

 “Os dois campos sempre estavam cheios, porque a torcida de cada um acompanhava o seu time. O pessoal já se conhecia, mas sempre  saia alguma discussão”, completou.

Para Cida Rodrigues, as melhores lembranças incluem o Carnaval. “Era maravilhoso. Quatro noites, quatro ambientes e todo mundo fantasiado e brincando muito. Tinha concurso também e eu ganhei a de mais foliã.”

O futebol de campo é tradição, com o pessoal do veterano, sport e máster que jogam todos os finais de semana e disputam campeonatos amadores.

A escolinha, que participa da Federação Paulista nas categorias de base sub-9, sub-10, sub-11 e sub-12, foi campeã várias vezes. Neste ano, fez uma parceria com o time Benfica, que treina no ginásio do clube, para estas categorias.

Agora, ele também é parceiro do Basquete-Mogi na categoria de base. Tem ainda a parceria com um time de rugby e com a Next Academy, multinacional norte-americana, que montou uma franquia no clube. 

Por conta disso, não houve mais espaço para o pessoal do futebol americano, que também treinava no local. Este incentivo às categorias de base é uma forma de alavancar receita porque além do aluguel para utilizar o espaço, todos os jogadores se tornam associados, como o pessoal do futebol.

É uma questão de sobrevivência para o clube e estas parcerias visam unicamente a receita.

A Petrobrás utilizou parte da área do clube para passagem de oleoduto. Há um processo que se arrasta há oito anos na Justiça porque a Petrobrás passou o oleoduto e iria indenizar o clube, mas quando o perito da empresa fez a avaliação do terreno, o valor ficou muito baixo.

Então, o clube nomeou outro perito para determinar o valor real. Agora, o juiz nomeou mais um perito e o clube aguarda o resultado. Com este dinheiro que tem para receber, haverá possibilidade de dar um “up” no clube e a prioridade será investir nas dependências, na parte de edificação, que é antiga, da década de 70.

Em dezembro de 2017, o então presidente Quinto Muffo, que estava no cargo há 18 anos, se reuniu com o conselho e disse que pretendia vender o clube e que já tinha até comprador.

Mas um grupo de associados envolvidos com a história do Vila não concordou, montou uma chapa e elegeram o presidente, com a missão de entender como estava a situação e tentar alavancar o clube, que na época só tinha uma vassoura e um rodo.

O novo presidente assumiu em janeiro de 2018, quando havia R$ 300,00 no caixa para pagar todas as contas, incluindo o salário dos funcionários.

O salão social precisava de reforma, as bombas da piscina estavam queimadas e o clube tinha cerca de 400 sócios. Foi complicado e alguns diziam que o novo presidente não ficaria três meses no cargo.

Um ano depois, com várias parcerias, quase dobrou o número de sócios, foram trocadas as bombas da piscina, reformado o salão social, asfaltado quase todo o estacionamento, que agora é pago, e adquiridas máquinas de cortar grama, enceradeira e roçadeira.

Além destas benfeitorias, com o material de uma das quadras de tênis que estava abandonada, foi fechado todo o clube com gradil.

Para tudo isso, contou com associados empenhados em manter o clube, como a dona Cida Rodrigues, que é sócia desde 1972. O presidente garante que tirou dinheiro do bolso e as contas estão todas pagas e os funcionários recebem em dia. (Pesquisa: Nilo Dias)

Vista de parte das modernas instalações do clube.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

A morte de um ídolo do Botafogo

Os torcedores do Botafogo, do Rio de Janeiro e de todo o Brasil receberam com tristeza a notícia da morte do ex-jogador de futebol Milton da Cunha Mendonça, conhecido apenas por “Mendonça”, aos 63 anos de idade. O óbito aconteceu na manhã de hoje e foi confirmado pela família do ex-jogador.

Ele esteve internado por dois meses em estado grave na CTI do "Hospital Albert Schweitzer”, em "Realengo" na Zona Oeste do Rio de Janeiro, depois que caiu da escada na “Estação de Trem Guilherme da Silveira”, em Bangu.

Na noite de ontem houve uma piora por conta de uma grave infecção que comprometeu o funcionamento do fígado e dos rins, ocasionando um  choque séptico, quadro que acabou não sendo revertido mesmo com o uso de antibióticos.

Mendonça, que nasceu em 23 de maio de 1956, defendeu o Botafogo entre 1975 e 1982 e, mesmo sem ganhar títulos, tornou-se ídolo da torcida alvinegra. E dizia: “Eu não sou jogador do Botafogo, eu sou torcedor do Botafogo. ”Ele também teve passagens por clubes como Grêmio, Palmeiras e Santos.

O gol mais lembrado de Mendonça ocorreu nas quartas de final do "Brasileiro" de 1981. O Botafogo encarava o Flamengo quando Mirandinha lançou o meia. Mendonça entortou Júnior e tocou na saída de Raul, decretando a vitória por 3 X 1 do Botafogo sobre o campeão brasileiro do ano anterior.

A jogada ficou conhecida como "Gol Baila Comigo" (canção interpretada por Rita Lee que, à época, também dava nome a uma novela da Rede Globo). Sobre o gol Mendonça afirmou na época: “Acho que o Júnior também nunca vai esquecer aquele dia. Tenho certeza que toda vez que deita para dormir ele pensa em mim.”

No fim daquele ano, escalado para escolher o gol mais bonito do ano, Zico, que participara da partida, pediu perdão ao compadre Júnior e escolheu o de Mendonça. Foi realmente uma pintura.

Naquela competição, o alvinegro esteve bem perto de chegar à decisão. Após vencer o São Paulo por 1 X 0, o Botafogo viu Mendonça e Gérson estenderem a vantagem do Botafogo. Contudo, após 28 minutos de intervalo, os são-paulinos viram o sonho do título acabar com a derrota para 3 X 2. Saiu de General Severiano em 1982 sem títulos de ponta, mas com um histórico de 118 gols em 342 jogos.

Mendonça era o típico meia clássico, o camisa 10 apesar de usar o número 8, e excelente cobrador de faltas. Ele chegou ao time principal do Botafogo através de Telê Santana. O mestre viu o garoto atuando nos juvenis e não teve dúvidas: o levou para atuar com os profissionais. Em entrevista ao site "Museu da Pelada", Mendonça chegou a dizer: “Não sei porque a torcida do Botafogo gosta tanto de mim. Nunca dei um título a eles.”

Assim que foi anunciada sua morte, o Botafogo prestou homenagem ao seu eterno camisa 8 nas redes sociais.

“O dia amanheceu triste. Mendonça nos deixou aos 63 anos. Ídolo, obrigado pela entrega e dedicação, respeito com a camisa, pelos gols e dribles inesquecíveis, por torcer em campo, e por enriquecer a nossa história. Você será lembrado com carinho e reconhecimento. Descanse em paz!”

A ligação de Milton da Cunha Mendonça com o futebol veio de família: seu pai, que também adotara o nome Mendonça, foi zagueiro do Bangu na década de 1950, que teve a perna quebrada por Didi, em 1951, e abandonou a carreira.

Mendonça subiu para os profissionais do Glorioso em 1975 e não demorou a se tornar ídolo e titular absoluto da equipe. Embora não tenha encerrado a seca de títulos importantes do Botafogo que já durava desde 1968, o meia logo caiu nas graças da torcida alvinegra e entrou no panteão de ídolos do clube.

Não por caso, seu retrato está ao lado de monstros sagrados do “Glorioso”, como Garrincha, Nilton Santos, Didi, Jairzinho, Heleno de Freitas e muitos outros, no lindo painel pintado bem em frente à sede de General Severiano.

Além de ter o “Torneio Início de 1977” como seu único título oficial, o armador deixou lembranças de gols e de boas atuações para os botafoguenses. Ao lado de nomes como Paulo César Caju, Rodrigues Neto e Dé, Mendonça fez parte da equipe que obteve uma invencibilidade de 52 jogos entre 21 de setembro de 1977 e 16 de julho de 1978.

Após deixar o Botafogo, Mendonça atuou por duas temporadas na Portuguesa. Além de jogar com atletas como Roberto César e Edu Marangon, o meia teve no “Canindé” outro colega que ganhou renome: o então meio-campista "Tite", que se destacou marcando gols e, décadas depois, se tornou o treinador da “Seleção Brasileira”.

Em seguida, foi negociado para o Palmeiras, onde novamente conviveu com o desafio de quebrar uma seca de títulos. A equipe não era campeã desde 1977. Mendonça participou do elenco que levou o “Verdão” à final do “Paulistão" de 1986. 

Mas a equipe, que tinha nomes como Mirandinha e Éder Aleixo, viu seu sonho frustrado com a derrota por 2 X 1 para a Inter de Limeira, no Morumbi.

No ano seguinte, desembarcou na “Vila Belmiro”, com a responsabilidade de ser o camisa 10 do Santos. Atuando ao lado de nomes como Rodolfo Rodríguez e César Sampaio, conquistou o “Torneio de Marselha” em uma excursão com a equipe na Europa.

Saiu ao fim de 1988, também sem títulos de ponta, mas deixando seu futebol elegante e uma tarde emblemática para os corações santistas lembrarem: em um clássico diante do Palmeiras, Mendonça marcou dois gols de voleio.

Em seu currículo, o meia ainda teve clubes como a Inter de Limeira (no qual atuou no ano em que a equipe voltou à elite do "Brasileirão"), Al-Sadd (Qatar) e um breve e afetivo retorno ao Bangu, equipe no qual iniciara sua trajetória.

Em 1991, Mendonça acertou sua transferência para o Grêmio, mas guardou uma lembrança cruel: além de perder espaço, o "Tricolor" gaúcho não engrenou no “Brasileirão” e amargou a queda para a “Série B”.

Depois, o meia colecionou passagens pelo Internacional, de Santa Maria (RS), Fortaleza, América (RN), até pendurar suas chuteiras no Barra Mansa (RJ).

Após deixar os gramados, o ex-jogador teve de conviver com a luta contra o alcoolismo. Sem a rotina dos treinos, o hábito de Mendonça beber foi se acentuando, a ponto de ele deixar de fazer suas refeições para consumir bebida alcoólica.

O vício já culminara em um quadro gravíssimo: com sérias lesões hepáticas, Mendonça foi internado na UTI, com risco de morte. O ex-jogador contou com a amizade de Adílio, ex-meia do Flamengo, na luta contra o álcool: graças ao rubro-negro, o meia botafoguense foi internado em uma clínica de reabilitação no Rio de Janeiro em 2017.

À época, Mendonça recebeu visitas e ajuda do ex-jogador Wilson Gottardo. Além disto, o ex-dirigente do Botafogo, Carlos Augusto Montenegro, e o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, foram visitá-lo na clínica de reabilitação durante os 40 dias em que ficou internado. No entanto, o ex-meia teve constantes recaídas de sua dependência de bebida alcoólica. 

Em maio de 2019, Mendonça passou por um novo drama: ao cair de uma escada na estação de trem na "Estação Guilherme da Silveira", teve um ferimento profundo causado por um vergalhão e sofreu outras duas fraturas.

Assim que o acidente ocorreu, foi removido para o "Hospital Albert Schweitzer" e submetido a uma cirurgia de emergência, pois perdera muito sangue. (Pesquisa” Nilo Dias)