quarta-feira, 17 de julho de 2019

Clube centenário guarda histórias do futebol e do carnaval

O Vila Santista Futebol Clube, da cidade paulista de Mogi das Cruzes, fundado em 14 de julho de 1919 é mais um clube centenário no futebol brasileiro.

A equipe participou nesses 100 anos de existência de cinco edições do “Campeonato Paulista” nas segunda (atual A2), terceira (atual A3) e quarta divisões (atual B).

O clube que foi fundado por Ângelo Pereira Passos, começou na Rua Francisco Franco, na região chamada de “Jardim Santista”, por isso o nome Vila Santista, inicialmente apenas com o futebol.

Ali só havia o campo, a arquibancada e uma pequena área coberta, mas o local era bastante movimentado e frequentado, principalmente aos finais de semana.
O time fez história na cidade, participando de várias disputas e venceu diversos campeonatos.

Em 1947, a “Seleção de Ouro” do Vila era formada por Gordo – Chispa – Moacir – Lindo - Peru e Porcelli. Mas também houve grandes jogadores como Ubiratan, chamado de Bira, Barbosinha, Nonô, Baleiro, Zezinho, Elpídio, entre outros.

Era o auge do futebol também na cidade, que tinha outros times fortes, como o União, o grande rival do Vila. Em dias de jogos, os torcedores dos dois times não podiam se encontrar na rua porque saía briga antes mesmo das partidas.

Inicialmente, o clube ganhou fama na região pelo trabalho realizado pelas equipes altamente competitivas que através dos tempos defenderam as cores vilistas nas disputas de diversos campeonatos.

Depois de ter sido campeão regional várias vezes na década de 1940, a equipe optou pelo profissionalismo, em 1957, estreando na “Terceira Divisão do Campeonato Paulista” daquele ano.

Já no ano seguinte, estreou na “Segunda Divisão”, onde fez uma batalha particular contra o rival de casa, o União Mogi, que ainda permanece nos quadros da FPF.
Atualmente o Departamento de Futebol do clube se dedica apenas a competições amadoras. Amizades e recordações emocionam quem costuma frequentar o local.

Nesta época, antes da construção na Ponte Grande, o Vila fazia os carnavais e bailes em um salão no centro, localizado na Rua Barão de Jaceguai.

Em foto do ano de 1938 feita pelo fotógrafo Fitipaldi, os sócios aparecem fantasiados durante o Carnaval, em um salão todo enfeitado de confete e serpentina.

Homens, mulheres e crianças brincavam juntos. Na Ponte Grande, esta tradição foi mantida, com bailes que chegavam a reunir cerca de oito mil pessoas por noite circulando em quatro ambientes, com samba, marchinhas carnavalescas, pop rock e música dos anos 60, 70 e 90. Eram quatro noites e duas matinês, além de concurso de fantasias.

Com o tempo foi ficando difícil manter o futebol, então, chegou um momento em que o Vila decidia se fechava ou crescia e, em 1971, foi feita a permuta daquela área no centro com a da Ponte Grande, onde foram construídos o campo, a piscina e o salão de festas para que o clube se tornasse social.

Foi um projeto audacioso e de coragem, porque a área é enorme, com 74 mil metros quadrados. Após três anos de construção, o Vila se mudou. A bocha, sinuca e sauna também se tornaram tradicionais na cidade.

Dizem que a sauna ainda é uma das melhores por ser a vapor e não elétrica. Pessoas de outras cidades vêm para o clube por causa disso.

Contém diversas opções para esporte e lazer: Academia - Conjunto de Piscinas - Sauna - Salão Social - Playground - Ginásio Poliesportivo - Quadra Poliesportiva - Quadra de Tênis - Campo de Futebol - Campo Society  - Salão de Bilhar - Canchas de Bocha - Espaço para SlackLine e Estacionamento.

Com a chegada dos prédios residenciais com equipamentos de lazer, o número de sócios caiu e o clube luta para se manter. 

“Infelizmente, esse modelo de clube, já está um pouco ultrapassado e temos que buscar outras alternativas. Estamos com vários projetos para a gente trazer mais sócios, sócios familiares, já que aqui é um clube familiar”, explica o presidente Paulo Ferreira Santiago.
       
O salão de eventos do Vila sempre foi o palco principal da folia e centenas de pessoas se reúnem para o Carnaval. “Vai ser o Carnaval dos 100 anos”, finaliza Paulo.

Um dos sócios mais antigos, Odair Cardoso, participou do título de 1963 e diz lembrar do campo que era profissional e tinha uma arquibancada de madeira. Uma época em que as mulheres não tinham o hábito de frequentar muito o campo de futebol, por isso a presença masculina era maior.

O clube chegou a se profissionalizar, disputou a “Segunda Divisão”, do Paulista, o que não durou muito. Odair ainda lembra que a eterna rivalidade com o União movimentava a cidade.

 “Os dois campos sempre estavam cheios, porque a torcida de cada um acompanhava o seu time. O pessoal já se conhecia, mas sempre  saia alguma discussão”, completou.

Para Cida Rodrigues, as melhores lembranças incluem o Carnaval. “Era maravilhoso. Quatro noites, quatro ambientes e todo mundo fantasiado e brincando muito. Tinha concurso também e eu ganhei a de mais foliã.”

O futebol de campo é tradição, com o pessoal do veterano, sport e máster que jogam todos os finais de semana e disputam campeonatos amadores.

A escolinha, que participa da Federação Paulista nas categorias de base sub-9, sub-10, sub-11 e sub-12, foi campeã várias vezes. Neste ano, fez uma parceria com o time Benfica, que treina no ginásio do clube, para estas categorias.

Agora, ele também é parceiro do Basquete-Mogi na categoria de base. Tem ainda a parceria com um time de rugby e com a Next Academy, multinacional norte-americana, que montou uma franquia no clube. 

Por conta disso, não houve mais espaço para o pessoal do futebol americano, que também treinava no local. Este incentivo às categorias de base é uma forma de alavancar receita porque além do aluguel para utilizar o espaço, todos os jogadores se tornam associados, como o pessoal do futebol.

É uma questão de sobrevivência para o clube e estas parcerias visam unicamente a receita.

A Petrobrás utilizou parte da área do clube para passagem de oleoduto. Há um processo que se arrasta há oito anos na Justiça porque a Petrobrás passou o oleoduto e iria indenizar o clube, mas quando o perito da empresa fez a avaliação do terreno, o valor ficou muito baixo.

Então, o clube nomeou outro perito para determinar o valor real. Agora, o juiz nomeou mais um perito e o clube aguarda o resultado. Com este dinheiro que tem para receber, haverá possibilidade de dar um “up” no clube e a prioridade será investir nas dependências, na parte de edificação, que é antiga, da década de 70.

Em dezembro de 2017, o então presidente Quinto Muffo, que estava no cargo há 18 anos, se reuniu com o conselho e disse que pretendia vender o clube e que já tinha até comprador.

Mas um grupo de associados envolvidos com a história do Vila não concordou, montou uma chapa e elegeram o presidente, com a missão de entender como estava a situação e tentar alavancar o clube, que na época só tinha uma vassoura e um rodo.

O novo presidente assumiu em janeiro de 2018, quando havia R$ 300,00 no caixa para pagar todas as contas, incluindo o salário dos funcionários.

O salão social precisava de reforma, as bombas da piscina estavam queimadas e o clube tinha cerca de 400 sócios. Foi complicado e alguns diziam que o novo presidente não ficaria três meses no cargo.

Um ano depois, com várias parcerias, quase dobrou o número de sócios, foram trocadas as bombas da piscina, reformado o salão social, asfaltado quase todo o estacionamento, que agora é pago, e adquiridas máquinas de cortar grama, enceradeira e roçadeira.

Além destas benfeitorias, com o material de uma das quadras de tênis que estava abandonada, foi fechado todo o clube com gradil.

Para tudo isso, contou com associados empenhados em manter o clube, como a dona Cida Rodrigues, que é sócia desde 1972. O presidente garante que tirou dinheiro do bolso e as contas estão todas pagas e os funcionários recebem em dia. (Pesquisa: Nilo Dias)

Vista de parte das modernas instalações do clube.

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