segunda-feira, 30 de abril de 2012

Coelho centenário

O futebol de Minas Gerais e do Brasil está em festa no dia de hoje, quando está sendo comemorado os 100 anos do América Futebol Clube, de Belo Horizonte, fundado em 30 de abril de 1912. O clube nasceu graças a um grupo de meninos da elite mineira, quase todos estudantes do "Gymnasium Anglo-Mineiro", colégio que aplicava as aulas em inglês, ministradas por professores, em sua maioria, norte-americanos.

Naquele tempo, vários eram os grupos de meninos que jogavam futebol nas ruas e terrenos então existentes na bucólica Belo Horizonte de 1912, com apenas algumas ruas, meia duzia de avenidas abertas e pouco mais de 25 mil habitantes.

Entre esses, havia um grupo de menores de 13 anos que jogavam sempre na esquina das ruas Bahia e Timbiras. Certa tarde, reunidos a sombra de uma árvore, como de costume, Afonso Silviano Brandão, Augusto Pena, Aureliano Lopes Magalhães, Alcides Meira, Ademar Meira, Caetano Germano, César Gonçalves, Oscar Gonçalves, Francisco Bueno Brandão, Fioravante Labruna, Álvaro Moreira da Cruz, Gersôn de Salles Coelho, Guilherme Halfed, José Miranda Megale, Leonardo Gutierrez, Leon Roussoulliéres Filho, Oscar Gonçalves, Waldemar Jacob e Henrique Diniz Gomes, desejando dar uma forma mais organizada ao seu time, resolveram fundar um clube de futebol de verdade.

Era 30 de abril de 1911. Os compromissos com os estudos e as dificuldades surgidas, fizeram com que o time, que ainda não tinha nome, durasse apenas seis meses. Os garotos porém não desanimaram. Exatamente um ano depois de sua fundação, ou mais precisamente a 30 de abril de 1912, os mesmos meninos voltaram a se reunir, dispostos a não mais deixar que o clube desaparecesse.

Em nova reunião, não mais debaixo da árvore, mas na casa do doutor José Gonçalves, então secretário da Agricultura do Estado e pai de um dos meninos, fundador e primeiro secretário do Sport Club, primeiro clube de futebol de Minas Gerais, foi eleita a primeira diretoria, que ficou assim constituída:

Presidente, Afonso Silviano Brandão; Vice-presidente, Aureliano Lopes de Magalhães (primeiro a falecer); Secretário, Adhemar de Meira e Tesoureiro e Zelador, Oscar Gonçalves.

Entusiasmados com a fundação oficial do clube, os garotos que praticavam o futebol com bolas de meias, resolveram dar um nome bonito ao clube. A falta de um consenso obrigou a que se realizasse um sorteio para escolha do nome.

Entre as sugestões apresentadas estavam "América Foot-ball Club", em homenagem aos Estados Unidos da América, dos quais os meninos eram fãs, por influência das histórias contadas por seus professores, “Arlequim”, “Riachuelo”, “Guarany” e “Timbiras”.

A definição do nome aconteceu no mês de maio, nos porões da casa de Adhemar de Meira. As sugestões foram colocadas dentro do chapéu de Aureliano Lopes Magalhães, e o papelzinho com o nome foi retirado pela pequena Alda Meira, que depois se tornaria uma das mais importantes damas da sociedade mineira.

As cores do uniforme, verde e branca foram escolhidas também por sorteio. Ao que se sabe, o professor Afonso Silviano Brandão, sobrinho do "presidente" de Minas Gerais, Bueno Brandão (na época, os Estados possuíam presidentes e não governadores), era torcedor do América F.B.C., do Rio de Janeiro.

As cores oficiais do América, desde a sua fundação, foram verde e branco com punhos e golas verdes e escudo do clube a esquerda. Os calções pretos foram introduzidos três anos após a fundação.

O primeiro Estatuto foi elaborado por Afonso Silviano Brandão. Nele constava a proibição de ingresso no clube de maiores de 14anos. Essa proibição foi revogada mais tarde, quando ingressaram no América Otacílio Negrão de Lima, Luiz Guimarães, Mário Pena, José Soares Alves, Amilcar, Márcio Motta e outros.

A primeira equipe americana foi formada por Oscar Gonçalves - Leonardo Gutierrez e Fioravante Labruna - Luiz Guimarães - Augusto Pena e Lincoln Brandão - Dario Ferraz - Waldemar Jacob e Geraldino de Carvalho.

No ano seguinte de sua fundação, em 1913, o América fundiu-se com o Minas Geraes Foot-Ball Club. O presidente de honra dos dois clubes, então prefeito de Belo Horizonte, resolveu ceder ao América o patrimônio do Minas Geraes: um campo de futebol com suas traves.

O clube era composto por crianças de 13 e 14 anos e disputava jogos com garotos da mesma faixa etária. Na mesma época, devido a uma “desinteligência” no Atlético Mineiro, todos os seus presidentes até aquela data e três de seus fundadores, além de meio time se afastaram e pediram suas inscrições no América.

Os meninos que torciam por aqueles atletas fizeram uma reunião para que o Estatuto fosse mudado. Houve discordância e vários dos fundadores americanos saíram, mas o clube se tornou time de adultos, com atletas de Atlético e Minas Geraes. Os meninos americanos passaram a formar o segundo time.

A primeira grande vitória foi contra o Atlético Mineiro por 1 X 0 , gol de Júlio Cunha. O primeiro amistoso interestadual foi contra o Flamengo, do Rio de Janeiro, no campo do Prado Mineiro, e o América venceu por 2 X 1.

O início de um período de glórias, jamais visto no futebol de Minas Gerais começou em 1º de novembro de 1915. O América venceu a até então imbatível equipe da Mina do Morro Velho, formada exclusivamente por jogadores ingleses, por 3 X 0. Jogaram pelo América: Didico - Mário Pena e Luiz Guimarães – Kainço - Otávio Pena e Henrique Diniz - Edson Jacob - João Brito - José Borges - Oscar Monte e Mimi.

Em 1916, o América armou a poderosa equipe que conquistou o campeonato nesse ano e nos nove subsequentes até 1925. O América se sagrava assim decacampeão estadual. Um recorde somente igualado pelo ABC de Natal, estando esta façanha registrada no Guinness Book (Livro dos Recordes).

Entre outros, fizeram parte da conquista do decacampeonato: Geraldino de Carvalho, primeiro negro a fundar e jogar em um time de futebol no Brasil; Otacílio Negrão de Lima, que se tornou grande político, e Mário Pena e Lucas Machado, que se formaram médicos e foram fundadores do Hospital São Lucas.

Em 1919, o América inaugurou o primeiro campo gramado de Belo Horizonte. Em 6 de maio de 1923 inaugurou o seu novo campo, onde atualmente localiza-se o Mercado Municipal.

Em 1929, com o dinheiro da venda do terreno antigo e já com o título de decacampeão mineiro, o América comprou um terreno na Avenida Francisco Sales, no bairro de Santa Efigênia, onde construiu o Estádio Otacílio Negrão de Lima, que passou por uma grande reforma na década de 1940. Com o passar do tempo, esse estádio ficou conhecido como Estádio da Alameda, por também ter entrada pela Alameda Álvaro Celso.

Em 1933 foi oficializado o profissionalismo no Brasil. Até então, toda prática esportiva era amadora. O clube protestou contra a implantação do profissionalismo e mudou as cores de sua camisa para vermelho e branco, situação que perdurou por dez anos. A partir de 1943, o América aceitou o profissionalismo, retomou as cores que marcaram o decacampeonato e recomeçou a investir no patrimônio do clube.

Em 1948, concluiu as obras de seu novo estádio, Otacílio Negrão de Lima, período marcado por grandes conquistas como o Campeonato Mineiro daquele ano e o Torneio Quadrangular, que reuniu o Vasco da Gama, campeão sul-americano daquele ano, o São Paulo, campeão paulista, e o Atlético, campeão mineiro de 1947.

Em 1957, o América conquistou a tríplice coroa ao ganhar os títulos juvenil, aspirante e profissional. Em 1971, destacou-se pela conquista do Campeonato Mineiro de forma invicta. Em 1993, o América conquistou mais um título estadual.

Porém, o grande destaque desta década foi a conquista do Campeonato Brasileiro da Série B, que possibilitou o retorno do clube à elite do futebol brasileiro. Em 2000, o América conquistou o título da primeira Copa Sul-Minas. Em 2001 e 2005 conquistou o Campeonato Mineiro e a Taça Minas Gerais.

Em um dos seus piores momentos no futebol, o América, único clube que havia disputado todas as edições do Campeonato Mineiro, caiu para o Módulo II do Estadual, em 2007. No ano seguinte, a volta por cima com a conquista do título do Campeonato Mineiro Módulo II, voltando à elite do futebol estadual.

Com uma nova diretoria, o América disputou a Série C do Campeonato Brasileiro e conquistou o título. Assim, o ano de 2009 marcou o início da ascensão alviverde à elite do futebol.

A última participação alviverde na Série B havia sido em 2004, quando ocupou o 21º lugar na tabela de classificação. Com uma equipe guerreira, o clube terminou a temporada em quarto lugar e conquistou seu acesso ao Campeonato Brasileiro da Série A, a elite do futebol nacional.

Títulos conquistados como clube profissional: Campeão Mineiro (1916 a 1925, 1948, 1957, 1971, 1993 e 2001); Torneio Início (1917, 1918, 1919, 1920, 1921, 1924, 1925, 1927, 1933, 1945, 1955 e 1957); Copa São Paulo de Juniores (1996); Campeão Brasileiro da Série B (1997); Campeão da Copa Sul-Minas (2000); Campeão da Taça Minas Gerais (2005); Campeão Mineiro Módulo II (2008); Campeão Brasileiro da Série C (2009).

A Câmara Municipal de Belo Horizonte, através do Projeto de Lei n° 1.707/08, instituiu o dia 30 de abril, data da fundação do clube, como o Dia do Torcedor do América Futebol Clube, data esta que passou a integrar o calendário turístico do município. (Pesquisa: Nilo Dias)

América Mineiro, em 1912. (Foto: Acervo fotográfica do América F.C., de Belo Horizonte)

domingo, 29 de abril de 2012

Um juiz de 160 quilos

Para ser árbitro de futebol nos dias de hoje é preciso, entre outras coisas, um bom preparo físico. Por isso é inimaginável que alguém com 160 quilos de peso possa apitar um jogo de futebol atualmente, até mesmo em campos de várzea. Mas isso já aconteceu. Durante quase toda a década de 1930 e metade da década de 1940, Henrique Maia Faillace foi um dos mais destacados árbitros de futebol no Rio Grande do Sul, ganhando o título de “Rei do Apito”, depois de muitos anos de excelentes atuações.

Mesmo com todas as dificuldades impostas pelo excesso de peso, ainda assim era chamado para dirigir grandes partidas, numa época em que os bandeirinhas não tinham a mesma importância de hoje, limitando-se apenas a marcar laterais e escanteios. Muitas vezes foi chamado para dirigir partidas importantes fora do Rio Grande do Sul.

Em 1937 Faillace teve atuação decisiva no jogo em que o selecionado gaúcho derrotou o carioca, pelo Campeonato Brasileiro de Seleções. Foi uma atuação daquelas que se pode chamar de “a moda da casa”.

Em 1944 foi designado para apitar o jogo entre as seleções de Minas Gerais e Rio de janeiro, no estádio de São Januário. Lá pelas tantas, num contra-ataque rápido dos cariocas, houve uma centrada de meia-altura. O artilheiro Ademir “Queixada”, que vinha na corrida, apanhou a bola na altura da barriga e desferiu um foguete, que foi parar na rede mineira.

Faillace, que ficara muito longe do lance, dificultado por seus 160 quilos, anulou o gol sob o protesto dos cariocas. Imperturbável disse: “Dei mão. Não vi, mas deduzi. Nunca vi uma bola que sai da barriga de um jogador ser metida no arco com aquela força. Barriga não impulsiona, amortece. Só podia ter havido um soco na bola e foi o que assinalei”.

Alguns anos depois, Ademir Menezes lembrava o lance: “Foi mão, mesmo. O gordo estava certo. Reclamamos por reclamar. Faillace tinha razão, barriga não chuta, amortece”. (Pesquisa: Nilo Dias)

Henrique Maia Faillace, o "rei do apito" e seus 160 quilos.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Lugano, o mito

Hoje, 26 de abril é o “Dia do Goleiro”. A homenagem começou na metade dos anos 70, por ideia do tenente Raul Carlesso e do capitão Reginaldo Pontes Bielinski, professores da Escola de Educação Física do Exército do Rio de Janeiro. Uma festar reunindo goleiros, ex-goleiros e pessoas ligadas ao futebol, no Rio, celebrou o primeiro “Dia do Goleiro, em 14 de abril de 1975”. Mas, a partir de 1976, definiu-se como o dia “oficial” a data de 26 de abril, em uma homenagem ao goleiro Manga, que na época era o campeão brasileiro pelo Internacional.

Mas não vou falar de Manga, embora eu seja torcedor do Internacional. Fazia tempo que eu queria escrever alguma coisa sobre um dos melhores goleiros surgidos até hoje no futebol gaúcho e brasileiro, o argentino Juan Héctor Lugano, chamado de “mito” por todos aqueles que tiveram a ventura de vê-lo jogar. Eu fui um deles. Era garoto, morava na minha cidade natal, Dom Pedrito, na região da Campanha do Rio Grande do Sul.

Naquele tempo os times de Bagé eram muito fortes e enfrentavam Grêmio e Internacional de igual para igual. O mapa do futebol gaúcho se resumia a Uruguaiana, Livramento, Bagé, Pelotas e Rio Grande. As equipes da Serra gaúcha, que hoje predominam no cenário futebolístico interiorano, naquela época praticamente não apareciam.

O argentino Lugano jogou apenas dois anos no Guarany F.C., de Bagé, em 1953 e 1954, trazido do E.C. Uruguaiana pelo treinador Alipio Rodrigues, que o viu em ação num jogo do Campeonato do Interior, em 1952. O Uruguaiana, jogando em casa, derrotou o Grêmio Bagé por 2 x 1. Uma semana depois, em Bagé, no Estrela D’Alva, o jalde-negro venceu por 1x0, gol de Osvaldo Cross. E Lugano teve atuação destacada nos dois jogos.

A estréia de Lugano pelo Guarany aconteceu em 7 de janeiro de 1953, na vitória de 3 x 1 sobre o Grêmio Portoalegrense, no festival de inauguração dos refletores do estádio Estrela D’Alva. No mesmo ano, em Porto Alegre, quando, pelo “Dia do Cronista”, o Guarany ganhou do grande time do Internacional com La Paz, Paulinho, Odorico, Salvador, Bodinho e tantos outros, por 3 x 2, Lugano defendeu um pênalti.

O árbitro mandou cobrar novamente, e o goleiro, em sinal de protesto, ficou encostado na trave. O Inter estava invicto há 30 jogos. Lugano foi a maior figura em campo. Ele era um goleiro espetacular. Tinha tanta confiança que costumava dizer: “Só não deixa chutar da área pequena. O resto é comigo”.

Embora seja considerado até hoje como o melhor goleiro que pisou nos gramados de Bagé, Lugano não conseguiu nenhum título pelo Guarany. O Bagé foi bicampeão em 53 e 54. E além do mais, o goleiro argentino levou o célebre gol dos 70 metros, num clássico Ba-Guá, em 1953. O zagueiro jalde-negro João Nascimento cobrou uma falta antes do meio do campo. A bola voou por todo o Estádio da Pedra Moura (do Bagé), e acabou entrando na meta de Lugano, dando a vitória ao Bagé por 1 X 0. O gol foi batizado de "o gol dos 70 metros".

Certa vez, num jogo contra o Pelotas, na Boca do Lobo. Era um time de respeito, tinha o Pacheco, Airton, Bentinho e tantos outros. Eles eram favoritos. O Lugano não queria saber. Disse que tratássemos de fazer um gol e deixássemos o resto com ele. Não deu outra. Bexiga, Athayde e Caboclo, todos defendendo, apenas o Nadir Fontoura na frente. O Lugano pegava tudo. E, numa cabeçada do Nadir, que depois jogou no Cruzeiro, de São Gabriel, o Guarany venceu por 1 X 0.

Lugano ganhou a fama de mau caráter, mas sempre foi um jogador de grupo, relacionando-se muito bem com os companheiros. No tempo que defendeu o Guarany, morava na sede do clube. Em 1953, primeiro ano em que Lugano foi seu goleiro, o Guarany teve uma campanha admirável em jogos amistosos.

Tinha um grande time, que ganhou inclusive da dupla Gre-Nal. Mas perdeu o citadino para o Bagé, que venceu por 1 x 0 e 4 x 1. Mas Lugano continuou sendo ídolo alvirrubro. Em 1954, em cinco clássicos Ba-Gua amistosos, o Guarany teve quatro vitórias, contra uma derrota e dois empates. No clássico do dia 31 de outubro, na “Pedra Moura”, o Guarany foi goleado por 4 x 1.

Em 1955 Lugano foi para o Rio de Janeiro, defender o Botafogo. Seu substituto no Guarany foi o uruguaio Oscar Modesto Rodrigues Urruty, que depois jogou em Pelotas e foi meu amigo durante os anos que resido na cidade “Princesa do Sul”. Outro dia prometo contar a história desse extraordinário goleiro.

Num dos primeiros jogos de Lugano no Rio, o “Glorioso” derrotou o Vasco da Gama por 3 X 2, quebrando um tabu de vários anos. Depois participou de uma excursão a Europa, sendo considerado o melhor goleiro que atuou na antiga Tchecoslováquia.

O avião que conduziu a delegação do Botafogo até a Europa, um pesado e resfolegante “Constellation”, da Panair do Brasil, chegou ao Aeroporto de Barajas, em Madrid, com algumas horas de atraso. A rigor, pode-se dizer que o Real Madrid já estava em campo enquanto os jogadores do Botafogo tiravam o paletó e a gravata do terno de viagem e colocavam às pressas o uniforme.

O torcedor madrileno já começara uma sonora vaia, reclamando do atraso, quando o Botafogo, com Lugano e Dino da Costa à frente, entrou em campo carregando a bandeira espanhola. Foi um sucesso. Vieram os aplausos, que se transformariam em espanto ao final da partida, quando os brasileiros, mais mortos do que vivos, arrancaram um inesperado empate de 2 X 2.

Em 1955 o Botafogo tornou a fazer uma excursão longuíssima e a primeira realizada na Europa. O jogo inicial ocorreu a 15 de Maio e o jogo final a 16 de Julho.


O Botafogo realizou jogos na Espanha (6), França (3), Dinamarca (1), Holanda (1), Suiça (1), Itália (2) e Checoslováquia (4), num total de 18 amistosos, isto é, cerca de dois jogos por semana, aproximadamente.

A excursão saldou-se por 11 vitórias, 5 empates e 2 derrotas tendo sido assinalados 54 gols e sofridos 28, à média de 3 gols marcados e 1,5 sofridos por jogo.

O time base que atuou na excursão era este: Lugano - Gérson e Nílton Santos - Orlando Maia - Ruarinho (Bob) e Danilo (Juvenal) - Garrincha - Dino -Vinícius - Quarentinha e Hélio (Neyvaldo).

Depois de deixar o Guarany no final de 1954, Lugano reapareceu na cidade em 1963, treinando no Bagé e acabando por ser contratado. Houve atraso na condição de jogo. Ele vestiu a camisa jalde-negra apenas uma vez, no dia 22 de setembro de 1963, na derrota de 2 x 0 para o São Paulo, em Rio Grande, gols de Carlos Alberto e Darcy. O time da época: Lugano - Saul Mujica – Barradinhas - Valdoma e Gabriel - Armando e Jara - Saul Andrade - Ivo Medeiros- Juarez e Danilo. Com a derrota, o Bagé ficou sem chances de classificação e, na rodada seguinte, entregou os pontos para o Bancário, de Pelotas.

Em novembro de 1963, na preliminar de um jogo entre Guarany X Rio Grande, Lugano vestiu a camisa do time amadorista do Bola Sete, quando se envolveu em discussão com um torcedor. Em 1964 foi acolhido no apartamento de Luiz Carlos Deibler, em Porto Alegre, a pedido de amigos. Ele passava por dificuldades financeiras.

Nos anos 80, Lugano, no Rio de Janeiro, Lugano foi encontrado pelo antigo amigo Antônio Maria Filho, como mendigo, morando nas pedras da Urca. Levado a um hospital, com tuberculose avançada, o ex-grande goleiro logo morreu. (Pesquisa: Nilo Dias)

segunda-feira, 23 de abril de 2012

O time de Jesus Cristo

O estudante pernambucano, Pedro Renan de Oliveira, de 27 anos, torcedor fanático do Santa Cruz Futebol Clube, time que o ano passado conseguiu classificação para a Série C do Campeonato Brasileiro, depois de amargar três anos na Série D, ou quarta divisão do Brasileirão, ficou conhecido por ir aos jogos do time “Coral”, caracterizado como Jesus Cristo, com cabelos longos, sandálias, vestes e até mesmo uma coroa de espinhos.

Ele disse que resolveu criar o personagem “Jesus” por sua semelhança fisica com ele e também para lembrar a fé e a devoção que o torcedor do Santa tem pelo clube. Para ele o Santa Cruz é uma religião. Em razão da fantasia, passou a ser tratado pelos torcedores como o “Jesus do Coral”. Pedro Renan não corta os cabelos há 10 anos.

Ele sempre acompanha o Santa Cruz, jogue onde jogar. O ano passado não perdeu um jogo sequer. Já viajou de avião, van e no “Expresso Coral”, ônibus que leva o time aos jogos em cidades mais próximas. O pai de Pedro é o motorista do ônibus. Na campanha que classificou o time para a Série C, Pedro viajou até Rondonópolis (MT) para assistir uma partida contra o Cuiabá, no estádio Luthero Lopes.

Arriscando palpites, afirmou que o clube venceria o jogo por 2 × 1, o que se confirmou. O “Jesus do Coral” esteve no estádio acompanhado de outros fanáticos, como Edmilson José da Silva que é de Recife e mora em Cuiabá.

Com o acesso do time à Série C do Campeonato Brasileiro, o “Jesus do Coral” encenou uma crucificação por algumas horas, no Marco Zero, no centro da capital pernambucana, para cumprir uma promessa.

Apesar de ir ao estádio fantasiado de Jesus, o torcedor faz parte da torcida organizada “Inferno Coral”. E justifica: “O Inferno Coral” é apenas o nome de uma torcida”. E garante que não há problemas entre se fantasiar de Jesus e fazer parte dessa organizada.

Mesmo com toda a paixão que os componentes da “Inferno Coral” nutrem pelo Santa Cruz, em todos os jogos levam uma faixa que é propositadamente colocada de cabeça para baixo, como protesto que continuará até que o clube volte a primeira divisão do futebol brasileiro.

Não é só o “Jesus Cristo”, que chama a atenção entre os torcedores tricolores. Também tem “cavaleiro medieval”, “papangu”, perucas para todos os gostos, dezenas do cobras corais de plástico e até um “Elvis Presley” que não morreu e torce pelo Santa, segundo o seu criador, o funcionário público Valdemagno Torres.

Em nome do amor ao Santa Cruz acontece de tudo, até viajar 19 horas de bicicleta para assistir a um jogo. Ou então trocar a romaria de devoto a “Padim Ciço” por uma partida no Estádio do Arruda. Esse é Jare Mariano da Silva, 71 anos, o “Bacalhau”, que até mudou a cor dos dentes. Seu sorriso, hoje, é tricolor: vermelho branco e preto. É considerado o torcedor mais fiel do Santa Cruz. Chegou ao ponto de acabar com um casamento de 20 anos, depois que descobriu que a mulher na surdina torcia pelo Sport.

Morador de Garanhuns, cidade a 230 quilômetros de Recife, ele já perdeu as contas das vezes que cruzou a BR 232 de bicicleta, só para ver seu time jogar. E não usa outra camisa que não seja a do Santa Cruz. Também as suas cuecas tem as cores do clube. Na casa onde mora, por incrível que possa parecer, o encanamento e a fiação elétrica tem as cores do clube.

Nem o abacateiro do fundo do quintal escapou da obsessão pelo Santa Cruz: quando os frutos começam a crescer, ele os pinta de preto, vermelho e branco.

Já o aposentado Celso Moreira da Silva vai aos jogos do Santa Cruz exibindo uma longa barba tingida com as três cores do clube. A poucos quilômetros do estádio do Arruda, no bairro de Apipucos, o pequeno comerciante Valdemar Vicente da Silva, o “Pol”, quando de seu aniversário deixou dezenas de convidados em sua casa e sumiu para ver um jogo do Santa Cruz. Sua esposa Iris, que mudou de time - era Sport - para salvar o casamento, ficou tão chateada que passou 15 dias sem falar com ele.

Nascido na mesma cidade de "Bacalhau", Patric Dias é o gerente da loja que fica no estádio e vende 400 produtos licenciados. Ele é testemunha ocular da fanática paixão da torcida tricolor. A procura é tanta, que a loja não consegue manter o estoque. Faltam produtos até do principal fornecedor.

No primeiro jogo da final da Série D, ano passado, mais de 100 ônibus levando torcedores se deslocou até a cidade de Campina Grande, na Paraíba. Para garantir a viagem e o ingresso, teve até torcedor que vendeu bicicleta ou ficou sem comer. Flamengo e Corinthians, que dizem ser detentores das maiores torcidas do país, são "fichinhas" perto do Santa Cruz. (Pesquisa: Nilo Dias)

O fanático torcedor que se veste de Jesus Cristo, em jogo do Santa Cruz. (Foto: Divulgação)

sexta-feira, 20 de abril de 2012

O príncipe do futebol cearense

João Erivaldo Queiroz Damasceno, ou simplesmente Damasceno, nasceu em Fortaleza (CE), no ano de 1933. Foi um zagueiro que mesclava habilidade e vigor na marcação dos atacantes adversários. Rapaz pobre, morador do subúrbio de Fortaleza, começou a carreira futebolística jogando pelo Atlético Cearense, do Bairro Montese. Em 1951, quando tinha 18 anos de idade foi levado para o Ceará, pelo técnico João Brega, mais conhecido pelo apelido de “Jombrega”, que o viu jogando no campo do Colégio Piamarta.

Tão logo chegou ao “Vovô”, já ganhou a posição de titular e se consagrou como um dos destaques do time, jogando ao lado de Alexandre Nepomuceno, o famosos “Filé de Gia”, outro ídolo histórico do Ceará. Os dois jogavam por “procuração”. Um sabia onde o outro estava, mesmo sem se verem. Formavam o par perfeito dentro de campo. Damasceno jogava de zagueiro ou de centromédio.

O time do Ceará era muito bom. Lá estavam, entre outros, William, lateral-direito de largos recursos técnicos; os maranhense Dico, no Maranhão conhecido como "Dico Camaroeiro" e e Carneiro, o segundo maior lateral-esquerdo do futebol brasileiro em todos os tempos. Superado apenas por Nilton Santos. Infelizmente, a mídia brasileira nuna se interessou em conhecer Damasceno, Carneiro, Hamilton, Pipiu e Roberto Rebouças.

Nos 10 anos em que vestiu a camisa preta e branca, Damasceno teve a oportunidade de jogar contra grandes figuras do futebol brasileiro como Zagallo, Didi, Garrincha, Mengálvio, Coutinho, Pepe, Dorval e até Pelé, em quem enfiou bola pelo meio de suas pernas e saiu indiferente à fama de que gozava aquele infernal jogador. Sempre salientava que os mais perigosos atacantes da região foram Gildo e Mozart, que eram terríveis e deixavam qualquer defesa azucrinada.

O Clube de Regatas Vasco da Gama, então com um grande time formados por jogadores que haviam disputado a Copa do Mundo de 1954 e até outros da derrocada brasileira de 1950, excursionava pelo Norte-Nordeste e acertou jogo amistoso contra o Ceará, no estádio Presidente Vargas.

O narrador baiano Ivan Lima, com o objetivo de motivar os torcedores criou o "duelo dos melhores" e os protagonistas eram Damasceno, pelo Ceará e Danilo Alvim, pelo Vasco da Gama. Quem vencesse ficaria com o "título" de Príncipe do Futebol. Damasceno deu um verdadeiro nó em Ipojucã e depois em Delém e o Ceará conquistou uma vitória por 1 X 0, gol assinalado por Guilherme, então atuando de centroavante.

A partir dali Damasceno ficou conhecido - pelo menos para os cearenses - como o "Príncipe do Futebol". Pelé já era o Rei.O certo é que a coisa funcionou e o apelido pegou e acompanhou o jogador por toda a sua vitoriosa carreira. No ceará foi bicampeão estadual, 1957/1958.

Em 1960, Damasceno foi contratado pelo Náutico, de Recife, onde permaneceu até 1963. No clube alvirubro ganhou dois títulos de campeão pernambucano, em 1960 e 1963. Depois de ter fraturado a clavícula esquerda, fez um acordo com a equipe “Timbu”, que só concordou em liberá-lo após se comprometer a voltar a Fortaleza, ou seja, não queriam que ele defendesse o Sport ou o Santa Cruz.

Em 1963 voltou ao futebol cearense, dessa vez para jogar pelo Ferroviário, onde encerrou a carreira em 1967, aos 36 anos. Depois de deixar os gramados ensaiou uma carreira de treinador, tendo dirigido as equipes do Tiradentes, Guarani de Sobral, Salgueiro e seleções de Maracanaú, Juazeiro e Tauá.

Em 1972, quando dirigia o Guarani, de Sobral levou para o clube o atacante Geraldino Saravá, que é até hoje o maior artilheiro da história do estádio “Castelão”. Era um jogador que não tinha muita qualidade técnica, todavia conseguia finalizar a gol como poucos. Chutava de qualquer maneira e os goleiros tinham imensas dificuldades para defender seus arremates.

Foi por conta de uma injustiça cometida ao seu grande amigo, o ex-zagueiro Pedro Basílio, que Damasceno resolveu deixar de ser técnico. Ele ficou desolado com a profissão após ver Basílio ganhar um turno invicto à frente do Fortaleza e, após perder a primeira partida do returno, ser dispensado.

Na sua brilhante carreira, o príncipe Damasceno guarda com orgulho o único reconhecimento recebido em toda a carreira, o troféu “Personalidades Esportivas Flávio Ponte”, ganho em 10 de dezembro de 2001.

Apesar da fama, o legendário jogador praticamente não ganhou nada com o futebol. Conseguiu se aposentar graças a ajuda de um amigo do INSS, ao completar 65 anos. Na sua época de atleta, a situação era terrível. Não tinha nenhum tipo de documentação.

A casa onde morava, no Bairro Vila União, foi construída na década de 80 - muito tempo depois dele abandonar a carreira - com a ajuda da família. Damasceno faleceu na manhã do dia 12 de outubro de 2008, aos 75 anos de idade, de causa não revelada. O ex craque deixou 12 filhos e sete netos de dois casamentos. (Pesquisa: Nilo Dias)

quarta-feira, 18 de abril de 2012

O caso Oscar no mundo corporativo

José Renato Santiago (http://www.jrsantiago.com.br/)

Por envolver emoções que tendem, para algumas pessoas, a sobrepujar a razão, creio que seja importante, afirmar que sou torcedor tricolor, daqueles de frequentar estádio e acompanhar de perto tanto as boas com as “menos boas” fases da minha equipe.

Diante disso, gostaria de compartilhar alguns entendimentos sobre o caso que envolve o jogador Oscar, São Paulo e Internacional.

Tenho atuado no mundo corporativo já faz mais de 20 anos com experiência em empresas de vários portes e diversos segmentos.

Pois bem, se considerarmos as condições que suportam o caso Oscar como a de um profissional que atua em uma organização que, digamos assim, investiu em sua formação profissional, não há o que pensar: a atual posição são paulina é amadora.

Durante os anos 2000 principalmente, era muito comum profissionais terem seus cursos de pós graduação e MBAs “bancados” pelas empresas. A forma utilizada por grande parte das organizações para garantir que o funcionário continuasse na empresa após o treinamento, era estabelecer um contrato que “obrigava” o funcionário a “pagar” o valor do investimento feito pela organização.

Resultado: Grande maioria dos funcionários ao retornar, mudava de emprego e esta cláusula era “simplesmente” desconsiderada. Sentindo-se traídas, muitas empresas recorriam juridicamente para que fossem ressarcidas. Até o momento nenhuma destas causas foi vencida por qualquer empregador.

Como consequência disso, houve uma significativa redução nestes investimentos por parte das empresas, cabendo agora, mais que nunca, ao próprio funcionário custear esta capacitação.

A Justiça do Trabalho reconhece a descomunal diferença entre as partes, organização e funcionário, que assinam um contrato trabalhista.

Não há qualquer possibilidade de obrigar o trabalhador a pagar qualquer multa tão pouco a prestar serviço para quem não deseja.

O papel são paulino no caso é simplesmente de, ao menos tentar, mostrar para sua torcida e comunidade que não foi deixado para trás. Atitude não cabível e não digna do profissionalismo que seus dirigentes tanto pregam.

A verdade é que o papel tricolor deveria ter sido preventivo. Uma vez que falhou na época, a derrota é eminente. E mais, usar este caso como exemplo, para que seus jovens atletas não enveredem pelo caminho seguido por Oscar, é algo cruel, até mesmo maquiavélico, e não profissional.

Os dirigentes tricolores deverão sim agir preventivamente e corrigir os erros que foram cometidos por eles próprios.

Quanto a Oscar, independentemente, de achar que, muito possivelmente, suas ações irão prejudicá-lo em futuras relações profissionais e que até mesmo houve certa “ingratidão” por parte dele, devemos lembrar que a relação é profissional e argumentos de tal natureza são inadequados e não profissionais.

Por fim, e o Internacional?

Muito possivelmente deverá pagar algum valor para contar com o jogador, caso queira que o mesmo retorne a campo em um curto espaço de tempo, no entanto, se tiver paciência, também ficará com o jogador, muito possivelmente de graça, mas neste caso poderá haver demora, pois a briga judicial ocorrerá, por mais que os resultados todos saibam.

“Oscar não voltará ao São Paulo que não receberá o valor que deseja”


Oscar: 'O Inter sabe que eu quero estar lá' (Foto: André T. Susin - Jornal "Lance"

sábado, 14 de abril de 2012

O centenário do Santos F.C. (Final)

Em 1973 o Santos ganhou o último Campeonato Paulista com Pelé. Competição que teve uma final muito conturbada, acabando na disputa por pênaltis contra o time da Portuguesa. O erro histórico do árbitro Armando Marques, que encerrou as cobranças quando o Santos vencia por 2 X 0, mas ainda com possibilidade de empate por que restavam duas cobranças da Portuguesa, atrapalhou a conquista certa. Pelé ainda não havia feito sua cobrança, fazendo com que o título daquele ano fosse dividido entre os dois clubes.

Após a era Pelé o Santos continuou seu caminho de glórias. Em 1978, o técnico e ex-atleta do Santos, Formiga, formou um time campeão. Os "Meninos da Vila", apelido dado pela juventude dos atletas da equipe, conquistaram o Campeonato Paulista de 1978. Destacaram-se na época Juary, Nílton Batata, Pita, Aílton Lira, entre outros.

Em 1983 o Santos montou uma equipe forte trazendo para a Vila jogadores consagrados como Serginho Chulapa e Zé Sérgio (do São Paulo) e Paulo Isidoro (do Atlético Mineiro) e conseguiu disputar a final do Campeonato Brasileiro de Futebol daquele ano com o Flamengo de Zico, vencendo a primeira partida no Morumbi por 2 x 1. Mas na final do Maracanã, jogando com alguns desfalques, o Santos acabou apenas como vice-campeão.

Com o reforço do goleiro Rodolfo Rodriguez, a equipe confirmou sua competitividade e se sagrou campeã Paulista de 1984. Após esse título, o Santos só voltou a uma final de campeonato nacional de futebol em 1995, enfrentando o Botafogo. Houve empate e acabou novamente com o vice-campeonato, num jogo em que a arbitragem foi grandemente contestada. Os santistas reclamaram do árbitro Márcio Rezende de Freitas a anulação do gol do ponta santista Camanducaia, e também a validação do gol em impedimento do botafoguense Túlio Maravilha).

O Santos voltou a ganhar títulos vencendo o Torneio Rio-São Paulo de 1997 e a Copa Conmebol de 1998, precursora da atual Copa Sul-Americana de 1998, derrotando o Rosário Central, da Argentina na final. Foi vitória de 1 X 0 na Vila Belmiro, com gol marcado por Claudiomiro, e empate em 0 X 0 no Estádio do Rosário Central.

Em 20 de janeiro de 1998, o Santos tornou-se a primeira equipe na história do futebol a alcançar a marca de 10 mil gols (gol do meio-campista Jorginho). Em 26 de agosto de 2005, atingiu a marca de 11 mil (gol do atacante Geílson). É o clube que mais marcou gols na história do futebol mundial.

Com a chega do século 21 o Santos venceu o Brasileirão de 2002 e chegou à final da Libertadores de 2003. A maior conquista do clube, fora os títulos, foi o reconhecimento internacionalde ser considerado o "Clube do Século XX nas Américas", em eleição da FIFA que premiou, no fim dos anos 1990, os melhores clubes de futebol da História. Além do Santos, o Real Madrid foi considerado o "Clube do Século XX".

Em 1999, Marcelo Pirilo Teixeira ganha a eleição a Presidência pegando o clube com uma enorme dívida e com o time em frangalhos. A administração primeiramente tentou montar um grande time com jogadores renomados e ao mesmo tempo investiu forte na base, no patrimônio e na estrutura, reformando o estádio e fazendo um CT de primeiro mundo.

Mas no início de 2002, ano em que o clube completou 90 anos, os grandes jogadores haviam saído sem conseguir títulos, apenas um vice-campeonato paulista em 2000, e o Santos teve que voltar suas atenções às categorias de base para recompor o elenco.

A "solução caseira" deu certo e o Santos encerrou aquele ano com a conquista pela sétima vez do Campeonato Brasileiro. O time que conseguiu ser campeão foi, basicamente, formado na Vila Belmiro, montado pelo treinador Emerson Leão tirando da base para a equipe principal garotos que seriam conhecidos como "Os novos Meninos da Vila" e que viraram febre no Brasil inteiro.

A dupla Diego e Robinho se tornou símbolo de um futebol vistoso e alegre, junto de Renato, Elano, Alex e Léo. No ano seguinte, com a base mantida, o “Peixe” chegou aos vice-campeonatos da Libertadores e do Campeonato Brasileiro.

Em 2006, se aproveitando que seus principais adversários estavam com as atenções divididas devido a participação na Taça Libertadores da América, o Santos conquistou o Campeonato Paulista de 2006. Foi o fim de um período de 21 anos sem levar a taça paulista. O time entrou ainda para a história dos recordes como a única equipe que venceu todas as partidas jogadas em seu estádio, 10 partidas no total. E que marcou gols em todas as partidas do campeonato, 19. (33 gols).

Em dezembro de 2009, as tumultuadas eleições para a presidência do clube tiraram do cargo Marcelo Pirilo Teixeira, que se manteve por 10 anos nessa posição. Para o seu lugar foi eleito Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro. Com um bem executado trabalho de base surgiu outra geração dos "Meninos da Vila" que reuniu os craques Neymar, Paulo Henrique Ganso, André, Wesley, o goleiro Rafael, os quais, juntos de Robinho que voltou por empréstimo e outros jogadores e com o técnico Dorival Junior, reescreveram a história internacional do clube no cenário futebolístico. No primeiro semestre conseguiu o título de Campeão Paulista.

Depois conquistou seu segundo título no ano, o da Copa do Brasil, inédito para o clube. Foi o coroamento de uma campanha marcada por um ataque arrasador, com goleadas implacáveis como os 10 x 0 contra o Naviraiense e os 8 x 1 contra o Guarani, de Campinas, jogo em que Neymar marcou cinco vezes.

No segundo semestre de 2010, com perdas de jogadores importantes com Wesley (vendido para o Werder Bremen da Alemanha), André (vendido para o Dínamo de Kiev da Ucrânia), Robinho (que voltou do empréstimo para o Manchester City da Inglaterra), e Ganso (que se contundiu em uma partida contra o Grêmio ainda no primeiro turno e não jogou mais no campeonato), além da demissão do técnico Dorival Júnior o Santos não conseguiu ir além de um oitavo lugar e adiou a conquista da chamada "tríplice coroa", título simbólico dado a quem vencesse no mesmo ano o Campeonato Estadual, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro.

Em 2011 o Santos se tornou bicampeão paulista. No Campeonato Brasileiro de 2011 o Santos ficou apenas em décimo lugar. Mas coroou o ano com a conquista da Taça Libertadores da América, que lhe garantiu o direito de participar do mundial de Clubes, no Japão.

A estréia do clube na competição foi no dia 14 de dezembro, quando derrotou o Kashiwa Reysol por 3 x 1, com gols de Neymar, Borges e Danilo, garantindo vaga para a final. No dia 18 de dezembro, o Santos encarou o Barcelona, e foi derrotado por 4 x 0, com dois gols de Messi, um de Xavi e outro de Fábregas. (Pesquisa: Nilo Dias)

Neymar, o grande ídolo do Santos, na atualidade.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O centenário do Santos F.C. (2)

O Santos Futebol Clube, logo após sua fundação, realizava seus treinos em um campo localizado no Bairro do Macuco. Como o gramado não tinha as dimensões oficiais mínimas, seus jogos eram disputados no terreno onde hoje está a "Igreja Coração de Maria", na avenida Ana Costa. O campo era utilizado também por outros clubes da cidade. Em 1915, a situação chegou a um limite, obrigando o clube a rejeitar visitas de clubes internacionais, inclusive.

Para resolver o problema, os dirigentes passaram a procurar terrenos na cidade. Em 31 de maio de 1916, uma Assembléia Geral aprovou a compra de uma área de 16.500 metros quadrados, no Bairro da Vila Belmiro, entre as ruas Abolição, Guarani, Tiradentes e Dom Pedro I. A denominação Vila Belmiro provém de Belmiro Ribeiro de Moraes e Silva, figura influente na vida política e econômica do município, que exerceu o cargo de prefeito por duas vezes.

Proprietário de muitas terras, algumas glebas ele doou à municipalidade, e outras ele loteou, criando a Vila Operária, mais tarde Vila Belmiro, por desejo dos próprios moradores, que assim o pleitearam em reconhecimento a seu benfeitor.

E no dia 12 de outubro daquele ano, o sonho se tornou realidade com a inauguração da praça de esportes da Vila Belmiro. O primeiro jogo, foi realizado 10 dias depois, contra o Ypiranga, válido pelo Campeonato Paulista, com vitória de 2 X 1, gols de Millon e Jarbas. O Santos jogou com Odorico - Américo e Arantes – Pereira - Oscar e Junqueira – Millon – Marba – Tedesco - Jarbas e Arnaldo.

A denominação Estádio Urbano Caldeira, surgiu em 1933, como homenagem a um dos maiores benfeitores do clube. Caldeira foi um dos mais fanáticos entusiastas do Santos, dedicando 20 anos de sua vida ao seu engrandecimento. Ex-jogador e técnico do clube e que chegou a ser visto até cortando e aparando o gramado da Vila.

De 1921 a 1926 o Santos fez campanhas fracas no Campeonato Paulista, mas foi o período necessário para o surgimento da primeira geração do que se tornaria uma tradição no clube, a descoberta de jovens talentos. A equipe de jovens garotos que formaria o famoso "ataque dos 100 gols" começou a ser formada em 1923 com a chegada do jovem Araken Patusca, 16 anos, irmão de Ary Patuska. Na mesma época entraram para a equipe outros atletas de baixa idade.

Quatro anos após a chegada desses jovens, e com a inclusão de alguns nomes como o do extraordinário artilheiro “Feitiço”, o Santos estreou no Campeonato Paulista aplicando uma goleada de 12 X 1 sobre o Ypiranga, com 7 gols de Araken. Foi o recorde de gols em uma única partida, só sendo superado 37 anos depois por Pelé.

Durante toda a disputa estadual o clube venceu por placares elásticos, o que resultou em 100 gols do ataque santista, média de 6.25 gols por partida. Mas a excelente campanha não foi coroada com o título. No último jogo, quando precisava de apenas um empate, foi derrotado pelo Palestra Itália, por 3 X 2, em partida muito conturbada.

O Santos seria ainda vice-campeão em 1928 e 1929, sempre fazendo muitos gols. Em 1931 foi novamente vice-campeão, mas Araken não estava mais no clube. Retornou em 1935. O ataque que entrou para a História como a famosa "linha dos 100 gols" era formado por Siriri, Camarão, Feitiço, Araken e Evangelista.

O nome de batismo de Araken era Abraham Patusca da Silveira. Nasceu em Santos, a 17 de julho de 1905 e faleceu naquela cidade em 24 de janeiro de 1990. Jogou no Santos, São Paulo da Floresta e Flamengo. Fez parte do primeiro time santista a entrar para a história, muito antes da era Pelé.

Foi o único jogador do futebol paulista a disputar a Copa do Mundo de 1930 no Uruguai. Ficou conhecido como "Le Danger", "O Perigo", em francês. Aumentou sua fama quando foi emprestado pelo Santos para participar de uma excursão em 1925, do Paulistano, clube que não se profissionalizou.

Jogando ao lado de outro craque, Arthur Friedenreich, o ótimo desempenho levou a que os jogadores brasileiros fossem chamados de "reis do futebol" pelos jornais franceses. Vaidoso, gostava de jogar usando uma boina.

São Paulo da Floresta e Santos fizeram, em 1933, o primeiro jogo de futebol profissional do país. Foi nele também que o apelido do Santos, "Peixe", foi dito pela primeira vez. Tratou-se de uma provocação. Antes do início do jogo, a torcida adversária chamava os jogadores santistas de "peixeiros", de maneira pejorativa. A massa santista retrucou dizendo: "Somos peixeiros, e com muita honra". A partir daí o apelido foi adotado pelo clube santista, e a mascote, a “Baleia”, foi criada.

O primeiro título de campeão paulista demorou a chegar, aconteceu em 1935, após um declínio dois anos antes, em razão do início do profissionalismo no futebol brasileiro. A final do campeonato daquele ano aconteceu em 17 de novembro, no Parque São Jorge, contra o Corinthians. O resultado foi uma vitória de 2 X 0, gols marcados por Raul Cabral Guedes e Araken Patusca.

Em 1956, chegou à Vila Belmiro, trazido pelas mãos de Waldemar de Brito, o menino Pelé, de 15 anos, que deu um novo impulso à história do Santos, levando-o a conquistas que enalteceram o futebol brasileiro no planeta. O time do Santos vinha de grandes campanhas, sendo bicampeão paulista em 1955-1956, apresentando os craques Pepe e Zito, dentro outros. Com Pelé, o time se tornou um dos maiores da história.

Pelé marcou seu primeiro gol com a camisa do Santos num amistoso com o Corinthians, de Santo André, jogo em que o time da Vila Belmiro venceu por 7 X 1. Em 1958 ganhou seu primeiro Campeonato Paulista, estabelecendo como artilheiro o recorde de 58 gols, que permanece até hoje. Neste Campeonato Paulista o Santos marcou 143 gols.

O Santos com Pelé continuou nos anos seguintes a ganhar todas as principais competições que disputava. Em 1959, a conquista do primeiro Torneio Rio-São Paulo e o vice-campeonato da Taça Brasil. Em 1960, mais um paulista. De 1961 até 1965 a hegemonia do futebol brasileiro com cinco Taças Brasil.

Em 1962 e 1963, o bicampeonato sul-americano da Copa Libertadores da América e o bicampeonato da Copa Intercontinental. Só não ganhou todos os Campeonatos Paulistas de 1958 até 1969, pois o Palmeiras, time conhecido na época por "Academia", conseguia interromper a sequência de tempos em tempos. É o único clube brasileiro a conquistar, num mesmo ano (1962), um título estadual, um nacional, um continental e uma Taça Intercontinental.

Em 1967 o Santos ganhou novamente o Campeonato Paulista e deu início ao seu segundo tricampeonato da competição. Em 1968 o time com grandes revelações como Clodoaldo, Edu, Abel e Toninho Guerreiro voltou a conquistar outra série de títulos nacionais e internacionais, como a Recopa Intercontinental de 1968. De 1960 a 1969, período de 10 anos, conquistou nada menos que 22 títulos oficiais, um recorde entre times brasileiros.

No ano de 1969, as conquistas e a fama do Santos eram tão grandes que, em uma excursão pela África, a guerra no Congo Belga, atual República Democrática do Congo, entre forças de Kinshasa e de Brazzaville, foram suspensas para que as cidades pudessem assistir aos jogos do time. Logo após as partidas e as homenagens, o conflito recomeçou. Este evento serviu claramente de inspiração para o "Amistoso da Paz", realizado entre as seleções de Brasil e Haiti, em 18 de agosto de 2004.

Com dívidas devido a investimentos que não deram certo, como o do Parque Balneário, o clube ia vendo seus craques saindo. Compromissos com a CBD para a eleição de João Havelange para presidente da FIFA obrigaram o time a sucessivas excursões por todo o globo, desde a África até a Arábia, o que refletiu no fraco desempenho do time nos campeonatos internos. (Pesquisa: Nilo Dias)

Pelé, o maior jogador do mundo até hoje, foi o grande nome da história do clube em todos os tempos.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

O centenário do Santos F.C. (1)

Esta semana é muito significativa para o futebol brasileiro, pois coloca o Santos F.C., da cidade paulista, de Santos, no seleto grupo de clubes centenários. A agremiação alvinegra santista foi fundada no dia 14 de abril de 1912. E não foi o primeiro time de futebol da cidade. Mesmo com os esportes aquáticos como o remo serem os mais praticados pelos jovens, já existiam equipes fortes o bastante para disputarem com destaque o Campeonato Paulista de Futebol, criado em 1902: o Sport Clube Americano, fundado em 1903 e o Clube Atlético Internacional, fundado em 1902.

O Internacional foi extinto em 1910 e o Americano mudou sua sede para São Paulo, deixando alguns praticantes descontentes e que decidiram então criar o seu próprio clube na cidade. Em 1912, Santos já era a principal cidade exportadora de café do mundo. Os negócios iam bem e a cidade atraía cada vez mais o dinheiro dos fazendeiros do Interior.

Com um clima tão favorável, três desportistas da cidade, Raymundo Marques, Mário Ferraz de Campos e Argemiro de Souza Júnior, convocaram uma reunião para às 14 horas do domingo 14 de abril, na sede do Clube Concórdia, localizado na Rua do Rosário - atual Avenida João Pessoa, na parte superior da antiga padaria e confeitaria Suissa, para a criação de um time de futebol.

No dia 5 de abril de 1912, eles convocaram outros colegas de Santos – todos estudantes ou funcionários de empresas de comércio através de uma circular que dizia o seguinte: “Para tratar da fundação de um clube de futebol, queira v.s. comparecer, no dia 14, às 20 horas, no salão do Clube Concórdia, à rua do Rosário, n.º 10.”

Isso, pouco menos de 20 anos depois do jovem Charles Miller, precursor do futebol no Brasil, ter aportado em Santos com as duas primeiras bolas de futebol utilizadas no país.

Apenas 39 rapazes compareceram, dentre eles muitos que formariam nos primeiros times do Santos e alguns, como Millon e Arnaldo, que em menos de dois anos estariam defendendo a Seleção Brasileira. Raimundo Marques, que morreria seis anos depois, vítima da “gripe espanhola”, abriu a seção falando da necessidade de Santos ter um time de futebol, visto que o futebol na cidade, depois de um início promissor, tinha sido completamente abandonado.

Ao discutir-se o nome da nova agremiação surgiram algumas sugestões: “África” foi a primeira, rejeitada por Raimundo Marques depois de consultar o plenário. Em seguida sugeriu-se “Brasil”, nome também não aprovado. Álvaro de Barros Fontes quis fazer média com o clube que emprestara o salão para a reunião e arriscou “Concórdia”. Mas se já existia um clube com este nome, para que outro?

Foi então que Edmundo Jorge Araújo propôs “Santos Foot Ball Club”. Um silêncio, seguido de fortes aplausos aprovou adotar-se o nome da cidade, menor que as grandes capitais, mas que através de seu porto, um dos maiores do país, se ligava e se abria ao mundo. Raimundo Marques pôde então concluir: “Meus senhores, acaba de ser fundado o Santos Foot Ball Club. Eram 14 horas e 33 minutos do domingo, 14 de abril de 1912.

A primeira Diretoria ficou formada por Sizino Patuska (presidente), que tinha participado das fundações de Internacional e Americano; George Cox (vice-presidente); José G. Martins (1° secretário); Raul Dantas (2° secretário); Leonel Silva (1° tesoureiro) e Dario Frota (2° tesoureiro). Os diretores eram: Augusto Bulle, João Carlos de Mello, Henrique Cross, Raymundo Marques, Cícero F. da Silva e Jomas de C. Pacheco.

Na mesma reunião foram decididas as cores do clube. O uniforme oficial escolhido era constituído por uma camisa com listras verticais azuis e brancas, separadas por um fio dourado, em homenagem ao Clube Concórdia, onde a reunião foi realizada.

Mas devido a grande dificuldade de se confeccionar os uniformes, quase um ano depois, na terceira reunião de diretoria, o sócio Paulo Pelúcio sugeriu que o clube passasse a utilizar como cores oficiais o branco e o preto. Em defesa de sua idéia, disse que "o branco representa a paz, e o preto, a nobreza". E conseguiu aprovação geral dos presentes.

Na oportunidade, o presidente do Santos, Raymundo Marques, apresentou os modelos da bandeira do clube, que passaria a ser branca, diagonalmente atravessada por uma faixa preta com as iniciais do clube em letras brancas.

Para o primeiro jogo do Santos duas versões são dadas por historiadores do clube. A primeira, segundo o conselheiro Guilherme Gomez Guarche, aponta que o primeiro jogo teria ocorrido em 23 de junho de 1912 contra o combinado local do Thereza Team, no campo da Vila Macuco. Vitória de 2 X 1 com gols de Anacleto Ferramenta e Geraule Ribeiro. O time entrou em campo com: Julien Fauvel - Simon e Ari – Bandeira - Ambrósio e Oscar – Bulle – Geraule – Esteves - Fontes e Anacleto Ferramenta.

O historiador oficial do clube, Francisco Mendes Fernandes contesta isso, dizendo que esta partida foi um jogo treino. A outra, apontada por ele como a verdadeira, teria ocorrido apenas em 15 de setembro daquele ano contra a equipe do Santos Athletic Club, conhecido como “time dos ingleses”, no campo da avenida Ana Costa, nº 22 - local onde hoje se encontra a Igreja Coração de Maria. O Santos Futebol Clube venceu por 3 X 0.

O primeiro gol oficial da história do clube foi marcado por Arnaldo Silveira, que tinha o apelido de Miúdo. Os outros dois gols foram anotados pelo próprio Miúdo e por Adolpho Millon Júnior. O time santista entrou em campo com Julien Fauvel - Sidnei e Arantes – Ernani - Oscar e Montenegro – Millon – Hugo – Nilo - Simon e Arnaldo Silveira.

Em 1913, foi disputado pela primeira vez o Campeonato Santista de Futebol, contando com a participação de Santos, América, Escolástica Rosa e Atlético. O Alvinegro, que já era o time mais forte da cidade, não teve dificuldades para conquistar o título com seis vitórias em seis jogos, 35 gols pró e apenas sete contra. Este foi o primeiro título da história do clube, ganhando o direito de participar do Campeonato Paulista de Futebol, no mesmo ano. Porém, as dificuldades com as viagens constantes e os resultados ruins nos jogos, forçaram a equipe a abandonar o certame.

Esta foi a primeira competição oficial disputada pelo clube. Sua estréia aconteceu no dia 1° de junho, diante do Germânia. O resultado, porém, não foi nada animador: derrota por 8 X 1. O Santos formou com Durval Damasceno - Sebastião Arantes e Sydnei Simonsen - Geraule Ribeiro - Ambrósio Silva e José Pereira da Silva - Adolfo Millon - Nilo Arruda - Anacleto Ferramenta - Harold Cross e Arnaldo Silveira.

A única vitória foi justamente contra o time que no futuro se tornaria o principal rival, e que também estreava no campeonato naquele ano: o S.C. Corinthians Paulista. O resultado foi 6 X 3, em jogo disputado no Parque Antárctica, na capital.

Em 1915, o Santos voltou a disputar o Campeonato Santista, conseguindo o segundo título, embora tenha usado o nome de União F.C., porque a APEA, liga a qual permaneceu afiliado, não permitiu que usasse o nome oficial. Em 1916, disputou pela segunda vez o Campeonato Paulista.

Ary Patusca foi um dos primeiros ídolos do Santos F.C. Filho de Sizino Patuska, primeiro presidente da agremiação litorânea, estreiou como jogador em 1915. Jogou até 1923. Atacante goleador e grande cabeceador, marcou 103 gols em 85 jogos com a camisa santista, sendo o vigésimo maior artilheiro de sua história.

Foi também o primeiro jogador brasileiro a se destacar na Europa, aonde foi enviado para estudar na Suíça. Lá, entrou para o Brühl St. Gallen e foi campeão suíço de futebol, chegando até a jogar na seleção helvética. Depois atuou na Internazionale, de Milão, no período de 1913-1915. (Pesquisa: Nilo Dias)

Time do Santos de 1913. Alguns garotos e dois negros (em destaque) (Foto: Divulgação / Santos FC)

terça-feira, 10 de abril de 2012

Um pioneiro do rádio gaúcho

Morreu no sábado (7) o advogado Farid Germano, 88 anos, um dos pioneiros do jornalismo esportivo gaúcho em rádio, vítima de insuficiência cardiorrespiratória e enfisema pulmonar, doença que destrói as células do pulmão. Em 1944, ele narrou a primeira partida de futebol transmitida de fora do Estado, entre as seleções do Rio Grande do Sul e do Paraná, pela Rádio Gaúcha direto de Curitiba. Ele era também procurador aposentado do Tribunal de Contas do Estado.

Farid era filho de pais sírio-libaneses e nasceu em Cachoeira do Sul (RS). Mudou-se para a capital para cursar Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Simultaneamente ao período de faculdade, trabalhou como locutor das rádios, Gaúcha por três anos e Difusora, um, e foi parceiro de nomes como Maurício Sirotsky Sobrinho, Cândido Norberto, Ernani Behs e Luiz Mendes.

Farid Germano era irmão do ex-vice-governador do Estado Otávio Germano. Ele foi também vice-presidente do E.C. Cruzeiro de Porto Alegre, vice-presidente do Jockey Club, diretor da Federação Gaúcha de Futebol e advogado da Fundação Zoobotânica. Era viúvo havia dois anos de Carmen Germano, com quem foi casado por 60 anos e teve os filhos Cristina (falecida), Farid Germano Filho e Carmen.

O corpo foi velado na capela D do Cemitério São Miguel e Almas, em Porto Alegre, e o sepultamento aconteceu no domingo, 16 horas, no Cemitério São Miguel e Almas, em Porto Alegre.

Uma missa em preito de saudade ao falecido será realizada na sexta-feira (13), na Igreja Sagrada Família, em Porto Alegre. (Pesquisa: Nilo Dias – Adaptada do site “Espaço Vital")

O craque "dentusco"

No futebol brasileiro foram vários os jogadores que chamaram a atenção mais pelo perfil folclórico, do que mesmo pelo futebol apresentado. Talvez o mais famoso deles tenha sido João Batista de Sales, o “Fio Maravilha”, mineiro de Conselheiro Pena, onde nasceu no dia 19 de janeiro de 1945.

“Fio” começou a carreira futebolística no Flamengo, aonde chegou aos 15 anos de idade, levado pelo irmão Germano, ex ponta esquerda do próprio clube da Gávea (1958/1962), Milan da Itália (1962/1964) e Palmeiras (1965/1966). Michila, que também era irmão de Germano foi outro que jogou no Flamengo.

Germano, que estava muito gordo morreu de infarto aos 55 anos, no dia 1 de outubro de 1997, em sua cidade natal, Conselheiro Pena, onde era fazendeiro. Lá vivia com a esposa do segundo casamento, dona Bernardina Ilida Ferreira, e mais dois filhos.

O primeiro jogo de “Fio” com a camisa rubro-negra foi no dia 21 de abril de 1965, quando o Flamengo foi derrotado pelo Bahia por 3 X 0. O técnico rubro-negro era Válter Miraglia. “Fio” jogou no Flamengo de 1965 a 1973, tendo marcado 79 gols em 288 partidas.

O apelido de "Fio Maravilha", ganhou após marcar o gol da vitória de 1 X 0 em um jogo amistoso contra o Benfica, de Portugal, disputado em 15 de janeiro de 1972, no Maracanã. O jogo estava empatado em 0 X 0 e a torcida do Flamengo pedia que o técnico Zagallo colocasse “Fio Maravilha”, então no banco de reservas e favorito a figurar no próximo listão de dispensas. O pedido da torcida foi atendido e “Fio” entrou no lugar de Arilson.

Aos 33 minutos do 2° tempo, ele construiu a obra-prima que inspirou Jorge Bem, ainda sem o Jor acrescido ao seu nome artístico. Driblou dois zagueiros, venceu o goleiro José Henrique e deu a vitória ao Flamengo com um gol sensacional que mereceu, ao final da partida, o seguinte comentário de Zagallo: “Fio só entrou porque Arilson sentiu o joelho, mas a verdade é que me surpreendeu. Não posso pensar em dispensar um jogador que faz um gol desses”.

Apaixonado torcedor do Flamengo estava no estádio o cantor e compositor Jorge Ben, que descreveu em versos a jogada: “Tabelou, driblou dois zagueiros / Deu um toque, driblou o goleiro / Só não entrou com bola e tudo porque teve humildade”.

Defendida por Maria Alcina, a música ganhou o Festival Internacional da Canção de 1972 e virou clássico da MPB. Assim que Jorge Bem ficou sabendo da ação que o advogado de “Fio” movia contra ele, por conta própria, magoado, passou a cantar "Filho Maravilha". “Fio” ficou com fama de oportunista. Em entrevista à TV Globo em 2007, explicou o mal-entendido e autorizou Jorge a cantar a música com a letra original.

E novamente ele chegou/Com inspiração/Com muito amor, com emoção,/Com explosão em gol/Sacudindo a torcida aos 33 minutos/Do segundo tempo/Depois de fazer uma jogada/Celestial em gol/Tabelou, driblou dois zagueiros,/Deu um toque, driblou o goleiro/Só não entrou com bola e tudo/Porque teve humildade em gol/Foi um gol de classe onde ele /mostrou/Sua malícia e sua raça/Foi um gol de anjo/Um verdadeiro gol de placa/Que a galera agradecida assim cantava/"Fio Maravilha", nós gostamos de você/"Fio Maravilha", faz mais um prá gente ver.

“Fio” conta que, anos depois, quando jogava na Desportiva, do Espírito Santo, ouviu a conversa de duas senhoras: "Tá vendo esse cara? É o tal jogador mau-caráter que processou o Jorge Ben".

Apesar do futebol desengonçado e folclórico, “Fio” se tornou querido da torcida em razão dos dribles desconcertantes que aplicava nos zagueiros adversários e pelos gols feitos perdidos. Suas marcas registradas eram os dentes salientes, pouca técnica e muito carisma. Para João Saldanha, célebre técnico da seleção brasileira, “Fio Maravilha” disfarçava um excelente futebol atrás de uma postura desengonçada e de uma incrível dentadura.

No Maracanã, a galera rubro-negra tinha uma maneira especial de demonstrar sua afeição pelo craque, que geralmente entrava no time para consertar as partidas perdidas: no momento em que ele pisava no campo era saudado por uma gargalhada de 30 mil pessoas.

Inteligente, "Fio" não se deixava abater por essa estranha manifestação e dizia: “Olha, eu sou um cara alegre e tenho certeza de que o torcedor sente as coisas. Ele sabe que quando eu entro, eu mudo as coisas”.

Teve breve passagem pelo tradicional São Cristóvão (1979/1980), onde, em 29 de março de 1975, participou do jogo em que o time "cadete" derrotou o Flamengo em pleno Maracanã, por 3 X 2, de virada, pois perdia de 2 X 0. “Fio” marcou dois gols. No ano de 1972, levado pelo técnico Walter Miraglia, teve ainda uma rápida passagem pelo Avaí, de Florianópolis.

Contam que ao chegar ao Aeroporto da capital catarinense, após as costumeiras apresentações, “Fio" comentou: “Estou pronto para jogar, à disposição do treinador!”. No hotel, tomando um cafezinho com pouco açúcar e lendo os jornais que publicavam o nascimento de sua filha, afirmou rindo: “Não sabia que minha filha já era famosa e notícia nos jornais”.

O presidente Fernando Bastos, do Avai, levou "Fio" a concentração do clube para que o atacante conhecesse os novos companheiros. A expectativa era grande e logo o goleiro Rubens, com seu tradicional bom humor, deu o recado: “Quero em nome de todos dar as boas vindas ao lindo “Fio.”

Depois de muitas gozações, "Fio" comentou com Ademir num canto da sede: “Minha esposa era para ganhar no princípio do mês, mas quando soube que eu vinha para Florianópolis ficou nervosa e nasceu a Simone com 4 quilos e 150 gramas. Eu pensei que seria homem, mas veio mulher, estou muito contente”. Ademir, rindo, afirmou: “Se for parecida com o pai é linda”.

O único jogo de “Fio” pelo Avaí aconteceu no dia 2 de outubro de 1972, no estádio Adolfo Konder, contra o Pinheiros, do Paraná, pelo Torneio Integração. O lance mais eletrizante do jogo aconteceu aos 20 minutos.

Ademir, um ponta-direita muito bom, bateu o lateral adversário e cruzou bola para o miolo da área. Lica deixou a bola passar e “Fio”, que tinha entre si e a rede apenas um goleiro mal posicionado, chutou a bola com tremenda violência, e esta subiu cerca de 15 metros, indo se chocar contra um eucalipto á esquerda das gerais. “Fio” coçou a cabeça e voltou sorrindo. A torcida avaiana acabava de assistir a um lance típico de seu novo ídolo. “Fio” era assim.

O jogo acabou empatado em 1 X 1. O gol do Avaí foi de Ademir e o do Pinheiros obra de Gonzaga contra. Nesse jogo o atleta Ismael, do Avaí, teve uma fratura exposta no tornozelo direito.

Após o jogo contra o Pinheiros, no Adolfo Konder, “Fio” retornou ao Rio de Janeiro. E a culpa foi do sucesso da música "Fio Maravilha". O jogador acertou um contrato com a Rede Globo que o usaria em várias promoções, não concordando em hipótese alguma com sua saída do Rio de Janeiro, sede da emissora. Assim, “Fio Maravilha” não passou de uma atração isolada, de partida única.

“Fio Maravilha” jogou ainda pelo Paysandu, do Pará (1973/1975), CEUB, de Brasília (1975/1976) e Desportiva Ferroviária, de Cariacica, Espírito Santo (1977/1978). Conta o cronista esportivo Carlos Ferreira, no seu livro "Pisando na Bola", que o ex-jogador "Fio Maravilha", ao ser contratado pelo Paysandu, do Pará, já em final de carreira, foi recebido em Curuzu como astro de primeira grandeza, alimentando sonhos e ilusões.

Mas, em Belém, causou decepção aos bicolores. Ele não queria nada com o trabalho. Ao final de um treino, ouviu a seguinte pergunta de um repórter: "Por que você foge das divididas?" "Fui contratado pra somar no time e não pra dividir..."

Em 1981 “Fio” mudou-se para os Estados Unidos, onde foi atuar no New York Eagles. Defendeu a equipe durante quatro meses e depois recebeu convite para defender um time semiprofissional de Los Angeles, o Monte Belo Panthers, onde ficou de 1981 até 1983.

Foi naquela época que "Fio" conheceu San Francisco, jogando pelo San Francisco Mercury (1983/1985). Gostou tanto da cidade que quando encerrou a carreira foi morar por lá, tornando-se entregador de pizzas. Também foi técnico e treinador de equipes de futebol infanto-juvenis.

Títulos conquistados: Flamengo: Torneio Quadrangular de Vitoria (1965); Torneio Gilberto Alves (1965); Campeonato Carioca de Aspirantes (1970); Campeonato Carioca (1965 e 1972); Taça Guanabara (1970,1971 e 1972); Torneio Internacional de Verão do Rio de Janeiro: (1970 e 1972); Torneio do Povo (1972); Troféu Marechal Mendes de Morais (1970); Troféu Ary Barroso (1970); Troféu Ponto Frio Bonzão (1971); Troféu Pedro Pedrossian (1971); Taça Presidente Médici (1971); Troféu Sesquicentenário da Independência do Brasil (1972); Taça Cidade do Rio de Janeiro (1973); Taça 23º Aniversario da Rede Tupi de Televisão (1973); 400 Anos da Cidade de Niterói (1973); Taça Dr. Manoel dos Reis e Silva (1973). Pela Desportiva Ferroviária: Campeonato Capixaba (1977).

Hoje, mesmo estando com 67 anos de vida, “Fio Maravilha” nem pensa em voltar ao Brasil, receoso da violência desenfreada. Continua morando em San Francisco e assistindo jogos de beisebol e futebol americano. (Pesquisa: Nilo Dias)

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Por que os times de futebol têm 11 jogadores

Um time de futebol poderia ter 9, 10, 12, 13 ou qualquer outro número de jogadores. Porque então se estabeleceu em 11 os componentes de uma equipe? Não se sabe qual das duas explicações existentes para isso é a correta.

O certo é que o futebol nos moldes atuais teve início na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Cada classe era composta por 10 alunos e 1 bedel, o equivalente a um monitor de classe hoje em dia. Ao ser realizado um Campeonato entre as classes, cada uma se apresentou com 11 elementos em campo, os 10 estudantes, mais o bedel, para quem sobrava a ingrata tarefa de ser o goleiro.

Essa é a versão aceita pela Fédération Internationale de Football Association(Fifa). Antes das primeiras regras, não havia padronização: existem registros de partidas com até 17 jogadores. O número 11 foi adotado no século 19 e até hoje permanece entre as 17 leis que regem o esporte.

A outra explicação é que teria sido feita uma homenagem aos 11 colégios que participaram da reunião em que foram determinadas as regras do futebol em 1863, na Inglaterra.

Outras regras mudaram bastante daqueles tempos para cá. Nos primórdios do futebol não havia nem juiz. As faltas eram acertadas entre os dois times, em um acordo de cavalheiros. O árbitro apareceu apenas em 1868 e, mesmo assim, ele apitava pouco: ficava de fora do campo e não tinha autonomia para marcar infrações.

Tudo precisava ser decidido junto com os capitães dos times: se um dos dois não aceitasse a marcação, nada feito. A autoridade do árbitro só passou a ser absoluta a partir de 1894, com a modernização das regras do esporte.

O papel do goleiro também se modificou: no século 19, ele podia segurar a bola no ar em qualquer parte do campo, só não podia conduzi-la com as mãos. A proibição de agarrar fora de sua área surgiu em 1912.

No caso da barreira que protege o gol na hora da falta, o máximo que a Fifa diz é que nenhum jogador pode ficar a menos de 9,14 metros de distância da bola quando ocorre uma infração. Os jogadores é que decidiram que a melhor forma de guardar a meta era formar um bloco compacto em frente à bola. Isso é muito comum no futebol: primeiro as coisas aparecem na prática para somente depois se tornarem regras.

No início do futebol, os gols eram dignos das peladas de rua: as metas não tinham limite superior. Cabia aos dois times decidir se a bola havia passado acima ou abaixo das traves laterais. Em 1865, uma fita passou a ligar os dois postes do gol. Dez anos depois, os primeiros travessões de madeira começaram a aparecer nos jogos. A novidade foi oficialmente incorporada às regras a partir de 1878

Quando a marcação surgiu em 1891, a bola podia ser batida de qualquer ponto a 11 metros do gol. Naquele tempo, o pênalti era considerado uma punição deselegante. Tanto que, no final do século 19, o Corinthian-Casuals F.C. da Inglaterra (time que inspirou a fundação do alvinegro paulista, em 1910) recusava-se a defender a infração. O goleiro simplesmente abandonava a meta e deixava o gol livrinho para o adversário estufar as redes

Parece incrível, mas os cartões amarelos e vermelhos são bem recentes: só surgiram na Copa do México, em 1970. Antes disso, as advertências eram todas verbais, o que causava uma bagunça geral quando árbitro e jogadores não falavam a mesma língua.

Poucos meses antes daquela Copa, ninguém sabia que forma os cartões teriam. Uma das sugestões era confeccionar pequenos discos coloridos para indicar as punições. No final, esses "pirulitos" acabaram substituídos pelos cartões retangulares que conhecemos hoje. (Pesquisa: Nilo Dias)

No futebol cada equipe tem 11 jogadores.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

O zagueiro que driblava

Airton Ferreira da Silva, também conhecido por “Airton Pavilhão”, um dos melhores zagueiros surgidos no futebol gaúcho e brasileiro em todos os tempos, faleceu ontem na UTI do hospital Ernesto Dorneles, em Porto Alegre, onde estava internado desde a última sexta-feira com um quadro de septicemia, infecção generalizada.

O presidente do Grêmio, Paulo Odone decretou luto oficial por três dias e a bandeira gremista ficará a meio mastro neste período. O velório de Airton Ferreira da Silva se realiza no Salão Nobre do Conselho Deliberativo do Grêmio, desde às 23 horas de ontem, até as 17 horas de hoje. O enterro será no cemitério João XXIII, em Porto Alegre, na tarde desta quarta.

Airton nasceu em Porto Alegre no dia 31 de outubro de 1934. Surgiu para o futebol defendendo as cores do G.E. Força e Luz, da capital gaúcha, na época, um clube de ponta dentro do futebol do Estado. Com 13 anos de idade o menino esguio, filho de um sapateiro, chamava atenção pela técnica apurada. Já jogava na ponta-direita do time da Timbaúva.

Aos 20 anos, com um 1,87 metros e porte físico avantajado, se transformou em center-half, o nome como eram conhecidos os volantes de antigamente. Suas atuações exuberantes chamavam a atenção. Na metade do ano de 1954, foi cedido ao Grêmio, numa transação no mínimo curiosa.

Segundo se conta o Estádio da Baixada, antiga casa tricolor, localizado onde hoje é o Parque Moinhos de Vento, havia sido desmanchado. As tábuas da arquibancada estavam disponíveis. Na negociação com o Força e Luz, além de um valor em dinheiro (Cr$ 50 mil), foi entregue aquele lote de madeira. Este fato valeu ao jogador contratado o apelido de Aírton "Pavilhão".

Segundo se conta, o acerto gremista com Airton aconteceu dentro de um cinema de Porto Alegre. Em junho de 1954, o jogador se preparava para entrar no cinema, acompanhado da namorada. Enquanto a moça escolhia balas para degustar durante o filme, Airton foi abordado por dois emissários do Grêmio. A proposta era excepcional: além de um bom salário, incluía um automóvel. Nenhum jogador de futebol que atuava no Rio Grande do Sul, possuia carro naquela época.

Com a camisa tricolor, Airton foi uma unanimidade, um dos símbolos da garra gremista. Em sua primeira passagem pelo Grêmio ficou por seis anos, transferindo-se para o Santos. No ano seguinte, o atleta voltou ao Tricolor onde ficou por mais seis anos.

No Grêmio, o técnico Oswaldo Rolla, passou a escalá-lo na zaga central, ao lado de Ênio Rodrigues, também oriundo do Força e Luz. Foi uma zaga que marcou época. Marcador implacável, impunha-se também no cabeceio, mas principalmente pela técnica refinada, com a qual defendia a cidadela tricolor. Durante 13 anos, Aírton “Pavilhão” foi o principal jogador do Grêmio. O "zagueiro que driblava" marcou 120 gols na carreira.

Em um treino da seleção brasileira que se preparava para a Copa de 62, disputada no Chile. Aymoré Moreira, o técnico, não gostou de ver o zagueiro Airton, o único convocado de fora do eixo Rio-São Paulo, fazer uma jogada considerada perigosa: levou a bola em direção à linha lateral do campo, chegando junto à bandeirinha de escanteio puxando com ele os atacantes. De repente, virou o corpo e, colocando uma perna por trás da outra, de letra, recuou a bola para as mãos do goleiro Gilmar.

Todos ficaram boquiabertos com o lance, inclusive o treinador, Aymoré Moreira, que nunca vira nada parecido. E diante disso achou melhor dispensar Aírton do grupo que iria ao Mundial, com medo que ele repetisse e errasse a jogada durante o torneio.

Avesso a aviões, ele não acompanhava a delegação gremista em viagens aéreas curtas. Quando o Grêmio atuava no interior do Rio Grande do Sul, em Santa Catarina ou no Paraná, enquanto a delegação voava, ele seguia de ônibus ou de carro. Seu pânico por aviões era imenso. Na vitoriosa excursão gremista à Europa, em 1961, Aírton alegou problemas médicos e pediu dispensa. A Direção não lhe deu ouvidos e ele estava no grupo que brilhou nos gramados do Velho Continente.

Após marcar Pelé com maestria, Aírton foi jogar no Santos em 1960. Sem oportunidade para mostrar seu futebol (o Santos tinha Mauro Ramos), preferiu retornar ao Grêmio, sagrando-se Hexacampeão Gaúcho (1962-1967). Há quem diga que o verdadeiro motivo foi outro: aquele Santos de Pelé viajava demais. E, quase sempre, de avião.

Em 1967, com 33 anos, tendo vencido 12 campeonatos gaúchos em 13 disputados, marca nunca igualada, com uma distensão na virilha que limitava seus movimentos, Aírton despediu-se do Grêmio, indo atuar no Esporte Clube Cruzeiro de Porto Alegre. Posteriormente, foi convidado para ser técnico e zagueiro no Cruz Alta, onde se aposentou em 1971.

Na memória tricolor, porém, Aírton Ferreira da Silva nunca parou. No dia 04 de agosto de 2004, nos exatos 50 anos da estréia com a jaqueta gremista, Airton foi homenageado pelo clube. Antes de jogo contra o Santos, pelo Campeonato Brasileiro, o "Pavilhão" foi recebido no gramado do Olímpico, onde Luiz Felipe Scolari lhe entregou uma placa alusiva à data e uma camisa número 3 do Grêmio, com seu nome gravado. A torcida aplaudiu de pé e gritou seu nome em coro, como se tivesse acabado de assistir um gol de letra.

Airton foi um dos primeiros homenageados pelo Grêmio na Calçada da Fama em 1996, como forma de eternizar sua passagem pelo Clube. O ex-zagueiro também atuou como conselheiro do Clube, além de ter recebido o título de Atleta Laureado. (Pesquisa: Nilo Dias)

domingo, 1 de abril de 2012

O artilheiro do Cosmos

Morreu hoje, aos 65 anos de idade, na Flórida (EUA), o ex-jogador italiano Giorgio Chinaglia, que foi companheiro de Pelé no New York Cosmos, e tido como o maior atleta da história do clube norte-americano em todos os tempos. A morte de Chinaglia foi confirmada na manhã de hoje por seu filho Anthony. "Ele acordou para tomar um remédio e depois disse que iria deitar. Minutos depois ele já não respirava mais", disse Anthony em entrevista ao canal Skysport. Chinaglia havia passado por uma cirúrgia na última semana, após sofrer um ataque cardíaco.

O clube norte-americano, logo após a confirmação da morte de Chinaglia, emitiu nota oficial afirmando que ele foi um dos mais excepcionais jogadores que atuaram nos Estados Unidos e foi o maior jogador do Cosmos e também seu artilheiro máximo. O Cosmos foi um clube onde também se destacaram Pelé, Carlos Alberto Torres, o alemão Franz Beckenbauer, os holandeses Johan Neeskens e Johan Cruijff, o polonês Wladyslaw Zmuda e o paraguaio Romerito.

Giorgio Chinaglia nasceu na cidade italiana de Carrara, no dia 24 de janeiro de 1947. Apesar de ter nascido na Itália, passou sua infância e adolescência no País de Gales, o que lhe deu um perfeito domínio da língua inglesa. Foi lá que iniciou sua carreira futebolística no Swansea Town (1964-1966).

Em 1966 retornou para a Itália onde jogou pelos pequenos Massesse (1966-1967) e Internapoli (1967-1969). Em 1969 foi contratado pela equipe da Lazio, onde se sagrou campeão italiano da temporada 1973-1974, o primeiro da história do clube, sendo o artilheiro da competição com 24 gols. Em 209 partidas pelo clube italiano, marcou 98 gols, o que motivou os torcedores a chamá-lo de “Deus”.

Graças as suas estupendas atuações foi convocado para a Seleção da Itália para jogar a Copa do Mundo de 1974 na Alemanha Ocidental. Polêmico, o jogador chegou a xingar o técnico Ferruccio Valcareggi, da seleção italiana. Depois de uma inesquecível Copa, o jogador disse adeus à Itália e partiu para a América, onde em 1976 assinou contrato com o New York Cosmos.

No clube norte-americano se tornou famoso no mundo inteiro. Lá conquistou os campeonatos de 1977, 1978, 1980 e 1982, além de três “Trans-Atlantic Cup”, em 1980, 1983 e 1984. Marcou 242 gols em 254 partidas se tornando o maior artilheiro de todos os tempos na história da North American Soccer Leager. Foi artilheiro do campeonato dos Estados Unidos em 1976 (19 gols), 1978 (34 gols), 1980 (32 gols), 1981 (29 gols) e 1982 (20 gols). No Cosmos foi um verdadeiro ídolo cuja popularidade só esteve abaixo de Pelé.

O Cosmos foi fundado no dia 4 de fevereiro de 1971, por idéia dos irmãos turcos Nesuhi e Ahmet Ertegün, amantes do futebol. O clube disputou sua primeira partida oficial no dia 17 de abril de 1971, contra o Saint Louis Stars. Vitória do Cosmos por 2 X 1. Em 14 anos de história, foram 359 partidas oficiais, com 221 vitórias, 18 empates e 120 derrotas. Marcou 844 gols e sofreu 569.

Em 1984, Chinaglia comprou a equipe do Cosmos e a transformou em um time de “showbol” que durou pouco tempo. Depois, vendeu o clube para o seu ex-sócio Giuseppe “Peppe” Pinton, que se reservou a guardar a história do Cosmos em seu escritório em Nova Jersey. Ele foi seduzido diversas vezes a vender a marca Cosmos a fãs órfãos desse clube histórico. Tanto que depois de mais de 20 anos de inatividade, ele foi convencido de que tinha de vender os direitos do clube.

Em 2009, o empresário inglês e ex-diretor do Tottenham, Paul Kemsley comprou o New York Cosmos de Pinton por um valor não divulgado. No ano seguinte, em agosto, refundou o time, e em setembro Kemsley nomeou Pelé como presidente honorário do Cosmos. Ao mesmo tempo, o Rei anunciou em coletiva para a imprensa o renascimento do Cosmos, mas com atividades direcionadas à formação de jogadores.

No dia 19 de janeiro de 2011, o Cosmos retomou os sonhos de retorno ao futebol profissional e contratou o francês Eric Cantona para ser o diretor de futebol. O ex-jogador de Manchester United estará ao lado do Rei e do também ex-jogador norte-americano Cobi Jones. O ex-lateral da seleção americana, que também jogou no Vasco da Gama, será diretor adjunto e embaixador do clube. Os três trabalham juntos para fazer o Cosmos ter um time e incluí-lo na MLS o quanto antes.

Em 2000, Chinaglia entrou para o "National Soccer Hall of Fame", o hall da fama do futebol estadunidense. Trabalhou como comentarista de futebol tendo, inclusive, comentado a Copa do Mundo de 2006. Voltou para o Cosmos e trabalhou como embaixador internacional da equipe.

Depois que se aposentou dos gramados, Chinaglia se tornou presidente da Lázio entre 1983 e 1985. Recentemente, o ex-jogador tornou-se um fugitivo da Justiça italiana morando nos Estados Unidos, depois de ter seu nome relacionado com acusações de manipulação no mercado de ações.

A Lazio esteve prestes a ser controlada por um braço da máfia italiana. De acordo com autoridades responsáveis pela operação “Asas Quebradas”, que investigaram o caso, um grupo usaria dinheiro adquirido por suas ações violentas para adquirir o clube romano.

As suspeitas recaíram sobre o clã Casalesi, uma das facções da “Camorra”. A Justiça italiana emitiu dez mandados de prisão contra um grupo de pessoas envolvidas na compra da Lazio, há dois anos. Entre elas, estava Giorgio Chinaglia, ex-jogador e presidente do clube, que liderava um consórcio interessado em adquirir a equipe.

Em 2006, Cláudio Lotito, presidente da Lazio, recebeu proteção policial após sofrer ameaças de torcedores radicais. Eles tentavam intimidá-lo para que vendesse o clube a Chinaglia. O ex-presidente, que foi morar nos Estados Unidos, onde faleceu, sempre desmentiu as acusações. No inquérito, os Casalesi estariam por trás da proposta de Chinaglia e financiariam a negociação. Os responsáveis pela investigação fizeram escutas telefônicas e interceptaram ligações dele com membros da máfia

Em 7 de julho de 2006, a produtora estadunidense de filmes para o cinema, Miramax Films, passou a exibir nos cinemas dos EUA, um documentário chamado “Once in a Lifetime - The Extraordinary Story of The New York Cosmos”, baseado em um livro de igual nome de autoria do escritor Gavin Newsham. Na versão em português “Uma Vez na Vida - A Extraordinária História do New York Cosmos”.

Muito elogiado e narrado pelo ator Matt Dillon, este filme - como diz o título - conta a história da legendária equipe de futebol estadunidense. Chinaglia aparece em várias cenas do filme, como também é entrevistado. (Pesquisa: Nilo Dias)

Chinaglia e Pelé. (Foto: Divulgação)