terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A maldição do bode

Este blog trata mais do futebol de campo do que qualquer outro esporte. Mas não existe nenhuma proibição de que não se conte fatos relacionados ao basquete, beisebol,voleibol ou qualquer outro esporte. O que vamos contar hoje é algo único na história dos esportes.

Quando foram fundados, os “Cubs” tinham um dos melhores times de beisebol a época nos Estados Unidos. Durante seus primeiros 75 anos, a equipe conquistou 16 títulos da “National League” e duas “World Series “de forma consecutiva, em 1907 e 1908, respectivamente.

Com várias presenças na final do beisebol americano, a equipe de Chicago tinha tudo para ser um time de glórias e conquistas até hoje, mas tudo mudou por um fato curioso.

Na final da "World Series" de 1945, o “Cubs” enfrentou o “Detroit Tigers”. Os primeiros três jogos foram em Detroit, e a equipe de Chicago foi para seu estádio vencendo a série por 2 X 1, precisando de duas vitórias em três jogos para levar o título após 37 anos.

O grego Billy Sianis comprou dois ingressos, um para si e outro para o seu bode, chamado "Murphy". Sim, o cara levou um bode no estádio e pagou um ingresso para ninguém reclamar. Enquanto o jogo acontecia, o cheiro de "Murphy" atrapalhava quem estava ao redor. Billy, juntamente com o seu bode, foi convidado a se retirar do “Wrigley Field”.

Revoltado, chamou o dono da franquia, que ao perguntado por Billy sobre a sua retirada do estádio, respondeu “porque seu bode fede”, sem mais palavras. Então o grego lançou a maldição, dizendo que o “Cubs” nunca mais conquistaria nada.

Parecia uma bobagem, mas que começou a assustar os torcedores aos poucos. Naquele mesmo ano, o “Tigers” virou a série para 4 X 3 e se sagrou campeão. Depois, o “Cubs” não conquistou mais nada.

Quando esteve perto de chegar a final da “National League”, um gato preto passou em frente ao seu banco de reservas e após isto o cenário se inverteu em apenas oito rodadas.

Desde então, o "Cubs" tem tido uma má sorte lendária. Ao longo de mais de 100 anos, os fãs do “Cubs” vivem a agonia de consecutivos apagões do time na fase final da temporada, mesmo quando a vitória parecia certa.

Nos anos de 1969, 1984, 1989 e 2003, o “Chicago Cubs” esteve perto de avançar para a "World Series" e não conseguiu segurar a liderança até o final do campeonato. Esta falta de sorte é atribuída ao bode por qualquer pessoa que conhece a história, vendo os “Cubs” tendo estranhas e quase cômicas derrotas consecutivas em momentos decisivos.

Com um jejum de títulos desde 1908, o “Cubs” é o time com a maior sequência de derrotas em todos os esportes (se considerados os clubes que já ganharam algum título anteriormente).

O "Chicago Cubs" não vence a “World Series” desde 1908, e muito menos disputava um jogo decisivo desde 1945. Em 2003, o “Cubs” teve a grande chance de espantar esta longa fase sem títulos em uma final de “National League“. Abriu uma vantagem de 3 x 1 um contra o "Florida Marlins", em uma bateria de melhor de sete jogos.

Bastava apenas vencer um jogo nos três restantes para levantar um título depois de tanto tempo. E o time de Chicago ainda tinha a vantagem de jogar as duas últimas partidas em casa. Perdendo para o "Florida", o quinto jogo seria disputado em Chicago. A partida estava tranquila para o “Cubs”, vencendo por 3 X 0 e faltando apenas dois "innings" para o fim (no jogo de beiseball, temos um total de nove "innings", que são equivalentes aos sets no volei e no tênis).

A atmosfera era a melhor possível: depois de 58 anos o “Cubs” estava à beira de ganhar um título, jogar o “World Series” e enfim acabar com a “maldição do bode”. Tudo estava perfeito, até que Luis Castillo, do “Florida Marlins”, rebateu a bola que marcaria a história do beisebol.

A bola voou e se direcionou para a arquibancada, próximo às cadeiras. Esse era o exato local do assento 113, onde estava sentado Steve Bartman. Todos os torcedores do local instintivamente se levantaram e o atleta Moisés Alou, do “Cubs”, correu para tentar evitar que a bola saísse. Se Moisés pegasse a bola, a vitória estaria praticamente certa. Steve Bartman esticou os braços para tentar pegar a bola, e a desviou de Moisés Alou.

Steve nem ficou com a bola, que escapou de sua mão e foi para outra pessoa. Moisés olhou com toda a sua fúria para Bartman, com a certeza de que pegaria a bola. A plateia silenciou apavorada, assim como o time, que parecia não acreditar.

Apesar de ainda estar na frente no placar, o sopro da maldição silenciou o estádio. O “Florida Marlins” iniciou uma reação na casa do “Chicago Cubs”, vencendo o jogo por 8 X 3.

A cena da bola de Steve foi reprisada várias vezes por canais de todo o país e os torcedores em volta de Steve pareciam querer linchá-lo. Bartman saiu do estádio escoltado por seguranças, para não ser agredido.

Steve Bartman era o bode expiatório ideal para alimentar mais ainda a “maldição do bode”, e contra a sua vontade ele virou uma celebridade nacional procurada por jornalistas para entrevistas. Programas de humor caçoavam dele o tempo todo, e toda a torcida do “Cubs” o odiava.

A bola daquele evento foi leiloada em dezembro de 2003 para um restaurante que comprou por US$ 113.824,16 e foi destruída meses depois em um evento público realizado pelo próprio restaurante. A cadeira de Steve Bartman (Seção 4, Linha 8, Assento 113) virou ponto turístico para amantes do beisebol no “Wrigley Field”.

Steve Bartman já recebeu ofertas milionárias para comerciais e filmes, tendo recusado todas elas. Ele não dá entrevistas e nunca mais foi a um jogo de beisebol. Bartman sumiu do mapa, após receber diversas ameaças de morte e o ódio de uma torcida inteira. O “Chicago Cubs” não ganhou aquele “play-off”, e nenhuma sequência decisiva desde aquele jogo. A culpa não é de Steve, é do “Cubs”.

Recentemente no filme “De volta para o futuro 2”, o doutor Brown e Marty McFly chegam ao futuro no dia 21 de outubro de 2015, e anunciam que o “Chicago Cubs” venceria o “World Series”.

Infelizmente a profecia não se concretizou, pois o “New York Mets” atropelou o “Chicago Cubs” em pleno “Wrigley Field”, por 8 X 3, fechando a final da “Liga Nacional” em 4 X 0, carimbando o passaporte para a decisão da "Major League Baseball (MLB)".

Para vencer a maldição se tentou de tudo. Já fizeram com que Sam, o sobrinho de Billy, levasse um bode numa limusine para confrontos da pós-temporada. Não adiantou em nada. 

Um padre grego foi chamado para exorcizar qualquer maldição que rondasse o “Wrigley Field”. Também não adiantou. Até tiraram a culpa da derrota de 2003 das costas de Bartman e o convidaram para voltar ao estádio, mas ele nunca apareceu.

A primeira edição do “World Series” ocorreu em 1903 e, a cada ano, põe fim a uma longa temporada: é uma temporada regular de cinco meses, com 162 jogos, seguida de uma série da Divisão de melhor de cinco e uma série do Campeonato de melhor de sete para cada liga antes do evento principal.

Mas todos os caminhos levam para o “World Series”, pois os 30 times se reduzem a: o campeão da “American League (AL)” contra o líder da “National League (NL)”. O embate se dá em uma série de melhor de sete para definir quem será o campeão do “World Series”.

As partidas se alternam entre uma curta séries de jogos na cidade de cada um dos times. A liga que vencer o “MLB All-Star Game” (uma seleção com os melhores jogadores de cada liga) tem a vantagem de disputar a partida decisiva em seu próprio estádio se a série tiver todos os sete jogos.

O melhor prêmio, claro, é juntar-se aos lendários vencedores do “World Series”. Mas existe também o cobiçado “Troféu do Comissário”, prêmio da MLB aos vitoriosos; e, na temporada seguinte, o time inteiro é presenteado com anéis da “World Series”. Jogadores, técnicos, diretoria, equipe de apoio: todos recebem um anel especial.

O lendário time do uniforme listrado, o “New York Yankees”, venceu 27 vezes o campeonato do “World Series”, mais do que qualquer outro time. Os "Bombardeiros do Bronx", um dos apelidos do time, participaram de 40 campeonatos, o dobro do “Giants”, vencedor do campeonato de 2014 e o 2º participante mais frequente. O “St Louis Cardinals” conquistou 11 títulos; o “Oakland Athletics”; 9 e o “Giants” e o “Boston Red Sox”, oito. Ainda existem oito times que nunca ganharam uma “World Series”.

A “World Series” é uma competição cercada de maldições, condizentes com sua história lendária. Uma delas envolve o “Red Sox”, que não venceu nenhum campeonato entre 1918 e 2004. Superstições e lendas colocam a culpa na "maldição do bambino", referindo-se à venda de Babe Ruth, um dos melhores jogadores de Boston para os “Yankees” em 1920.

E é claro, a maldição que cerca o “Chicago Cubs”, que continua sem vencer um campeonato, o maior jejum da história da liga. Talvez o título só se concretize depois que Steve Bartman for absolvido pelo torcedor. Ou quando levantarem a estátua de uma cabra no “Estádio Wrigley”. Crendices que perpetuam os maiores ídolos e fantasmas de qualquer esporte. (Pesquisa feita em sites na Internet)

Billy Sianis e seu bode são impedidos de entrar no Wrigley Field em 6 de outubro de 1945. (Foto: Estadão)Leia Mais:http://esportes.estadao.com.br/noticias/geral,na-seca-desde-1908--clube-da-mlb-vai-a-final-para-acabar-com-maldicao,1781167l,na-seca-desde-1908--clube-da-mlb-vai-a-final-para-acabar-com-maldicao,1781167Estadao no Twitter

sábado, 23 de janeiro de 2016

O coveiro que virou juiz de futebol

Carlos Alberto de Berto é um árbitro da Federação Norte Rio-Grandense de Futebol (NRGF), até aí nada de mais, não fosse sua origem. Antes de se tornar um profissional do apito, exercia uma profissão bem diferente. Era coveiro de um dos cemitérios de Natal, no Rio Grande do Norte. E também um ex-jogador de futebol frustrado.

Como não deu sorte nos gramados, pegou o primeiro emprego que apareceu para poder tirar o sustento, e pagar as contas. Começou a trabalhar como coveiro em um cemitério público no bairro da Redinha, Zona Norte de Natal.

Até hoje ele mora em uma casa simples com a esposa e um filho pequeno, bem em frente ao portão do cemitério onde trabalhou por quatro anos. Seguidamente visita o local, para rever antigos colegas de trabalho.

Em uma dessas idas ao campo santo, Carlos vai ao local onde efetuou o primeiro sepultamento. E também visita o túmulo de um amigo de infância falecido. Em suas recordações conta que efetuou cerca de enterros nesse cemitério. Enfatiza que mesmo sendo um ambiente mórbido, conta com uma vista privilegiada para o pôr do sol no Rio Potengi.

Ele começou a trabalhar lá como zelador em 2009 e foi desligado em meados de 2013, já com o cargo de pedreiro sepultador na carteira de trabalho.

A decisão de se tornar árbitro de futebol ocorreu numa manhã de domingo, quando se encontrava de serviço no cemitério, e num momento de folga via pela televisão à final do Mundial de Clubes de 2011 entre Santos e Barcelona.

Ao ouvir os comentários sobre a arbitragem decidiu que poderia tentar a sorte nessa profissão.  E resolveu colocar a idéia em prática. Antes de trocar a pá pelo apito, fez ocurso de árbitros da Federação Norte-rio-grandense de Futebol, conseguindo se formar sem maiores dificuldades.

Traçando um paralelo entre s duas profissões, coveiro e árbitro, salienta que as duas promovem pressões. O coveiro convive com a tristeza dos outros, o que sempre é desagradável. O árbitro tem que saber enfrentar as reações de torcedores.

Lembra de uma história que falavam antigamente pelas cidades do interior, de que a maior autoridade depois do delegado é o coveiro, porque depois que ele "prende" alguém não tem quem solte. E na arbitragem, o que o juiz marcar não tem volta. E completa com uma ponta de humorismo: “Tem aquele tipo de jogador que dá trabalho, fica cavando falta, reclamando de tudo, aí dá vontade de enterrar mesmo"

Desde 2013, ele vem atuando em torneio sub-19 e jogos da segunda divisão do Campeonato Potiguar. O ano passado Carlos Alberto fez a estreia na primeira divisão, como quarto árbitro no jogo entre ABC e Palmeira, de Goianinha.

Depois também esteve em campo no clássico entre Alecrim X América-RN. Até agora trabalhou em apenas seis jogos na elite do futebol potiguar. Mas não se importa muito com isso, e com otimismo diz ser apenas o começo de uma caminhada exitosa.

E Carlos não pensa em pouca coisa. Confessa que tem um sonho, poder apitar um Mundial de Clubes, que foi o que lhe despertou para ser árbitro de futebol. Sempre pensa positivamente quando olha pela televisão algum jogo de grandes times como Barcelona, Real Madrid, Bayern de Munique. Fecha os olhos e fica pensando em um dia poder apitar um jogo desses.

Todos podem pensar que o seu ídolo no futebol é Messi, Cristiano Ronaldo ou Neymar. Mas não pé nenhum deles, sim o imortal Zé Roberto, que joga no Palmeiras e ele gostaria de conhecer. Garante que o admira muito, pois com 41 anos ainda esbanja preparo físico e continua líder dentro de campo, além de uma estupenda disciplina na carreira.

E complementa: “Se eu pudesse sentar com algum jogador para bater um papo, tirar uma foto, seria com o Zé”. Mas apesar da admiração que tem pelo jogador, afirma que não é palmeirense, embora prefira não dizer por qual time torce. (Pesquisa: Nilo Dias)


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Corinthians constrói cemitério

É inegável que o Sport Club Corinthians Paulista está se transformando no maior clube de futebol do Brasil. E não só dentro dos gramados, mas também fora. Prova disso é que está inovando.

O clube acaba de lançar um projeto ousado, o de construir um cemitério destinado a receber exclusivamente seus torcedores e atletas mortos, com capacidade maior que o próprio Estádio Itaquerão. O nome do empreendimento diz tudo: “Corinthians para sempre!”

O lançamento do produto ocorreu com a presença de ex-jogadores, como Basílio, atacante imortalizado por ter feito o gol que deu o título de campeão paulista de 1977, acabando com um jejum de 23 anos sem títulos do clube, e do ex-centro avante Geraldão.

Os organizadores ofereceram espaços para ídolos do Corinthians, como Wladimir, Biro Biro e Zé Maria, que aceitaram as ofertas. Até mesmo quem já morreu pode vir a ser transferido para o cemitério, com vaga para 100 ex-jogadores do clube.

Um neto do Baltazar, ídolo da década de 50, falecido em 1997 se mostrou bastante emocionado com o convite para o translado dos restos mortais de seu avô para o cemitério do clube.

O cemitério de 402 mil m², cujas obras estão em andamento, está sendo erguido no município de Itaquaquecetuba, que se localiza a cerca de 40 quilômetros da capital paulista e deverá ser inaugurado provavelmente em dezembro deste ano.

O cemitério não está sendo construído diretamente pelo clube, sim pelo Grupo Memorial, parceiro do Corinthians no empreendimento, especializado no setor de mercado funerário. Os lucros serão divididos entre as duas partes em porcentagens não reveladas por questões contratuais.

Com cerca de 80 mil metros de quadras, o projeto deverá ter 70 mil jazigos e possuirá a réplica de um campo de futebol, duas quadras fora do campo, além de salas de velórios confortáveis, um grande estacionamento, floricultura, lanchonete, memorial, lago e uma área de reserva natural. 

O serviço funeral será completo, e chama a atenção, com direito a execução do hino do Corinthians, painel, urna com adorno personalizado, bandeira do clube e coroa de flores artificiais só nas cores preta e branca, sem folhas verdes, em razão das cores do rival Palmeiras.

Já são conhecidos alguns preços a serem cobrados pelos jazigos: Quadra “Minha História”: R$ 5.600,00 e Quadra “Minha Vida”, que ficarão fora do campo: R$ 6.500,00; Quadra “Meu Amor”, considerada área nobre, dentro da réplica do campo de futebol, que contará com linhas, traves, círculos e até tribunas: R$ 7.800,00; Ossuário - Quadra “Minha História”: R$ 1.500,00 e Ossuário - Quadra “Minha Vida”: R$ 1.800,00

Mesmo sem qualquer divulgação, ou contratos com funerárias parceiras já foram vendidos cerca de 50 deles, num pré-lançamento. Estão disponibilizados nessa etapa de vendas apenas 300 jazigos da Quadra “Minha Vida”, 300 jazigos da Quadra “Minha História” e 400 jazigos da Quadra Nobre – “Meu Amor” (réplica do campo de futebol).

Os primeiros torcedores que realizaram pré reservas contarão com um preço diferenciado e o valor (que pode ser dividido e pago com cartão de crédito ou via boleto bancário) já será utilizado como crédito no momento da compra do jazigo.

E ainda terão direito a escolher, conforme disponibilidade, o local do jazigo, como por exemplo, próximo do meio do campo, perto do gol, na marca do pênalti, etc. Até torcedores de outros times já brincaram perguntando se podem ser enterrados lá, porque gostaram muito do projeto.

Essa não é a primeira vez que uma equipe de futebol constrói um cemitério todo seu. O Boca Juniors, da Argentina foi o pioneiro. Tem um mausoléu dentro do cemitério de “Chacarita”. Ali está enterrado, por exemplo, o jogador Bernardo “Gandulla”, que atuou pelo Vasco em 1939 e cujo sobrenome virou o nome da pessoa que devolve a bola para o campo de jogo.

Se os ídolos estão em “Chacarita”, os torcedores do Boca ganharam um cemitério exclusivo em 2006. Ele foi construído com a finalidade de evitar que as pessoas continuassem a jogar as cinzas de sócios falecidos, dentro de “La Bombonera”.

O “campo santo” tem capacidade para 3 mil sepulturas, todas decoradas com flores azuis e amarelas, as cores do Boca Juniors. Está localizado em um setor do cemitério “Parque Iraola”, em Berazategui, a 30 km ao sul de Buenos Aires.

O cemitério foi inaugurado com a cerimônia de exumação dos restos mortais de dois antigos atletas do clube, os goleiros Juan Estradas e Júlio Elias Musimessi, cujas cinzas foram transferidas para lá.

Nesse dia o ex-craque Antônio Ubaldo Rattin, que defendeu o Boca nos anos 60, disse: “Está tão lindo que dá vontade de ficar”. Com isso o Boca Juniors também pôs em prática uma das estrofes de seu hino que diz: “nem a morte nos vai separar, desde o céu vou te alentar".

O clube alemão Hamburgo HSV construiu um cemitério para os fãs bem ao lado do estádio, que se encontra em funcionamento desde 2008. É decorado com um portão de entrada no formato de gol. Esse é o primeiro cemitério dedicado ao futebol da Alemanha e está localizado a alguns metros do estádio “Nordbank Arena”, onde o clube disputa as partidas em casa.

O cemitério tem cerca de 500 sepulturas. Entre os primeiros torcedores que reservaram jazigos, o solicitante mais velho foi o viúvo Ernst Schmidt, de 85 anos, e o mais novo, cujo nome não foi revelado, de 27. Os túmulos são organizados em um semicírculo em três níveis diferentes para lembrar uma arquibancada. O local de 2.500 metros quadrados fica na esquina de um antigo cemitério.

A ideia de construir o cemitério surgiu depois que alguns dos 50 mil sócios do clube pediram para que suas cinzas fossem espalhadas pelo campo, enterradas no estádio ou que uma urna fosse enterrada no local de cobrança de penalidade máxima.

Tudo segue o padrão de cores do time, as sepulturas têm o escudo e, além disso, os torcedores podem ser enterrados ao som do hino do Hamburgo. No site oficial do clube pode ser feita uma visita virtual ao cemitério.

O outro clube alemão que construiu um cemitério é o Schalke 04. Sua torcida é famosa pelo fanatismo. O time é popular entre pedreiros e mineiros da região do vale do rio Ruhr, a mais populosa do país. O lugar reservado para sepultamentos de seus torcedores fica em Gelsenkirchen,na região oeste da Alemanha.

A apenas 500 metros do estádio, o local, que foi inaugurado em 2012, tem 1.904 túmulos. Mas o Schalke não ganha dinheiro com o espaço, de acordo com o jornal “Bild”. Algumas sepulturas foram até destacadas para receberem torcedores que não são capazes de pagar para descansar eternamente ao lado do time do coração.

Quando da inauguração, debaixo de neve, foram colocadas no cemitério coroas de flores azuis e brancas, às cores do time, e mensagens como “azul e branco, a vida toda''.

O cemitério foi construído em forma de estádio, com um escudo do clube no centro. As referências futebolísticas contam também com a presença de dois gols no local, assim como em um campo de futebol. De lá, os visitantes podem ver o estádio  “Veltins Arena”, onde são realizados os jogos da equipe.

Antes, o Schalke 04 já havia construído uma paróquia personalizada, com seu próprio templo e um pastor. No local são batizadas crianças e celebradas bodas de casamento. Segundo o pastor Hans-Joachim Dohm, o cemitério é totalmente normal, onde ocorrem enterros totalmente normais.

Mesmo sem construir cemitérios exclusivos, outras agremiações encontraram formas de aproximação dos torcedores com seus clubes de coração, mesmo depois de mortos. É o caso do Everton Football, da Inglaterra, que permite aos seus aficionados serem enterrados em uma urna ao lado do campo.

O Barcelona também aderiu a moda e construiu um Memorial no “Camp Nou”, com 30 mil urnas, onde podem ser colocadas as cinzas de torcedores. Além disso, placas memoriais também são disponibilizadas.

O espaço fica sob uma das arquibancadas do estádio e está disponível para qualquer pessoa que tenha uma ligação afetiva com o clube. Os sócios têm prioridade.

Até 50 anos, o preço é de 3 mil euros mais impostos (cerca de R$ 10 mil); por 99 anos a urna custará 6 mil euros mais impostos (cerca de R$ 20 mil). Existem ainda urnas comunitárias, que custam 1.500 euros mais impostos (cerca de R$ 5 mil).

O Espaço Memorial do Barcelona é o maior do mundo dentre os construídos por clubes de futebol e rende ao clube, segundo as estimativas oficiais, cerca de 6 milhões de euros (R$ 21 milhões).

Mas o Barcelona não é o primeiro clube espanhol a adotar essa estratégia. Atlético de Madri e Espanyol, outro clube catalão, já construíram memoriais em seus estádios. (Pesquisa: Nilo Dias)


segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Garrincha em Passo Fundo

O colunista Hiltor Mombach, em sua coluna no jornal “Correio do Povo”, de Porto Alegre, edição do último domingo, 17/01, publicou interessante matéria a respeito do saudoso grande ídolo do futebol brasileiro, Garrincha, com o título de “Garrincha preso em Passo Fundo?”

A prisão na realidade não chegou a se consumar, mas dizem que foi por pouco. Segundo Mombach, a história consta do livro “O Anuário do Futebol Passo-Fundense Nº 3”, de autoria do jornalista, roteirista e tradutor, Lucas Scherer, que conta a história do Esporte Clube Passo Fundo, que no último dia 10 deste mês completou 30 anos de atividades.

O livro traz fichas de todos as partidas, jogadores e técnicos, desempenho ano a ano, por competição e por adversário, estatísticas, curiosidades. Para ler, basta acessar anuariodofutebolpassofundense.wordpress.com. E o leitor ganha de presente belas narrativas, como a passagem de Garrincha por Passo Fundo.

Garrincha, para sobreviver, fazia jogos de exibição país afora. Mas já não era nem sombra do grande craque que levantava multidões mundo afora. Os excessos de bebida alcoólica o transformaram num retrato triste do que havia sido no passado.

O jogo amistoso entre 14 de Julho, de Passo Fundo e Atlântico, de Erechim foi realizado no dia 3 de março de 1968, um domingo, no estádio Celso Fiori. Garrincha estava com 35 anos, e chegou a Passo Fundo, vindo de Porto Alegre, no final da manhã do dia do jogo, viajando no carro do presidente do 14 de Julho, Hilário Rebechi .

O “ex-craque das pernas tortas” almoçou na casa de Rebechi, na vila Cruzeiro. Mesmo não sendo mais o mesmo jogador de antigamente, sua fama ainda era muito grande, tanto é verdade que até o prefeito Mário Menegaz e o bispo da cidade, Cláudio Colling, estiveram no almoço.

O jornalista Meirelles Duarte, do jornal “O Nacional”, de Passo Fundo, que fez a cobertura da estada de Garrincha na cidade, conta que na hora de servir o almoço, Garrincha não estava presente e ninguém sabia de seu paradeiro. Até que o encontraram nos fundos da casa, brincando com uns pássaros engaiolados e um vistoso papagaio.

Chegada a hora do jogo, o estádio lotou, com o público na esperança de ver uma jogada genial do ex-grande jogador. Mas nada aconteceu, a não ser alguns dribles e uma bola na trave. De resto, apenas se arrastou em campo.

O time de Erechim veio disposto a estragar a festa dos donos da casa. E conseguiu, vencendo por 1 X 0. O único gol da partida surgiu aos 37 minutos do primeiro tempo. Selmar avançou pelo meio e lançou Zoca que se chocou com o goleiro Wilson, e a bola sobrou para Waldemar, que chutou no alto.

Contam que a presença de Garrincha em Passo Fundo acabou despertando o interesse da Justiça. As informações vindas de emissoras do Rio de Janeiro e de São Paulo diziam que Mané poderia ser preso por uma ação movida pelo advogado de sua primeira esposa e mãe de 8 dos seus 14 filhos, Nair Marques.

O telegrama que saiu na imprensa da cidade dizia: “Garrincha, procurado pela Justiça, poderá ser preso, segundo despacho do juiz da 6ª Vara de Família do Rio de Janeiro, Aureo B. Carneiro. Garrincha poderá ficar até três meses recolhido à Penitenciária Lemos de Brito”.

O motivo seria o cachê recebido por Mané para jogar cerca de 40 minutos em Passo Fundo, no valor de 2 mil cruzeiros (cerca de R$ 8 mil em valores atuais). Mané não foi preso.

Depois do jogo em Passo Fundo, Garrincha continuou perambulando em amistosos pelo Brasil. Chegou a jogar uma única partida pelo Júnior Barranquilla, da Colômbia, ainda em 1968.

Ainda passou pelo Flamengo e Red Star, da França, onde também entrou em campo apenas uma única vez, em 1971, até terminar oficialmente a carreira no Olaria, em 1972.


Garrincha morreu em 1983, com o fígado e o pâncreas destruídos pelo álcool, de infecção generalizada. Tinha 49 anos. O corpo de “Mané” está sepultado no cemitério Raiz da Serra, em Magé, no Rio de Janeiro.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

O gol mais bonito do mundo em 2015

Wendell Silva Lira, o brasileiro que ganhou hoje o “Prêmio Puskas” do gol mais bonito do mundo em 2015, é goiano, nascido em Goiânia no dia 7 de janeiro de 1989. Com apenas 10 anos de idade começou a jogar futebol na Escolinha da Ovel, na capital goiana.

Em 2002 foi para as categorias de base do Goiás. Em fevereiro de 2006 chegou ao time titular, fazendo o jogo de estreia em uma vitória de 2 X 1 frente o Itumbiara pelo Campeonato Goiano.

Nesse jogo o Goiás poupou vários titulares, pois paralelamente disputava a “Taça Libertadores da América”. Wendell entrou no decorrer da partida.

Nesse mesmo ano foi o artilheiro e revelação do Campeonato Brasileiro Sub 20, quando marcou 7 gols em oito jogos. Em agosto de 2006passou a integrar o grupo de profissionais do Goiás, ao lado de valores como Ernando, hoje no Internacional, de Porto Alegre e Amaral, emprestado pelo Palmeiras ao Coritiba.

Em setembro foi convocado para a Seleção Brasileira Sub-18, que disputou a Copa Sendai, ao lado de Alexandre Pato, Ernando e Leyrielton. Graças ao seu bom desempenho na competição recebeu proposta para jogar no Milan, da Itália.

Seu primeiro jogo como profissional foi em 12 de maio de 2007, pelo Campeonato Brasileiro, com derrota de 2 X 0. Estava no banco de reservas e entrou aos 18 minutos do segundo tempo para substituir Fabrício Carvalho.

Ele foi uma das principais promessas de uma geração do Goiás que revelou nomes como o zagueiro Rafael Toloi e o lateral-direito Douglas, que estão atualmente no futebol europeu.

Em janeiro de 2007, mesmo tendo idade para disputar a Copa São Paulo de Juniores, ficou em Goiânia com o elenco profissional a pedido do técnico Geninho. Em novembro sofreu uma entorse no joelho direito e rompimento do ligamento cruzado anterior. Terminou uma temporada sem conseguir se firmar, devido as seguidas lesões musculares que sofreu.

Em janeiro de 2008 foi submetido à primeira cirurgia no joelho. Em outubro voltou a jogar no sub-20 para pegar ritmo e confiança após a cirurgia. Em março de 2009 Wendell voltou a sofrer com lesões no Campeonato Estadual.

Em março de 2010, com a chegada do volante Wendel, vindo do Palmeiras passou usar o nome de Wendell Lira, que desde hoje passou a ser conhecido mundialmente após ter sido laureado com a escolha de seu gol contra o Atlético Goianiense, como o ganhador do “Prêmio Puskas”.

Em junho pediu para treinar em separado e foi emprestado ao Fortaleza, para as disputas do Brasileiro da Série C, voltando ao Goiás em outubro. Em dezembro casou-se com Ludymila Miranda. Em janeiro de 2011, sofreu nova entorse no joelho direito, com rompimento de ligamento, tendo que passar por uma outra cirurgia.

O seu contrato com o Goiás terminou em janeiro de 2012 e não foi renovado. Foi então contratado pelo Atlético, de Sorocaba (SP), por quem disputou o Campeonato Paulista da Série A2.

Depois se transferiu para o Trindade, tendo disputado a Divisão de Acesso do Campeonato Goiano. Em janeiro de 2013 trocou de time novamente, indo para o Goianésia, pelo qual disputou o “Goianão” e a Série D do Campeonato Brasileiro.

Outra vez não deu sorte. Em fevereiro de 2013 fraturou o ombro em choque com o goleiro Harlei, do Goiás, em jogo do Campeonato Goiano, tendo que passar de novo por cirurgia. Em maio nasceu a sua filha com Ludymila, a pequena Marcela, hoje com dois anos de idade.

Em setembro foi para o Novo Horizonte de Ipameri, time pelo qual conquistou o título de campeão goiano da Terceira Divisão de 2013. Em janeiro de 2014 foi para o URT, de Patos de Minas, por quem disputou o Campeonato Mineiro . Em maio já estava na Anapolina, de Anápolis por onde jogou o Brasileiro da Série D

Em janeiro do ano passado estava de volta ao Goianésia para disputa do Campeonato Goiano. No dia 11 de Março marcou o gol antológico no “Serra Dourada”, contra o Atlético Goianiense, que mudou a sua vida.

A vida dá muitas voltas. Antes de acertar com o Goianésia Wendell havia abandonado o futebol atendendo um pedido da mãe, Edileuza, que chorando disse não aguentar mais vê-lo sofrer tanto. Tentar, tentar e nada dar certo.  Por quase dois meses o atacante trabalhou com Dona Edileuza e a esposa Ludymila em uma lanchonete no condomínio onde mora, em Goiânia.

Tinha que acordar todos os dias às cinco e meia e ia dormir meia noite. Como era muito puxado passar o dia inteiro na lanchonete, achou por bem voltar ao futebol. E retomou a carreira.  

Em maio foi contratado pela Tombense, de Minas Gerais que participou do Campeonato Brasileiro da Série C. Em Julho rescindiu com o time mineiro, ficando desempregado. Mas depois disso começaram às notícias boas. No dia 6 de novembro ficou sabendo que o eu gol estava na lista de 10 indicados pela Fifa para concorrer ao “Prêmio Puskas”.

No dia 11, foi contratado pelo Vila Nova, de Goiânia que foi campeão da Série C e subiu para a Série B do Campeonato Brasileiro. Outros times das Série B e C e equipes goianas o procuraram, mas preferiu o Vila Nova.

No dia 30, o número de gols concorrentes foi reduzido para três e o goiano ficou ao lado de Messi e do italiano Florenzi. A viagem para Zurique estava garantida

Em dezembro começou a treinar entre os garotos do time Sub-20 do Vila, para chegar em forma na pré-temporada

Hoje, com 27 anos de idade, ele ganhou o “Prêmio Puskas”, alcançando 46,7% dos votos, contra 33,3% do segundo lugar, Lionel Messi. Antes dele, apenas um brasileiro levou o título, Neymar, em 2011.

Wendell conta que soube que seu gol havia sido escolhido como concorrente ao “Prêmio Puskas”, quando estava almoçando na casa da sua mãe. O telefone tocou e ele não quis atender. Achou que era uma pegadinha. Só depois que entrou na Internet viu que era verdade.

Depois veio uma carta da Fifa com as explicações, de como seria, quando. E ainda um telefonema da secretária da Fifa, informando as mesmas coisas.

O autor do gol mais bonito de 2015, não usa de falsa modéstia e o considera muito bonito, não só pela finalização, mas pela jogada em si, pela triangulação, o passe perfeito e, num estilo brasileiro, teve o instinto e pode fazer aquele voleio, aquela meia bicicleta.

E hoje lá estava ele em Zurique, na Suíça, vivendo um sonho até então improvável, virar estrela num universo de gente famosa, como Messi, Cristiano Ronaldo e Neyma, com quem aproveitou para tirar fotos. Na véspera da solenidade ele confessou que estava um pouco nervoso. Sua esposa passou muito mal na viagem, vomitou e estava bastante ruim no quarto. Foi a primeira vez que ela viajou de avião.

Na solenidade Wendell apareceu bem vestido, usando um terno normal, preto, camisa branca e gravata. Conta que muitas pessoas o ajudaram, tendo ganhado dois ternos de uma loja de Goianésia.

O jogador admitiu que não tinha o que vestir na festa, quando em uma entrevista na TV Bandeirante, soube pelo apresentador Neto, que uma loja de Goianésia lhe forneceria os ternos sob medida, em troca de propaganda. A esposa dele também foi bonita, com um vestido vermelho longo, escolhido pelo próprio jogador.

Ela queria ir de preto, mas Wendell achou que preto não é um tom tão adequado para um momento como o de hoje. O vermelho é um tom vivo, que demonstra paixão e é isso que ele sente pelo futebol e pela vida.

Wendell conta como aconteceu o seu magistral gol. O lance contra o Atlético Goianiense ocorreu na nona rodada da primeira fase do Campeonato Goiano, no dia 11 de março. Tudo começou com Nonato, que evitou a saída de bola na linha de fundo. Ele ainda tabelou com Da Matta, que tocou por cobertura para Wendell Lira.

Em velocidade, o jogador estava ultrapassando a linha da bola, mas se virou com uma meia-bicicleta e marcou um golaço. Wendell Lira admitiu que não conseguiu ver na hora o que considera o gol mais bonito da sua carreira e reconhecido internacionalmente como o mais bonito de 2015.

O sonho de Wendell não é diferente da maioria dos jogadores brasileiros, um dia poder jogar na Europa. Espera que a conquista de hoje possa lhe dar algo mais na carreira que nunca chegou a decolar. Confessa que desde pequeno sempre pensou na Europa.

Acha que os campeonatos da Itália, Espanha e França são todos muito bons, mas ele é fã do Campeonato Espanhol. Sempre acompanha os jogos do Barcelona e Real Madrid. Gostaria de jogar na Espanha, que considera o local ideal para ele.

É verdade que o seu salário melhorou com a nomeação para o “Prêmio Puskas”, mas consegue ser inferior àquilo que Messi e CR7, por exemplo, ganham apenas em uma hora por dia. No Goianésia ele ganhava de 3 mil a 4 mil por mês limpos.

Hoje ganha um pouco acima, mas não é muito mais, segundo ele o suficiente para sobreviver e dar uma vida melhor para a sua família. Também apareceram propostas de lojas de roupas e marcas de Goiânia para trabalhar com ele, que estuda qual a melhor.

Já Messi e CR7 ganham cerca de €18 milhões limpos por ano (R$ 78,6 milhões), o que dá R$ 6,5 milhões por mês e cerca de R$ 220 mil por dia. Em cada hora das 24 que tem um dia, os maiores astros do Real Madrid e Barcelona recebem aproximadamente R$ 9 mil reais, o dobro do que ganha Wendell Lira no mês.

Wendell diz ser fã de Cristiano Ronaldo, que considera o jogador mais completo do mundo e de Marcelo, lateral-esquerdo, ambos do Real Madrid.

Para provar que o seu gol não foi mero acaso, Wendell o repetiu quando de uma entrevista exclusiva para o “Esporte Espetacular”. Ele tentou, e conseguiu repetir a façanha da meia-bicicleta que lhe colocou entre os três finalistas do “Prêmio Puskas” e a consequente conquista.

O autor do gol mais bonito do mundo na temporada atribui à "infância sapeca" a capacidade de improviso no lance do gol. Passou a infância em Goiânia. Sempre jogou bola na rua, terrão, cansando de perder os tampões dos dedos no asfalto, nas quinas de meio-fio. Mas garante que foi uma infância bacana.

Um período que descreve como feliz e de bastante apoio da mãe Maria Edileuza e dos irmãos Paulo Roberto, mais velho, e Thalles Rodrigo, mais novo. Do pai, sabe pouco. Caso esteja vivo, Wendell acredita que José Lira Filho esteja no Pará. Ele nunca mais entrou em contato com a família.

O voto que consagrou o gol de Wendell Lira foi popular, através das redes sociais. Ele ganhou a adesão de vários blogs e também de emissoras de rádio e TV que dispararam uma campanha pedindo para os brasileiros acessarem o site oficial da Fifa e votarem nele.  E deu certo. O autor desta matéria também votou no seu gol.

Não foi a primeira vez que Wendell viajou ao exterior. Ele já havia ido ao Japão e também a Ilha de Malta. As despesas todas da viagem de agora a Suíça foram bancadas pela Fifa. O jogador não teve custo nenhum.

Quando o apresentador anunciou que ele era o vencedor do “Prêmio Puskas”, Wendelle estava sentado ao lado da mulher, Ludymila Miranda. Ele usava um fone de ouvido, com a tradução simultânea da cerimônia da “Bola de Ouro”.

Ao ouvir seu nome, fechou os olhos, se levantou, beijou a companheira, abotoou o paletó e seguiu para o placo. Cumprimentou o japonês Nakata, que lhe entregou o troféu e enxugou uma lágrima antes de falar.

Wendell preparou um discurso com uma passagem bíblica. Com o queixo tremendo, o jogador goiano segurou as lágrimas e terminou o texto que preparou. Não soluçou ou gaguejou. Até o fim do discurso, olhou a plateia com os olhos vermelhos, denunciando a vontade de cair no choro no momento mais importante da carreira.

Leia, na íntegra, o discurso de Wendell

"Queria, primeiramente, agradecer a Deus por este momento único na minha vida. Poder estar aqui conhecendo grandes jogadores que são meus ídolos, que eu conhecia só de videogame e hoje estou aqui conhecendo pessoalmente.

Queria agradecer muito à minha família, à nação brasileira que votou em mim, à minha esposa e minha filha, que são tudo para mim. Minha filha Marcela está em casa esta hora. Queria deixar uma passagem bíblica.

Quando Golias apareceu, todo mundo olhava para ele e falava: 'ele é muito forte. Ele é muito grande, não tem como ganhar dele'. E Davi, quando olhou para Golias, disse: 'ele é muito grande, não tem como errar'. E assim temos de lidar com nossos problemas diários na nossa vida. Assim, agradeço a todos. Muito obrigado." (Pesquisa: Nilo Dias)

Wendell marcou o gol mais bonito de 2015, no mundo. (Foto: Jornal "O Popular", de Goiânia)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Zagueiro pelotense correu o mundo no Flamengo

Minha família foi morar em Pelotas ao início de 1959. Lembro que o primeiro jogo de futebol que assisti por lá, foi entre o Grêmio Atlético Farroupilha contra um adversário que não lembro qual. Sei que fui ao estádio do Fragata junto do saudoso empresário Gabriel Vargas Campelo, que era de Dom Pedrito, minha terra natal e sogro do meu saudoso irmão, Izabelino.

O seu Gabriel, que havia sido militar antes de ser dono do Expresso Ponche Verde, que transportava mercadorias de caminhão entre Dom Pedrito e Rio Grande, passou a torcer pelo Farroupilha, talvez pelo fato do clube naquela época ser ligado ao Exército.

Influenciado por ele, também me tornei torcedor do tricolor do Fragata. Até participei de algumas Diretorias e fundei o Departamento de Futebol de Salão da agremiação, que participou de vários campeonatos salonistas da cidade. Inclusive ganhou um Torneio Início, sob a direção técnica do saudoso Antônio Freitas, o popular “Fervido”.

O Farroupilha naquele tempo tinha uma equipe muito forte, que era presidida pelo então coronel Plácido Nogueira, torcedor fanático do clube. Desde que chegou à Pelotas, em 1933, passou a fazer parte do clube do "militares" na função de tesoureiro.

Como ele mesmo dizia, "foi de tudo ali" no Farroupilha. Presidente por 15 anos, a última vez em 1960. Foi ele quem trouxe para treinador o grande Ênio Andrade. Acho que foi o primeiro time que ele treinou, antes de se consagrar como um dos melhores técnicos do futebol brasileiro.

Não lembro bem da escalação titular do Farroupilha. Vou chutar. Tinha Onete no gol. Cascudo, na lateral direita. Luiz Carlos, zagueiro central. Noé na quarta zaga e Setembrino na lateral esquerda. Noredin, centro-médio. Gilnei, meia que depois foi para o Grêmio e ganhou o apelido de “Fita Métrica”, tal a precisão de seus passes.

Não tenho certeza, mas parece que o ataque tinha Toquinho, que depois foi para o Grêmio, Wilson Carvalho, Lelo e Dias. Se alguém puder, que me corrija, por favor.

Os times de Pelotas, naquele tempo, aproveitavam jogadores formados na própria base com outros vindos do futebol amador da cidade, que também era muito forte. Além de buscarem valores fora da cidade. Era comum às equipes locais terem atletas vindos de Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Uruguai e Argentina.

O profissionalismo no futebol só chegou em Pelotas e região em meados dos anos 40. Paralelamente, os clubes locais sofreram com a saída de muitos jogadores para centros maiores.

Luiz Carlos, zagueiro tricolor, era natural de Pelotas, tendo nascido no dia 24 de junho de 1937. Iniciou a carreira futebolística no G.E. Brasil, de onde saiu para defender o G.A. Farroupilha. Quando jogava no tricolor fragatense foi convocado em 1960, para a Seleção Brasileira, que disputou o Pan-Americano da Costa-Rica. Mas não deu sorte, teve de ser operado de uma apendicite e ficou fora da Seleção.

Luiz Carlos jogou no Farroupilha por quatro temporadas, até chamar a atenção de dirigentes do Flamengo que o contrataram. Seu passe custou 6 milhões de cruzeiros, a maior transação do futebol gaúcho até aquele momento.

No Flamengo foi zagueiro titular entre os anos de 1962 e 1967. Seu jogo de estreia no rubro-negro carioca aconteceu no dia 4 de abril de 1962, um amistoso em que o Flamengo perdeu para a Seleção da Itália por 3 x 1.

Luiz Carlos fez 144 jogos pelo clube da Gávea e não marcou nenhum gol. Foi campeão carioca de 1962, campeão do Torneio Triângular da Tunísia, também em 1962 e vencedor do Troféu Naranja, em 1964, disputado em Valência, Espanha.

Luiz Carlos viajou pelo mundo com Flamengo e registrou vários momentos de alegria. Ao pendurar as chuteiras voltou para Pelotas, onde trabalhou com um taxi no ponto da Lobo da Costa com Marechal Deodoro, ao lado da antiga Estação Rodoviária. Faleceu em 1962. (Pesquisa: Nilo Dias – Trechos e foto extraídos do blog “Preterita Urbe”)

Luiz Carlos quando defendia o Flamengo.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Um caso único no mundo

O homem que teve um minuto de silêncio quando ainda estava vivo
Pierre Ndaye Mulamba foi um dos grandes jogadores da República Democrática do Congo, quando o país se chamava Zaire. Ele nasceu no dia 4 de novembro de 1948 em Luluabourg, agora Kananga, no Congo Belga.

Jogou nos tempos conturbados em que Mobutu esteve no poder. Pierre estabeleceu recordes de gols e levou a seleção nacional a disputar o Mundial de 1974. Acabou caindo no esquecimento e chegou a ser considerado morto.

A fama de Pierre Ndaye Mulamba naquela época era tanta, que ganhou o apelido de “Mutumbula”, que quer dizer predador ou assassino e também de “Volvo”. Seugrandefeito foi ter anotado 9 gols na disputa da Copa dos Campeões Africanos em 1974, ganha pelo Zaire. No jogo final contra Zâmbia, marcou os quatro gols na vitória de 4X 0.

Em 1973 anotou um dos gols contra Marrocos, na vitória de 3 X 0 que levou a Seleção do Zaire a disputar a Copa do mundo de 1974, na Alemanha. Foi a primeira seleção africana a disputar um Mundial. Chegou a ser condecorado com a “Ordem do Leopard”, pelo presidente Mobutu Sese Seko.

Ele foi capitão do time na Copa da Alemanha, e jogou na derrota por 2 X 0 frente à Escócia, mas foi expulso aos 22 minutos contra a Iugoslávia, quando sua equipe já perdia por 4 X 0. O jogo terminou com o escore de 9 X 0.

A competição viu Mulamba e seus companheiros transformarem-se em mártires após terem sido heróis. O clima era de tensão entre os jogadores, que nunca tinham visto as recompensas prometidas pela conquista continental. Sabe-se que um dirigente fugiu com o dinheiro dos prémios. O time chegou a ameaçar não entrar em campo.

Haviam perdido a motivação e poderiam ter deixado entrar 20 gols, segundo diziam os jogadores. O Zaire ainda perdeu para o Brasil por 3 X 0, na despedida do Campeonato. Os componentes daquela seleção tornaram-se verdadeiros párias.

Alguns caíram no esquecimento, outros viram a carreira definhar: Mulamba foi impedido de transferir-se para o Paris Saint-Germain e continuou no AS Vita Club até 1988, quando decidiu encerrar a carreira.

Começou a jogar futebol em 1963, mesmo contra a vontade de seu pai que desejava que ele continuasse os estudos. Atuou no Renaissance du Kasaï, onde ficou até 1972. Estreou no time titular aos 15 anos de idade, marcando dois gols contra o União Saint-Gilloise.

Depois foi para o AS Bantu, de Mbuji-Mayo, onde jogou nos anos de 1972 e 1973. Dali transferiu-se para o AS Vita Clube, onde permaneceu por longo tempo, de 1973 a 1988, quando aposentou-se do futebol.

Até 2010 Mulamba trabalhou como treinador de equipes amadoras da África do Sul. Antes, havia se casado com uma mulher local.
O ano de 1974 foi o melhor da história do futebol do Zaire, com muitas conquistas. Mas também foi o ano em que o futebol zairense começou a sua queda.

Em 1994 a Confederação Africana de Futebol resolveu homenageá-lo por ocasião dos 20 anos do seu recorde de nove gols no Campeonato de Seleções da África. O ex-craque então viajou até à Tunísia. Foi quando seus problemas se agravaram. No retorno ao Congo, o Governo acreditava que ele tinha recebido uma grande quantia de dinheiro.

Em consequência, sofreu todos os tipos de pressões. Uma noite foi atacado por soldados, que o balearam na perna. Teve de sair do país para salvar a vida. Um dos seus filhos, de nome Tridon, foi morto na confusão, e a atmosfera, no final do regime de Mobutu, tornava impossível ficar no país.

Em fuga, foi parar num bairro pobre da Cidade do Cabo, na África do Sul. Trabalhou de arrumador de carros para sobreviver. No seu país, onde Mobutu fora deposto, Mulamba era dado como morto. Ao ponto de, no Campeonato Africano das Nações, em 1998, ter sido guardado um minuto de silêncio em memória daquele que continuava a ser o maior goleador de uma só edição da prova. Esse foi um caso único no futebol mundial

Ao se saber que ele estava vivo, a African Soccer Magazine resolveu procurá-lo. E assim ele conseguiu voltar ao futebol para trabalhar com equipes formadas por refugiados. Acabou sendo protagonista de um documentário e voltou a ser lembrado com o Mundial 2010, o primeiro em solo africano, precisamente na África do Sul.

Ainda em 2010 ele foi protagonista de um filme: “Esqueceu-se do Ouro”. E foi afinal recompensado por tudo que fez para o futebol Africano, por Sepp Blatter em 2009 ao lado de Abedi Pelé. Ele é atualmente o treinador do trabalho voluntário com jovens sul-africanos. (Pesquisa: Nilo Dias)

Vivo e homenageado com um minuto de silêncio. (Foto: Divulgação)

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

União de Tambaú, mais um clube centenário

O Esporte Clube União, da cidade de Tambaú (SP), é um dos clubes de futebol mais antigos do Estado. Foi fundado em 25 de setembro de 1910. Um grupo de pessoas interessadas no desenvolvimento do esporte em Tambaú se reuniu no prédio do Jornal “O Tambaú” e assinaram a ata de fundação do clube.

Suas cores são o azul, vermelho e branco. Em sua história centenária teve 13 participações no Campeonato Paulista de Futebol. Atualmente, encontra-se licenciado. A casa do União é o “Estádio João Meirelles”, com capacidade para seis mil torcedores.

Embora um clube muito antigo o União só se profissionalizou em 1976. Em 1986, passou a contar com a concorrência do Esporte Clube Operário, fundado em 29 de junho de 1921 e seu mais tradicional adversário. O Operário disputou uma edição do campeonato paulista da terceira divisão (atual A3) e três edições do Paulista da quarta divisão. (atual B3).

Já o União participou do Campeonato Paulista da Série B3, nos anos de 1977, 1978 e 1979 e da Série A3 nos anos de 1976, 1980, 1981, 1982, 1983, 1984, 1985, 1986, 1987 e 1988. Em 1989 se licenciou da Federação Paulista, voltando as atividades em 2012, já mais organizado.

Um fato ocorrido no Estádio João Meirelles, em Tambaú, pelo campeonato da 3ª divisão de profissionais da Federação Paulista de Futebol, é lembrado até hoje por antigos dirigentes do clube.

O campeonato estava em pleno desenvolvimento, já no segundo turno. O União ia jogar contra o Descalvadense, de Descalvado. O jogo era em Tambaú, e o time da casa estava mal na tabela e com possibilidade de rebaixamento de divisão, o que realmente aconteceu.

Tinha um terceiro interessado nesse jogo, a Matonense, de Matão, time que chegou a participar por alguns anos da principal divisão do Campeonato Paulista.

Diante de boatos de que o jogo estava “encomendado” para o time visitante, dirigentes do União foram a capital conversar com o diretor do Departamento de Árbitros para pedir a escalação de um trio de confiança.

O diretor da Federação era Adilson Monteiro Alves, deputado Estadual pelo PMDB e diretor de futebol do Corinthians Paulista durante a “famosa” democracia corintiana. Ele prometeu que atenderia o pedido dos dirigentes unionistas.

O presidente da Matonense, desconfiado que a coisa estava embrulhada, ofereceu um “incentivo” (bicho) aos jogadores do União. Era a famosa “Mala Branca”. Isso foi levado ao conhecimento dos jogadores. E realmente, no dia do jogo o mandatário da Matonense apareceu com a maleta 007, cheia de dinheiro.

Mas de nada adiantou, visto que a Descalvadense não perdeu o jogo, que foi muito corrido em seu início. O União atacava mais e parecia que ia marcar o seu gol a qualquer minuto. Foi quando começaram as “trapalhadas” do trio de arbitragem, marcando impedimentos absurdos do time de Tambaú.

O árbitro era um crioulo espigado e atlético, dando sempre uma de “muito macho”. Seu nome era bastante sugestivo – João de Deus. O primeiro tempo terminou 1 X 0 para a Descalvadense, num gol bastante duvidoso. Quando terminou o primeiro tempo, dirigentes do União entraram em campo e deram uma dura no juiz. De nada adiantou, ele até fez várias ameaças.

No segundo tempo ocorreu um lance escandaloso , pênalti não marcado a favor do União. Foi a gota d’água. Os dirigentes do União invadiram o gramado  e deram alguns safanões no juiz, seguidos de chutes. O árbitro e seus auxiliares correram para o vestiário que ficava no canto do gol, no fundo do estádio.

A polícia interveio rapidamente, porém a confusão foi aumentando e o trio de arbitragem ficou acuado dentro do vestiário. Passado uns 15 minutos, o árbitro encerrou o jogo por falta de segurança.

Para evitar punições mais severas ao clube, os dirigentes foram até São Paulo, dar explicações na Federação. Foi assim que conheceram um funcionário da entidade, chamado de “Robertão”, que costumava pedir ao pessoal de Tambaú,  um “garrafão de pinga de engenho”. Se ele ajudou em alguma coisa, ninguém sabe mas o União não teve o estádio interditado.

Em 2001, quando da comemoração dos 115 anos de fundação da cidade (27/07/1886), aconteceu um jogo amistoso entre as seleções máster da cidade e do Corinthians Paulista, no Estádio do União que ficou completamente lotado . O alvinegro paulista levou jogadores conhecidos como Neto, Dinei, Ezequiel, Gilmar, entre outros. O ingresso foi um quilo de alimentos não perecíveis.

Contam que o menino Edson Arantes do Nascimento, o “Pelé” esteve na cidade em 1955, acompanhando o seu pai na praça lotada de romeiros que ouviam o sermão do padre Donizetti, o “santo da cidade”, que teria dito na ocasião: “Há aqui um menino acompanhado de seu pai que um dia se tornará um atleta não só conhecido no País como no mundo”.

Outra história, esta confirmada pelo próprio protagonista, envolveu o saudoso jornalista e economista da Rede Bandeirantes, Joelmir Betting, que era natural de Tambaú. Ele foi coroinha do Padre Donizetti, seu guia espiritual.

Depois de tomarem sopa de quiabos na Casa Paroquial, o padre pegou a mão de Joelmir, ainda garoto, que era gago, e juntos rezaram um Pai Nosso em voz alta. Nunca mais o futuro jornalista gaguejou e pode, finalmente, ser aceito na escola, a qual o recusava por causa da gagueira.

Joelmir foi o criador da célebre expressão “Gol de Placa”, depois de um jogo entre Santos X Fluminense, na década de 1960. “Pelé” marcou um gol maravilhoso e o jornalista, de volta a São Paulo, encomendou uma placa de bronze, que colocou em uma das paredes do Maracanã. para imortalizar aquele momento.

Tempos depois, “Pelé”, agradecido, presenteou o jornalista com uma placa de acrílico: “Gratidão eterna ao Joelmir Beting. Gratidão eterna do autor do gol de placa ao autor da placa do gol. Edson Pelé”. (Pesquisa: Nilo Dias)

E.C. União, 1969, tri-campeão do interior. (Foto: Arquivo do clube)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

O fiel escudeiro de Felipão

Flávio da Cunha Teixeira, o “Murtosa”, fiel escudeiro do técnico Luiz Fernando Scolari não teve uma vida fácil na sua infância. Tinha somente um ano de idade quando o pai, Nicolau Laurentino Teixeira, morreu para salvar o seu irmão mais velho, Danilo, de nove anos.

Tudo aconteceu quando o pai de Murtosa, junto de Danilo e de um primo de 12 anos foram fazer um piquenique na beira de um rio. O primo caiu na água e Danilo tentou dar-lhe a mão e também caiu.

Nicolau entrou no rio para tentar salvá-los. Ele e o primo do filho morreram afogados, mas Danilo conseguiu se salvar, porque agarrou-se a um arame que lhe foi jogado por pessoas que estavam no local no momento da tragédia.

Murtosa teve de superar uma infância trágica. O apelido de “Murtosa” foi herança de seu avô João Rebelo da Cunha, que nasceu nessa localidade portuguesa perto de Aveiro. Depois emigrou para Pelotas, no Rio Grande do Sul, no início do Século XX.

Com a morte de Nicolau, a mãe de “Murtosa”, dona Olga, ficou com três filhos para criar, Danilo, Flávio e Andreza, a irmã do meio. Ela era costureira, ganhava pouco e a família passou por inúmeras dificuldades. Mas conseguiram dar a volta por cima.

Dona Olga não mediu esforços para garantir o estudo dos filhos. Flávio formou-se em Educação Física, Danilo é técnico de ar condicionado. E Andreza, que ainda mora em Pelotas, a exemplo de Danilo, cursou Letras. Hoje a família é de classe média, muito unida.

Tem tradição portuguesa, colônia muito grande em Pelotas. São frequentadores assíduos do Centro Português 1.º de Dezembro, que possui uma sede lindíssima junto à estrada que vai para a Praia do Laranjal. Mesmo a distância, todos torcem para o mano Flávio, mais conhecido por “Murtosa”.

Existe entre a família o desejo de descobrir parentes em Portugal. “Murtosa”, que também é cidadão português de pleno direito, desde 19 de maio de 2006, já fez buscas, quando se encontrava por lá junto com “Felipão”, no comando da Seleção Portuguesa. Mas não encontrou nada. Sabe-se que parte da família veio para o Brasil e outra para os Estados Unidos.

Sérgio Cabral, jornalista do “Diário Popular”, de Pelotas, é amigo de Murtosa. E meu também, pois fomos companheiros de inesquecíveis jornadas etílicas e também no Departamento de Futebol de Salão do G.E. Brasil. Sérgio conta que “Murtosa” estudava de noite e jogava futebol de dia. Tudo que conquistou até hoje foi na base do sacrifício.

Ele nasceu em Pelotas, no dia 14 de janeiro de 1951. Como jogador, era ponteiro direito, atuou nos dois times rivais da cidade. Começou a carreira no E.C. Pelotas, sendo profissionalizado aos 16 anos de idade. Depois foi jogar no G.E. Brasil, da mesma cidade.

Formou-se em Educação Física com especialização em futebol na Escola Superior de Educação Física do Rio Grande do Sul e estreou numa equipe técnica, como preparador-físico do Grêmio Atlético Farroupilha, de Pelotas, em 1981.

Em 1982 foi para o Brasil, de Pelotas, também como preparador físico. Foi quando se encontrou com Luiz Felipe Scolari, que era jogador e treinador do “xavante”. A partir dai se tornou adjunto de Felipão.

Desde então, apenas se separou do amigo em três ocasiões: em 1997, quando assumiu o comando do Juventude, de Caxias do Sul, em 2000 quando foi campeão pelo Palmeiras da Copa dos Campeões, e em 2002 após a Copa do Mundo.

De resto, esteve com Felipão no Grêmio, Goiás, Al-Qadsia, do Kuwait, Seleção do Kuwait, Coritiba, Criciúma, de Santa Catarina, Al-Ahly, da Arábia Saudita, Al-Qadsia, do Kuwait (pela segunda vez), Grêmio (pela segunda vez), Júbilo Iwata, do Japão, Palmeiras, Cruzeiro, Seleção Brasileira, Palmeiras (pela segunda vez), Seleção Portuguesa, Chelsea, da Inglaterra, Bunyodkor, do Uzbequistão, Palmeiras (pela terceira vez), Seleção Brasileira, Grêmio (pela terceira vez) e atualmente o Guangzhou Evergrande, da China.

Em agosto de 2011, Felipão foi suspenso por dois jogos no Campeonato Brasileiro por ofensas ao bandeirinha Roberto Braatz. “Murtosa” assumiu o time na partida da Sul-Americana, contra o Vasco, porque Felipão se recusou a ficar no banco.

Nessa partida, Braatz foi o bandeira e Felipão, irritado com a indicação, preferiu que “Murtosa” assumisse. Ele comandou o time na vitória contra o Corinthians em 28 de agosto de 2011 e na derrota contra o Botafogo em 31 do mesmo mês.

Em janeiro de 2012, “Murtosa” comandou o time nos três primeiros jogos do Palmeiras no Campeonato Paulista pela suspensão de Felipão ainda em 2011. Na época, após a derrota do time para o Corinthians, pela semifinal do Paulista, Felipão criticou o árbitro Paulo César de Oliveira e acabou punido por três jogos de suspensão.