quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O goleiro que virou estrela

Algisto Lorenzato Domingos, mais conhecido por Batatais foi um dos melhores goleiros da história do futebol brasileiro. O apelido lembra sua cidade natal, Batatais (SP), onde nasceu no dia 20 de maio de 1910. Com seus 1.82 m e 76 kg, começou a carreira no time do Frigorífico Anglo, onde foi trabalhar ainda jovem, para ajudar nas despesas de casa, já que sua família era muito pobre. Sua primeira posição foi ponta-esquerda. Entrou para o gol, quando o titular se machucou, e nunca mais saiu.

Depois foi parar no Comercial F.C., de Ribeirão Preto. Em 1933 foi contratado pela Portuguesa de Desportos, onde estreou no dia 22 de maio com uma vitória sobre o Santos F.C. por 4 X 2. No seu jogo de despedida da “Lusa”, dia 26 de novembro de 1934, uma derrota de 1 X 0 para o Corinthians.

Em janeiro de 1935 Batatais foi para o Palestra Itália, onde ficou por seis meses. Jogou 11 partidas, com 8 vitórias, 2 empates, 1 derrota e 9 gols sofridos. Em junho de 1935 foi para o Fluminense F.B.C, do Rio de Janeiro, junto com vários outros jogadores que defendiam a Seleção Paulista, tricampeã brasileira de seleções estaduais.

No ano seguinte foi titular de todas as 18 partidas da vitoriosa campanha do Fluminense no Campeonato Carioca. O Fla-Flu voltou a decidir o campeonato de 1936, já no profissionalismo. Melhor de três em Laranjeiras: 2 X 2, 4 X 1 e 1 x 1. Novamente o Fluminense levantou a taça. O time campeão foi: Batatais - Guimarães e Machado – Marcial - Brant e Orozimbo - Mendes – Lara – Russo - Romeu e Hércules.

Em 1937 e 1938, lá estava Batatais novamente, tornando-se o goleiro do segundo tricampeonato da história do Fluminense. O goleiro vestiu a camisa tricolor até 1945, conquistando ainda mais dois títulos cariocas, em 1940 e 1941, e participando do confuso Torneio Rio-São Paulo em que o Fluminense foi declarado campeão, junto com o Flamengo, em 1940.

O Fluminense ficou famoso por uma tradição de possuir grandes goleiros. E se Marcos Carneiro de Mendonça foi o primeiro desta linhagem, o segundo foi com certeza Batatais. Pelo Fluminense disputou 309 partidas e sofreu 458 gols. Em 79 jogos não foi vazado.

A decisão do Campeonato Carioca de 1941, na Gávea, o famoso “Fla-Flu da Lagoa” ganhou ares de tira-teima, uma vez que o tricolor ganhara os campeonatos de 1936, 1937 e 1938, além do de 1940, enquanto o Flamengo, com uma equipe forte, sagrara-se campeão de 1939.

Nesse jogo Batatais foi o grande herói. Mesmo contundido - teve um braço pisoteado por Pirilo - manteve-se firme e garantiu o empate heróico de 2 X 2, que deu o bicampeonato ao tricolor. O Fluminense estava “rebentado” em campo. Naquela época não eram previstas substituições. Além do goleiro machucado, Brant estava fisicamente esgotado. E para piorar, Carreiro havia sido expulso.

O clássico foi eletrizante. O Fluminense começou melhor a partida, marcando dois gols, com Pedro Amorim e Russo. No fim do primeiro tempo, Pirilo diminuiu para o rubro-negro. No segundo tempo, depois de muito pressionar, o Flamengo empatou, novamente com Pirilo, aos 38 minutos.

A partir daí, o Flamengo – precisando da vitória – se lançou todo ao ataque, enquanto o Fluminense, encolhido na defesa, se valia dos chutões para a Lagoa Rodrigo de Freitas para aliviar a pressão. Quando as bolas sumiam, os dirigentes rubro-negros recorriam aos remadores do clube, a fim de que resgatassem as bolas com maior rapidez. Por isso o jogo ficou conhecido como o “Fla-Flu da Lagoa”.

Foi na temporada de 1938 que chegou à Seleção Brasileira. Na Copa da França, no mesmo ano, Batatais jogou em duas, das cinco partidas da equipe que terminou na terceira colocação. Após sofrer 5 gols na partida contra a Polônia, perdeu o posto de titular.

O técnico Ademar Pimenta passou a escalar Walter, goleiro do Flamengo que, como incentivo, recebeu a oferta de um prêmio de 30 mil francos do chefe da delegação brasileira, José Maria Castelo Branco, para cada jogo que ficasse sem sofrer gols.

Batatais ainda participou de um jogo amistoso da Seleção. Os companheiros diziam que ele passava muita segurança à equipe. Era tão bom, que para sofrer um gol o adversário precisava pegar mal na bola e enganá-lo, pois estava sempre bem colocado.

Batatais encerrou a sua carreira em 1946 defendendo o América F.B.C., do Rio de Janeiro. Sua carreira de futebolista valeu tanto pela qualidade, quanto pelo seu comportamento exemplar, que lhe garantiu o “Prêmio Belfort Duarte”, por nunca ter sido expulso de campo.

Outra honraria para Batatais, encontra-se presente em uma das três estrelas que se destacam no escudo do Batatais F.C., equipe de sua terra natal. O clube homenageia todos os jogadores nascidos na cidade e que participaram de alguma Copa do Mundo, pela seleção Brasileira. Até hoje foram três: Batatais, Zeca Lopes, ex-Corinthians Paulista e Baldocchi, ex-zagueiro do Palmeiras.

Os títulos conquistados por Batatais, todos pelo Fluminense: “Campeão Carioca” (1936, 1937, 1938, 1940 e 1941); “Campeão do Torneio Aberto da Liga Carioca” (1935); “Torneio Municipal” (1938); “Campeonato Extra” (1941); “Torneio Início” (1940, 1941 e 1943) e o inacabado “Torneio Rio-São Paulo” (1940).

Entre as centenas de milhares de admiradores de sua técnica e seu arrojo, Batatais se orgulhava de um deles: o presidente Getúlio Vargas. Certa vez, na cidade mineira de São Lourenço, no ano de 1938, estando lá concentrada a Seleção carioca, o chefe da Nação manifestou o desejo de cumprimentar o arqueiro. O governador Valadares foi o intermediário e Batatais recebeu a saudação do Presidente.

Pena que os últimos dias de Batatais não tenham sido iguais aqueles vividos no auge de sua carreira. Sem apoio do ex-clube, o Fluminense, o ex-goleiro conseguiu sobreviver graças ao emprego de porteiro da Tribuna do Honra do Maracanã, que lhe foi conseguido pelo ex-superintendente do estádio, Arno Frank. Batatais morreu pobre e esquecido, no dia 16 de junho de 1960, no Rio de Janeiro. (Pesquisa: Nilo Dias)

domingo, 16 de janeiro de 2011

A intolerância entra em campo (Final)

Nos últimos anos foram várias as manifestações racistas acontecidas no futebol, mundo afora. Como o que nos interessa mais é o Brasil, relembramos uma série de ocorrências registradas no cenário nacional.

Em abril de 2005, o zagueiro argentino Leandro Desábato, do Quilmes, da Argentina chamou o atacante Grafite, do São Paulo, de “negrito de mierda”. Os times jogavam uma partida pela Taça Libertadores da América. A televisão registrou o momento e, pouco depois do término do jogo, o agressor foi preso por crime de racismo. Ele pagou uma fiança de 10 mil reais e acabou extraditado do Brasil.

Poucos dias depois, em um jogo do mesmo Quilmes contra o River Plate, pelo Campeonato Argentino, torcedores racistas ergueram faixas reinterando as ofensas a Grafite. Uma o chamava de “Macaco” e outra de “Branca de Neve”.

Em maio de 2005, o atacante Marco Antônio, do Campinense (PB), acusou o árbitro Genival Batista Júnior de tê-lo chamado de "negro safado" e "macaco", durante um jogo valendo pelo campeonato Paraibano. Genival se justificou dizendo ter levado uma cabeçada do jogador, mas os responsáveis pelo caso não viram nada no vídeo da partida.

Em 12 de setembro de 2005, o goleiro Felipe entrou com uma queixa por racismo contra o então presidente do Vitória, Paulo Carneiro, porque ele havia lhe chamado de “negro safado”, “preto vagabundo” e “vendido”. O bate-boca ocorreu após o empate contra a Portuguesa, em um jogo do Campeonato Brasileiro. O resultado levou ao rebaixamento do clube para a segunda divisão. Por causa do incidente, Carneiro foi afastado da diretoria.

Um dos casos mais famosos aconteceu em 2006. Na época zagueiro do Juventude, Antônio Carlos Zago foi acusado pelo gremista Jeovânio de racismo em uma partida entre as duas equipes pelo Gauchão. Antônio Carlos foi expulso por acertar uma cotovelada no volante e deixou o gramado do Alfredo Jaconi fazendo gestos de passagem dos dedos nos dois antebraços, dando a entender que se referia à cor de pele de Jeovânio.
Após a partida, Jeovânio e o então presidente do Grêmio, Paulo Odone Ribeiro, foram até o Ministério Público do Rio Grande do Sul para relatar o fato, mas o caso acabou sendo arquivado.

A casa do Juventude ainda foi palco de outra manifestação preconceituosa. O volante Tinga, do Internacional, a cada vez que pegava na bola em um jogo pelo Brasileirão, ouvia grande parte da torcida alviverde imitar um macaco. O árbitro Alicio Pena Júnior chegou a interromper o jogo e solicitar que a diretoria do clube da Serra Gaúcha tomasse providências. O Juventude acabou sofrendo uma multa de R$ 200 mil e perdeu o mando de campo em dois jogos.

Na pré-temporada do Flamengo em Teresópolis, em 2008, durante um jogo-treino contra o Huracán Buceo, do Uruguai, os jogadores rubro-negros acusaram o zagueiro Fernando Caballero de ofensas raciais. No primeiro tempo, o uruguaio se desentendeu com Toró e houve bate-boca. Ibson, defendendo o companheiro, gritou: “Não vem de racismo aqui!” Toró confirmou a ofensa ao final da partida. A palavra usada pelo uruguaio teria sido "macaco".

Um caso de homofobia envolvendo o ex-jogador do São Paulo Futebol Clube, Richarlyson, que é negro, virou manchete dos principais veículos de comunicação do país. O juiz da 9ª Vara Criminal de São Paulo, Manoel Maximiano Junqueira Filho, mandou arquivar o processo movido pelo jogador contra um dirigente do Palmeiras que, em um programa de televisão, insinuou que o atleta era homossexual. Em seu despacho, entre inúmeras declarações preconceituosas, o juiz afirmou que “não poderia jamais sonhar em vivenciar um homossexual jogando futebol”.

Em 2009, pela Copa Libertadores da América o duelo brasileiro entre Grêmio e Cruzeiro foi marcado por mais uma acusação de racismo. Elicarlos, volante do time mineiro, disse que o atacante Máxi Lopez, dos gaúchos, o chamou de "macaco".
Em consequência da acusação, policiais cercaram o ônibus do Grêmio no final do jogo com o objetivo de tomar o depoimento do atacante argentino. Isso foi feito ainda no Mineirão, palco da partida, e o jogador deixou a delegacia de madrugada, sem dar declarações.

No jogo da volta, realizado em Porto Alegre, quando Elicarlos se preparou para entrar no decorrer do segundo tempo, a torcida gremista que lotou o estádio Olímpico começou a imitar sons de macaco. A manifestação perdurou até o fim do jogo sempre que o jogador recebia uma bola.

Em abril do ano passado, em jogo pela Copa do Brasil entre Palmeiras e Atlético-PR, o zagueiro Manoel, do time paranaense, acusou o também zagueiro Danilo, do clube paulista, de chamá-lo de "macaco" em partida disputada no Palestra Itália.

“Danilo cuspiu em mim e me chamou de macaco. Ser chamado de macaco é a pior coisa que tem", disse o jogador do Atlético, que pisou no rival durante o segundo tempo da partida como forma de revidar. Manoel foi a uma delegacia de Polícia da capital paulista, prestar queixa. (Pesquisa: Nilo Dias)

Grafite, quando jogava no São paulo foi vítima de preconceito racial.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A intolerância entra em campo (III)

O primeiro time a escalar um negro no Brasil foi o Bangu A.C., em 14 de maio de 1905, em jogo amistoso disputado contra o Fluminense, no Jardim da Fábrica Bangu. O jogador foi Francisco Carregal e o Bangu venceu a partida por 5 x 3. Em 1911, o clube industrial ganhou o campeonato carioca da segunda divisão, tendo em sua equipe quatro jogadores negros.

Mesmo que a CBF considere o C.R. Vasco da Gama pioneiro na aceitação de negros em sua equipe, a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro pensa diferente. Tanto que em 2001 agraciou o Bangu A.C. com a Medalha Tiradentes, por ter sido o primeiro clube carioca a contar com jogadores de cor preta em seu grupo.

Pelos quadros do Bangu, ao longo da história passaram inúmeros jogadores negros importantes no futebol brasileiro, como Luiz Antônio da Guia, irmão mais velho de Domingos da Guia. Ele foi o atleta que por mais tempo defendeu um único clube de futebol no Brasil, de 1912 até 1931. Fora o Bangu, só vestiu a camisa da seleção carioca. Contam que nunca foi convocado para a seleção brasileira, por ser negro.

O América Mineiro foi fundado por jovens da elite de Belo Horizonte, em 1912. Entre seus fundadores estava um negro, Geraldino de Carvalho que fez parte do time que conquistou o decacampeonato mineiro, entre 1916 a 1925. Em razão disso, mesmo sendo considerado historicamente um clube elitista, o América guarda a honra de ter sido o primeiro a admitir um negro em Diretoria. Também foi o primeiro clube a ter um negro entre seus fundadores.

Em 1950, o Brasil perdeu a Copa do Mundo para o Uruguai, em pleno Maracanã. Os atletas negros e mulatos do time, como Barbosa, Bigode, Zizinho e Jair foram responsabilizados pelo fracasso. A imprensa de Norte a Sul do país dizia que faltara coragem, fibra e raça aos jogadores.

Os negros enfrentaram tempos difíceis, sendo considerados como atletas fadados ao fracasso, por não terem estrutura emocional para grandes jogos internacionais, já que sentiam muita saudade de casa. O talento de Leônidas da Silva, na Copa de 1936 fora totalmente esquecido.

Quem mais sofreu com isso foi o goleiro Barbosa, que carregou esse estigma pelo resto da vida. A partir daí firmou-se a convicção de que os goleiros negros não eram bons, sendo raros os que conseguiram jogar em grandes clubes e na seleção.

O grande salto de qualidade para o negro no futebol brasileiro, aconteceu graças a Pelé, que sempre fez questão de dizer que era preto. Com isso ele se sentia bem, pois exaltava a mãe, o pai, a avó, o tio, a família pobre de pretos que o preparou para a glória. Nenhum preto, no mundo contribuiu mais para varrer barreiras raciais do que Pelé.

E Pelé orgulha-se de nunca ter precisado esticar os cabelos. Foi e ainda é aplaudido e respeitado no mundo inteiro pelo que é: preto como o pai, como a mãe, como a avó, como o tio, como os irmãos. E ele não se incomoda quando os demais pretos do futebol brasileiro o chamam de “Pelé, o crioulo”.

Mas nem por isso Pelé escapou de ser vitima de racismo. Ele relata em sua biografia, há pouco lançada, ter passado por uma situação dessas em sua juventude: “Houve uma garota, uma das primeiras, por quem eu sentia uma atração muito forte, mas o pai dela acabou com tudo: chegou na escola um dia e deu uma bronca nela por estar conversando comigo. "O que você está fazendo com esse negrinho?", gritava.

Foi a primeira vez, creio, que tive contato direto com o racismo, e foi absolutamente chocante. Minha namorada era branca, mas nunca tinha me passado pela cabeça que alguém pudesse se incomodar com aquilo – ou comigo”, conta Pelé no livro escrito por Orlando Duarte e Alex Bellos.

A redenção da tragédia de 1950 veio oito anos depois. Em 1958, na Suécia o Brasil finalmente se sagrou campeão do mundo, com um time repleto de negros e mulatos como Pelé, Garrincha, Didi, Djalma Santos, Rubens, Índio, Oreco. Caia por terra a teoria de que negros não tinham condições psicológicas para serem vencedores.

Em 1962, 1970, 1994 e 2002 o Brasil voltou a ser campeão do mundo. Nenhuma seleção possui tantos títulos como a nossa. É verdade que a situação já foi muito pior para os jogadores negros. Mas falta muito para que ocupem de vez um espaço de valor no futebol brasileiro.

Nem todos têm a mesma sorte de Ronaldo Fenômeno, Adriano, Ronaldinho Gaúcho e outros negros e mulatos que se tornaram astros de primeira grandeza do futebol mundial, e ficaram multimilionários. Mesmo que a maioria dos jogadores que atua no Brasil seja de negros e mulatos, eles ainda lutam contra o velho racismo, ganham menos que os brancos e não tem no esporte uma garantia de ascensão social.

Questionários feitos com 327 jogadores de 17 clubes do Rio de Janeiro mostraram que, enquanto 26.6% dos atletas brancos ganham até um salário mínimo, entre os negros a proporção é de 48.1%. No total de jogadores, é de 34.9%. No alto da pirâmide salarial, 24.8% dos brancos ganham mais de 20 salários mínimos. Entre os negros, o percentual é de 14.8%, abaixo do verificado no conjunto de jogadores (17.1% ganhando mais de 20 salários mínimos).

Os atletas negros ainda enumeraram diferenças: o salário deles costuma atrasar mais, recebem menos convites para sair com os cartolas ou são tratados com desprezo. Outra discriminação está no tratamento: macaco, crioulo, gorila.

Muitos casos de discriminação de jogadores negros no futebol brasileiro foram relatados ao longo da trajetória do esporte no país. Nos anos 20, o presidente da República, Epitácio Pessoa recomendou que não fossem incluídos mulatos na seleção brasileira que foi a Buenos Aires, para disputar o Campeonato Sul-Americano. Para o Presidente era importante projetar outra imagem do povo brasileiro no exterior, e era “absolutamente imperioso que o país fosse representado pela sua melhor sociedade”.

Outro caso interessante aconteceu na primeira Copa do Mundo, realizada no Uruguai em 1930. A seleção brasileira foi composta apenas por jogadores de um combinado de times cariocas, excluindo os paulistas, e a grande maioria dos atletas era de origem branca.

Na Copa de 1938, na França, nossa seleção chegou as semifinais contra a Itália e, nosso melhor jogador, Leônidas da Silva, de origem negra, “foi poupado” desse jogo para jogar a final. Resultado desta segregação: o Brasil perdeu o jogo para a Itália, com um pênalti cometido por Domingos da Guia. Domingos por ter cometido o pênalti levou a culpa pela eliminação da seleção brasileira.

A seleção de 1982, tida pela maioria da população brasileira e jornalistas esportivos como uma das melhores equipes já formadas, era constituída em grande parte por jogadores brancos, universitários e oriundos da classe média. Atletas negros ou mestiços estavam reduzidos a quatro: Luisinho, Toninho Cerezo, Júnior e Serginho. As críticas que surgiram em 1982 foram sobre eles.

Por fim, artigo do comentarista esportiva Juca Kfouri trata com maestria outra situação clara existente no nosso futebol: qual é o grande técnico negro da história do futebol brasileiro? Ao que se sabe, tivemos apenas dois em toda a história: Gentil Cardoso, em 1957, e Wanderley Luxemburgo, se é que ele se considera negro ou pardo, mais recentemente.

Kfouri pergunta: no país do futebol, onde a maioria dos atletas são negros, qual o dirigente importante do futebol brasileiro que é negro? Não tem nem um. O lugar é dos brancos. Negro é muito bom no gramado, mas no banco dirigindo o time ou na sala da presidência da confederação ou do clube, não tem lugar para ele. (Pesquisa: Nilo Dias)

Barbosa, por ser negro foi considerado o maior culpado pela perda da Copa de 50, pelo Brasil. (Foto: Acervo do C.R. Vasco da Gama)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A intolerância entra em campo (II)

A intolerância contra os negros no futebol brasileiro começou a diminuir a partir de 1923, quando o C.R. Vasco da Gama disputou e venceu o campeonato carioca, com um time formado por negros e brancos pobres. É claro que isso mexeu com os brios dos dirigentes dos clubes de brancos, e o Vasco sofreu séria perseguição por ter sido campeão.

Mas não adiantou nada. Todo mundo estava a frente de um fato consumado. Agora, se sabia que não se ganhava campeonato só com time de brancos. A mistura de brancos, mulatos e pretos respondera com eficiência dentro de campo, sendo campeã da cidade.

Não havia mais nada a discutir. A tão decantada vantagem de ser filho de boa família, estudante e branco, não queria dizer mais nada. A partir desse momento ele jovem teria de competir em igualdade de condições com o pé-rapado, o analfabeto, o mulato, o preto. Era uma revolução que se desencadeava no futebol brasileiro.

A entrada dos negros e dos populares em geral nos clubes até então freqüentados e comandados pela elite, não ocorreu sem que tivesse sido criada antes, uma fronteira demarcando o status entre associados e atletas. Os sócios mais prestigiados é que teriam a responsabilidade da gestão política e administrativa dos clubes.

A aceitação dos negros no futebol brasileiro teve a mistura de três fatores: o primeiro, de ordem econômica, com os clubes grandes percebendo que era importante à presença dos negros em suas equipes, para os estádios ficarem lotados. E em conseqüência, mais renda para os cofres. O segundo fator foi à habilidade técnica dos negros em relação aos brancos. E o terceiro, a paixão pelo futebol.

Os negros foram segregados também no Rio Grande do Sul, pois, tendo perdido espaço de trabalho para os imigrantes europeus, saíram do campo para a cidade, no chamado êxodo rural, e passaram a habitar as favelas, segundo um processo característico de marginalização.

Nesse tempo o futebol já havia alcançado grande destaque no sul do país, o que fez com que os negros também o praticassem. Clubes como o Grêmio, Internacional e Cruzeiro de Porto Alegre, porém, não os aceitavam em seus quadros.

Inconformados, os excluídos formaram entre 1911 e 1912, a Liga Nacional de Futebol Porto Alegrense, pejorativamente chamada pelos brancos de Liga da Canela Preta, onde qualquer indivíduo podia jogar independentemente da raça. Em 1922, a liga tradicional abriu a segunda divisão, ocasionando oportunidades para jogadores negros. Os de maior habilidade acabaram por preencher lugares em clubes de expressão como o Internacional.

Em 1928, o jogador Dirceu Alves, do 8 de Setembro, filho de pai branco e mãe mulata, se tornou o primeiro jogador não branco a vestir a camisa do clube colorado. Logo após, outros conquistaram espaço. Com seu campeonato enfraquecido, veio a decadência e o conseqüente fechamento da Liga da Canela Preta.

Pena que durante a grande enchente de 1941, em Porto Alegre, toda a documentação sobre a Liga foi destruída. Só restou o resgate oral dessa história. Alguns clubes que fizeram parte da Liga foram o 8 de Setembro, Palmeiras, Bento Gonçalves e Rio Grandense, este último dirigido por Francisco Rodrigues, pai do famoso compositor Lupicicio Rodrigues.

Nas cidades de Pelotas e Rio Grande, também existiram ligas exclusivas para times negros. Algumas fotografias publicadas na imprensa pelotense em 1931 mostram que alguns times da Liga José do Patrocínio aceitavam atletas "mulatos", caso do S.C. Universal. Outros como G.S. Sul América, o G.S. Vencedor e G.S. Luzitano eram compostos exclusivamente por indivíduos negros.

Em Rio Grande a liga dos negros era a Rio Branco. Mas não se tem maiores registros sobre sua atividade: quando foi fundada, quantos clubes eram a ela filiados e nem quando acabou.

O compositor Lupicínio Rodrigues, torcedor e autor do hino do Grêmio Portoalegrense conta que seu afeto ao clube tricolor, se deve a um fato ocorrido no início do século passado, envolvendo o time de futebol de seu pai, o Rio-Grandense. O clube desejava ingressar na liga principal de Porto Alegre, mas foi barrado pelo Internacional.

Em outubro de 1920 tivemos um dos piores momentos proporcionados pela intolerância. Quando a seleção Brasileira foi até Buenos Aires jogar uma partida amistosa contra a Argentina, em benefício do “Asilo de Huérfanos Militares”, o jornalista e advogado uruguaio Antonio Palacio Zino, do periódico porteño “La Crônica”, destilou todo o seu racismo e desconsideração ao Brasil.

A manchete da página de esportes estampava: "Monos em Buenos Aires" (Macacos em Buenos Aires). A matéria estava acompanhada de uma charge em que jogadores e integrantes da delegação brasileira eram mostrados como macacos. O texto, bastante ofensivo, chamava os brasileiros de “macaquitos” e ironizava a conduta moral de nossas mulheres. Eis o artigo, devidamente traduzido para o português.

“E estão os macaquinhos em terras argentinas. Hoje (6-10-20)) temos de acender a luz às 4h da tarde, pois os temos visto passeando pelas ruas, aos saltos (…) No carnaval, os maridos se abrem e as mulheres vão para a festa, como lhes dá vontade. Por isso que, cada vez que nasce uma criança, o casal tenta descobrir com qual vizinho se parece (…) A uma hora e meia da bela capital brasileira,gente inocente é degolada, se assalta sem medo e é latente a escravidão em suas nuances selvagens”.

Se um comentário desse teor fosse feito nos dias de hoje, certamente haveria um incidente diplomático entre Brasil e Argentina, com resultados inimagináveis.

O jogo foi inicialmente marcado para 3 de outubro, porém uma forte chuva provocou a transferência para o dia 6. Horas antes do jogo, o jornalista racista teve a cara de pau de visitar a delegação brasileira no hotel onde estava hospedada, e acabou sendo agredido pelo jogador Sisson, capitão da equipe do Brasil. Enquanto apanhava, gritava em bom castelhano: “Brincadeira, brincadeira” . Teve sorte, pois outros também queriam lhe surrar, mas foram evitados pela turma do “deixa disso”.

Na hora de entrar no gramado do estádio do Sportivo Barracas, outrora a casa principal da seleção argentina, o Brasil não tinha um time completo. Do grupo, só sobraram seis jogadores dispostos a entrar em campo. Então, foi preciso escalar o ex-jogador Osvaldo Gomes, autor do primeiro gol da história da seleção e agora chefe da delegação brasileira, e mais quatro “enxertos” argentinos: Balgorri, Rosado, Solari e Castro.

Mal o jogo começou, e os 3 mil torcedores presentes ao estádio se deram conta que o onze brasileiro estava “remendado”, e passaram a atirar objetos no gramado. O árbitro teve de interromper o jogo, tal os protestos. Como não tinha condições de devolver o dinheiro aos torcedores, aconteceu um acordo no mínimo estranho: os argentinos saíram do time brasileiro e o jogo prosseguiu com sete jogadores para cada lado. A Argentina venceu por 3 X 2. Depois do jogo, os argentinos ofereceram uma festa em homenagem aos brasileiros e um pedido formal de desculpas. (Pesquisa: Nilo Dias)

A charge em que os brasikeiros apareciam como macacos.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A intolerância entra em campo (I)

O Brasil inteiro assistiu durante quase duas semanas uma verdadeira novela em torno do jogador negro Ronaldinho Gaúcho. Três dos maiores clubes do país – Grêmio, Palmeiras e Flamengo - brigaram intensamente para tê-lo em suas fileiras. Verdadeiras fortunas foram oferecidas, até que finalmente o pretendente carioca levou a melhor.

Mas nem sempre o negro foi valorizado como está sendo agora no futebol brasileiro. Quando o futebol aqui chegou em 1894, vindo da Inglaterra, era um esporte praticado só por representantes da elite dominante. Negros e brancos pobres eram excluídos. Dizia-se que “branco pobre, preto é”. Nesse nobre esporte não tinha lugar para os que não fossem “brancos e de boas famílias, sãos, puros, cordiais, ricos e de origem letrada”. Então, os negros não tinham a menor chance de ingressarem nesse ambiente fechado.

O público também acompanhava a elegância, sofisticação e modernidade do esporte. Assistir a jogos no estádio do Fluminense, por exemplo, era um evento social. Os negros e brancos pobres estavam nitidamente alijados do jogo e até mesmo da torcida. Para tanto, as ligas criaram mecanismos, como a cobrança de altas taxas de filiação, de modo a fazer do futebol um espaço de diferenciação e uma marca da “superioridade” da elite branca e abastada.

E não era só o futebol que fechava as portas para os negros. Naqueles tempos o turfe tinha muitos aficcionados nas cidades brasileiras e o remo atraía os jovens das boas famílias, proporcionando a fundação de clubes e as atenções de um público amplo até a primeira década do século XX. Impensáveis para negros. Jogadores e público, tudo pertencia a um grupo social comum.

Em várias capitais do Brasil, clubes de elite praticavam o futebol. Em São Paulo, Germânia e Paulistano eram referências das elites locais. O Paulistano chegou a ter um negro no time no começo do século, mas este era da elite, Friedenreich.

No Rio Grande do Sul o Grêmio Portoalegrense formou-se para a prática do futebol em 1903 e constituiu um clube calcado na experiência anterior de associatividade esportiva entre os teuto-brasileiros (ginástica, remo, esgrima), tecendo teias entre estes grupos de sucesso originários da emigração européia e outros grupos dominantes locais.

O futebol e as primeiras ligas foram criados para atender as elites sociais, formadas por cidadãos de origem branca, ficando para as classes economicamente menos privilegiadas, na sua maioria compostas por cidadãos de origem negra, o direito de jogar em ligas clandestinas.

Até o final dos anos 1920 nenhum clube que se prezasse ousava lançar um negro em seu time. A presença de alguns jogadores negros nos clubes menores era tolerada pela aristocracia, desde que tal presença não incomodasse o poder dos grandes clubes.

A crença geral era de que os negros se constituíam em seres inferiores. Desde que os primeiros deles chegaram ao Brasil para trabalhar nas lavouras de cana de açúcar, que foram vistos assim. Como eram escravos tinham muitos deveres, nenhum direito e eram totalmente submissos ao homem branco.

Em 1888 veio a abolição da escravidão, mas não foi acompanhada de um mínimo de condições para que os negros e seus descendentes pudessem começar uma nova vida. A liberdade só existia na letra fria da lei. Na realidade, continuavam reféns da boa vontade dos brancos e vítimas de toda a espécie de preconceito. Não tinha como isso não repercutir no futebol.

Apesar de tudo, o processo de apropriação popular do novo esporte não demorou a chegar. Crianças e adultos começaram a bater bola ao ar livre, nas ruas, campinhos de terra e onde quer que fosse possível.

A simplicidade das dezessete regras do futebol facilitava a popularização do novo esporte. A bola podia ser improvisada. Qualquer coisa arredondada servia. Um maço de folhas de jornal enfiado num pé de meia, jornal amassado amarrado com barbante, ou simplesmente uma laranja ou uma lata velha amassada. E até mesmo uma tampinha de cerveja.

Logo que os negros começaram a jogar futebol por aqui, tiveram de enfrentar regras rígidas, que só valiam para eles: não podiam derrubar, empurrar, ou mesmo esbarrar nos adversários brancos. Se assim agissem, eram punidos severamente. Já os demais jogadores e até os policiais podiam bater no infrator. Os brancos, no máximo, eram expulsos de campo. E tudo isso com a complacência dos árbitros, que eram todos brancos. Até a maioria do público que assistia aos jogos, era de predominância branca.

Essa diminuição dos espaços dentro de campo, originária de uma situação social obrigou os negros a tomarem mais cuidados, jogarem com mais ginga, com mais habilidade, evitando o contato físico. Assim o negro criou o drible, que não é outra coisa que a criação de espaço, onde o espaço não existe. Sem dúvida, foi o jogador negro que imprimiu no futebol brasileiro um estilo próprio de magia e arte.

O primeiro negro a alcançar sucesso no futebol brasileiro foi Arthur Friedenreich, um mulato de olhos verdes. Era tolerado por ser filho de pai alemão, embora a mãe fosse uma lavadeira negra brasileira. Fried, como era chamado pelos companheiros, jogou até na seleção. Morreu sem ter nunca admitido que nas suas veias corria sangue negro.

Ele costumava chegar atrasado aos jogos e se enfurnava no vestiário, tentando alisar e prender os cabelos crespos com brilhantina, para não ser visto pela multidão como o mulato que era. Naquela época, negro que quisesse jogar em time de branco, tinha de colocar uma touca na cabeça, para esconder o cabelo crespo. Os pretos do futebol, à medida que ascendiam, procuravam ser menos pretos. Sabe-se de casos até de operações plásticas, para fugir da cor.

No capítulo do racismo na história do futebol brasileiro, são muitos os casos dignos de registro. Episódios de discriminação e preconceito que incluíam atitudes humilhantes dos dirigentes de clubes diante dos atletas negros.

No aristocrático Fluminense F.C., do Rio de Janeiro tivemos o famoso episódio racista do "pó-de-arroz”. Para poder jogar no time, sem aparecer como preto diante da multidão que lotava os estádios, o jogador Carlos Alberto, vindo do América tinha de disfarçar a cor da pele. De colocar a máscara branca. Para isso, cobria o brilho negro mestiço de seu rosto com espessas camadas de pó-de-arroz. Robson, também ex-jogador do próprio Fluminense disse uma ocasião: “Eu já fui preto e sei o que é isso.”

Em 1923, o América F.C. foi buscar na área portuária do Rio de Janeiro, um marinheiro negro apelidado de “Manteiga”, para dar mais força e combatividade ao seu time. O apelido se devia a qualidade dos passes oriundos de seus pés, “vindos como se tivessem manteiga”, diziam.

No dia da estréia, quando ele se preparava para entrar em campo, outros jogadores do time saíram do vestiário, por preconceito, e negaram-se a jogar. Depois foram acompanhados por mais nove jogadores do primeiro e do segundo time, que insatisfeitos pediram demissão.

Por causa disso “Manteiga” não quis mais saber do América. O ano era de 1922, quando ele pegou a mala e se mudou para a Bahia. Lá, o cenário era bem menos racista que no Rio de Janeiro. Na Bahia se sentia em casa, bem ao contrário do Rio onde tinha de andar "quase fugido", escreveu Mario Filho, no livro “O negro no futebol brasileiro”.

Mesmo que Salvador tenha sido a cidade pioneira no Brasil no livre acesso de negros na liga de futebol principal, se sabe que a primeira liga baiana de futebol, fundada em 1904, era chamada de “Liga Branca”. Em 1912, fruto de conflitos surgiu a "Liga Democrática", que supostamente permitia a participação de atletas negros.

Também tivemos o caso do jogador Hércules, que se casou com uma associada branca do Fluminense. Em represália o clube proibiu o ingresso de atletas nos seus quadros sociais, num claro recado para que “Hércules soubesse qual era o seu lugar”. Hércules foi um dos raros jogadores negros que se deu bem na vida, naqueles anos difíceis. Quando pendurou as chuteiras, em 1946, era dono de casas e terrenos em São Paulo. (Pesquisa: Nilo Dias)

Friedenreich, nunca admitiu que tinha sangue negro.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Ronaldinho "traíra"

Eu sou torcedor do Internacional, e não queria mesmo ver o Ronaldinho Gaúcho jogando no Grêmio. E porque? Os dois clubes do Sul vão disputar a Copa Libertadores da América. Vá lá que o cara de repente invente de voltar a jogar futebol, o que eu não acredito. No meu ponto de vista o Ronaldinho só jogou alguma coisa no Barcelona, e no jogo contra a Inglaterra, na Copa de 2002, quando fez um gol sem querer. Depois disso, nada mais. Faz firulas, jogadas de efeito. não marca ninguém, e só. Mas a imprensa teima em endeusá-lo.

O Grêmio teve a segunda desilusão com seu ex-jogador. Sua saída para o Paris Saint Germain foi traumática. Agora era a hora de fazer com que a torcida tricolor esquecesse aquele episódio. Mas, lamentavelmente Ronaldinho e seu irmão Assis, também, ex-jogador gremista, proporcionaram um triste espetáculo para o futebol brasileiro, com um leilão que não precisava ter acontecido.

Mas se olharmos bem para tudo isso, eu acredito que o Grêmio ao final vai sair ganhando. Na minha modesta opinião, Ronaldinho é um ex-jogador que virou badaleiro. Cansou do futebol. Dinheiro graúdo no bolso e noites cheias de mulheres, com certeza são coisas bem melhores que estádios cheios de homens.

E o Flamengo, que tradicionalmente não paga ninguém, pode se arrepender logo ali desse negócio. Quando se der conta que contratou alguém que veio para ficar mais focado nas praias, bailes funks e baladas. Afinal de contas o plantel flamenguista é da pior espécie, e um só jogador, mesmo que mostre alguma coisa, não vai resolver nada.

E o pior disso vai ser o Ronaldinho e seu irmão Assis ao saírem às ruas de Porto Alegre. Eles estão “queimados”, já são e serão chamados de “traíras”. Mas o que eu quero ver, na verdade, é um jogo entre Flamengo, se é que o Ronaldinho vai mesmo para lá, contra o Grêmio no Olímpico. Sou colorado, mas não quero perder isso por nada deste mundo.

Sei que a torcida gremista no dia de hoje não quer nem ouvir falar em Ronaldinho, tal o peso da nova desilusão. Mas, nem por isso um vereador de Porto Alegre pode se dar ao direito de ameaçar entrar com um projeto na Câmara Municipal da capital gaúcha, propondo que o jogador seja considerado "persona non grata". Entendo isso apenas como uma reação do momento e que não vai ser levado adiante, depois que a cabeça esfriar.

E como essa história toda teve muitos capítulos inesperados, e Assis e Ronaldinho ainda não sabem com certeza o que querem, ninguém duvide que na segunda-feira já se fale de novo na volta do jogador ao Olímpico. Afinal de contas novela é novela, leilão é leilão. E durma-se com um barulho desses. (Texto: Nilo Dias)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Um estádio mal assombrado

O estádio Alberto J. Armando, do Boca Juniors, mais conhecido por “La Bombonera”, foi sempre temido pelos adversários pelas imensas dificuldades lá encontradas para algum adversário vencer o dono da casa, time de maior torcida no país. E agora, notícias vindas de Buenos Aires dão conta de que os temores vão aumentar, já que o clube parece que vai ter uma ajuda muito especial, vinda do além.

Por volta de 9 horas da noite, o funcionário Oscar Verna acaba de abastecer as máquinas de café e em seguida se movimenta pelo primeiro piso do estádio de “La Bombonera”. De repente, escuta o barulho conhecido dos torcedores descendo as escadarias. Quando chega a porta 18, que se abre para as arquibancadas, somente silêncio e escuridão, como ocorre nos dias em que não se realizam jogos no estádio.

O próprio Oscar conta que na primeira vez que passou por isso, saiu correndo, sem poder controlar o medo. "Para mí hay algo especial en la Bombonera. Yo la viví, no me la contaron", enfatiza. Já são muitas as histórias como essa. Alguns acreditam, outros acham graça. Mas o certo é que algo de estranho vem acontecendo por lá.

Durante a madrugada, quando as luzes estão quase todas apagadas, e os funcionários fazem vistorias de rotina são ouvidos ruídos semelhantes à queda de bandejas e copos, além da presença de sombras que se movimentam a toda a velocidade, em várias direções, segundo o testemunho de um vigilante. As luzes acendem e se apagam sozinhas. Portas fechadas a chaves abrem e fecham sem que alguém toque nelas. São outros fenômenos denunciados pelas testemunhas.

Logo que essas coisas começaram a acontecer, chegou-se a pensar que poderia ser brincadeira de algum companheiro. Mas depois se deram conta: quem poderia achar graça em molestar seus colegas de trabalho às 3 horas da madrugada e com um posto de serviço por cobrir?

Sabe-se que alguns familiares de sócios mortos, cumpriam a última vontade desses torcedores e jogavam suas cinzas no estádio. O parapsicólogo argentino, Ricardo Pacuta disse que essa pode ser uma das prováveis causas do fenômeno. “É mais comum do que parece. São fantasmas que foram chamados para ajudar o Boca, e não para fazer mal”, explicou o especialista.

Para evitar que as pessoas continuassem a jogar as cinzas de sócios falecidos, dentro de “La Bombonera”, a direção do clube construiu um cemitério próprio para sepultar seus torcedores mais fanáticos. O “campo santo” funciona desde 2006 e tem capacidade para 3 mil sepulturas, todas decoradas com flores azuis e amarelas, as cores do Boca Juniors. Está localizado em um setor do cemitério “Parque Iraola”, em Berazategui, a 30 km ao sul de Buenos Aires, por isso se presume que nada tem a ver com as assombrações de “La Bombonera”.

O cemitério foi inaugurado com a cerimônia de exumação dos restos mortais de dois antigos atletas do clube, os goleiros Juan Estradas e Júlio Elias Musimessi, cujas cinzas foram transferidas para lá. Nesse dia o ex-craque Antônio Ubaldo Rattin, que defendeu o Boca nos anos 60, disse: “Está tão lindo que dá vontade de ficar”. Com isso o Boca Juniors também pôs em prática uma das estrofes de seu hino que diz: “nem a morte nos vai separar, desde o céu vou te alentar".

O auxiliar do Departamento de Basquete do Boca Juniors, Federico Retore, contou ao jornal esportivo argentino “Olé”, que uma noite, por volta de 23 horas, quando estava arrumando as roupas dos jogadores, que viajariam de madrugada para jogos em Sunchales e Paraná, saiu para fumar e viu um senhor de traje cinza, que logo desapareceu. Disseram-lhe que a descrição era como a de Tarija Fernández, seu antecessor, que morreu há anos.

Retore também recorda da noite em que escutou barulho de bolas jogadas contra as paredes do ginásio de esportes, e ruídos de tênis chocando com o piso. O som era bem claro, mas não havia ninguém jogando basquete no local.

Mais assustadora ainda, é a declaração de um segurança, que preferiu não ser identificado, mas que garantiu ter visto sombras esfumaçadas e vultos correndo pelas grades do local. Acrescentou que em geral aparecem de madrugada, quando não tem mais ninguém e há muito silêncio.

Segundo a reportagem publicada pelo jornal, os depoimentos colhidos entre os vários funcionários do clube são bastante parecidos. Todos garantem que o estádio do Boca vive durante as noites, repleto de personagens que aparecem entre as grades ou entre a arquibancada e que desaparecem quando alguém se aproxima.

Um homem de camisa branca sentado no setor "L" das arquibancadas; uma mulher vestida de noiva, e um menino de bermuda, sapatos brancos e uma blusa azul são freqüentemente vistos durante a noite, disse outro segurança.

O homem de camisa branca, um dia chegou a ser quase encurralado. Os seguranças correram em sua direção, vindos de vários setores do estádio. Contam que deu para vê-lo bem por uma fração de segundos, para depois desaparecer.

Fantasmas a parte, ir a Buenos Aires e não conhecer “La Bombonera” é como ir ao Rio de Janeiro e não conhecer o Maracanã, principalmente para quem gosta de futebol. O estádio do Boca Juniors tornou-se um verdadeiro templo do futebol argentino e também um ponto turístico de Buenos Aires. As agências de turismo o incluem em seus pacotes para turistas estrangeiros e o oferecem com a mesma importância de um passeio às Cataratas do Iguaçu ou à Patagônia.

“La Bombonera” encanta pela magia e pela fama. Não é para menos: inaugurado em 1940, completou 70 anos em 2010. O nome se deve a sua forma retangular parecida com uma caixa de bombons. Com uma área reduzida para a construção, o arquiteto José Luiz Delpini criou três anéis de arquibancadas bastante inclinados, envolvendo o gramado em forma de retângulo. Devido à sua arquitetura, logo ganhou o apelido de “caixa de bombom”.

A torcida fica muito próxima ao campo e, geralmente, lota os 57.395 lugares disponíveis, transformando a “Bombonera” num alçapão. Em competições oficiais, foram poucas as vitórias brasileiras por lá. Pela Libertadores, apenas o Santos (em 1963), o Cruzeiro (1994), Paysandu (2003). São Paulo (1995) e Internacional (2008) também já venceram pela Supercopa e Sul-Americana, respectivamente.

O estádio está localizado à Rua Brandsen n° 805, no bairro “La Boca”, na cidade de Buenos Aires, que fica próximo ao porto. Além do estádio, o bairro possui outra grande atração, o “Caminito”, parte que foi restaurada e tem uma característica peculiar: as casas são contruídas com tábuas, placas e telhas de metal e pintadas com muitas cores.

O maior adversário do Boca Juniors, o River Plate, também teve origem em “La Boca”, mas depois mudou-se para a área mais nobre de Belgrano. A rivalidade originou-se justamente da proximidade entre os dois clubes,mas posteriormente acentuou-se em razão de o River passar a representar a elite portenha, enquanto o Boca popularizou-se como o clube dos operários.

Para chegar ao estádio existem diversas opções, entre elas os ônibus coletivos através das linhas 20, 25, 29, 33, 46, 53, 64 ou 152; de táxi com o valor dependendo do local de partida; e a outra opção é o “Buenos Aires Bus”, que é o ônibus que faz o city tour na capital argentina. E um dos pontos em que o ônibus para é exatamente o estádio. Em frente existem algumas lojas que vendem “souvenirs” do clube. Dentro de “La Bombonera” tem a loja oficial e também o “Museu de la Pasion Boquense”. (Pesquisa: Nilo Dias)

Estádio "La Bombonera". (Foto: Divulgação)
Cemitério do Boca Juniors. (Foto: Divulgação)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Restabelecendo a verdade

O jornalista riograndino, Willy César através de um minucioso trabalho de pesquisa, conta toda a verdade sobre a polêmica história da "Taça Serrada", que está exposta metade na sede do S.C. São Paulo, metade na sede do S.C. Rio Grande.

O assunto já foi tratado neste blog, mas com falhas que agora são esclarecidas. Mesmo passados 70 anos, o acontecimento traz ainda repercussão, inclusive nacional. Recentemente a revista do canal televisivo "ESPN Brasil" publicou matéria a esse respeito, com as fotos que estão inseridas abaixo, e que foram tiradas pelo jornalista Willy César, a quem o colunista titular deste blog, agradece pela valiosa colaboração prestada.

A incrível história da taça serrada

Por Willy Cesar

Jornalista, autor do livro "Um século de futebol popular – A história do Sport Club São Paulo", a ser publicado neste ano de 2011.

Afinal, porque razão o Sport Club São Paulo e o Sport Club Rio Grande tem cada um, em seu acervo de troféus, uma taça cortada ao meio, referente a um torneio jogado em 1940?

Em 2010, quanto perguntamos a pessoas da rua, na cidade do Rio Grande, a resposta é: “o torneio terminou empatado depois de sucessivas partidas e cobranças de pênaltis, sem que se chegasse a um resultado. Então a taça foi dividida entre os dois clubes por uma decisão do árbitro da última partida”. É, também, o que está escrito no site oficial do S.C. São Paulo, na internet.

Setenta anos depois que o São Paulo entregou a metade ao Rio Grande, a história da taça dividida ainda repercute e gera controvérsias. Voltemos ao início desse incrível episódio do futebol rio-grandino, para entendermos melhor o que se passou.

A hegemonia do esporte das multidões estava com o Foot Ball Club Rio-Grandense no final da década de 1930. Os clubes, "Caturrita" (São Paulo) e "Veterano" (Rio Grande) não conseguiam ganhar o campeonato da cidade, e o "Guri Teimoso" (Rio-Grandense) é que seguia sempre para as disputas do Campeonato Estadual de Profissionais (o "Gauchão" de hoje). Em 1938, o Rio-Grandense foi vice-campeão, mas em 1939, arrebatou o título estadual. Quanto aos títulos da cidade, desde 1937, a vitória era colorada.

Que fizeram os dois antigos rivais? Uniram-se para tentar derrubar a invencibilidade do "Guri Teimoso". Surgiu então o "Eixo Rio Grande-São Paulo", isto é, uma união informal extra-campo. Essa expressão nos remetia ao eixo Berlim-Roma-Tóquio, formado antes do início da Segunda Guerra Mundial. O "eixo" dos clubes de Rio Grande apareceu na imprensa por pouco mais de um ano, porque a expressão se tornou politicamente incorreta, quando Alemanha, Itália e Japão mostraram a cara da guerra de conquista, a partir de setembro de 1939.

A expressão foi suprimida, mas a amizade entre "Veteranos" e "Paulistas" continuou. Era evidente que isso incomodava ao Rio-Grandense, mas os três times continuavam jogando entre si. Até que surgiu um rompimento, quando o Rio Grande não compareceu a um jogo contra o Rio-Grandense marcado pela Associação Rio-Grandina de Futebol (ARGF). Na mesma data e hora, o "Veterano" estava em campo, mas para jogar a decisão de um outro torneio com o seu companheiro do eixo. "Que desaforo!", protestaram os "Colorados". Rio Grande e São Paulo romperam com o Rio-Grandense, se afastaram do campeonato e foram punidos com multas pela ARGF.

Resultado: sem os dois amigos do "eixo", o campeonato da cidade perdeu o interesse e ninguém mais foi assistir partidas sem graça. Esses incidentes aconteceram em maio de 1940 e por dois meses, os estádios ficaram às moscas.

A Federação Rio-grandense de Futebol (atual Federação Gaúcha) promoveu uma reconciliação entre os clubes, para salvar as rendas do futebol. A ata da pacificação foi assinada em 25 de julho de 1940, na capital do Estado, pelo presidente da Federação, Cícero Ahrends, e representantes dos clubes. A amizade entre Saõ Paulo e Rio Grande era de tal ordem, que o presidente veterano, J.J. Oliveira Cardoso, foi quem assinou a ata pelo clube caturrita. Nesse documento, as multas aplicadas aos clubes do "eixo" foram anuladas, ficando estabelecido que o campeonato da cidade continuaria, e que haveria um torneio de confraternização entre os três clubes.

A Federação ofereceu a taça para o torneio, que seria disputado em apenas três partidas, por contagem de pontos, em campo neutro, saindo daí o campeão. O calendário foi publicado na ata: 28 de julho, no campo do "Veterano", jogaram São Paulo 4 x 1 Rio-Grandense; 4 de agosto, no campo do Rio-Grandense, Rio Grande 1 x 1 São Paulo; e em 11 de agosto, na "Linha do Parque", Rio Grande 2 x 4 Rio-Grandense.

O torneio foi vencido pelo São Paulo, com três pontos; seguido pelo Rio-Grandense, com dois pontos, e em último, o Rio Grande, com um ponto. A pergunta agora é: qual a necessidade de se jogar outras partidas e/ou recorrer a pênaltis, se houve um vencedor?

O jornal "Rio Grande", de 12 de agosto de 1940, ao fazer a cobertura da terceira e última partida do "torneio da paz", anunciou em sub-título, na página 3:

"São Paulo conquistou a Taça Confraternização"

E no dia 21 de outubro de 1940, voltou a informar que a taça inteirinha fora entregue ao São Paulo, na véspera, no estádio da "Linha do Parque", onde o prefeito de Rio Grande, Roque Aíta Júnior, discursou em homenagem ao campeão do torneio e à pacificação do nosso futebol. No corpo da taça está escrito:

Taça Confraternização
Oferecida pela FRGD
Vencedor S.C. São Paulo
1940

Dois meses depois, a direção do São Paulo decidiu, por sua livre e espontânea vontade, que metade da troféu seria entregue ao seu "arqui-amigo" Rio Grande. Para fazer isso, foi preciso levar o artefato de metal às oficinas da Viação Férrea, onde uma serra elétrica dividiu-a em duas partes iguais, fixando-as sobre bases em madeira. A metade que foi entregue ao clube irmão recebeu a mesma gravação da outra parte, no copo, e uma plaqueta de metal em oferecimuento, onde se lê:

Sport Club São Paulo
ao
Sport Club Rio Grande

A entrega foi feita pela diretoria do São Paulo, na sede do Rio Grande, em 26 de dezembro de 1940. A amizade dos antigos companheiros do "eixo" foi a única razão para o gesto incomum. A decisão tornou esse fato único na história do futebol, até hoje não reproduzido na literatura brasileira sobre o assunto.

É aqui que começa a lenda. Décadas depois, ninguém se lembrava que a motivação foi assim tão simples e singela. A partir dos anos 1960, a imprensa de Rio Grande e da capital, começou a publicar a historinha da taça cortada ao meio, após entrevistar dirigentes dos clubes e esportistas da época. Nota-se que esses se socorreram da linguagem do futebol e de suas práticas, que prevêem partidas extras, ou até a decisão por pênaltis, para se chegar a um vencedor de um torneio. Como a taça fora dividida, “só poderia ter sido por empate”.

Ao agir dessa forma, criaram uma ficção. Teriam resolvido a questão satisfatoriamente se tivessem visitado o acervo da "Bibliotheca Rio-Grandense", e pesquisado nos jornais de 1940. A verdade sempre esteve ali, como ainda está, dormindo nas páginas da história do nosso futebol mais que centenário.

Essa é mais uma lenda urbana, de tantas que ocupam o seu lugar na história. Como toda a lenda é mais atraente e espetacular do que a realidade, e também tem a sua força, é certo que ela continuará a ser reproduzida pelas pessoas na rua. Espero que não mais pela imprensa, que tem a obrigação de informar corretamente à comunidade. A missão do jornalista é estabelecer a verdade. Viva o futebol rio-grandino!

Parte do S.C. Rio Grande.
Parte do S.C. São Paulo.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A agonia de um ex-craque

Sidney Colônia Cunha, o “Chinesinho” foi um dos melhores atacantes que o futebol brasileiro conheceu em todos os tempos. Apesar de baixinho e troncudo, era um jogador técnico que encantava os torcedores por sua habilidade com a bola. Tanto jogava de ponta esquerda como meia-esquerda.

Chinesinho nasceu em Rio Grande (RS) no dia 15 de setembro de 1935. Começou a carreira futebolística no F.B.C. Rio-Grandense de sua cidade natal. Fez tanto sucesso com a camisa colorada riograndina, que logo chamou a atenção dos dirigentes do Internacional, que o levaram para Porto Alegre em 1955.

Entrou logo de cara no time titular, num ataque que tinha Larry, Bodinho e outros grandes jogadores. O time colorado era tão bom que, em 1956, foi a base da seleção gaúcha que representou o Brasil e conquistou o Campeonato Pan-Americano realizado naquele ano no México.

Chinesinho jogou no Internacional até 1958, quando foi contratado pelo Palmeiras. Na época, a transação foi uma das mais caras do futebol brasileiro. Em 1959, formou junto com Valdir, Djalma Santos, Carabina, Aldemar, Geraldo, Zequinha, Julinho Botelho, Nardo, Américo e Romeiro um time inesquecível.

Esse Palmeiras conquistou o campeonato paulista, contra o Santos de Pelé e companhia em 1959, depois de uma final que se transformou em um verdadeiro "supercampeonato", já que foram necessários três jogos emocionantes, sendo decidido somente no terceiro quando o Palmeiras derrotou o Santos por 2 X 1, de virada, no Pacaembu.

O meia-esquerda jogou no Palestra Itália de 1958 a 1962, fez 241 jogos, com 147 vitórias, 46 empates e 48 derrotas. Marcou 55 gols e foi campeão paulista em 1959 e da Taça Brasil, em 1960.

Como jogador do Internacional, e depois do Palmeiras, Chinesinho defendeu várias vezes a Seleção Brasileira. Mas não foi à Copa do Mundo de 1962 no Chile, preterido em favor de Mengálvio, o que para muitos foi uma injustiça. Pelo Brasil, Chinesinho fez 20 jogos, com 15 vitórias, 3 empates e 2 derrotas, tendo assinalado três gols. Foi campeão Pan-Americano, em 1956, da Copa Roca e da Taça do Atlântico, em 1960.

Do Palmeiras, Chinesinho foi para a Itália comprado pelo Modena. Com o dinheiro de sua venda o Palmeiras contratou 13 jogadores formando a base da chamada primeira Academia, nome como ficou conhecido o time pela beleza do futebol que apresentava. E ainda sobrou para reformar o Parque Antártica e construir o Jardim Suspenso no estádio. Depois jogou no Lanerosi em 1962 e vestiu ainda as camisas do Catânia e da Juventus. Ficou no futebol italiano até 1971 quando encerrou a carreira. Em 1985, voltou para o Palmeiras para atuar como técnico, dirigindo a equipe por 14 partidas.

Foi campeão gaucho pelo Internacional em 1955, pan-americano pela seleção brasileira em 1956, campeão da Taça Brasil pelo Palmeiras em 1960 e campeão italiano pela Juventus em 1966.

O ex-craque viveu por vários anos na Praia Grande (SP), mas voltou para seu estado natal, onde mora atualmente na Praia do Cassino, bem perto de sua terra natal, Rio Grande. Quando residia no litoral sul de São Paulo, costumava passar o tempo jogando tranca e dominó com os amigos no calçadão da praia. Após algumas "loiras geladas", corria para um orelhão, ligava, ou apenas fingia que ligava para a Itália e bradava, em alto e bom italiano: "Mi pensione, mi pensione, mi pensione..."

Roberto Baggio, um dos grandes jogadores do futebol italiano contou durante entrevista em seu país, que em 1973 seu pai o levou pela primeira vez, a um estádio de futebol. Era o Estádio Menti, em Vicenza, e fazia muito frio. Era inverno. Um inverno tão rigoroso que quase proibia uma criança de apenas seis anos sair de casa. Mas, para a criança Roberto Baggio, era um sonho poder ver seu ídolo, o craque Chinesinho, jogar, um dos primeiros futebolistas brasileiros a fazer carreira na Itália.

Chinesinho, hoje com 75 anos não é mais nem sombra daquele jogador habilidoso que encantava multidões. Apesar de ter ganho muito dinheiro em sua vitoriosa carreira, neste momento passa por serias dificuldades, tanto econômicas, como de saúde. É portador de uma doença degenerativa e sem cura. Seus amigos na Praia do Cassino fazem bingos e vaquinhas para ajudarem na compra de remédios. Sua situação é parecida com a do clube que o revelou, o F.B.C. Rio-Grandense, que enrolou a bandeira há alguns anos e não consegue retornar à atividade.

A vida de Chinesinho deve ser contada em um livro que está sendo elaborado por dois jornalistas e pesquisadores do futebol de Rio Grande, Kike Fruet e Willy César, por influência do ex-jogador do F.B.C. Rio-Grandense, Paulo Édson, que é um dos diretores do site www.guaipeca.blogger.com.br, que publica fatos relacionados com a memória da cidade de Rio Grande.

Um extenso material já foi conseguido junto à esposa do jogador, na casa em que moram na praia do Cassino. E o próprio Chinesinho, mesmo com as dificuldades impostas pela doença, tem contado interessantes passagens de sua carreira como futebolista. Quem tiver algum material, como fotografias e matérias de jornais, pode encaminhar para o endereço eletrônico www.guaipeca.blogger.com.br/pauloedson. (Texto e Pesquisa: Nilo Dias)

Foto recente de Chinesinho, em uma cadeira de rodas, aos cuidados de sua esposa. (Fonte: Jornal Diário Popular, de Pelotas-RS)

Como surgiu o “drible da vaca"

Vez por outra alguém lembra de indagar sobre como surgiu o termo “drible da vaca”, que denomina uma das jogadas mais bonitas do futebol. Ontem (4) a tarde ouvindo o jogo entre Linense X Osasco, pela Copa São Paulo de Futebol Júnior aconteceu o famoso lance, que originou comentários de parte do narrador e do comentarista do Canal 38 do Sportv.

A jogada também é conhecida por “meia-lua” e “gaúcha”, e sua origem remonta aos primórdios do futebol brasileiro, quando os primeiros campos eram improvisados em locais de pastagem. Era, pois, comum o jogador ter que driblar, não apenas o adversário, mas também a vaca que porventura entrasse nas quatro linhas à procura de grama para comer. O drible da vaca se caracteriza quando o jogador passa a bola por um lado do jogador adversário e vai pelo outro e consegue recuperá-la.

Nos tempos mais modernos a jogada se popularizou graças ao fenomenal ”Mané Garrincha”, que dentro da sua simplicidade de falar, contava que lá na sua terra natal, Pau Grande, no Estado do Rio de Janeiro perdeu a conta das vezes em que teve de driblar vacas, nos improvisados campos abertos de futebol, onde se misturavam os animais e os jogadores.

E isso não é nenhuma novidade. No primeiro jogo de futebol, de forma organizada que se tem notícia no país, disputado na manhã de 14 de abril de 1895, na Várzea do Carmo, no Brás, em São Paulo, entre os funcionários da Companhia de Gás de São Paulo (Gas Company of São Paulo) e da Companhia Ferroviária de São Paulo (São Paulo Railway Company), vencido pelo time da ferrovia por 4 X 2, burros a todo momento entravam no gramado para pastar. Se alguém naquele dia tivesse que driblar um burro, e a imaginação funcionasse, talvez hoje a jogada tivesse outro nome, em vez de “drible da vaca”, “drible do burro”.

Para alguns jornalistas o ex-jogador do Cruzeiro, de Belo Horizonte, Corinthians Paulista e Santo André, Eduardo Amorim, teria sido o inventor da jogada, o que não é verdade. Em quase todos os jogos ele buscava concretizar o lance. Os torcedores entravam em delírio quando Eduardo Amorim, de frente para o adversário lançava a bola pelo lado direito dele e corria na direção do esquerdo. Dava a volta no sujeito, pegava a bola do outro lado e avançava célere rumo ao gol. A imprensa mineira, por isso o apelidou de “Eduardo Rabo de Vaca”.

Eduardo, apesar de ter sido um expert em termos de “drible da vaca“, não foi um daqueles jogadores que se poderia chamar de craque. Ele até viveu um grande momento nos anos 70 e foi convocado uma vez para a Seleção Brasileira. Seu único jogo com a “amarelinha” foi num amistoso contra o Milan, na Itália. O Brasil venceu por 3 X 0.

Existem vários tipos de dribles, alguns até mais bonitos e difíceis que o da “vaca”, mas nenhum teve e tem a sua popularidade. O “drible da vaca” mais famoso que se tem noticia, foi aquele que Pelé aplicou em Mazurkievicz, goleiro do Uruguai, na Copa do Mundo de 1970, no México. Foi um “drible” com requinte especial, Pelé nem tocou na bola, enganou o goleiro com uma ginga de corpo e chutou. Pena que essa verdadeira “obra prima” não tenha sido transformada em gol. Caprichosa e injustamente, a bola se perdeu rente à trave. O lance é lembrado até hoje e costuma provocar assombro em quem o revê na TV.

Outra magistral execução do “drible da vaca” foi feita por Dener, morto em acidente automobilístico em 1994, aos 23 anos. Em 1991, no seu primeiro ano como jogador profissional, jogando pela Portuguesa de Desportos humilhou toda a defesa da Internacional de Limeira (SP), em um jogo pelo Campeonato Paulista.

Ele recebeu a bola no meio-campo. Sem muito esforço, foi tirando um a um de seu caminho até encarar o último zagueiro. Aplicou-lhe um “drible da vaca” e então só sobrou o goleiro, que resolveu sair como um maluco na sua frente. Dener tocou por cobertura, e marcou um golaço.

A última lembrança de um gol assinalado após um “drible da vaca” foi do atacante Leandro Damião do Internacional, de Porto Alegre, no primeiro jogo da decisão da Copa Libertadores da América, ano passado no México. Ele recebeu a bola no meio do campo, deu o “drible da vaca” no zagueiro, deixando-o para trás e arrancou em grande velocidade. Entrou na área e bateu forte na bola. Ela ainda desviou, pela violência do chute e tentativa de defesa do goleiro, mas morreu no fundo da rede.

A vaca também tem seu nome ligado à premiação dada aos jogadores de futebol. Um dos primeiros clubes a premiar seus atletas foi o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. E como o carioca sempre se destacou pela criatividade, misturou futebol e jogo do bicho. Até o ano de 1920, os jogadores recebiam doações vindas de arrecadações voluntárias. Se o montante conseguido fosse cinco mil réis, por exemplo, o “bicho” era o cachorro. Agora, para conseguir 25 mil réis, correspondente ao grupo da vaca, não era fácil. Tinha que ter muita gente colocando a mão no bolso.

Era, então, necessário “fazer uma vaca”, no sentido de arrecadar mais dinheiro. E virou “fazer uma vaquinha”, pelo costume brasileiro de privilegiar o diminutivo. E não demorou para que a expressão se espalhasse e viesse a designar também outras coisas fora do futebol. Por exemplo, para ajudar alguém em necessidade, é comum se fazer “uma vaquinha”.

Depois que o futebol se profissionalizou, o “bicho” saiu da clandestinidade e tornou-se prêmio adicional dado aos jogadores, quando de vitórias importantes e títulos conquistados.

Por fim, a pergunta: quem denominou a jogada de “drible da vaca” e quem foi o primeiro a realizá-la? Não tem resposta. O termo se perde no tempo e certamente veio da inspiração popular, dos próprios “peladeiros” que se divertiam em campos abertos de futebol, dividindo-os com vacas e outros animais. E acabou se espalhando por todo o país e até fora dele.

Eu mesmo, quando de pesquisa em jornais para um livro que estou escrevendo sobre o futebol de São Gabriel (RS), encontrei citação ao lance, em jornais de 1931. Isso, sem falar que nos meus tempos de "guri", lá no Sul dei e levei muito "drible da vaca". Então, é impossível se determinar quem batizou a jogada com tão curioso nome. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)