Em 1917, quando Sindelar tinha 14 anos, veio a I Guerra Mundial e seu pai morreu em combate. Teve então que começar a trabalhar como aprendiz de serralheiro para sustentar a mãe e três irmãs. Sua única diversão era jogar futebol no asfalto das ruas vienenses. Como os Sindelar não eram muito abastados, o futuro craque e os seus amigos não jogavam com bola de couro, e sim com uma bola feita de trapos.
Aos 16 anos, Sindelar foi descoberto por um olheiro que o levou para jogar nos juvenis do ASV Hertha, onde ele teve as primeiras experiências em uma equipe organizada. Após mostrar um alto rendimento nas categorias de base, fez a sua estréia no elenco principal quando tinha 18 anos.
Em 1923, sofreu uma séria lesão em um dos joelhos, fora dos gramados, e correu o risco de não poder mais jogar futebol. Graças ao famoso médico Hanz Spitzy, que o operou, o craque conseguiu se recuperar e dar continuidade à sua carreira. Um ano depois da lesão, o atacante deixou o Hertha, que foi rebaixado e em conseqüência passava por sérias dificuldades financeiras, sendo obrigado a vender seus principais jogadores.
Sindelar decidiu permanecer em Viena e em 1924 assinou contrato com o Wiener Amateure, o “time das camisas violetas”, que deu origem ao Áustria Viena, e que havia acabado de ser campeão nacional. Era um clube ligado à classe média judaica.
E logo vieram os títulos. Em 1925, o atacante conquistou o seu primeiro triunfo futebolístico, a Copa da Áustria, além de ter ficado com o vice no Campeonato Austríaco. Em 1926, com o fim do amadorismo o clube mudou a denominação para Áustria Viena e ganhou a copa austríaca e o campeonato nacional.
Em 1933, Sindelar conduziu praticamente sozinho o seu clube ao título da Copa da Europa Central, precursora da Liga dos Campeões da UEFA. Na final contra a Internazionale de Milão, que contava com ninguém menos do que Giuseppe Meazza em campo, o atacante fez os dois gols na vitória por 2 X 1 no jogo de ida e também balançou as redes no jogo de volta, vencido pela sua equipe por 1 X 0.
Depois de vencer a Copa da Áustria em 1935 e 1936, o Áustria Viena conquistou mais uma Copa da Europa Central em 1936. Para chegar ao seu segundo título continental em quatro anos, a equipe venceu o Sparta de Praga na final.
Sindelar era alto e magro, tinha 1,75 metro de altura e 76 quilos. Seu estilo de jogo era leve e elegante, sem usar o corpo. Por isso ganhou durante a Copa de 1934, o apelido de “Der Papierene”, que quer dizer “feito de papel”. É considerado o maior esportista austríaco do século XX. Era um centroavante goleador que também voltava para buscar jogo e puxar os marcadores para fora da área, tabelando com os meias.
O incrível é que detestava treinar, adorava fumar, beber, jogar baralho e se divertir com prostitutas nos bordéis. Apesar disso, foi um grande futebolista. Quando alguém lhe perguntava como conseguia ser um atleta com tantos vícios, costumava dizer: “Talvez por isso tudo. Só joga bem quem está feliz”.
Em 1926 Sindelar foi convocado pela primeira vez para jogar na seleção de seu país. No jogo de estréia contra a antiga Tchecoslováquia, tinha 23 anos e fez o gol da vitória por 2 X 1. Nos jogos seguintes, contra Suíça e Suécia, o atacante voltou a deixar a sua marca.
Depois de uma derrota para um selecionado do sul da Alemanha, o jogador ficou 14 jogos sem ser convocado pelo técnico Hugo Meisl, que por algum motivo não gostava da habilidade do atacante. Três anos depois, em 1931, voltou a ser chamado, principalmente devido à pressão dos torcedores e da imprensa, que exigiam a sua convocação.
Logo no primeiro jogo após o retorno de Sindelar, os austríacos conseguiram uma surpreendente goleada por 5 X 0 sobre a Escócia em uma partida que marcou a primeira derrota dos escoceses contra seleções de fora do Reino Unido. Foi o início de uma seqüência de vitórias sem precedentes e o nascimento do "Time Maravilha" austríaco.
Depois disso, a seleção austríaca conseguiu boas vitórias contra o Império Alemão, a Suíça, a França e a Bélgica. Mas o auge de Sindelar e dos seus colegas de selecionado aconteceu no dia 24 de abril de 1932 com a goleada de 8 X 2 sobre a Hungria. O craque de 29 anos marcou três gols e deu o passe para os outros cinco. No mesmo ano, a Áustria venceu a Copa Européia de Seleções (Coapa Doutor Gero), um torneio precursor da Eurocopa.
O "Time Maravilha" jogou 16 partidas entre 1930 e 1933, venceu 13, empatou duas e perdeu apenas para a Inglaterra, em Stamford Bridge, por 4 X 3, em dezembro de 1932. Aquela foi a primeira vez em que os ingleses levaram mais de um gol dentro da sua ilha.
Nesse jogo Sindelar marcou um gol maravilhoso, uma verdadeira obra de arte. “Ele pegou a bola no meio do campo e disparou com a sua incomparável elegância, driblando tudo o que aparecia pela frente, e concluiu para o fundo do gol." Foi assim que o árbitro belga John Langenus descreveu em sua súmula o gol de Matthias Sindelar.
Dias depois, em Viena, veio a desforra, 2 X 1. E entre as vitórias obtidas pela seleção da Áustria ocorreram algumas goleadas: 4 X 0 na Franca, 5 X 0 na Alemanha, 6X 1 na Bélgica, 8 X 2 na Hungria e 8 X 1 na Suíça.
