Nelson trabalhou alguns meses no jornal “O Tempo”. Joffre foi para “A Nota”, onde estava o outro irmão, Milton. Com a ajuda de Mário Martins e o beneplácito de Roberto Marinho, Mário Filho lançou o seu jornal, “Mundo Esportivo”, justamente no fim do campeonato de futebol. Sem ter assunto, inventaram algo que seria uma mina de dinheiro anos depois: o concurso das escolas de samba.
Em 1932, Nelson Rodrigues teve sua carteira assinada em “O Globo”, um ano após começar a trabalhar naquele diário, com um ordenado de 500 mil réis por mês. Entregava todo o dinheiro para sua mãe e recebia uns trocados de volta para comprar seus cigarros (média de quatro carteiras por dia).
Para arranjar mais algum dinheiro, trabalhou como redator da firma “Ponce & Kamp; Irmão”, distribuidora no Rio dos filmes da “RKO Radio Pictures”. Criava textos para os anúncios dos filmes nos jornais.
Como cronista esportivo, Nelson escreveu textos antológicos sobre o Fluminense Football Club, para quem torcia fervorosamente. A maioria dos textos foram publicados no “Jornal dos Sports“. Junto com seu irmão, o jornalista Mário Filho, Nelson foi fundamental para que o clássico Fla-Flu conquistasse o prestígio que tem hoje, de ser um dos grandes clássicos do futebol brasileiro.
Nelson Rodrigues criou e evocou personagens fictícios como “Gravatinha” e “Sobrenatural de Almeida”, para elaborar textos a respeito dos acontecimentos esportivos relacionados ao clube do coração.
Nesse meio tempo estava apaixonado por Loreta Carbonell uma argentina de olhos azuis, bailarina do Municipal e por Eros Volúsia, filha da poetisa Gilka Machado, também bailarina, uma linda e jovem morena. Dividia com seu irmão Joffre a paixão por ela. Depois vieram Clélia, uma estudante de Copacabana e Alice, professora de Ipanema.
A tosse seca e uma febre baixa, porém persistente, ao por do sol, foram os avisos dados a Nelson, além de sua magreza. Sua irmã Stella, já médica, arranjou uma consulta. Foi diagnosticada a tuberculose pulmonar, o grande fantasma do ano de 1934. Por falta de um diagnóstico precoce, o autor já havia, com apenas 21 anos, arrancado todos os dentes e posto dentadura, numa tentativa de debelar a febre que insistia em não ir embora.
Foi, então, para Campos do Jordão (SP), local recomendado para tratamento, sozinho e sem saber se voltaria. Foi a primeira de uma série de seis internações. Roberto Marinho, sabendo das dificuldades da família, continuou pagando seu ordenado normalmente. Nelson passou 14 meses no “Sanatórinho”, de abril de 1934 a junho de 1935.
Nelson pediu ao secretário do jornal “O Globo” que o transferisse da página de esportes para a de cultura. Queria escrever sobre ópera. Com a ajuda de Roberto Marinho conseguiu a transferência e começou arrasando com "Esmeralda", ópera brasileira do compositor Carlos de Mesquita. Foi sua única incursão nessa área.
Em abril de 1936, a terrível doença atacou seu irmão Joffre, com 21 anos, que foi levado para o Sanatório, em Correias (RJ). Nelson ficou ao seu lado durante sete meses. No dia 16 de dezembro de 1936, ele faleceu.
Em 1937 a redação do jornal só tinha homens. Após muita conversa Roberto Marinho concordou em contratar Elza Bretanha, apadrinhada do diretor administrativo, como secretária de Henrique Tavares, gerente de “O Globo Juvenil”. Voltando de sua segunda estada em Campos de Jordão, Nelson foi informado da presença de Elza, 19 anos, moradora do Estácio e dura na queda. Mas ele sentenciou, essa está no papo. Errou.
Nelson se aproximou de Elza, expôs sua situação de penúria de saúde e financeira, e falou em casamento. Consultada sua família, não encontrou objeção. Afinal, já tinha 25 anos. A mãe de Elza, dona Concetta, siciliana das boas, quase teve um ataque, tendo a honra de ter sido acompanhada nisso por Roberto Marinho. Ele disse a Elza: "Está sabendo que vai se casar com um rapaz muito inteligente e de grande talento, mas pobre, absolutamente preguiçoso e doente? Sua mãe está coberta de razão!"
Mesmo assim marcaram para se casar no dia do aniversário de Elza, 8 de maio de 1939. Se fosse preciso, fugiriam. Porém, em 13 de maio, mandou para a noiva um recado que dizia: "Amor, estou com a alma cheia de pressentimentos tristes". Era a tuberculose que o atacava novamente.
Nos quatro meses em que ficou internado, Nelson mostrou seu lado ciumento. Vivia atormentado com isso e, na volta, acabou desfazendo o noivado. Mas o coração falou mais forte do que o infundado ciúme e marcaram novamente o casamento, contrariando a mãe da noiva e o patrão de ambos.
No dia 29 de abril de 1940, sem externar qualquer anormalidade, Elza saiu para trabalhar, foi para a casa de uma amiga onde trocou de roupa e casou-se no civil, diante do juiz.
Os irmãos de Elza ficaram sabendo e falaram até em matá-lo. Nelson, com a alma leve, alugou uma casinha no Engenho Novo. Era sua volta ao subúrbio. Compraram móveis de segunda mão e Mário, o irmão, lhe deu de presente a cama de casal e a penteadeira.
Finalmente dona Concetta deu o "de acordo" e o casamento religioso se realizou, em 17 de maio, após Nelson, com quase 28 anos, ter sido batizado, ter feito a primeira comunhão e estudado o catecismo, como manda a Igreja Católica.
Após seis meses de casamento, certa manhã Nelson acordou e comunicou a Elza que estava cego. Não enxergava nada. Descobriu, indo ao médico, que se tratava de uma seqüela da tuberculose. Tomou muito antiinflamatório, melhorou, mas 30% de sua visão estava perdida para sempre, nos dois olhos. Apesar do estado de penúria em que se encontravam, Nelson pediu a Elza que deixasse o emprego quando se casassem.
Logo que pode comprou um telefone e ligava para ela de hora em hora. Saudades ou ciúme? Nelson procurava uma saída para seu aperto financeiro. Elza estava grávida e seu salário estava estagnado nos 500 mil réis mensais. Um dia, ao passar em frente ao Teatro Rival, viu uma enorme fila que se formava para assistir "A família Lerolero", de R. Magalhães Júnior. Alguém comentou: "Esta chanchada está rendendo os tubos!" Uma luz se acendeu na cabeça de Nelson. “Por que não escrever teatro?”
Em seguida nasceu Joffre, o seu primeiro filho. E Nelson, por ordens médicas, não podia ficar perto do filho. Para piorar as coisas, descobriu que também tinha uma úlcera do duodeno. O médico prescreveu rígido regime alimentar e mandou que não tomasse mais café e parasse de fumar, coisa que nunca fez.
Depois de muito trabalho conseguiu levar à cena a peça teatral “A mulher sem pecado”, com direção de Rodolfo Mayer, no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro. Lá ficou por duas semanas e não teve repercussão nenhuma perante o público. Alguns críticos e amigos elogiaram, e isso bastou ao autor.
Em fevereiro de 1945 foi surpreendido por uma proposta inacreditável: Freddy Chateaubriand, lhe convidou para trabalhar na revista “O Cruzeiro”, com salário de cinco contos de réis, mais de sete vezes o que lhe pagava Roberto Marinho.
Nelson só não disse o “sim” na hora, porque pediu para falar antes com o doutor Roberto, a quem devia favores. Esse não se opôs, como ainda desejou-lhe boa sorte e deu-lhe dez mil cruzeiros. Nelson foi para seu novo emprego: diretor de redação das revistas “Detetive” e “O Guri”.
Em março de 1945 foi atacado, novamente, pela tuberculose. O ano anterior havia sido ótimo: além do lançamento em livro do “Vestido de noiva”, ele viu seu filho crescer com saúde e Elza esperava um novo filho. Resolveram ir todos para Campos de Jordão, inclusive a sogra, dona Concetta. Depois de uma semana viram que aquilo não fazia sentido e a família retornou. Em junho teve alta e, face à proximidade do parto de sua mulher, voltou correndo para o Rio. Nasceu, então, Nelsinho.
Uma mulher chamou a atenção de Nelsom nas coxias do Teatro Phoenix, quando da encenação de “Anjo negro”. Era Eleonor Bruno, conhecida como “Nonoca”, linda "mingnonne", tímida, recatada e soprano lírico, que estava ali para tomar conta de sua filha de apenas 13 anos, Nicete, que estreava como atriz. Embora nunca tivesse reclamado, seu casamento não ia bem, por isso Nelson teve um caso com “Nonoca”, sob às bênçãos da família dela.
Alugou um pequeno apartamento em Copacabana, em sociedade com o amigo Pompeu de Souza, para servir-lhes de "garçonnière", até que num dia de 1950 sua esposa Elza bateu na porta, fez um escândalo e ele voltou com o rabo entre as pernas para casa. Seu romance com “Nonoca” terminou ali.
Em 1949 Freddy Chateaubriand foi comandar o jornal "Diário da Noite" e levou Nelson consigo. Para trás ficou a personagem “Suzana Flag”, que havia rendido muito sucesso e dinheiro. O autor não agüentava mais. Em seu lugar surgiu “Myrna”, a nova máscara feminina do biografado. A diferença era que “Myrna” respondia a cartas de leitoras.
Em 1950 Nelson deu adeus a Freddy Chateaubriand e aos "Diários Associados" e ficou esperando convites de outros jornais. Ficou um ano esperando. Nesse período, salvaram a família as economias de Elza e um "bico" no “Jornal dos Sports”, de seu irmão Mário Filho. No ano seguinte saiu do buraco e foi para o jornal “Última Hora”, com salário inicial de 10 mil cruzeiros, considerado não tão ruim, tendo em vista seu baixíssimo prestígio naquela época. (Pesquisa: Nilo Dias)
Nelson Rodrigues foi chamado de "anjo pornográfico".