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quarta-feira, 12 de junho de 2019

Um time centenário no Acre

O Rio Branco Football Club, da cidade de Rio Branco, no Estado do Acre, é mais um clube a fazer parte da seleta galeria de agremiações centenárias do futebol brasileiro. Foi fundado na noite do dia 8 de junho de 1919, em uma reunião ocorrida no “Eden Cine Theatro” (no local do “Cine Teatro Recreio”), na Rua 17 de Novembro no 2° Distrito da cidade de Rio Branco.

A reunião foi convocada pelo advogado amazonense doutor Luiz Mestrinho Filho, o qual estava na cidade para presidir uma comissão de inquérito na agência dos Correios. 

Compareceram ao todo 16 pessoas, entre as quais Nathaniel de Albuquerque, Conrado Fleury, José Francisco de Melo, Mário de Oliveira, Luiz Mestrinho Filho, Alfredo Ferreira Gomes, Manoel Vasconcelos, Francisco Lima e Silva, Pedro de Castro Feitosa, Jayme Plácido de Paiva e Melo, que assinaram a primeira ata do clube.

No mesmo dia da fundação, foram sugeridos por Luiz Mestrinho o nome do clube (em louvor à cidade e ao Barão do Rio Branco) e as cores vermelho e branco, presentes no escudo, uniforme e bandeira oficial.

Após eleita a primeira diretoria, o clube recebeu a doação de um terreno no local onde hoje se situa a “Praça Plácido de Castro”, doação do prefeito, doutor Augusto Monteiro.

O terreno doado consistia em uma área de mata nativa, que em poucos dias foi substituída por um campo de terra batida para, mais tarde, tornar-se a sede social do clube.

A primeira partida oficial disputada pelo Rio Branco ocorreu no dia 14 de julho de 1919, com vitória por 5 X 0 sobre o Militar Foot-Ball Club, equipe da Polícia Militar do Estado.

O primeiro uniforme do Rio Branco era totalmente branco, com uma grande estrela vermelha no local do distintivo da camisa.

No dia 18 de julho de 1920, o Rio Branco fez a sua primeira partida intermunicipal, com vitória sobre a Seleção de Xapuri pelo placar de 1 X 0.

Em seu primeiro ano de existência, o Rio Branco disputou alguns amistosos e o primeiro torneio da Liga Acreana de Esportes Terrestres (LAET) e venceu todos os jogos, faturando o primeiro título do Estado.

Os times existentes à época promoviam diversos amistosos, cultuando uma rivalidade saudável e unia uma frente única para derrotar aquela equipe poderosa no futebol e pela composição de seus membros influentes na vida social, administrativa e política territorial, como advogados, promotores, juízes, desembargadores, médicos, militares, delegados, escritores, altos comerciantes.

A mascote é a “Estrela Altaneira”, símbolo da ”Revolução Acriana”, transformada em segundo escudo do clube é usada frequentemente em seu uniforme.

As três estrelas vermelhas representam o tricampeonato do “Copão da Amazônia”. A estrela dourada representa o título da “Copa Norte de 1997”.

Chamado pelos torcedores de “O Mais Querido” manda seus jogos na “Arena da Floresta”, com capacidade para 20 mil torcedores. Suas principais conquistas consistem em 47 títulos do “Campeonato Acreano”, três ”Copas da Amazônia” e uma da “Copa Norte”, de forma invicta no ano de 1997.

Este último garantiu ao clube uma vaga na “Copa Conmebol”, tornando-se o primeiro clube da Região Norte do Brasil a disputar uma competição oficial sul-americana.

O ano de 1919 marcou o início dos campeonatos no Acre. Promoveu a disputa de um torneio, a “Liga Torneio Initium”, no dia 9 de julho daquele ano. O Rio Branco sagrou-se campeão, vencendo o Acreano por 10 X 0 e o Ypiranga por 2 X 0.

No dia 1 de agosto de 1919, teve início o primeiro campeonato oficial da LAET, disputado em dois turnos. No primeiro, o Rio Branco goleou o Acreano por 4 X 0 e o Ypiranga por 8 X 0. No segundo turno, 3 X 0 no Acreano e 1 X 0 no Ypiranga.

O time do Rio Branco que foi campeão da competição estava assim formado: Alfredo - Zé Bezerra e Olavo. Nobre - Bandeira e Joca. Fortenelle – Gaston – Mello - Jacob e Carlos.

Em 1920, o Rio Branco continuou a colher louros no futebol, mas conheceu no último jogo do ano o amargo sabor da derrota que tanto impunha aos rivais.

Infelizmente, o Delegado Chiquinho pôde somente registrar quatro jogos estrelados em 1921, pelo campeonato, ainda os três clubes, mas é fácil saber que o “Estrelão” faturou o bicampeonato, aferindo-se pelos escores do primeiro turno:

No dia 1 de outubro de 1921, o Rio Branco disputou um amistoso para a entrega das faixas de campeão, contra um Combinado Acreano-Ypiranga. Vitória do “Estrelão” pelo placar de 3 X 2.

No ano de 1921 foi criada a “Liga Acreana de Esportes Terrestres “ (LAET). O Rio Branco foi um de seus fundadores, juntamente com o Acreano Sport CIub e o Ypiranga Sport Club.

Entre 1922 e 1927, a LAET não organizou o seu campeonato. Os clubes acreanos tiveram de se contentar com amistosos. Somente em 1928 houve um novo campeonato, faturado pelo Rio Branco sobre o Ypiranga.

Em 1929, o Rio Branco foi campeão, após o fato rompeu relações com a mentora e decidiu não mais participar dos torneios. O retorno para competições só aconteceu em 1935, com mais um título estadual, desta vez em cima do América.

Dez anos depois de sua fundação, o Rio Branco inaugurou o seu estádio próprio no dia 8 de junho de 1929, em um terreno oferecido pelo fundador e chefe de Polícia, José Francisco de Melo e a sua esposa, dona Isaura Parente.

O estádio foi batizado de “Stadium José de Melo”, e está localizado na Avenida Ceará. É lá onde a sede do clube se encontra até os dias de hoje.

Nas décadas de 30 e 40, o Rio Branco reinou absoluto no futebol do Acre, conquistando nada menos do que 12 títulos estaduais, entre 1935 e 1947, sendo 11 deles organizados pela LAET e o primeiro campeonato organizado pela Federação Acreana de Desportos (FAD) (criada em 24 de janeiro de 1947). Nos anos 1950, o clube faturou mais cinco títulos estaduais.

Entre 1964 e 1970, o Rio Branco amargou um jejum de títulos, algo incomum para um clube acostumado com conquistas. A torcida teve que esperar até 1971 para comemorar outro campeonato.

Sem poder participar de campeonatos nacionais e de categoria profissional devido a não serem regularizadas profissionalmente, as federações de Acre, Amapá, Rondônia e Roraima criaram o “Torneio Integração”, mais conhecido como “Copão da Amazônia”.

A primeira edição aconteceu em 1975 em Porto Velho. O Rio Branco debutou na competição na sua segunda edição, e já faturando o título diante do Baré (RR) no “Estádio José de Melo”.

Em 1977, em Macapá, o “Estrelão” buscou o bicampeonato, mas perdeu a grande final para o Moto Clube (RO) nos pênaltis, depois de um empate em 1 X 1 no tempo normal.

Em 1978, nova derrota na final para o Moto Clube, desta vez por 1 X 0 em Boa Vista. A revanche aconteceu em 1979, na casa do adversário, com um 2 X 1 em pleno “Estádio Aluízio Ferreira”, faturando o bicampeonato.

O tricampeonato só aconteceu 5 anos depois, em 1984, depois de vencer o Baré por 2 X 0 no dia 23 de Outubro no “Estádio Glicério Marques”, em Macapá.

Em 1986, novo vice-campeonato: Depois de dois empates (1 X 1 em Rio Branco e 2 X 2 em Macapá), o título foi decidido em um terceiro jogo, com vitória do Trem (AP) por 2 X 1, na capital amapaense.

O torneio deixou de existir após a profissionalização das federações e dos clubes. O Rio Branco é o segundo maior vencedor do “Copão”, atrás apenas do Trem, que faturou cinco títulos.

Após a implantação do profissionalismo no futebol acreano em 1989, o Rio Branco consolidou seu domínio local, conquistando, até hoje, 13 títulos estaduais. Em 1989, o “Estrelão” estreou em competições nacionais (representando o futebol do Estado pela primeira vez) disputando a “Série B do Campeonato Brasileiro”.

O clube foi a grande surpresa da competição, sendo eliminado apenas nas oitavas-de-final diante do Ceará, terminando entre os 16 primeiros e garantindo vaga na “Série B” de 1990.

O ano de 1997 ficou marcado como o ano mais importante da história do clube, com a principal conquista da sua história: a “Copa Norte”. Após estrear na competição com um empate sem gols com o Ji-Paraná (RO), o Rio Branco passou por Baré (RR) (1 X 0), Independência (1 X 0) e goleou o Nacional (AM) (4 X 1), garantindo o primeiro lugar em seu grupo e, consequentemente, a vaga para a final.

O adversário da decisão foi o Remo. No primeiro jogo, no “José de Melo”, um empate sem gols. Na decisão em Belém, o Rio Branco não tomou conhecimentos do time mandante e venceu o Remo em pleno “Estádio Mangueirão” pelo placar de 2 X 1, com gols de Palmiro e Vinícius.

Pelo título alcançado ganhou a alcunha de "O Melhor do Norte". A conquista do título regional permitiu que o Rio Branco fosse a primeira equipe da região Norte a disputar uma competição sul-americana: a “Copa Conmebol”.

No dia 27 de agosto, o clube estreou na Copa Conmebol, um marco importante no futebol da região. O jogo era na Colômbia, contra o Deportes Tolima. Em um jogo bastante equilibrado e pegado, o “Estrelão” saiu da Colômbia com uma derrota por 2 X 1.

No jogo de volta, dia 3 de setembro, com o “Estádio José de Melo” lotado, o Rio Branco foi em busca do resultado. e a estrela do atacante Gomes brilhou. O atacante marcou o único gol da partida, aos 41' do segundo tempo, levando o jogo para os pênaltis.

Nas penalidades, o “Estrelão” saiu derrotado por 3 X 1, com Hélio, Vinícius e Testinha perdendo as suas cobranças, fechando assim a sua única participação na competição.

Também em 1997, o clube conquistou o Campeonato Acreano. Depois, pela “Copa do Brasil” eliminou o Goiás (venceu o primeiro jogo no “José de Melo” por 1 X 0, e no segundo jogo perdeu por 2 X 1 no “Serra Dourada”, conseguindo a classificação para a próxima fase) e venceu o Flamengo (2 X 1 em casa), e terminou na oitava colocação na classificação geral da competição, sua melhor participação.

Depois do auge, veio a queda. O Rio Branco passou por uma grande reformulação e não conseguiu forças para continuar crescendo no cenário nacional. O clube acumulou dívidas e não conseguia repetir os bons resultados em competições nacionais, chegando a desistir de participar das edições de 2002 e 2005 da Série C por motivos financeiros.

Somente a partir de 2002, o ”Estrelão” voltou a se impor na região. Entre 2002 e 2005 sagrou-se tetracampeão estadual, o primeiro e único desde a profissionalização do futebol local. Em 2004, o clube deu o primeiro passo na tentativa de voltar à Série B.

Em 2007, conquistou o Campeonato Acreano com uma campanha impecável, vencendo os dois turnos de forma invicta.

Entre 2007 e 2009, o clube fez belíssimas campanhas pela Série C do Campeonato Brasileiro. Em 2009, novamente em busca do acesso à Série B, o clube fez parcerias com o Atlético Paranaense e com a empresa inglesa fornecedora de materiais esportivos, a Umbro. Mas os esforços não resultaram nos objetivos.

O “Estrelão” começou bem a temporada 2010, conquistando seu 41º título estadual e a vaga para a Copa do Brasil 2011. Entretanto, o clube não fez uma boa campanha no Campeonato Brasileiro.

Em 2011, o Rio Branco entrou em campo para jogar três torneios: Copa do Brasil, Campeonato Acreano e a Série C do Brasileirão. No Estadual, a equipe conquistou o bicampeonato. Pela Copa do Brasil, o Rio Branco enfrentou o seu antigo parceiro, o Atlético (PR), na primeira fase da competição e foi eliminado.

Na Série C esteve no Grupo A, ao lado de Águia de Marabá (PA), Araguaína (TO), Luverdense (MT) e Paysandu (PA). Mais uma vez, o clube teve altos e baixos na competição. Desta vez, porém, a reação foi no tempo certo.

O clube acabou vencendo todos os jogos do segundo turno e terminou na primeira colocação do Grupo A, com 16 pontos, se classificando para a segunda fase, onde formou um quadrangular com Paysandu, América-RN e CRB-AL. No entanto, começou ali uma briga judicial intensa e que resultou na maior crise da história do clube.

No início da Série C 2011, a Procuradoria da Defesa do Consumidor do Acre (PROCON-AC), órgão ligado ao Ministério Público, decidiu vetar a “Arena da Floresta” e todos os demais estádios acreanos para jogos oficiais, fazendo com que o “Estrelão” ficasse incapacitado de realizar jogos com a presença de seus torcedores.

Com um pedido de efeito suspensivo, o “Estrelão” conseguiu continuar no torneio até que o caso fosse julgado pelo Pleno do STJD, a última instância da esfera esportiva. Por 5 votos a 1, a decisão de exclusão da equipe foi decretada e, mesmo com três jogos ainda por fazer, o Rio Branco foi retirado da competição.

Começava aí uma extensa briga judicial. Graças a uma ação da Procuradoria Geral do Estado do Acre protocolada nos Tribunais de Justiça do Acre(TJ-AC) e do Rio de Janeiro (TJ-RJ) que revogou a decisão da Justiça Desportiva, em 17 de outubro de 2011 a CBF anunciou a volta do Rio Branco à Série C.

A entidade recorreu e, quatro dias depois, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu suspender os jogos do Grupo E até que o caso fosse julgado. No entanto, em 26 de outubro de 2011, o Rio Branco abdicou de sua vaga na segunda fase e aceitou a sua exclusão do torneio. Um dia depois, a CBF anunciou que o Luverdense (MT), terceiro colocado do Grupo A, substituiria o “Estrelão” na segunda fase e faria os 6 jogos determinados.

O ano de 2012 começou de maneira ruim para o clube. Com uma nova diretoria passou por grandes reformulações no elenco e se preparava para a disputa da Copa do Brasil 2012, onde enfrentaria o Cruzeiro (MG).

O que ninguém esperava é que o Estado do Acre passasse pela maior enchente de sua história, onde mais de 140 mil pessoas foram afetadas pelas águas do Rio Acre. O grande volume de chuvas na região prejudicou o planejamento do Rio Branco, onde muitos treinos acabaram por ser cancelados.

Sem jogar oficialmente por mais de cinco meses, a falta de ritmo também prejudicou o elenco. O resultado não poderia ser pior: Jogando em casa, o “Estrelão” levou a maior goleada de sua história e a primeira dentro de casa, perdendo para o clube mineiro por 6 X 0 e encerrando a sua pior participação na “Copa do Brasil”.

Com a grave crise devido à exclusão da Série C, o Rio Branco só voltou às competições no ano de 2013.Na “Série C”, em 20 jogos, o clube venceu apenas duas partidas e foi derrotado 18 vezes, realizando a sua pior participação e sendo rebaixado para a “Série D” de 2014. 

No "Campeonato Brasileiro da Série D", que disputou seis vezes, a melhor campanha foi em 2014, quando alcançou a nona colocação. 

Mesmo tendo chegado aos 100 anos de vida, o "Estrelão" passa por um momento delicado dentro e fora de campo, sem conquistas no ano do Centenário, eliminado precocemente do "Campeonato Brasileiro da Série D" e fora da "Copa Verde" – a diretoria decidiu pela desistência da disputa. (Pesquisa: Nilo Dias)

Equipe de 1989 que conseguiu o acesso a Série B.