Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Os 100 anos do "Azulão" alagoano

O Centro Sportivo Alagoano ou CSA, de Maceió (AL), recordista de títulos no futebol alagoano, completou 100 anos no último dia 7 de setembro. O clube foi fundado em 1913 por um grupo de desportistas liderados por Jonas Oliveira, que se reuniu na Sociedade Perseverança e Auxiliar dos Empregados no Comércio.

Quando criado o clube se chamava Centro Sportivo Sete de Setembro, em razão do 7 de setembro ter ido a data da fundação. Sua primeira sede foi na Sociedade Perseverança. Depois o clube mudou-se para uma das salas do Palácio Velho, antigo Palácio do Governo. Em 1915, nova mudança, dessa feita para um prédio na Praça da Independência, antiga Praça da Cadeia, pertencente ao “Tiro de Guerra”.

Nesse local o clube realizou seus primeiros treinos e jogos. O primeiro adversário foi uma equipe de jovens alagoanos que estudavam em Recife. Vitória de 3 X 0.

Nesse ano de 1915 aconteceu a primeira mudança de nome. O clube deixou de ser Centro Sportivo Sete de Setembro, passando a se chamar Centro Sportivo Floriano Peixoto, uma  homenagem a José Floriano Peixoto, atleta alagoano de destaque nacional.  Em 13 de abril de 1918, ocorreu a mudança definitiva de nome. Em Assembléia Geral os sócios aceitaram que o clube passasse a se chamar Centro Sportivo Alagoano.

O primeiro estádio do CSA foi o “Mutange”, inaugurado em 15 de novembro de 1922, com o dono da casa enfrentando e vencendo a equipe pernambucana do Centro Sportivo do Peréz, por 3 X 0. O jogador Odulfo fez o primeiro gol no estádio. O CSA jogou com Mendes – Rosalvo e Ilario - Campelo – Mimi e Lindolfo - Alirio – Braulio –Passos - Odolfo e Nelsinho. O “Mutange” em seus 89 anos de existência foi o maior estádio de Maceió e palco de grandes jogos e decisões.

O “Mutange” foi o local onde se realizou o primeiro jogo de futebol a noite em todo o Nordeste. O CSA tinha ligações com a empresa de força e Luz, que colocou 100 refletores no estádio, num total de 34 mil velas.

Foi lá que ocorreu a maior goleada de todos os tempos no futebol alagoano, CSA 22 X 0 Esporte Clube Maceio. Esse jogo aconteceu no dia 28 de janeiro de 1948, com o jogador Caio Mario marcando 10 gols. Também foi no “Mutange” que o CSA aplicou a maior goleada no rival, o CRB, 6 X 0, no dia 6 de março de 1932.

Local histórico, o estádio foi palco do primeiro jogo internacional em Maceió: CSA 1 X 1 Velez Sarsfield, da Argentina, no dia 23 de dezembro de 1951. Em 2009 o “Mutange” foi reformado e passou a ser um Centro de Treinamento. Desde então não mais recebeu jogos, servindo somente para treinamentos e eventos do clube.
Quanta emoção, quanta saudade tem o torcedor de outros jogos que permanecem na memória. Saudade que começou a diminuir quando a diretoria azulina reformou o estádio, e reabriu o Mutange em 1997 para a alegria de todos.

Um jogo que até hoje permanece na memória dos torcedores do CSA, foi um clássico contra o CRB, realizado em 10 de setembro de 1952, no Estádio da “Pajuçara” (do CRB), comemorativo ao aniversário do rival. O CSA venceu de goleada, 4 X 0, gols de Edgar (2) e Dengoso (2).

Os torcedores não perderam tempo, chamaram de o “jogo do xaxado”, em alusão ao ritmo musical do Nordeste brasileiro, que na época brilhava nas paradas de sucesso em todo o país, na voz de Luiz Gonzaga. A torcida “azulina” batia palmas e gritava "xaxado", enquanto dentro de campos os jogadores do CSA botavam os do CRB na roda.

O juiz foi Valdomiro Brêda. O CSA formou com Almir - Bem e Arestides – Oscarzinho - Zanélio e Neu - Napoleão (Ié) - Biu Cabecinha – Dida - Dengoso e Edgar (Bemvindo). O CRB jogou com: Levino (Luiz) - Helio Ramires (Ferrari) e Miguel Rosas – Netinho - Castanha e Moura – Sansão - Arroxelas (Santa Rita) – Dario - Mourão (Zé Cicero) e Zeca.

Em 19 de setembro de 1973, “Garrincha”, que vivia de apresentações em clubes de todo o Brasil, vestiu a camisa do CSA num amistoso contra o ASA de Arapiraca, no “Trapichão”. O famoso atacante jogou ao lado de Dida, que foi seu companheiro de Seleção Brasileira no Mundial de 1958, na Suécia. Dias depois, Garrincha jogou outra partida por um clube alagoano, o ASA de Arapiraca.

No dia 7 de maio de 1980 o CSA viveu um de seus grandes momentos, quando do jogo contra a Ferroviária, de Araraquara, na Fonte Luminosa, pela semifinal da Taça de Prata. O time alagoano venceu por 1 X 0, gol de Gilmar, garantindo vaga na final contra o Londrina, do Paraná.

Em 11 de abril de 1982, no Estádio Rei Pelé, em Maceió, o CSA foi protagonista de uma virada histórica, no primeiro jogo da decisão da Taça de Prata daquele ano. O time perdia por 3 X 1 e em sensacional reação venceu por 4 X 3. Isso, com oito jogadores em campo, pois ocorreram três expulsões. O time do CSA que venceu o Campo Grande formou com Joceli – Flávio – Jeronimo - Fernando e Zezinho – Ademir - Jorginho e Romel - Americo (Dentinho) - Freitas (Zé Carlos) e Mug.

O ano de 1999 foi único na história do CSA e do futebol alagoano. Pela primeira vez um clube do Estado participou de uma competição internacional, a Copa Conmebol. Naquele ano o país foi representado pelos campeões das competições regionais. Os dois finalistas da Copa do Nordeste, Bahia, campeão e Vitória, vice, não quiseram participar da competição, o que deu lugar ao terceiro classificado, o Sport, de Recife, que também não quis. Com tantas desistências sobrou para o CSA, que foi o quarto colocado.

Os jogos do CSA na Conmebol foram os seguintes: 13-10, no Rei Pelé, em Maceió CSA 2 X 0 Vila Nova, de Goiás; dia 20-10, no Serra Dourada, em Goiânia, Vila Nova 2 X 0 CSA. Nos pênaltis, CSA 4 X 3. Em 03-11, em Mérida, Venezuela, Estudiantes 0 X 0 CSA; 03-11, em Maceió, CSA 3 X 1 Estudiantes; 17-11, em Manaus, São Raimundo 1 X 0 CSA; em 24-11, em Maceió, CSA 1 São Raimundo. Nos pênaltis, vitória do CSA  e classificação para a partida final. Em 01-12, em Maceió, CSA 4 X 2 Talleres, da Argentina;  e dia 08-12, na Argentina, Talleres 3 X 0 CSA. O clube argentino sagrou-se campeão.

Títulos conquistados. Campeonato Alagoano: (1928, 1929, 1933, 1935, 1936, 1941, 1942, 1944, 1949, 1952, 1955,1956, 1957, 1958, 1960, 1963, 1965, 1966, 1967,1968, 1971, 1974, 1975, 1980, 1981, 1982, 1984, 1985, 1988, 1990, 1991, 1994, 1996, 1997, 1998, 1999 e 2008); Torneio Início: (1927/28/29/30, 1933, 1935, 1940, 1946, 1949, 1957, 1961, 1965 e 1972); Vice-campeão da Copa Conmebol: (1999; Vice-campeão da Taça de Prata: (1980, 1982 e 1983); Torneio Pró-Caixa Olímpica: (1929); Torneio Associação Cultural e Cívica Feminina: (1935); Copa FAD: (1936); Grande Festival do Futebol: (1932); Torneio Mário Lima: (1956); Torneio Alfredo Junior: (1975) e Troféu Wassil Barbosa (Desafio das Multidões, contra o CRB): (2010). (Pesquisa: Nilo Dias)


 Histórica foto do CSA, em 1923. Em pé:  Bráulio - Alírio - Murilo - Odulfo e Nelcino. Ajoelhados: Campelo - Mimi e Geraldo. Sentados: Hilário - Mendes e Osvaldo. (Foto: Museu dos Esportes de Alagoas)

terça-feira, 24 de setembro de 2013

O velho (e bom) futebol goiano (Final)

Com a criação da Associação Goiana de Esportes Athleticos (Agea), esperava-se uma mobilização geral em torno do futebol no Estado. Comerciantes, artistas, políticos, jornalistas, poetas, escritores e populares se uniram para apoiar sua criação, bem com suas ações, como a da construção de um estádio a ser administrado pela recém fundada entidade.

Foi lançada uma “Lista Pró-Estádio”, com a finalidade de conseguir os recursos para a obra. Os eventuais colaboradores concorriam a prêmios, que ficavam expostos na vitrine da Casa Nicolau. Ao final de setembro já haviam sido alcançados recursos na ordem de 200 mil réis, que foram depositados no Banco Hypothecario e Agrícola do Estado de Minas Gerais, em sua agência da Cidade de Goiás.

Aí teve início um grande mutirão para tornar realidade o sonho do estádio. Primeiro alguns operários foram contratados para efetuarem os trabalhos braçais, como o de roçar o terreno onde seria levantada a obra. Rapazes que possuíam automóveis, como Péricles Fleury, Calígula Macedo, Claudio Cunha e outros, puseram seus veículos à disposição do Comitê Feminino, que era responsável pela organização do mutirão.

As senhoras se mostraram muito competentes na missão, tanto que conseguiram emprestadas por um dia, todas as ferramentas da Secretaria de Obras do Estado.

Mesmo com a ativa participação de estudantes, militares, mulheres e a comunidade em geral, os maiores louros desse movimento comunitário foram para o paulista Genaro Rodrigues, funcionário dos Correios, que fora transferido de São Paulo para a capital de Goiás.

Os jornais de São Paulo até certo ponto exageravam na importância de Genaro na criação da Agea. Na capital paulista ele fora diretor de clubes de esportes, jurado de luta-livre, árbitro de futebol, representante da Associação Paulista de Esportes Athleticos (Apea) e autor da letra do Hino da S.E. Palmeiras, com música de Antônio Sergi. Costumava usar o pseudônimo de “Nage”.

Por isso era apresentado como alguém de “espírito irrequieto e empreendedor”, legítimo herdeiro da velha tradição bandeirante. Atribuíam a ele a visão de que o futebol no Estado só se desenvolveria com a criação de um órgão que centralizasse todas as decisões. Na verdade, Genaro Rodrigues não descansou enquanto não conseguiu ver organizada a Associação Goyana de Esportes Athleticos.

O mesmo ocorria com jornais de Goiás, que diziam estar o futebol estadual em pleno desenvolvimento, graças aos esforços do grande esportista Genaro Rodrigues, principal responsável pela criação da Associação Goyana de Esportes Athleticos. Raramente eram citados os nomes de outros membros da primeira diretoria da entidade, como Cesar de Alencastro Veiga, José de Alvarenga Peixoto, Sebastião da Rocha Lima, Joaquim Ramos Jubé Junior, Claudio Cunha e Jacques Saddi, entre outros.

Foi esse grupo, ao lado de mulheres como Maria Carlota Guedes, Maria Augusta da Rocha, Floracy Artiaga, entre outras, que efetivamente viabilizou boa parte das condições necessárias para a criação de uma associação esportiva em Goiás.

A afirmativa da imprensa paulistana, de que não havia clubes e nem competições organizadas no Estado de Goiás, não refletia a verdade, pois desde princípios da década de 1920 já estavam em curso algumas competições de maneira mais ou menos bem delineadas. É certo, também, que no período posterior a 1930, houve uma considerável intensificação das atividades esportivas em Goiás, sobretudo do futebol.

Isso não foi obra da Agea, que teve papel reduzido nesse sentido, pois apenas três clubes da capital filiaram-se à ela, que tinha um caráter bastante seletivo, excludente mesmo. A adesão de clubes precisava atender um conjunto considerável de exigências.

Para se filiar a Agea, o clube deveria ter sedes social e esportiva, pagar taxas de joias e anuidades, além de ter estatutos. Enfim, estar constituído como uma entidade jurídica formal, o que custava cerca de 300 mil contos de réis, de acordo com o valor pago pela própria Agea no seu processo de formalização burocrática.

As joias custavam 50 mil contos de réis para a divisão principal e para a primeira divisão, e 30 mil contos de réis para as demais. A isso, somavam-se outros 30 mil contos de réis de anuidade, igual para todas as divisões, bem como outros dois mil contos de réis por cada jogador inscrito nos clubes da divisão principal.

Para mudar de nome ou de cores, o time, além de depender de aprovação da diretoria da Agea, deveria pagar uma taxa correspondente ao dobro da joia de sua divisão, além de nova taxa de inscrição de todos os seus jogadores. Dessa forma, um clube com 24 jogadores, que pretendesse fazer parte da divisão principal da Agea deveria desembolsar, de início, apenas com taxas e joias destinadas à própria entidade, 128 mil contos de reis.

Esse fator foi determinante para que a quase totalidade dos clubes não se filiasse a Agea, sobretudo os do interior. A entidade queria se filiar à Confederação Brasileira de Desportos, para que clubes do Estado finalmente pudessem disputar competições interestaduais. Mas para isso também era preciso cumprir algumas exigências, como possuir certo número de clubes filiados.

Em 1932, as criticas se avolumavam porque o estado dos gramados era péssimo e o desanimo tomava conta dos esportistas locais. Por isso foi feito um apelo aos dirigentes, para que filiassem seus clubes a Agea e fossem organizados também os campeonatos das cidades. Mas tais tentativas foram infrutíferas.

Os embates futebolísticos que mobilizaram grande número de torcedores a partir de 1930 e 1931 foram resultado de acordos firmados diretamente entre os próprios times, geralmente através de telegramas, sem apoio ou intermediação de nenhuma liga ou associação esportiva.

O fracasso da Agea também passou pelo regresso de Genaro Rodrigues a São Paulo. Mas não foi só a saída do importante desportista paulista, a responsável pelo pouco reconhecimento dado a entidade centralizadora. Mais do que isso foi o fato da Agea ter se utilizado de um modelo de organização importado de São Paulo, do que basear-se na realidade local.

De acordo com os estatutos, todos os jogos da divisão principal seriam disputados na capital; a realização de jogos amistosos dependeria de licença concedida pelo presidente da Agea; além disso, 1/3 da renda de todos os jogos seriam destinados à associação. 

O primeiro clube profissional do Estado de Goiás foi o União Americana Esporte Clube, fundado em 28 de abril de 1936, já na atual capital goiana. Também participou do primeiro jogo de futebol realizado em Goiânia, quando enfrentou o Botafogo Sport Clube, de Anápolis. Durante o período de afirmação do futebol na nova capital surgiram vários clubes que foram extintos em pouco tempo.

Fundado em 2 de abril de 1937, com raízes no bairro de Campinas, e tendo um “Dragão” como mascote, o Atlético Goianiense é o pioneiro no futebol de Goiânia e foi o primeiro clube a conquistar um título estadual, em 1944.

Por escolha da maioria dos fundadores, o uniforme tem as cores vermelha e preta, inspirado no Flamengo, e o escudo segue os moldes do São Paulo. Participaram da fundação do Atlético, os irmãos Nicanor Gordo – primeiro presidente do Conselho Deliberativo, Alberto Alves Gordo, Afonso Garcia Gordo, Edson Hermano, primeiro goleiro do clube, João de Brito Guimarães, João Batista Gonçalves, Ondomar Sarti e Benjamim Roriz, entre outros.

O Vila Nova F.C. foi fundado em 29 de julho de 1943. O “Tigrão”, como é conhecido por conta do seu mascote, possui a segunda maior torcida da capital goianiense. Foi o primeiro clube goiano a disputar uma competição internacional, a Copa Conmebol de 1999. É considerado um dos maiores clubes do Centro-Oeste do Brasil, e um dos três grandes de Goiás, juntamente com o Goiás E.C. e o Atlético Clube Goianiense.

O escudo do Goiânia Esporte Clube sugere o ano de 1938 como o da sua fundação. Entretanto, publicações dizem algo diferente sobre a história do clube. Na versão do jornalista e escritor, João Batista Alves, falecido em 2008, publicada no livro “Arquivos do futebol goiano”, o 30 de abril de 1936 seria o dia exato em que o Goiânia E.C. teria sido originalmente criado. Idealizado por Joaquim da Veiga Jardim, que também teve participação nas fundações de Atlético Goianiense, Vila Nova e Goiás, foi segundo relatos o “pai” do “Galo Carijó”.

Em 6 de abril de 1943 os irmãos Lino e Carlos Barsi, juntamente com João Padatella, Ozório de Oliveira, Luiz Rocha, Pedro Pio Nogueira, Sebastião Ludovico Coelho, Feliz Sadde, Arthur Oscar de Macedo, Sebastião Oscar de Castro, Antônio Camargo e Esmeraldo dos Santos fundaram o Goiás Esporte Clube. A agremiação nasceu para competir contra os poderosos clubes goianos da época, Atlético e Goiânia, que de 1944, ano do primeiro campeonato goiano, dividiram os títulos até 1960.

Sobreviveram apenas o Atlético, o Goiânia, o Vila Nova e o Goiás.
O primeiro campeonato goiano, que já foi disputado 70 vezes, foi realizado em 1944, com a participação de apenas cinco equipes: Vila Nova, Atlético, Goiânia, Goiás e Campinas, fundado em 1943, hoje extinto e que tinha seu time composto por jogadores reservas do Atlético.

Até os anos 60 o Campeonato Goiano foi uma competição entre times de Goiânia e de cidades vizinhas, como Nova Veneza, Inhumas e Campinas, na época um município. Cidades como Anápolis e Buriti Alegre tinham suas próprias competições.

O primeiro campeão foi o Atlético Clube Goianiense e o primeiro artilheiro Ari, também do Atlético, com oito gols. O time disputou a final com o Goiânia, cena que se repetiu em todas as edições até 1960, com exceção de 1951, quando a final ficou por conta de Goiás e Goiânia.

O Catalão também se considera o primeiro campeão goiano, extraoficial, pelo fato de ter ido até Anápolis e derrotado o time local por 2 X 0, que antes havia vencido partidas em Goiás, Inhumas, Morrinhos e Pirenópolis.

O time base do Atlético nesse campeonato era Paulista (Wolney) - Tonico (Ditinho) e Chancão (Fão) - Waldemar Bariano - Tocafundo (Mira) - Pixo (Pirulito) - Cid, Ari, Cigano, Nazaré, Dido e Nery.

O Goiás, que hoje é o grande clube do Estado, levou 22 anos até conquistar um título estadual. Isso só ocorreu em 1966. Desde então, o alviverde foi se firmando como grande equipe.

Em 1997, ao conseguir seu 15° título, passou a frente do Goiânia e agora é o clube com mais títulos estaduais, 24, nove a mais que o segundo colocado, o Vila Nova, com 15. Em terceiro está o Goiânia, com 14 títulos e em quinto o Atlético Goianiense, com 12 conquistas.

O interior também teve times campeões estaduais, e foram quatro: o Anápolis Futebol Clube, em 1965; o Crac, de Catalão, em 1967 e 2004; o Goiatuba Esporte Clube, em 1992 e o Itumbiara, em 2008.

O Goiânia, hoje um clube em franca decadência, foi pentacampeão estadual de 1949 a 1954, tri entre 1958/1960 e bi em 1945/1946. O Goiás igualou o feito entre 1996 a 2000. Ainda possui um tri, de 1989 a 1991 e quatro bi, 1971/1972, 1975/1976, 1986/1987 e 2002/2003. O Vila Nova foi tetracampeão de 1977 a 1980 e tricampeão entre 1961/1963. O Atlético foi apenas bicampeão estadual, em 2010 e 2011. Nenhum time interiorano ganhou dois títulos seguidos.

Quem mais marcou gols em uma única edição do Campeonato Goianense foi Baltazar, que pelo Atlético Goianiense fez 31 gols em 1978. É seguido por Bé, do Vila Nova (29 gols em 1993), e Dill, do Goiás (29 em 2000). Em quarto está Foca, do Goiânia, com 28 gols em 1951, e em quinto Zé Amaro, do Anápolis, com 27 em 1981, e Aloísio, do Goiás, também com 27 em 1997.

Dimas Diniz, quando defendia o Goianáz, de Nova Veneza foi o primeiro artilheiro do Estadual, atuando por uma equipe do interior do Estado. Líbano, do Inhumas, Nélson Parrilha, do Anápolis e Toninho Índio, do CRAC, conquistaram a artilharia duas vezes. O jogador de um clube do interior que mais marcou gols em uma única edição do “Goianão” foi Zé Mauro, do Anápolis, que balançou as redes adversárias em 27 oportunidades, em 1979.

O primeiro grande estádio de Goiânia foi o Olímpico. Nele aconteceram os grandes embates dos campeonatos estaduais e nacionais até a construção do “Serra Dourada”, nos anos 70. O estádio mantinha a cara de uma cidade pequena, acolhedora, calorosa, onde todos se conheciam.

Na metade dos anos 60 chegou a vender cadeiras cativas, uma ideia que não deu certo, apesar de uma grande campanha publicitária que teve até o “Rei Pelé” como garoto-propaganda.

Foram 59 os clubes que já disputaram o Campeonato Goiano de Futebol, sendo 17 de Goiânia, contando os quatro campineiros: Atlético, Campinas, São Paulo e São Luís; seis de Anápolis; três de Itumbiara e três de Inhumas. 30 cidades já tiveram times no estadual.

Outra competição de relevância que tivemos no Estado foi o “Campeonato Goiano do Interior”, disputado entre 1956 e 1964. Os times de Anápolis não disputavam este torneio. Os campeões foram: América (1957); 1958, não foi disputado; Ceres (1959); Inhumas (1960);  Botafogo, de Buriti Alegre (1961); São Luis (1962);  Independente, de Goiás (1963) e Ceres (1964).Em 1956 não se tem informação oficial de quem conquistou o título.

Grandes jogadores que atuaram no futebol goiano. No Goiás Esporte Clube: o lendário Tão Segurado; Lincoln; Peghetti; Macalé; Matinha; Lucinho; Tuíra; Carlos Alberto Santos; Dadá Maravilha; Péricles; Luvanor; Zé Teodoro; Cacau; Uidemar; Baltazar; Dil; Fernandão e atualmente Walter.

No Atlético Goianiense: Ari; Dido; Tarzan; Fábio; Dadi; Baltazar, o “Artilheiro de Deus”; Júlio César, o “Imperador” e Valdeir, o “The Flash”, todos revelados no clube.

No Goiânia E.C.: Túlio Maravilha; Finazzi; Hermes Neves Soares; Nonato e Danilo Portugal. (Pesquisa: Nilo Dias)


Atlético Goianiense, campeão goiano invicto de 1957. (Foto:Acervo fotográfico do Atlético Clube Goianiense)

Jogadores do Catalão F.C., campeão goiano extraoficial em 1923: Antonio Lucas – Alberto Mendes – Afrânio Righetto - Caim – Guim – Delermando Sampaio – Isaac da Paixão – Cuia – Carlos – José Righetto e Cairo. (Foto: Arquivo de Sylvim Netto )

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O velho (e bom) futebol goiano (1)

O futebol começou em Goiás (originalmente Vila Boa) na primeira década do século passado, mais precisamente em 1907. Seu introdutor teria sido o estudante de 15 anos de idade, Valter Sócrates do Nascimento, que retornara de São Paulo onde fez um período de estudos e conheceu o novo esporte. Valter nasceu no dia 23 de agosto de 1892, e era filho de pai capixaba e mãe goiana.

Seu retorno a Goiás (hoje Goiás Velho), na época capital do Estado, acabou com a tranquilidade até então existente no velho “Largo do Chafariz”, que hoje se localiza na Praça Doutor Brasil Caiado, próximo do Colégio Sant’Ana. Valter reuniu um grupo de estudantes do Lyceu de Goiás, organizando ali partidas de futebol, geralmente nos períodos da tarde e em qualquer dia da semana.

Valter contou com a colaboração de Renato Marcondes de Lacerda, que a exemplo dele também estudara em São Paulo, mais Odilon de Amorim, Alberico Camargo e João Monteiro, para que convidassem outros jovens a participarrm dos jogos de futebol. Foi dessa maneira que teve início o futebol em Goiás.

O terreno íngreme não era o mais apropriado para a prática do futebol, pois não tinha grama e era coberto por um cascalho fino e não obedecia às regras. Tudo era improvisado, desde as traves que não passavam de duas varas fincadas ao chão até as marcações do campo, que eram feitas com riscos no solo.

Como o campo era pequeno, os primeiros jogos contavam com apenas seis jogadores de cada lado. Não havia uniformes e muito menos chuteiras, todos usavam a roupa do corpo. A bola era de “mangaba”. O processo de fabricação era simples. Envolvia-se uma bexiga de bode no leite da “mangaba”, que funcionava como uma borracha. 

Mas existe outra versão que contempla o pastor protestante inglês, Archie Rua Mancintyre, como o verdadeiro introdutor do futebol em Goiás, isso em 1908, portanto um ano depois que Valter Sócrates do Nascimento organizou as “peladas” no “Largo do Chafariz”.

No livro "Do meu Tempo", escrito por Albatenio de Godoi, consta que Archie trouxe o futebol a Goiás durante uma visita que fez a cidade, quando em missão de catequese de índios do rio Araguaia. Dos primeiros jogos teriam participado, entre outros, Brasil Caiado, o próprio Albatenio, Claro Godoi, Alcenor Cupertino e Francisco Cardoso.  Mas essa versão não ganha força.

Ao que se sabe em 1908 os jogos já contavam com o número oficial de 11 jogadores para cada lado. As traves passaram a ser de sarrafo, o campo de terra demarcado, os times com camisetas diferenciadas e a presença de árbitros.

Em 1920, o futebol ganhou destaque na cidade de Goiás, quando muitos dos participantes das “peladas” do “Largo do Chafariz”, foram para São Paulo e Rio de Janeiro concluírem seus estudos em Engenharia, Direito ou Medicina, como era comum.

Em meados de 1920. Noticiava-se na capital a existência do União Operária Sport Club, que marcara um jogo contra um time de sargentos. O clube operário provavelmente articulava-se com ações como a criação da “Sociedade Santa Luzia Classe Operária”, organizada em 1930.

Entre 1920 e 1940, Goiás teve um significativo aumento no número de estabelecimentos industriais existentes na cidade. De acordo com dados do censo de 1920, Goiás contava, naquele ano com 16 indústrias e 244 operários. Em 1940, esses números já somavam 260 indústrias e 1.487 operários, num aumento de mais de 1.500 %.

De grande importância para o desenvolvimento do futebol em Goiás, também foi a verdadeira “febre” pelo novo esporte, que tomou conta da cidade de Uberaba (MG). Uberabenses que haviam estudado em São Paulo, especialmente no Colégio São Luis, em Campinas, voltavam trazendo consigo mais noções de regras, técnicas e táticas. Em 1906, um grupo de uberabenses cotizou-se para comprar uma bola de futebol em São Paulo.

Foi o que bastou para que o futebol se tornasse popular na cidade e conhecesse um desenvolvimento muito grande. A fama do Ginásio Diocesano como um brilhante estabelecimento de ensino e o melhor do Brasil Central, se espalhou rapidamente, chamando a atenção de famílias goianas, especialmente das cidades de Itaberaí, Itumbiara, Catalão e Morrinhos, que mandavam seus filhos estudarem lá.

Foi no Ginásio Diocesano que muitos jovens goianos aprenderam a jogar futebol. De volta a Goiás, alguns desses jovens acabaram tendo atuações determinantes no esporte do Estado, caso de Edmundo Pinheiro de Abreu, que jogou no ataque do time da escola. Depois esteve entre os primeiros jogadores de futebol de sua cidade natal, Itumbiara.

Já na nova capital de Goiás, Goiânia, teve intensa participação nas administrações do Goiás Esporte Clube e da Federação Goiana de Futebol, criada em 1944.

Em 1913, as primeiras locomotivas da Estrada de Ferro Goiás atravessavam a ponte sobre o Rio Paranaíba, estabelecendo, finalmente, ligação férrea entre Goiás e Minas Gerais.

No mesmo ano foi fundado o Catalão Futebol Clube, que depois se tornou uma potência futebolística da região. Até o fim da década de 1910, a organização de times e a realização de partidas foram registradas, pelo menos, em Anápolis, Pirenópolis e Catalão.

Nessa época, o Catalão Futebol Clube já possuía um terreno para a construção de uma praça de esportes, onde outros times da cidade, como o Operário, o Americano e o Brasil Futebol Clube debateram-se contra o chamado “Leão do Cerrado”.

Em 1923 o futebol já havia chegado também em cidades do norte de Goiás, atualmente o Estado de Tocantins, especialmente em Natividade e Porto Nacional. A difusão do futebol nessas localidades se deveu aos estudantes, que retornavam da Bahia e o implantaram nos rincões goianos.

Em dezembro de 1979, houve uma significativa melhora para o futebol local com a inauguração do Estádio Lauro Assunção, sem arquibancadas, que reuniu na partida inaugural as seleções de Araguaína e de Tocantinópolis.

O jogo chamou a atenção de importantes autoridades políticas do Estado de Goiás e do município de Tocantinópolis. A seleção de Tocantinópolis venceu por 3 X 1, gols de Guinha, Emiliano e Ademir.

No início da década de 1980, mesmo contando com o Estádio Lauro Assunção, o futebol local não conseguia evoluir, em razão das cansativas viagens e da falta de apoio.

O poder público municipal destinava a seleção tocantinopolina, apenas um caminhão caçamba, que comportava toda a delegação, e era parcialmente cheio de areia e coberto por uma lona para dar mais "conforto" aos atletas.

O estremo norte de Goiás era esquecido tanto em termos sociais quanto em termos de futebol, pois os principais clubes goianos, Goiás, Vila Nova, Atlético Goianiense e Goiânia, levavam vários anos para atuarem nos péssimos gramados da região. Quando isso ocorria, em jogos amistosos, verdadeiras multidões lotavam os estádios.

Em 1986, em Porto Nacional, aconteceu um jogo entre a Seleção Tocantinense e a Seleção Brasileira de Novos, que tinha em seu elenco jogadores que depois seriam verdadeiros astros do futebol brasileiro, casos de Cafu, Túlio, Marcelinho Carioca e Márcio Santos. Também teve outro jogo contra a “Seleção de Ouro”, que tinha como maior astro o artilheiro Dadá Maravilha.

A Seleção Tocantinense venceu por 1 X 0.O futebol do norte de Goiás só evoluiu quando as seleções das cidades se transformaram em clubes, como o Gurupi E.C., de Gurupi,  Kaburé E.C., de Colina e, Trastrevo E.C., de Araguaína, entre outros. Isso, depois da implantação do Estado do Tocantins que ocorreu em 1989. (Pesquisa: Nilo Dias)

Em 1924, por exemplo, na cidade de Jaraguá eram disputadas partidas envolvendo os moradores da “Rua Direita” contra o “Resto”. Em Pires do Rio era criada a primeira equipe de futebol da cidade, que tinha nos times de Iparemi seus principais adversários.

Belavistense, Bonfim Esporte Clube, Leopoldo de Bulhões Futebol Clube, Vianápolis Esporte Clube, Associação Atlética Rio Verde, Rio Bonito Futebol Clube, foram algumas das equipes criadas no Estado, na ocasião.

Em Goiás, que era a capital, foi fundada a Associação Athlética União Goyana, que teve papel importante no futebol goiano até meados da década seguinte. Foi nessa época que surgiram os times dos Sargentos, dos Operários, do Tiro 78, do Ibsen Caiado, do Anhauguera, do América e do Brasil Central.

Foi um tempo em que qualquer povoação do interior e até mesmo as diversas fazendas existentes nas zonas rurais, praticavam o futebol, lotando os gramados nas tardes de domingo.

A presença das mulheres nos “grounds” começou a ganhar constância. No começo eram apenas “senhorinhas”, madrinhas dos times. Depois a “moda” se espalhou e as “damas”, de todas as idades, passaram a frequentar os campos de futebol.

Na cidade de Goiás, a partir de 1925, já aconteciam jogos entre os times locais e os de Itaberaí, Ipameri, Anápolis e Bela Vista. Em um desses jogos esteve presente o então governador do Estado de Goiás, Brasil Caiado de Castro.

Em 1928 teve inicio a grande rivalidade entre equipes da capital e o Annapolis Sport Clube. Por volta de 1928, já se verificavam jogos entre equipes de Goiás e de fora do Estado. Os times de Catalão foram pioneiros nesse intercâmbio, enfrentando, sobretudo, adversários do “Triângulo Mineiro”.

Teve uma época que era difícil a realização de jogos, pois nem sempre as cidades mantinham em atividade as suas equipes. Era comum uma estar em atividade e outra inativa. Essa situação só foi melhorar depois do advento das estradas de rodagem, cujo processo de construção começou a partir de 1917. Em 1920 já havia 1.200 quilômetros. Em 1921, mais de 28 estradas ligavam vários pontos do vasto Estado.

Anápolis, Curralinho, Roncador, Trindade, Goiabeira, Morrinhos, Caldas Novas, Goiás, Capelinha, Pirenópolis, Santa Rita do Paranaíba, Pouso Alto, Cachoeira, São José Mossamedes, Bela Vista, Ipameri, Cristalina, São José do Duro, Barreiras, Rio Verde, Jataí, Mineiros, Barro Preto, Barro Branco, Pilar eram algumas das cidades atendidas por estradas nessa época. No fim de 1927 já eram mais de 3.500 quilômetros de rodovias.

Em dezembro de 1925 uma equipe de Anápolis foi de caminhão até Goiás para jogar contra um time daquela cidade. Alguns anos depois, os clubes passaram a utilizar automóveis nesses jogos intermunicipais, como aconteceu na partida entre o Burity Futebol Clube X Santa Rita do Paranaína, em novembro de 1935.

Em 1930 teve inicio o processo de criação em Goiás, de uma associação ou liga esportiva, para organizar as competições estaduais. Em comparação com outras regiões do país, no que se referia aos esportes, era notória a preocupação das elites goianas com o fato de não ter uma representação estadual no campeonato nacional de futebol.


A foto acima tem 100 anos. É de 1913, um verdadeiro tesouro da história do futebol em Goiás. É o primeiro registro fotográfico que se tem conhecimento do esporte no Estado. (Foto: Arquivo de Sylvim Netto)

sábado, 21 de setembro de 2013

Um estádio pouco conhecido

Pouca gente sabe que na Cidade Universitária Armando Salles de Oliveira existe um estádio com capacidade para 35 mil pessoas, localizado próximo ao portão 1 do Campus Butantã, na Zona Oeste da capital paulista.

Ele foi criado em 1971, inicialmente como uma divisão de esportes da universidade. Porém, o projeto cresceu em importância com a escolha de São Paulo para sediar os Jogos Panamericanos de 1975.

Para receber a competição, foram construídas quadras cobertas, um velódromo, uma pista de atletismo e um estádio com capacidade para receber 35 mil torcedores, tudo dentro dos padrões olímpicos vigentes no período.

Mas um surto de meningite ocorrido na cidade em 1974, obrigou a transferência dos jogos para a Cidade do México.Ainda assim, o espaço continuou a ser modernizado até hoje, e agora conta também com um conjunto aquático, quatro campos de futebol, um de futebol society, nove quadras de tênis, dez quadras poliesportivas e até mesmo uma raia olímpica.

O espaço é utilizado para treinamentos das mais diversas atividades, como basquete, futebol, remo, artes marciais, tênis, atletismo, badminton e outros, como musculação e fitness, além de orientação nutricional e programa de emagrecimento.

Toda essa estrutura é usada também como um espaço de socialização de universitários e moradores das proximidades. Não por acaso são realizados, diversos eventos no local, como feiras de profissões.

O Estádio Universitário é palco das disputas da Copa USP, destinada a funcionários e ao corpo docente da universidade. Eventualmente recebe alguma outra competição importante, como aconteceu o ano passado em que lá foram disputadas as semifinais da Copa Coca-Cola de Futebol, que teve a participação de 32 equipes masculinas e 16 femininas de todo o Brasil, num total de cerca de 1.000 adolescentes representando 29 cidades de 17 Estados brasileiros.

O estádio já foi sede de uma final da Copa São Paulo de Futebol Júnior, em 1988. Na ocasião, o Nacional (SP) foi campeão ao vencer na final o América, de São José do Rio Preto (SP), por 3 X 0. É o terceiro grande estádio de São Paulo, ficando atrás somente do Morumbi e do Pacaembu, sendo maior que o Canindé, da Portuguesa de Desportos e do antigo Parque Antárctica, do Palmeiras.

O local não é desconhecido dos alunos da USP, pois sob suas arquibancadas localiza-se o chamado “Favelão”, dormitório destinado aos alunos de baixa renda, que aguardam vaga no Conjunto Residencial da Universidade (Crusp)

Pena que hoje o Estádio se encontre num estado de abandono, necessitando de amplas reformas, que possivelmente só acontecerão em 2014, ano da Copa do Mundo no Brasil, pois atualmente as prioridades da USP são outras.

A direção da universidade tira o corpo fora e culpa a organização do Pan de 1975, que não saiu no país, por ter construído um estádio dessa magnitude, sem pensar nas dificuldades que a instituição teria para mantê-lo. É uma obra prima de arquitetura, muito bem feito. Por essas e por outras, o esporte universitário não cresce no país, que tem uma cultura esportiva clubística, ao contrário dos Estados Unidos, por exemplo.

A ideia é que o estádio seja transformado em uma arena multiuso com restaurantes, banheiros e estrutura adequada que solucionem os problemas atuais, que passam pela falta de vias de acesso e estacionamento para veículos. 

Também é necessária a reforma dos módulos, além de uma quadra de futsal coberta e de um campo de grama sintética. Tudo isso está nos planos de reestruturação. Mas antes é preciso resolver os problemas burocráticos e obtenção de verbas. (Pesquisa: Nilo Dias)

Estádio da Universidade de São Paulo. (Foto: Jorge Maruta, Jornal da USP. Divulgação)

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A "Maravilha Dourada"

Alcy Simões, para muitos o maior jogador de futebol surgido no Espírito Santo em todos os tempos, nasceu na Avenida Capixaba, em Vitória, no dia 1 de junho de 1913. Começou a jogar em 1930, quando ainda não havia completado 17 anos de idade, mesma época que Lacínio, outra figura destacada dos gramados capixabas. Foram campeões estaduais já no primeiro ano de clube.

Ambos escreveram uma bonita história no tempo em que se fazia a transição do futebol amador para o profissional no Brasil. Os dois, mais Cícero Nonato, Marciolínio e Renato formavam o famoso ataque “ping-pong”, que no campeonato estadual de 1936 marcou 57 gols em 11 partidas.

No tempo em que Alcy começou a jogar, além de Vitória e Rio Branco existiam outros clubes bastante fortes no futebol do Espírito Santo, como o Estrela e Cachoeira, de Cachoeiro do Itapemirim e Comercial, de Castelo.

Entre 1930 e 1949, Alcy venceu 15 campeonatos capixabas, 13 pelo Rio Branco, onde passou quase toda a carreira, e dois pelo Vitória. Alcy já havia participado da campanha alvinegra do título de 1930, mas jogara apenas uma partida. Como protagonista, sua primeira taça foi pelo Vitória.

Em 1937 já eram conhecidos nacionalmente e desejados por equipes de fora. Alcy e Lacínio fizeram grandes apresentações durante a “Copa dos Campeões Estaduais” e nos jogos do Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, defendendo a seleção do Espírito Santo. Alcy foi procurado pelo Flamengo, que tinha pretensões de formar o “melhor ataque do Brasil” juntando Leônidas, Gonzales e Alcy.

Botafogo e Portuguesa de Desportos também queriam o jogador. Mas nenhum clube conseguiu convencer o atacante que recusou todas as propostas, preferindo continuar no Rio Branco. Além de já ser funcionário público estadual no Instituto Agrícola de Maruípe, sua esposa, dona Carmem, era professora e não demonstrava qualquer interesse em deixar Jucutuquara.

Já Lacínio foi para o América carioca, deixando o Rio Branco em 1938. Mas em 1940, desencantado com o futebol deixou os gramados aos 27 anos.

Alcy Simões, por sua vez, só encerrou a carreira em 13 de dezembro de 1947, quando tinha 34 anos e o profissionalismo já havia sido instalado no Brasil. Na verdade, ainda em 1948 e 1949, Alcy fez algumas partidas decisivas pelo Rio Branco, como a final do Estadual de 1949, contra o Comercial de Castelo, e jogou 20 minutos. Foi o suficiente.

O adversário endureceu e a decisão foi para duas prorrogações. Alcy permaneceu em campo todo esse período, até que aos 138 minutos de jogo, já cansado e atuando na ponta direita, fez a jogada do gol do título, driblando um adversário e centrando para Michel marcar. Ali, de fato, encerrou a carreira.

Mas continuou vinculado ao Rio Branco, como dirigente ou torcedor nas arquibancadas. Até o fim dos anos 80, com mais de 70 anos de idade, ainda era figura presente no Estádio Kleber Andrade.

Apelidado de “Lourinho”, “Russinho” e “Maravilha Dourada”, Alcy Simões, que faleceu em 2011, marcou 213 gols em 255 partidas disputadas pelo Rio Branco, uma média fantástica de 0,84 gols por jogo. Foi um artilheiro emérito e chutava bem com os dois pés.

A transferência de Alcy para o Vitória se deu por uma briga provocada pela rivalidade com o Rio Branco, iniciada em 1912, em razão da escolha das cores de cada um. O futebol ainda era amador e, em 1931, Alcy também jogava basquete por seu clube.

Alcy gostava de frequentar a sede do clube rival e costumeiramente saia com os rapazes e moças do Vitória, o que desagradou ao então técnico de basquete do Rio Branco, Guilherme Abaurre.

Certa vez, minutos antes de uma partida entre Vitória X Rio Branco, Abaurre advertiu Alcy, que se não jogasse bem, sairia do time. Pressionado, o atleta não rendeu o esperado e errou cestas fáceis. No intervalo foi substituído e em represália deixou o clube, transferindo-se para o tradicional adversário.

E não foi sozinho. Junto com ele foram outros dois jogadores do time de futebol, o craque meio-campista Lauro Rebelo e Filhinho, que atuava no meio e no ataque. O Vitória tinha bons jogadores casos do goleiro Luiz Nicolau, que deixou o clube no meio do campeonato para ir  morar no sul do estado, dando lugar a Clóvis.

A defesa tinha Murilo, que passou mais de 10 anos no clube, a partir de 1927, e em alguns jogos Cecé, ex-jogador do Botafogo e do Goitacaz. No meio, João Pinto. Na frente, Heitor, apelidado de “Tanque”. E ainda Cid, Abreu, Julinho, Barbosa, Arlindo, Américo, Hugo, Naná, Irineu, Lírio e Amauri. O técnico era Alfredo Sarlo.

Naquele tempo os jogos tinham dois tempos de 40 minutos com 10 de intervalo. Na maioria eram disputados no velho campo de Jucutuquara, conhecido como “Estádio de Zinco”, pois era cercado por placas desse material. Hoje ele não pertence mais ao Rio Branco, mas sim à Federação de Futebol do Estado do Espírito Satos(FES). Desde meados dos anos 1920 já era considerado obsoleto, com arquibancadas toscas, vulnerável a invasões dos torcedores e onde não havia “placard”.

Em 1933 o campeonato estadual foi muito confuso, a começar pela desistência de Rio Branco, Santo Antônio e Viminas de disputá-lo. A competição foi marcada para ter inicio em abril, mas só começou em julho, com uma goleada de 10 X 1 do Vitória sobre o Uruguayano. Os outros dois adversários eram São João e Americano.

Depois do jogo da estréia só se sabe de outro resultado, Vitória 4 X 2 Americano, no primeiro turno do campeonato. Nesse jogo o time formou com Carlinhos - Julinho (Hermes) e Murilo – Naná - Lauro e João Pinto – Filhinho Alcy Simões - Heitor “Tanque” (Cid) - Abreu e Amauri. José e Beline também faziam parte do elenco.

O Vitória chegou à última partida, necessitando apenas de um empate com o Americano. Se perdesse haveria uma decisão em melhor de três. O resultado do jogo não é conhecido, mas com certeza favoreceu o Vitória, pois se sagrou campeão daquele ano e de forma invicta.

Sabe-se que o Vitória em 28 de setembro daquele ano, goleou em prélio amistoso um combinado formado por atletas do Rio Branco e Viminas, que não quiseram disputar o campeonato, pelo placar de 4 X 1.

Alcy, modesto que era, considerava o velho general Carlos Marciano de Medeiros,o “Carlito Medeiros”, o melhor jogador que o futebol capixaba conheceu em todos os tempos, e que marcou época no Rio Branco. (Pesquisa: Nilo Dias)

Alcy Simões com a camisa daSeleção Capixaba. (Foto: Reprodução do livro "Rio Branco Atlético Clube, histórias e conquistas)

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O primeiro negro do futebol brasileiro


A Associação Atlética Ponte Preta, de Campinas (SP) é o segundo time mais velho do Brasil. Fica atrás apenas do Sport Club Rio Grande, da cidade gaúcha de igual nome. Agora a direção do clube campineiro está gestionando junto a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Fédération Internationale de Football Association (FIFA) o reconhecimento de ser o primeiro clube de futebol no país a aceitar negros em sua equipe. E também que a entidade maior do futebol mundial permita que seja prestada uma homenagem ao ex-atleta Miguel do Carmo, quando da abertura oficial da Copa do Mundo, ano que vem no Brasil

Miguel do Carmo foi um dos fundadores da Ponte Preta em 11 de agosto de 1900, junto de outros garotos do bairro da Ponte Preta, como Alberto Aranha, Antonio de Oliveira (Tonico Campeão), Dante Pera, Luiz Afonso, Luiz Garibaldi Burghi (Gigette) e Pedro Vieira da Silva (Zico Vieira), que foi o primeiro presidente da entidade, com o apoio do alemão Theodor Kutter, do austríaco Nicolau Burghi, do brasileiro descendente de alemães Hermenegildo Wadt e do brasileiro João Vieira da Silva.

A reunião de fundação aconteceu em um terreno baldio, à sombra de duas paineiras. Por proposta do senhor Luiz Garibaldi Burghi, o clube deveria ter o nome de Associação Athletica Ponte Preta em homenagem ao bairro em que foi fundado. A primeira Diretoria fiou assim constituída: Presidente, Pedro Vieira da Silva; Secretario, Alberto Aranha; Tesoureiro, Miguel do Carmo; Procurador, Antonio de Oliveira e Fiscal de Campo, Luiz Garibaldi Burghi.

No mesmo ano que o clube foi fundado, Miguel do Carmo se tornou jogador da Ponte Preta, o que lhe garante o título de primeiro jogador de futebol negro do Brasil. Na época ele tinha apenas 15 anos. A Ponte assumiu a cor preta no nome e no uniforme. Levantou uma bandeira. Pediu liberdade a uma cidade conservadora, nada menos que o último município brasileiro a abolir a escravatura.

Além de Miguel, que também era conhecido por “Migué”, havia outros três negros e dois mulatos no plantel da “Macaca”, mas apenas ele era titular.  A Ponte Preta também aceitou negros no seu quadro social desde a fundação, o que a torna a primeira democracia racial no futebol brasileiro.

Miguel do Carmo nasceu em 1885, três anos antes da abolição da escravatura no Brasil, com a Lei Áurea. Quando menino morava em uma daquelas históricas casas da Rua Abolição, reservadas a funcionários da Companhia Paulista. Ele trabalhou como ferroviário, e jogava futebol com os garotos no bairro onde nasceu o clube. O rapaz cresceu, se casou, teve 10 filhos. Mas morreu muito jovem, aos 47 anos, em 1932, depois de passar por uma cirurgia no estômago.

Miguel do Carmo, nascido em Jundiaí no dia 10 de abril de 1885 e trabalhou como segundo fiscal de linha da Companhia Paulista de Estradas de Ferro em Campinas no fim do século 19. Miguel jogou de “Center-half” pela Ponte Preta até 1904, quando foi transferido pela Companhia Paulista para Jundiaí. Além disso, porém, pouco se sabe a respeito dele. Na história da Ponte Preta foram encontradas muitas escalações de equipes, mas ninguém sabe quem era branco ou negro.

O que se sabe de concreto é que a situação era impensável no fim daquele século e começo do próximo. Os times que praticavam o futebol no Brasil eram da elite branca. Alguns deles tinham regras que proibiam explicitamente a presença de negros em seus quadros. A procura se estendeu a familiares de Miguel do Carmo, mas foi encontrado apenas um documento, uma carteira de registro, com foto, de seu emprego como ferroviário.

As pesquisas encontraram indícios de que outros dois negros poderiam ter atuado no time de 1900, um deles seria Alberto Aranha. Na época havia duas famílias Aranha em Campinas, uma no bairro da Ponte Preta, de negros, e outra no Cambuí, região nobre, de brancos. Alberto poderia ser parente de Benedicto Aranha, um contador negro que atuou no clube a partir de 1908.

A falta de certeza acontece pela pouca documentação encontrada. Os jornais ignoravam o novo esporte. A imprensa só começou a cobrir o futebol em 1908, quando houve uma tentativa frustrada de criação de uma liga competitiva. Um dos filhos de Miguel, Geraldo do Carmo, está vivo até hoje, e mora no Jardim Garcia, em São Paulo. Ele tinha só cinco anos quando o seu pai morreu. Mas a paixão pela bola estava no sangue. Ele próprio se tornou jogador de futebol profissional, mas numa ironia do destino, nunca jogou na Ponte.

Começou a carreira ainda adolescente, jogando no Mogiana, na década de 40. Em 1950, às vésperas de fazer 25 anos foi contratado pelo Guarani. Depois defendeu o Linense, de Lins (SP), onde foi campeão paulista da divisão de acesso em 1952. Também teve passagens pelo XV de Jaú, Comercial e Francana.

Depois de encerrar a carreira, Geraldo voltou a trabalhar no Guarani, onde foi técnico da equipe de base e treinou revelações como Zetti, Neto e João Paulo. Hoje, com 86 anos, mora em uma casa modesta da Rua Cerqueira César, no Jardim. Geraldo, antes de ir para o Guarani, chegou a ser convidado para jogar na Ponte, onde seria reserva do quarto-zagueiro Pitico. Foi quando pintou o convite do “Bugre”. Não pensou duas vezes.

Os 86 anos de idade não impedem Geraldo de ainda “bate” uma bolinha no minicampo do bairro. Dono de uma saúde de ferro, até toma umas cervejinhas para animar. É muito popular no bairro e até empresta seu nome à escolinha de futebol da associação de moradores.

Geraldo ainda tem um irmão vivo, dois anos mais velho que ele, que mora no Rio de janeiro, e que igualmente foi jogador profissional. Tem quatro netos e seu desejo é que também sejam jogadores de futebol. A campanha que busca o reconhecimento da Ponte Preta como o primeiro clube brasileiro a acolher negros em sua equipe,foi lançada e é mantida por um grupo de torcedores que vasculham alfarrábios e jornais antigos à procura de documentos que comprovem um episódio importantíssimo da história.

O professor de História da PUC Campinas, José Moraes dos Santos Neto foi quem elaborou o oficio enviado a FIFA. Mas a aprovação vai depender de pesquisas aprofundadas em arquivos públicos e jornais da época, que atestem a escalação de Miguel em jogos da Ponte.

Ao que se sabe não existe uma única fotografia, por exemplo, do rapaz vestido com calção e chuteira. Nada disso será fácil, pois sabidamente a sociedade brasileira na primeira metade do século passado, era racista ao extremo.

Dois clubes do Rio de Janeiro, Bangu e Vasco da Gama disputam há anos a primazia de aceitarem negros em sua equipe. O Bangu, oficialmente é o primeiro time profissional brasileiro a escalar um jogador negro. Isso foi em 1905, quando escalou Francisco Carregal.

Na época, a Liga Metropolitana de Futebol chegou a impedir a inscrição do rapaz, o que levou o Bangu a se afastar do campeonato. No entanto, quando isso aconteceu, já fazia cinco anos que Miguel do Carmo tinha jogado pela primeira vez com a camisa alvinegra de Campinas.

Com o Vasco a coisa é ainda bem mais ampla. O Vasco foi fundado como clube de regatas em 1898, mas só em 1915 começou a se dedicar também ao futebol. E, mesmo como Clube de Regatas, só em 1904 elegeu um presidente negro.

Segundo historiadores, em 1923 jogou pela primeira vez com atletas não brancos, e só no ano seguinte defendeu junto à Federação Carioca o direito de ter jogadores negros. Até hoje, o Vasco é reconhecido como o primeiro clube a superar o preconceito no país. Em 1923, chocou o Rio ao vencer Flamengo, Botafogo e Fluminense, clubes da elite carioca, e conquistar o campeonato local com um time formado, principalmente, por negros e mulatos.

E tem também o Guarany, de Bagé (RS), fundado em 19 de abril de 1907, que desde o inicio de suas atividades aceitou negros em sua equipe. No dia 27 de março deste ano a Câmara Municipal de Campinas concedeu o “Título do Mérito Desportivo” ao atleta futebolístico Miguel do Carmo.

Quase 111 anos depois, dois garotos, de 18 e 17 anos, tentam dar continuidade à trajetória de quem é apontado como o primeiro negro a atuar em um time de futebol no Brasil. Eles são Gabriel, que joga de lateral e Lucas, volante, bisnetos de Miguel do Carmo.

No limite da idade para entrar na carreira profissional, a dupla treina nos campos do Jardim Garcia, em escolinha que leva o nome do avô, Geraldo do Carmo, filho de Miguel e zagueiro do Guarani, nos anos 50 e do Taquaral, bairros de Campinas. Gabriel e Lucas até tentaram participar de peneira da Ponte, mas com a concorrência de outros 3 mil meninos nem chegaram a ir a campo.

Uma porta de entrada pode ser o futebol universitário dos EUA. Lucas, tem vontade de estudar lá e tentar, pois nos Estados Unidos é comum a carreira começar com 18 anos. Sua mãe, a jornalista Raquel do Carmo, acompanha a luta do filho e do sobrinho, enquanto busca resgatar a memória do avô Miguel do Carmo, que ela nem chegou a conhecer.

Carlos Burghi, membro do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), em Campinas, sugeriu que a “Escola de Samba Ponte Preta Amor Maior” apresente no Carnaval de 2014 o tema: "Democracia Racial nos trilhos da profissionalização do futebol campineiro", em homenagem ao atleta Miguel do Carmo. (Pesquisa: Nilo Dias)

Miguel do Carmo, o primeiro negro a jogar no futebol brasileiro. (Foto: Acervo familiar)