O
ano de 1934 foi muito agitado, não só no Brasil, mas pelo mundo todo. Na
Alemanha, Adolf Hitler conseguia concentrar o poder total em suas mãos, depois
da chamada “Noite dos Longos Punhais”.
A
“Noite dos Longos Punhais” foi o nome dado a uma ação de expurgo interno ao
partido nazista, ocorrida na noite do dia 30 de junho para 1 de julho de 1934.
O objetivo era minar o fortalecimento dos chefes da SA, Sturmabteilung, a Tropa
de Assalto dos nazistas, formada ainda na década de 1920, que tinha como
principal líder Ernst Röhm.
Também
em 1934 ocorreu o falecimento do presidente Paul von Hindenburg, da Alemanha. Ante a ausência de poder, assumiu a
presidência, quem nessa época era chanceler, Adolf Hitler.
E
lá perto, na Itália, a seleção italiana acabava de ganhar a Copa do Mundo de
futebol, que foi marcada pela constante intervenção do fascismo, representada
pelo seu líder Benito Mussolini. E na terra tupiniquim, Getúlio Vargas assumia
de fato a presidência constitucional.
E
aqui no nosso Rio Grande do Sul abençoado por Deus, e bonito por natureza
(plagiando o Rio de Janeiro) os times de futebol do 9º Regimento de Infantaria,
hoje Farroupilha e do Esporte Cube Pelotas tinham um encontro marcado, ansiosamente
aguardado pelas duas torcidas.
Imaginem
a cena. Estádio lotado, botando gente pelo “ladrão”, juiz e bandeirinhas dentro
de campo, mas nada dos times. O espetáculo que estava prestes a se iniciar
talvez tivesse sido único no mundo. As duas torcidas esperavam a batida de um pênalti.
E
não se tratava de nenhuma decisão por pênaltis marcada para aquele dia. Seria a
cobrança de um pênalti só. Unzinho. Repito, parece surreal, mas juro que isso
realmente aconteceu em Pelotas, há exatos 83 anos atrás.
Mas
vamos retroceder até o dia 9 de setembro, data em que o jogo entre os dois
tradicionais adversários foi realmente realizado e que dera início ao espetáculo
da cobrança de um pênalti.
Foi
no Estádio da Boca do Lobo, reduto do Pelotas, que na época era conhecido por “Estádio
da Avenida Bento Gonçalves”. Tudo indicava que se trataria de um jogo normal, como
tantos outros, talvez recheado de jogadas interessantes e lances eletrizantes.
O
Regimento tinha um timaço, onde despontava o grande craque “Cardeal”. E ele
estava em uma tarde inspirada, tendo marcado dois gols que davam a sua
equipe. Foi quando tudo começou.
No
último lance do jogo, Celistro, jogador do Regimento cometeu um pênalti
desnecessário e o juiz preparava-se para marcar a infração. Mas vejam só o que
ocorreu. Naqueles gloriosos tempos existia a figura do “cronometrista”, a
exemplo do que se vê hoje em Futsal e Baquetebol, que deu por encerrada a
partida um pouco antes da hora.
Para
que? Nesse momento a confusão se formou, com os torcedores das duas equipes
invadindo o campo. Acuado, o juiz interrompeu a pugna até resolver o que seria
feito. A partir dai uma pergunta se ouvia por toda a cidade: “o pênalti deveria
ser batido ou não?”
Ainda
mais que já naquela época se sabia que pênalti num jogo de futebol é coisa tão importante, que o presidente do clube é
que deveria ser escalado para batê-lo.
Demorou
alguns dias para que a Liga Pelotense tomasse uma decisão. Isso se deu três
dias depois, em 12 de setembro, durante reunião realizada na Biblioteca Pública
Pelotense, quando se achou por bem mandar que o pênalti fosse batido, corroborando
entendimento da "International Board" e do juiz daquela partida, o
riograndino Valentino Martinato, em correspondência enviada a Liga.
Alegavam
que o “cronometrista” havia encerrado a partida quando o jogador do Pelotas ia
efetuar a cobrança. A data foi marcada para 30 de setembro, 21 dias depois do
jogo. É claro que uma situação dessas só podia se transformar no assunto mais
badalado da cidade.
E
o grande dia chegou. A cobrança do pênalti estava marcada para 13h30min. O
estádio engalanado, não tinha lugar nem para mosca. Todos queriam ver a cantada
e decantada cobrança do pênalti. Pior, a Liga resolveu cobrar ingresso.
Mesmo
sob protesto todos pagaram. Foram nomeadas comissões que se encarregariam dos
mais exaltados, inclusive de casos policiais que por ventura viessem a ocorrer.
Dentro
de campo apenas dois jogadores. De um lado, João Pedro, encarregado da
cobrança, conhecido como o “Canhão
Pelotense”, em razão da bomba que tinha nos pés. Do outro, o goleiro Brandão,
um verdadeiro “paredão” na meta do Regimento.
O
vento soprava levemente no estádio e, em todos os cantos, os torcedores
prendiam a respiração. Para aumentar ainda mais a expectativa, o vento soprou a
bola para fora da marca de cal e João Pedro arrumou a bola pra bater. Brandão
saiu rápido do gol e foi cumprimentar o ponteiro pelo gesto.
Então
João Pedro correu, soltou a bomba... e Brandão defendeu magistralmente,
garantindo a vitória e abrindo o caminho para o título local, que o Regimento
ganhou no final daquele ano, o primeiro título citadino de sua história.
E
assim, o “Caso do Pênalti”, como ficou conhecido esse episódio, entrou para a
história como um dos acontecimentos mais pitorescos do futebol pelotense,
brasileiro e mundial.
O
que veio depois todos já sabem, inclusive sobre o jogo extra, acontecido no
feriado de 15 de novembro, no campo do C.A. Bancário, com arbitragem de
Teotônio Soares, vencido pelo 9º RI por 3 X 1. (Pesquisa: Nilo Dias – Original:
Mário Gayer do Amaral, Professor e Historiador)
Pênalti é tão importante, que deveria ser batido pelo presidente do clube.
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