Em 7 de julho de 1912 foi disputado o primeiro jogo da história entre Flamengo e Fluminense. O jogo aconteceu seis meses depois que o clube tricolor havia perdido nove de seus jogadores titulares, que se transferiram para o Flamengo e lá abriram o Departamento de Futebol. Deles, apenas um, Andrews, não entrou em campo. Até então o rubro-negro se dedicava unicamente ao remo. Mesmo assim o Fluminense ganhou por 3 X 2.
O jogo, válido pelo Campeonato Carioca foi disputado no Campo da Rua Guanabara, que ficava no mesmo local do Estádio das Laranjeiras, tendo como árbitro Frank Robinson. O público foi de apenas 800 torcedores. E. Calvert, do Fluminense marcou o primeiro gol da história do Fla-Flu, a um minuto de jogo; Arnaldo, aos 4 minutos empatou; James Calvert, aos 12 do segundo tempo fez Fluminense 2 X 1; Píndaro, aos 25 empatou em 2 X 2 e Bartô, aos 27 decretou a vitória tricolor.
Fluminense: Laport - Belo e Maia – Leal - Mutzembecker e Pernambuco – Osvaldo – Bartô – Behrmann - Edward Calvert e James Calvert. Flamengo: Baena - Píndaro e Nery – Cintra - Gilberto e Galo – Orlando – Arnaldo – Borghert - Gustavo e Amarante.
O Flamengo com a derrota perdeu o título, que foi para o Paysandu. O Flamengo antes do clássico vinha embalado por três grandes goleadas: 16 X 2 no Mangueira, 6 X 3 no América e 7 x 4 no Bangu. Perdera apenas para o Paysandu, por 2 X 1. Já o Fluminense vinha de derrotas: 2 X 1 para o Rio Cricket e 5 X 0 para o Paysandu; uma vitória sobre o São Cristóvão, por 1 X 0 e um empate com o América em 0 X 0.
Nos jornais, o turfe e o remo dividiam as atenções. Futebol ainda era um esporte que não ocupava muito espaço. Tanto que alguns diários, como "A Noite" e "Correio da Manhã" sequer registraram o encontro nas Laranjeiras, como conta o livro "Fla x Flu, o Jogo do Século", do colunista do jornal “Lance!” Roberto Assaf e de Clóvis Martins.
O primeiro Fla-Flu não era Fla-Flu. Só muito mais tarde, em 1933, é que Mário Filho inventou e promoveu a abreviação, quando procurava recursos para motivar o comparecimento das torcidas ao campeonato da recém criada Liga de Futebol. O segundo clássico aconteceu poucos meses depois do primeiro, e o Flamengo aplicou a primeira goleada da história, 4 X 0. Mas a maior goleada do clássico Fla-Flu, foi pelo Torneio Municipal em 10 de junho de 1945, com vitória do Flamengo por 7 X 0.
O clássico sempre foi cheio de emoções e de fatos inusitados. Por exemplo, em 22 de outubro de 1916, o Flamengo vencia o Fluminense por 2 X 1 quando o árbitro R. Davies marcou um pênalti contra o tricolor. Rienner bateu e perdeu. Logo depois, o juiz marcou outro pênalti contra o Fluminense. Sidney cobrou e Marcos de Mendonça defendeu.
O juiz mandou cobrar outra vez alegando que não havia apitado. Sidney bateu e novamente Marcos de Mendonça defendeu. O juiz mandou cobrar de novo, alegando que jogadores do Fluminense haviam invadido a área. Foi aí que o escritor Coelho Neto e o delegado de Policia Ataliba Correia Dutra pularam a grade e correram para o campo. Os torcedores também invadiram o gramado.
O regulamento do campeonato dizia que o jogo que fosse paralisado por cinco minutos seria suspenso definitivamente. Como a paralisação propositada foi além dos sete minutos, o jogo foi dado como anulado. Foi a primeira anulação de um jogo de campeonato carioca. No dia 8 de dezembro, no campo do Botafogo, foi realizada uma nova partida e o Fluminense ganhou por 3 X 1.
Em 1925, a Seleção Carioca disputou o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais. Como havia dificuldade de convocar jogadores dos diversos clubes, a solução foi chamar apenas jogadores de Flamengo e do Fluminense. Em principio isso causou revolta entre os torcedores, que não consideraram a equipe como uma Seleção Carioca, sim um "Combinado Fla-Flu". Esta Seleção Carioca acabou campeã, o que mudou o sentimento popular em relação a ela.
O primeiro jogo entre Flamengo e Fluminense que decidiu um Campeonato Carioca aconteceu em 1919, no Estádio das Laranjeiras, que teve lotação máxima. Até o Presidente da República, Epitácio Pessoa compareceu ao jogo. O campeonato era por pontos corridos, e o Fla-Flu aconteceu na penúltima rodada. O tricolor era líder e só poderia ser alcançado pelo próprio Flamengo. Com a vitória por 4 X 0, o Fluminense ganhou o título e ficou definitivamente com a Taça Colombo.
Nas finais do estadual de 1928, o jogador Preguinho, que serviria à seleção na Copa do Uruguai, responderia à uma provocação do goleiro rubro-negro Amado, o qual teria mandado um suposto telegrama escrito “És sopa! Amanhã não farás gol!” O atacante tricolor respondeu dizendo “Farei dois gols, no mínimo”.
No primeiro minuto de jogo, o goleiro rubro-negro falhou ao quicar a bola para repô-la em jogo, e Preguinho faz 1 x 0. Aos 10 do primeiro tempo, Preguinho ampliou. O resultado final foi 4 x 1 para o Fluminense que venceu o campeonato e o rival justamente na Rua do Payssandú. Só muito tempo depois, é que o atacante veio, a saber, que o goleiro rubro-negro jamais lhe mandara qualquer telegrama e que, o autor fora o sócio do Fluminense, Affonso de Castro, o "Castrinho".
Em 1936, já com a denominação de Fla-Flu, o clássico decidiu o campeonato. Foi uma melhor-de-três, outra vez no Estádio das Laranjeiras. No primeiro jogo houve empate em 2 X 2; no segundo, o Fluminense goleou por 4 X 1 e no terceiro, empate em 1 X 1. O campeão foi novamente o Fluminense, que começava ali um período de hegemonia no futebol carioca, que se estenderia até 1941.
A terceira decisão entre Flamengo e Fluminense, aconteceu em 1941 e o jogo ficou conhecido como o "Fla-Flu da Lagoa", e foi realizado na Gávea, na última rodada do campeonato. Os dois times lideravam a competição, mas como o Fluminense possuía melhor campanha, 44 pontos contra 43, bastava um empate para comemorar o título.
Ao final do jogo igualdade em 2 X 2 e mais uma taça nas Laranjeiras. O tricolor chegou a abrir 2 X 0, com Pedro Amorim e Russo. Pirilo marcou dois gols rubro-negros, o segundo aos 38 minutos do segundo tempo. O público foi de 15.312 pagantes.
Outro ponto destacado do jogo foi o heroísmo do goleiro Batatais, do Fluminense. Ele não podia ser substituído e, mesmo com a clavícula deslocada, permaneceu em campo e ajudou o seu time com algumas defesas importantes. A atitude do jogador contagiou os companheiros, que conseguiram segurar a pressão do Flamengo. Segundo os jornais da época, o destaque daquele clássico foi o centromédio – hoje conhecido como meia – Brant.
Como o empate garantia o título para o Fluminense, reza a lenda que os tricolores jogavam as bolas para a Lagoa Rodrigo de Freitas, cuja distância era de três metros do campo da Gávea. Na época aquela parte da Lagoa ainda não havia sido aterrada. Contam que os dirigentes do Flamengo, desesperados, mandavam os remadores do clube buscar as bolas.
Algumas, realmente, foram buscadas na Lagoa. Não se diz quantas, nem como. Naquela época existiam mais jornais do que nos dias de hoje no Rio de Janeiro. E nenhum deles deu destaque ou fez registro desses fatos. O único que escreveu alguma coisa foi Mario Filho, no “Jornal dos Sports”, fazendo um pequeno comentário: “Duas ou três bolas foram chutadas para fora do estádio.” Mas ele não fez muito alarde. Se tivesse ocorrido, com certeza iria ganhar espaço nos jornais.
Roberto Assaf, um dos autores do livro "Fla x Flu, o jogo do Século", explica que o imaginário popular se encarregou de alterar o que realmente aconteceu. Naquela época, o futebol tinha cronômetro, como no basquete. Toda vez que a bola saía de campo, o juiz parava o relógio. Portanto, o tempo não ia passar enquanto a bola não voltasse a rolar.
Mesmo já passados 71 anos, a lenda do "Fla-Flu da Lagoa" ainda se mantém viva, fazendo daquele jogo um dos mais épicos da história centenária do clássico.
O quarto Fla-Flu decisivo de um Campeonato Carioca, e o primeiro na era Maracanã, ocorreu em 1963 e mantém até hoje o recorde mundial de maior público da história em um jogo entre clubes, em qualquer esporte: 194.603 torcedores presenciaram o confronto. O Flamengo que possuía a vantagem do empate, sagrou-se campeão depois de uma igualdade sem gols.
Em 1968, valendo pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Fla-Flu entrou para a história com um gol de mão. Aos 13 do primeiro tempo, Wilson do Fluminense, recebeu lançamento de Serginho em posição de impedimento, e sem o menor constrangimento à la Maradona, ao dividir com o goleiro Marco Aurélio do Flamengo, deu um soco na bola, desviando a trajetória e ficando livre para chutá-la para as redes.
Armando Marques, consultou o bandeirinha que confirmou a legalidade, e só então correu para o meio do campo validando o gol que deu a vitória simples para o tricolor. Ainda hoje, mais de 30 anos depois, esse gol escandaloso é comentando nos corredores da Gávea.
Até hoje aconteceram 11 decisões de campeonatos cariocas, reunindo Flamengo e Fluminense, com oito conquistas do tricolor e três do rubro-negro. O Fluminense ganhou do Flamengo em decisões de campeonato, em 1919, 1936, 1941, 1969, 1973, 1983, 1984 e 1995. O Flamengo foi campeão estadual sobre o Fluminense em 1963,1972 e 1991.
Além do Campeonato Carioca, ocorreu mais uma decisão Fla-Flu, que foi na Taça Guanabara de 1966, que nessa época era uma competição à parte. O Fluminense venceu por 3 X 1 e sagrou-se campeão.
Em 2009, foi realizado o primeiro confronto entre Flamengo e Fluminense válido por uma competição internacional oficial. Na Copa Sul-americana, os times se enfrentaram logo na primeira fase em jogos de ida e volta, com os dois jogos sendo realizados no Maracanã.
O primeiro jogo, com mando do Fluminense, terminou 0 X 0, e o segundo também acabou empatado, desta vez em 1 X 1, gols de Roni, para o Fluminense e Denis Marques, para o Flamengo. Pela regra do gol fora de casa o Fluminense se classificou para a próxima fase e terminou a competição como vice-campeão, perdendo a final para a LDU, do Equador.
Ary Barroso, o sambista e compositor de “Aquarela do Brasil”, era um fanático torcedor do Flamengo e narrador esportivo, totalmente parcial ao "Mengo", nas rádios Cruzeiro do Sul e Tupy do Rio de Janeiro. Conta a história que num Fla-Flu, entre os anos 50 e 60, o Fluminense fez 1 X 0 e Ary Barroso simplesmente ignorou o gol, narrando a seqüência do jogo normalmente, divulgando inclusive que o placar estava 0 X 0. Verdade ou não, o fato entrou para a história do clássico.
Quem seriam os maiores personagens do Fla-Flu nestes 100 anos de história? Pelo lado do Flamengo, provavelmente foi Zico, com 19 gols marcados, embora Pirilo tenha feito 18 na década de 40, mas sem ganhar tantos títulos pelo rubro-negro quanto o "galinho de Quintino".
Pelo lado do Fluminense, Ézio fez 12 gols na pior década da história do Fluminense, nos anos 90; Hércules marcou 15 na década de 30; Russo 13 na de 40; Renato Gaúcho fez um gol de barriga na decisão do Campeonato Carioca de 1995, ano do centenário do clube rival. Mas provavelmente o grande nome foi Assis, o carrasco dos anos 80, que marcou gols nas decisões dos campeonatos cariocas de 1983 e de 1984, sendo que em 1983, no último minuto do jogo .
A estatística do Fla-Flu é favorável ao Flamengo. Até hoje foram disputados 390 clássicos, com 139 vitórias do Flamengo, 123 do Fluminense e 127 empates. O Flamengo marcou 568 gols e o Fluminense 518. O Fluminense desconsidera dez partidas válidas pelo Torneio Início entre 1918 e 1965.
O campeonato era disputado em apenas um dia, no mesmo estádio, na véspera do início do Carioca. As partidas tinham apenas 20 minutos, sendo dois tempos de 10 minutos cada. Apenas a final tinha 60 minutos. Se houvesse empate, seria o vencedor quem tivesse mais escanteios a favor.
Pelos números do Flamengo, o time, em 390 partidas, tem 139 vitórias, 128 empates e 123 derrotas, com 568 gols pró. Na conta do Fluminense, nos 380 jogos, são 119 vitórias, 134 empates e 137 derrotas, com 511 gols pró.
Os dois clubes detém 62 títulos estaduais. Os dois times reúnem juntos oito Campeonatos Brasileiros, excluindo a Copa União de 1987, três Copas do Brasil, três Torneios Rio-São Paulo e 62 Campeonatos Cariocas.
O último clássico Fla-Flu foi realizado em 11 de março deste ano, no Engenhão, válido pelo Campeonato Carioca, com vitória do Flamengo por 2 X 0 , gols de Ronaldinho Gaúcho e Kléberson. Amanhã, no Engenhão, teremos o clássico de número 391 (para o Flamengo) ou 381 (para o Fluminense) da história, válido pelo Campeonato Brasileiro deste ano.
O Fla-Flu foi imortalizado em frases e crônicas célebres dos irmãos Nélson Rodrigues e Mário Filho. Como as de Nélson: “No dia da inauguração do paraíso, houve um Fla-Flu de portões abertos, e escorria gente pelas paredes”; “Tudo é Fla-Flu, o resto é paisagem“; ou “o Fla-Flu foi criado seis mil anos antes do nada”. (Pesquisa: Nilo Dias)
Foto do primeiro Fla-Flu da história.
2 comentários:
Te encontrei, vivente. Trabalhamos juntos no Jornal Agora, onde eras meu editor e parceiro de trago. Éramos tu, o Guerra, a Terezinha Mota, o Jonas e eu, ao qual apelidastes de Retrato, pois além de escrever eu fazia fotos.
Pois bem, estou há 31 anos na Rádio Farroupilha, onde sou repórter e produtor e fico muito feliz em te reencontrar, pois sempre lembro daqueles tempos com muita saudades.
PS: Íamos naquele barzinho da esquina calibrar alenta, lembra???
Nossa melhor matéria doi a do Caso Deusinho, pois consegui fotos dele na Santa Casa com exclusivdade.
Meu e-mail é carlos.mota@rdfarroupilha.com.br
https://tomemota.blogspot.com
e também estou no face. Procura por Carlos Mota.
Um forte abraço.
Saiu a foto do meu filho semi-novo(tenho outr mais novo do que ele) porque estou no login dele.
Postar um comentário