Acir
Côrtes, mais conhecido por “Sisico” trabalhou 34 anos como técnico nas
categorias de base do Coritiba, um verdadeiro recorde, tratando-se de Brasil,
onde os treinadores não conseguem criar “limo”, como diz o ditado. Ultimamente
integrava a comissão técnica permanente do time sub-20.
Com
mais tempo de casa no clube, ficou somente atrás de Dirceu Krüger que tem nada
mais, nada menos, que 49 anos de Coritiba. Kruger. Iniciou sua carreira
profissional em 1963, aos 17 anos, no extinto Britânia Sport Club, no qual
atuou até 1966, quando foi comprado pelo Coritiba.
Foram
10 anos de clube entre 1966 e 1976. Foi
campeão paranaense nos anos de 1968, 1969, 1971, 1972, 1973, 1974, 1975 e 1976.
Depois de se aposentar como jogador, o ídolo trabalhou como técnico, auxiliar e
coordenador das categorias de base do “Coxa”. Kruger, nos tempos de atleta, era
conhecido pelo apelido de "Flecha Loira".
Certa
ocasião chegou a ficar entre a vida e a morte em razão de um choque em um jogo
entre Coritiba e Água Verde, em 1970, pelo Campeonato Paranaense. Ele bateu com
a barriga no joelho do goleiro adversário, foi mal para o hospital, mas
conseguiu se recuperar. Chegou a receber a extrema-unção.
Foi
técnico da equipe principal em 185 ocasiões, sendo a primeira vez, em 1979.
Como técnico, está entre os profissionais que mais comandaram o clube em toda a
sua história. E como homenagem por tantos anos de serviços prestados, a equipe
do Alto da Glória batizou o alojamento das categorias de base com seu nome.
Já
“Sisico” não foi cria do Coritiba. Chegou ao clube em 1 de março de 1981 por
indicação de Dirceu Kruger. Esteve sempre envolvido no futebol, onde foi
torcedor, jogador de várzea e atleta profissional. Aos 23 anos, aposentou-se da
meia-direita, onde se destacava como um dos melhores batedores de pênalti da
época, e assumiu o comando da categoria de base do Britânia Sport Clube.
Mas
veio a se destacar mesmo foi como treinador, no próprio Britânia. Depois que
chegou ao “Coxa” mostrou dedicação total ao clube. O Estádio Couto Pereira
virou praticamente a sua casa.
Chegava
pela manhã e só saia de lá à noite. Isso não impediu que também fosse
extremamente carinhoso com a família. Casou-se com Ana Lucia na década de 1960
e da união teve dois filhos, Marcos e Carlos Alberto, este falecido em 2014. O “Mestre”
também viu a chegada de cinco netos: Carlos Eduardo, Giuliane, Alisson, Alan e
Matheus.
Embora
sua ligação com o futebol, não fez esforço algum para que os filhos seguissem a
mesma carreira. Incentivou-os aos estudos, fazendo questão de vê-los formados.
Ainda assim os dois jogaram nas categorias de base do Coritiba. Mauro foi
treinado por “Sisico”, mas não teve chances no time do pai.
Por
ser um homem muito correto, não queria ver seu trabalho questionado, por isso
não escalava o filho, evitando com isso que alguém dissesse que ele o estava
favorecendo. Por isso Mauro saiu do Coritiba e foi jogar no Ferroviário, onde
foi tricampeão jogando as finais justamente contra o Coritiba, treinado por seu
pai.
Diferente
da carreira como jogador profissional, seu trabalho como técnico foi longo.
Somou 57 anos como comandante de equipes.
Era
um treinador muito exigente. Os jogadores tinham que repetir as jogadas até que
ele estivesse satisfeito. Seu método de trabalho certamente rendeu bons frutos.
Foram revelados por ele nomes importantes como o de Alex, Pachequinho, Rafinha,
Adriano, Miranda, Henrique, Luccas Claro, William Farias, o meia Dudu e os
atacantes Pachequinho e Keirrison.
E
os jogadores não esqueciam dele. Prova disso que foi convidado de honra no jogo
mil de Alex e na partida da aposentadoria do meia.
Sobre
Alex, “Sisico” lembra que o “castigava” muito. Depois dos treinos fazia com que
ele ficasse mais uns 15 minutos chutando de direito e esquerdo, acertando as
camisas que eram penduradas nas traves.
Os
treinos eram realizados em um campo no “Mossunguê”, que tinha uma árvore enorme
ao lado. “Sisico” mandava que Alex acertasse a bola na árvore. E Alex sempre
reconheceu que o primeiro treinador de verdade que ele teve foi “Sisico".
Alex
sempre elogiou a visão do ex-treinador, que já o ensinava técnicas do presente
no passado. Considerava o ex-treinador um “monstro”, salientando que tudo o que
ouviu de Felipão, Zico, Luxemburgo e Aragonês, sobre conceito de bola, de jogar
na posição, de como se portar perante qualquer situação, já ouvira do “Sisico”,
quando tinha apenas 15 anos de idade.
Além
do futebol tinha verdadeira paixão pelo jogo de Sinuca, onde era um habilidoso
jogador. Apesar do gosto pelo jogo, odiava as mesas de bar. Jogava apenas nos
clubes de Curitiba. A Sociedade Morgenau, por exemplo, sempre foi o reduto dos
campeonatos de sinuca entre ele e os amigos.
Além
de “Mestre Sisico”, Acir também ficou conhecido como “Cabra”. Por onde andava o
chamavam pelo apelido que surgiu por não conseguir decorar nomes. “Ele chamava
todo mundo da mesma forma: “cabra”, não importava quem fosse”.
“Sisico“
não era muito chegado a frequentar restaurantes. Gostava muito de doces, que
sua esposa sabia fazer muito bem. Em pratos salgados não dispensava uma boa
lasanha.
“Sisico”
tinha problemas nos rins e acabou sendo vitimado por isso. Morreu em Curitiba,
dia 28 de agosto deste ano, aos 80 anos de idade. Ele esteve internado durante
todo o mês de agosto em um dos hospitais de Curitiba. O velório aconteceu no “Espaço
Belfort Duarte”, no Estádio Couto Pereira e o sepultamento no Cemitério de Água
Verde.
Ainda
em 2014, o Coritiba criou o "Troféu Acir Cortes", entre equipes
Sub-20, homenageando o segundo funcionário mais antigo da história do clube. Na
final da competição, disputada dia 26 de novembro de 2014, no CT do Atuba, o
“Coxa” derrotou o Atlético Paranaense por 4 X 0 , gols de Anderson, Juninho, Guilherme Paraguaio e Fábio, e sagrou-se
campeão. (Pesquisa: Nilo Dias)
Alex, no seu jogo mil, homenageou "Sisico", seu primeiro treinador. (Foto: Albari Rosa)